quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Halloween no Cinema

Hoje é Halloween e trago aqui uma pequena lista de produções que tenham esse dia em suas histórias. Quase todas as pessoas relacionam esse dia a filmes de terror, mas procurei fazer algo diferente. Sim, a lista tem filmes de terror, mas coloquei produções de outros gêneros também, que se não focam muito o Halloween, ao menos incluem alguma cena referente à data.
Enfim, eis a lista:
- Halloween: A Noite do Terror (Halloween, 1978), de John Carpenter:
É claro que o clássico de John Carpenter não poderia ficar de fora dessa lista, por menor que ela seja. Apresentando um dos assassinos mais famosos do Cinema, Michael Myers, Halloween traz uma boa dose de tensão e alguns bons sustos, sendo não só é um dos melhores filmes de Carpenter como ainda revelou Jamie Lee Curtis. Aqui, Curtis interpretou a mocinha indefesa Laurie Strode, que ao lado de seus amigos passa a ser perseguida por Myers em pleno Halloween, depois que o psicopata foge do hospital psiquiátrico onde estava internado.
Até 2003, Halloween ganhou sete continuações, mas em 2007 acabou entrando na onda dos remakes/reboots de filmes de terror clássicos, rendendo Halloween: O Início, que teve uma sequência em 2009. Um novo exemplar da franquia está sendo planejado, mas não se sabe muito sobre ele ainda.
- O Estranho Mundo de Jack (The Nightmare Before Christmas, 1995), de Henry Selick:
Jack Skellington fica cansado da rotina de Halloween que sua querida “Halloween Town” segue todo ano. Ele vai parar em Christmas Town e tenta trazer um pouco do Natal para sua cidade, o que não é tão fácil.
Com um visual que remete diretamente aos filmes de Tim Burton (que escreveu o poema no qual o roteiro foi baseado, além de ter sido o produtor), O Estranho Mundo de Jack é uma grande animação, repleta de personagens carismáticos e números musicais interessantes. O filme foi uma ótima estreia de Henry Selick na direção de longas-metragens, sendo que depois ele comandou James e o Pêssego Gigante e Coraline e o Mundo Secreto.
- E.T.: O Extraterrestre (E.T.: The Extra-Terrestrial, 1982), de Steven Spielberg:
E.T. não é um filme que o Halloween como parte importante de sua história, mas é impossível esquecer a sequência que se passa nessa data, quando o adorável personagem-título acompanha Elliot (Henry Thomas) e Michael (Robert MacNaughton) pelas ruas vestido de fantasma, chegando ao ponto de quase fazer contato com um “Yoda”. Mas mais do que divertir com momentos como esse, E.T. é um filme tocante e que certamente se encontra entre os melhores trabalhos de Steven Spielberg.
- Donnie Darko (2001), de Richard Kelly:
Estreia de Richard Kelly como diretor, Donnie Darko é um dos grandes filmes da década passada, não só por ter uma história muito bem estruturada, mas também por ter um personagem fascinante no centro de sua narrativa. Brilhantemente interpretado por Jake Gyllenhaal (que na época já mostrava ser um grande ator), Donnie é um rapaz cujo modo de agir e de pensar é muito curioso, o que só contribui para fazer da história algo mais envolvente.
Assim como E.T., Donnie Darko apenas traz uma cena que se passa durante o Halloween, e que ajuda a conduzir o filme ao seu impactante final.
- Contos do Dia das Bruxas (Trick ‘r Treat, 2007), de Michael Dougherty:
Produzido por Bryan Singer (diretor dos dois primeiros X-Men), Contos do Dia das Bruxas traz cinco histórias que se passam no Halloween: 1) Um casal apaga a vela de uma abóbora e sofre as consequências; 2) O diretor de uma escola tem um lado obscuro e um relacionamento muito particular com seu filho; 3) Um grupo de crianças tenta fazer uma brincadeira sem graça com uma colega; 4) Um senhor precisa lidar com o pequeno diabinho que o ataca; 5) Um grupo de garotas vai a uma festa e uma delas acha ter encontrado o cara perfeito para sua “primeira vez”.
É um filme de terror interessante, e que de certa forma serve como uma pequena homenagem ao Halloween em si, dando um jeito de colocar todo o tipo de criatura em sua história, seja um vampiro ou um lobisomem. E não deixa de divertir um pouco também.

domingo, 27 de outubro de 2013

Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos / R.I.P.D. - Agentes do Além

