quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
Detona Ralph
Quem acompanha produções baseadas em jogos sabe que essa área ainda não trouxe um filme realmente memorável. Algumas produções até não chegam a ser exatamente ruins, como Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo e Lara Croft: Tomb Raider, mas é inegável que os jogos vêm rendendo no cinema muito mais bombas (nesse sentido, filmes como Super Mario Bros. e Alone in the Dark acabam sendo inesquecíveis) do que bons entretenimentos. Nem mesmo a franquia mais duradoura dessa área (Resident Evil) tem filmes memoráveis. Dito isso, Detona Ralph pode não ser a adaptação de um jogo existente, mas o retrato que faz desse universo é divertidíssimo, ao mesmo tempo em que nos apresenta a personagens que conquistam a nossa simpatia rapidamente.
Roteirizado por Jennifer Lee e Phil Johnson e com argumento deste último em parceria com Jim Reardon e o diretor Rich Moore, Detona Ralph é centrado no personagem-título (voz original de John C. Reilly), o vilão de “Fix-It Felix Jr.”, jogo no qual ele destrói um prédio que deve ser reconstruído pelo jogador que controlar Felix (Jack McBrayer). Mas após ficar fazendo sempre a mesma coisa durante 30 anos e ser tratado como um nada por todos, Ralph se rebela e decide que agora quer ser um herói. Para tentar mudar de lado, ele não hesita em invadir a área do jogo “Hero’s Duty” em busca de uma medalha que lhe conceda tal valor, o que além de pôr várias coisas em risco, acaba o colocando no caminho de Vanellope (Sarah Silverman), menina que é sempre impedida de correr em seu jogo, “Sugar Rush”, dominado pelo Rei Doce (Alan Tudyk).
O modo como o roteiro desenvolve o universo em que Detona Ralph se passa chama a atenção por tentar fazer uma versão virtual do nosso mundo. Ser vilão, mocinho ou figurante em um jogo é como um trabalho para os personagens, e o expediente termina no momento que o fliperama fecha. Mantendo essa lógica interna, o filme apresenta até mesmo sua versão de mendigos, representadas por figuras de jogos que foram desativados do fliperama, como “Q*bert”. Além disso, são várias as divertidas gags que fazem referência a jogos, como quando Kano (de “Mortal Kombat”) executa um conhecido golpe em um zumbi. Mas as gags não ficam presas só a referências, sendo a melhor delas o modo como as balas de Mentos aparecem.
Aliás, já que mencionei referências a jogos, um pensamento que me ocorreu antes mesmo de entrar na sala de cinema foi o quanto que a Disney deve ter pagado em direitos autorais para as empresas de games, uma vez que são vários os personagens famosos que desfilam pelo filme em pequenas aparições. Só na divertida terapia em grupo com vilões vemos M. Bison, Zangief (ambos de “Street Fighter”), Bowser (de “Super Mario Bros.”) e Robotnik (de “Sonic”). Mas o mais interessante é que o diretor Rich Moore não usa gratuitamente as pontas em que os personagens aparecem, utilizando-as para fazer com que o universo do filme fique mais próximo de nossa realidade.
Moore ainda comanda Detona Ralph com uma energia que combina perfeitamente com o universo aventureiro da história, e isso ajuda a fazer com que o filme se torne um experiência bastante envolvente. Além disso, o diretor conduz muito bem as cenas de ação, como a parte em que Ralph aparece em “Hero’s Duty”, além da corrida que ocorre no terceiro ato. Sem falar que o cineasta tem outros momentos inspirados, como quando vemos a passagem de tempo no fliperama logo no início do filme, sequência que ainda mostra com eficiência a evolução dos games, que foram ficando cada vez mais modernos.
Assistindo Detona Ralph, chega a ser difícil não pensar que o filme faria uma boa sessão dupla com o divertido Megamente. Enquanto a animação da Dreamworks mostra a ascensão de um vilão e a falta que ele passa a sentir da figura do herói, este novo filme mostra o contrário, ainda que meio de relance. Afinal, “Fix-It Felix Jr.” vira um jogo com defeito sem a presença de Ralph, já que Felix não pode concertar nada se não há ninguém para destruir. Dessa forma, Detona Ralph se torna mais um filme a mostrar o quanto heróis e vilões se completam de alguma maneira, e faz isso sem precisar ficar martelando tal informação o tempo todo ao longo da projeção.
Mas é com seus personagens que Detona Ralph realmente conquista o espectador. Apesar de ser um vilão, Ralph é extremamente simpático, e acaba sendo lamentável que ele seja tratado com indiferença por todos ao seu redor, o que faz suas ações se tornarem compreensíveis. Já Vanellope surge irritante em sua primeira cena, mas aos poucos se revela uma menina adorável, e a amizade que ela desenvolve com Ralph é tratada com sensibilidade por Moore, representando o ponto alto do filme, apesar de contar com um conflito um tanto previsível no meio do caminho. Enquanto isso, Felix vive com a Sargento Calhoun (Jane Lynch), de “Hero’s Duty”, uma trama que apesar de não ser tão interessante quanto a aventura envolvendo Ralph e Vanellope, conquista por ter a sorte de a dupla também se mostrar cativante.
Representando ainda uma bela viagem nostálgica, Detona Ralph é talvez a melhor animação de um ano que não foi muito bom para o gênero. E agora que uma continuação foi confirmada, resta esperar que haja mesmo mais uma história para ser contada com esses ótimos personagens, e que não sirva apenas para mostrar outras figuras conhecidas de games.
Obs.: A Disney acertou duas vezes. O curta-metragem O Avião de Papel, que antecede Detona Ralph, é belíssimo. Além de misturar computação gráfica e animação tradicional de um jeito muito interessante, é um filme divertido, tocante, com personagens carismáticos e uma história bem bacana.
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