quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Jack Reacher: O Último Tiro

A vida pessoal de Tom Cruise foi alvo de todos os tabloides mais uma vez em 2012, mas pelo menos em termos de filmes este foi mais um bom ano para o ator. Ele foi uma das melhores coisas de Rock of Ages, um musical problemático cujo elenco secundário (que incluía Cruise, Alec Baldwin, Russell Brand, e outros) conseguiu tornar uma experiência divertida. Agora o astro está de volta interpretando um personagem interessantíssimo neste Jack Reacher: O Último Tiro, produção que ainda parece ter potencial para iniciar uma nova franquia de filmes de ação.
Baseado no livro “One Shot”, de Lee Child (que não li), o roteiro escrito pelo diretor Christopher McQuarrie (frequente colaborar nos filmes de Bryan Singer) inicia mostrando cinco pessoas sendo assassinadas por um atirador. As evidências encontradas no local levam a polícia a prender um ex-soldado do exército, James Barr (Joseph Sikora), que pede para os detetives encontrarem um homem chamado Jack Reacher (Cruise). Mas Reacher acaba aparecendo sem precisar de um chamado, e logo vê que há coisas estranhas no modo como tudo ocorreu. Ele então passa a investigar o caso ao lado da advogada de Barr, Helen Rodin (Rosamund Pike), para ter certeza de que o acusado é mesmo culpado.
No momento em que o nome de Jack Reacher é escrito em um pedaço de papel e entregue para os detetives, já é possível ver um pouco da força do personagem, mesmo que ele não tenha dado as caras ainda. E realmente ele é uma figura imponente desde a primeira cena em que aparece. Ao longo do filme, Reacher demonstra ser um homem muito inteligente, de pensamento rápido (o que fica mais do que claro quando ele faz uma conexão entre duas das vítimas), intimidador e bom de briga. É o tipo de personagem que quando quer alguma coisa acaba conseguindo mesmo que tenha que apelar a medidas mais drásticas. Além disso, suas ações são sempre surpreendentes, já que é impossível prever o que ele fará em determinadas situações.
Para completar, Reacher é interpretado com grande carisma por Tom Cruise, e isso nos faz simpatizar rapidamente com o personagem. O ator ainda exibe um timing cômico curioso, o que é responsável por boa parte das risadas que surgem durante o filme, e que surpreendentemente nunca soam involuntárias. São várias as falas de Reacher que acabam divertindo, sendo que uma das melhores delas é “Vou te bater até a morte e beber seu sangue em uma bota!”, que ele diz para um dos capangas do vilão Zec, interpretado por Werner Herzog (sim, o diretor de clássicos como Fitzcarraldo e Aguirre: A Cólera dos Deuses é o vilão do filme). Cruise ainda tem na bela Rosamund Pike uma boa parceira em cena, já que Helen é uma personagem mais vulnerável e a atriz consegue fazer com que nos importemos com ela.
E já que mencionei Werner Herzog, vale dizer que a composição que ele faz de Zec é interessante. Exibindo uma voz rouca e com sotaque, o cineasta surge sempre com uma grande e temível presença em cena. Mas se por um lado a composição de Herzog é boa, por outro o personagem não é dos melhores, sendo um daqueles antagonistas que não colocam a mão na massa. Zec apenas dá ordens para seus capangas e nunca mostra ser uma ameaça por si mesmo, o que lamentavelmente o enfraquece bastante, tornando-o uma figura até meio sem graça.
Jack Reacher pode ser o elemento mais forte do filme, mas Christopher McQuarrie ainda consegue fazer com que a história seja envolvente, e cada passo que o personagem-título dá em suas investigações nos mantêm curiosos com relação ao que acontecerá em seguida. Infelizmente, o diretor falha ao não conseguir colocar obstáculos que realmente desafiem o protagonista em sua missão. Em nenhum momento duvidamos da vitória de Reacher, o que tira um pouco a tensão de certas sequências, como uma luta que ocorre sob a chuva forte no terceiro ato. Isso é até uma consequência do fato de o personagem ser muito bom naquilo que faz e ainda contar com habilidades múltiplas, o que faz com que qualquer pessoa que cruze seu caminho pareça uma barata prestes a ser esmagada por um sapato.
Mas McQuarrie compensa esse detalhe com ótimas sequências de ação que ele conduz com grande segurança, como a perseguição de carros envolvendo Reacher, dois capangas e a polícia, e que ainda por cima é iniciada como se fosse um duelo em um western (a diferença é que no lugar de uma das armas, temos um carro). Além do mais, o diretor sempre consegue manter o espectador a par do que está acontecendo na tela, tendo total controle quanto à geografia das cenas e nunca investindo em uma montagem com cortes rápidos, algo que beneficia principalmente as cenas de luta, como aquela em que Reacher enfrenta cinco valentões do lado de fora de um bar.
Jack Reacher: O Último Tiro termina deixando a esperança para que tenha uma continuação. Não só por ser um filme de ação eficiente, mas também porque seria bom ver o personagem-título em outras histórias. Até onde sei, livros protagonizados por ele é que não faltam.
Cotação:

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