Fiz uma sessão dupla com Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos e R.I.P.D. - Agentes do Além, mas devo dizer que não foi uma sessão das melhores. Deixo aqui meus comentários sobre os dois filmes.
Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos
Clary Fray (Lily Collins) presencia um assassinato em uma boate cometido por Jace Wailand (Jamie Campbell Bower), mas se surpreende por ter sido a única que viu isso acontecer. Ao conhecer Jace, Clary descobre que sua mãe, Jocelyn (Lena Headey), era uma Caçadora de Sombras, e que a vítima na boate era na verdade um demônio. Clary passa a interagir com esse universo misterioso, repleto de criaturas ameaçadoras, e ao lado de Jace e outros Caçadores de Sombras ela tenta encontrar o Cálice Mortal antes do vilão Valentine (Jonathan Rhys Meyers).
Baseado no livro de Cassandra Clarke (que não li), Os Instrumentos Mortais se revela desinteressante ao longo de suas mais de duas horas de duração, trazendo ainda uma história que suga elementos de outras séries famosas. Aqui, os humanos são chamados de “mundanos”, lembrando os “trouxas” de Harry Potter, sem falar que temos inclusive um triângulo amoroso a lá Crepúsculo entre Clary, seu amigo Simon (Robert Sheehan) e Jace, algo que rende conflitos bobos e até constrangedores.
Enquanto isso, apesar de o roteiro escrito por Jessica Postigo divertir de vez em quando (como quando descobrimos que um famoso compositor era um Caçador de Sombras ou a cena em que Jace se livra de suas armas, em uma gag clichê, mas que ainda funciona), na maior parte do tempo o filme se preocupa em trazer diálogos involuntariamente risíveis (“Não lembro de nada do que ela queria que eu esquecesse”) ou repetitivos (“Não confie em ninguém”) e cenas de ação pouco eficientes. Pra completar, os personagens demonstram ser aborrecidos demais, o que dificulta o envolvimento com a história.
Infelizmente, Os Instrumentos Mortais acaba sendo mais uma furada de Hollywood em tentar estabelecer uma franquia satisfatória baseada em um best-seller infantojuvenil.
R.I.P.D. – Agentes do Além
R.I.P.D. lembra muito filmes como Homens de Preto e Ghost. Mas é uma pena que essa produção dirigida por Robert Schwentke (o mesmo de Plano de Voo e Red) não tenha a mesma qualidade dessas obras, falhando em quase tudo que tenta fazer ao longo de sua história.
Baseado nos quadrinhos de Peter M. Lenkov, o roteiro escrito por Phil Hay em parceria com Matt Manfredim, e com argumento concebido por eles e David Dobkin, traz no centro de sua história o policial Nick Walker (Ryan Reynolds), que foi assassinado por seu parceiro, Bobby Hayes (Kevin Bacon). Chegando ao Paraíso, Nick aceita fazer parte do Departamento Descanse em Paz, e ao lado de seu novo parceiro, Roy Pulsipher (Jeff Bridges), precisa prender sujeitos que ficaram na Terra mesmo depois de mortos. Ao mesmo tempo, Nick tenta entrar em contato com sua esposa, Julia (Stephanie Szostak).
R.I.P.D. surge com uma premissa que poderia render algo muito divertido. No entanto, o roteiro prefere investir em clichês, como os parceiros de personalidades diferentes que são obrigados a trabalhar juntos, além de desenvolver mal os elementos que busca apresentar (toda a lógica do departamento, por exemplo, é deixada de lado). Já as gags surgem muito pouco inspiradas, sendo que a melhor delas, o fato de Nick e Roy surgirem aos olhos dos humanos como um velho chinês e uma loira sensual, respectivamente, é repetida várias vezes e sem o devido cuidado, revelando a falta de criatividade do roteiro.
Trazendo um Ryan Reynolds desinteressante no papel de Nick e um Jeff Bridges cuja composição caricatural como Roy não causa tantos risos quanto poderia, R.I.P.D. ainda tem cenas de ação que não empolgam e efeitos visuais ineficazes. Isso até torna surpreendente o fato de terem sido gastos 130 milhões em sua produção.
Uma pena que a premissa curiosa tenha se perdido em meio a tudo isso.

sábado, 19 de outubro de 2013

Os Suspeitos

Os Suspeitos é um filme que traz no centro de sua narrativa uma grande investigação, cujas pistas para a resolução são espalhadas ao longo da história de maneira bastante sutil, e aos poucos o roteiro amarra suas pontas cuidadosamente. É, em suma, um thriller exemplar, que faz jus aos melhores do gênero e ainda representa uma excelente estreia em Hollywood para seu diretor, o canadense Denis Villeneuve (o mesmo por trás de Incêndios, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2011).
Escrito por Aaron Guzikowski, Os Suspeitos mostra Keller Dover (Hugh Jackman), que busca fazer justiça com as próprias mãos depois que sua filha de seis anos, Anna (Erin Gerasimovich), desaparece no Dia de Ação de Graças junto com uma amiga, Joy (Kyla Drew Simmons), filha de Franklin e Nancy Birch (Terrence Howard e Viola Davis, respectivamente). Com o pensamento de que o detetive Loki (Jake Gyllenhaal), responsável pelo caso, e o resto da polícia não estão chegando a lugar algum, Keller tenta investigar tudo por si mesmo, apostando todas suas fichas em Alex Jones (Paul Dano), jovem que esteve perto de sua casa pouco antes do desaparecimento das meninas.
A trama pode soar como algo que já vimos antes, considerando que há vários filmes que trazem pais desesperados atrás de seus filhos sequestrados. Mas é aí que entra a inteligência do roteiro de Guzikowski, que desenvolve uma história na qual cada detalhe visto na tela tem seu propósito na narrativa, mesmo que inicialmente seja algo aparentemente banal. Guzikowski usa e abusa de “pista e recompensa” (quando um elemento é plantado em algum ponto no início da história e revela sua importância apenas mais tarde), montando uma estrutura absolutamente fascinante, e quando as pistas do filme passam a fazer sentido é difícil não querer aplaudir o feito do roteirista, que acaba mostrando que sabe exatamente o que está fazendo (se houver justiça, ele será lembrado em vários prêmios nos próximos meses).
Mas não é apenas Guzikowski quem merece aplausos. Impondo um ritmo bastante calmo e perfeito para a história, Denis Villeneuve faz de Os Suspeitos um filme instigante do início ao fim, criando diversos momentos de pura tensão, como quando Loki vai a antiga casa de Keller quando este está guardando algo importante lá, ou a sequência em que um personagem precisa dirigir rapidamente até um hospital. O cineasta também consegue acompanhar muito bem tanto a investigação feita por Keller quanto aquela feita por Loki (quesito no qual a ótima montagem da dupla Joel Cox e Gary Roach também merece créditos), sendo que ambas se contrastam bastante, já que enquanto Keller comete atos quase irracionais, Loki tenta se concentrar um pouco mais nas pistas que vão surgindo, estando aberto para a possibilidade de haver outros suspeitos além de Alex Jones. Enquanto isso, a fotografia do excepcional Roger Deakins não só ajuda a impor o clima de tensão pretendido por Villeneuve, investindo muito em cores frias, como também consegue mostrar o estado dos personagens, o que pode ser visto em um plano que traz Keller à frente em contraluz enquanto Loki surge mais iluminado ao fundo do quadro, indicando os caminhos diferentes que eles tomam em suas investigações.
Se tudo isso já seria o suficiente para tornar Os Suspeitos um filme interessante, o elenco praticamente é a cereja do bolo. Hugh Jackman e Jake Gyllenhaal, por exemplo, têm algumas das melhores atuações de suas carreiras. Trazendo determinação e até certa frieza para Keller Dover, Jackman ressalta brilhantemente o desespero de um pai diante da possibilidade de perder uma filha, e nesse sentido a cena em que ele vê algumas fotos na delegacia é um dos momentos mais tocantes do longa. Já Gyllenhaal faz de Loki um detetive competente, mas que parece estar constantemente estressado e sob pressão, algo indicado pelo seu jeito de piscar, o que mostra o quão difícil é o seu trabalho. E se Maria Bello, Terrence Howard e Viola Davis aparecem muito eficientes em seus papeis, Paul Dano e Melissa Leo quase roubam a cena como Alex Jones e sua tia Holly, respectivamente. O primeiro interpreta o jeito perturbado do rapaz admiravelmente, enquanto que a segunda protagoniza algumas belas cenas no terceiro ato.
Assistindo a Os Suspeitos, ficamos presos a um filme surpreendente, além de impecavelmente construído, e que resulta em uma das grandes obras de 2013.
Cotação:

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Kick-Ass 2

Kick-Ass: Quebrando Tudo se revelou como um dos grandes filmes de 2010, divertindo com seus personagens e o universo da história, se mantendo o mais fiel possível ao material original (o que inclui a violência gráfica). Como quase todo sucesso, o projeto agora ganha uma continuação pelas mãos de Jeff Wadlow, responsável por Wolf Creek e pelo mediano Quebrando Regras (o diretor anterior, Matthew Vaughn, dessa vez ficou a cargo da produção). Mas apesar de ter uma série de problemas, Kick-Ass 2 mesmo assim não chega a ser uma decepção.
Escrito pelo próprio Jeff Wadlow, baseado novamente nos quadrinhos de Mark Millar e John Romita Jr., Kick-Ass 2 mostra que Dave Lizewski (Aaron Taylor-Johnson) inspirou várias outras pessoas comuns a se tornarem super-heróis quando colocou Kick-Ass no mapa. Enquanto a grande Hit-Girl, Mindy Macready (Chloë Grace Moretz), se vê forçada a tentar levar uma vida normal a pedido de seu guardião, Marcus (Morris Chestnut), Dave não consegue se afastar de seus deveres como combatente do crime, se juntando a Justiça Eterna, equipe de heróis liderada pelo Coronel Estrelas (Jim Carrey). É quando Chris D’Amico (Christopher Mintz-Plasse) deixa sua identidade de Red MIst para trás e se torna Motherfucker, planejando uma vingança contra Kick-Ass pelo que este fez a seu pai e juntando uma equipe de supervilões que pode colocar o herói e as pessoas que ele ama em perigo.
Kick-Ass 2 tem ao longo da história elementos que não são tão interessantes quanto poderiam ser. A subtrama envolvendo Mindy e um grupo de patricinhas, por exemplo, é curiosa inicialmente pelo fato de a personalidade da garota não condizer com absolutamente nada do que ela acaba enfrentando, mas depois de um tempo isso se torna um tanto previsível. Além disso, Jeff Wadlow em alguns momentos não sabe se quer fazer humor ou algo um pouco mais sério, o que faz com que o tom do filme fique um tanto inconsistente. Para completar, a metalinguagem que já havia sido incluída no primeiro filme volta a dar as caras aqui, mas de um jeito não muito criativo, como quando alguns diálogos são traduzidos por balões de quadrinhos ou quando os personagens falam constantemente que “Isso não é uma história em quadrinhos”.
Não que Kick-Ass 2 não consiga divertir. Tirando alguns momentos over demais (aquele que inclui vômitos e diarreias é o mais óbvio), boa parte das sacadas do roteiro de Wadlow funciona, como o detalhe de Mindy ter um pote onde coloca um dólar para cada palavrão que diz, ou a piada que o Coronel Estrelas faz com o Homem-Inseto (Robert Emms), um herói homossexual que não usa máscara porque isso seria como ainda estar “no armário” (um detalhe bacana do personagem). Aliás, todos os membros da Justiça Eterna esbanjam simpatia, o que é essencial para que nos importemos com eles, e até por isso chega a ser uma pena que seu desenvolvimento praticamente se limite aos motivos para eles terem se tornado super-heróis.
Enquanto isso, as cenas de ação são bem realizadas por Wadlow, que conduz tudo com energia ao mesmo tempo em que deixa claro para o espectador o que ocorre na tela. Isso vai desde as cenas de luta até sequências maiores, como a batalha final. Mas o grande destaque desse quesito do filme é a cena que traz Mindy combatendo capangas em uma van (ainda que a heroína dê sorte de os vilões terem uma mira terrível).
No entanto, se o filme prende a atenção, isso se deve aos ótimos personagens, que são muito bem interpretados pelo elenco. Aaron Taylor-Johnson volta a fazer de Dave um herói carismático e vulnerável, mesmo que neste filme ele surja mais forte e experiente do que antes. Já Chloë Grace Moretz retorna ao papel de Mindy Macready com competência, trazendo força à garota e deixando claro mais uma vez que ela pode encarar de igual pra igual figuras muito maiores do que ela. E se Christopher Mintz-Plasse encarna Chris D’Amico como um vilão ingênuo, mas não menos eficiente, Jim Carrey traz uma ótima presença em cena para o Coronel Estrelas, divertindo com a excentricidade do sujeito.
Kick-Ass 2 fica longe de ser tão bom quanto o primeiro filme, mas ainda assim rende um bom entretenimento e prova o carisma de seus personagens. No fim, isso acaba sendo o bastante.
Obs.: Há uma cena após os créditos finais.
Cotação:

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Gravidade

Dono de uma filmografia com produções bem diferentes umas das outras, mas ainda assim muito eficientes (como A Princesinha, E Sua Mãe Também, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban e Filhos da Esperança), o mexicano Alfonso Cuarón sempre mostrou ser um diretor que merece atenção, e parece que a cada novo filme ele está em busca de novos desafios. Sete anos após lançar Filhos da Esperança (uma obra-prima na qual ele realizou algumas sequências absolutamente geniais em termos de técnica e narrativa), o cineasta finalmente volta com Gravidade. E a boa notícia é que esse longo hiato valeu a pena, já que aqui Cuarón realiza mais um filme empolgante.
Escrito pelo próprio Alfonso Cuarón e por seu filho, Jonás Cuarón, Gravidade nos apresenta a Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock), engenheira da NASA que se encontra em sua primeira missão no espaço, consertando o telescópio Hubble ao lado de Matt Kowalsky (George Clooney), que por sua vez está em sua última missão. No entanto, os dois se veem em perigo quando um satélite é destruído por um míssil russo e os destroços atingem seu ônibus espacial, deixando-os totalmente sozinhos e sem comunicação com a Terra. Começa então uma luta pela sobrevivência, na qual os astronautas terão que enfrentar os perigos que o espaço reserva para que possam tentar voltar para casa.
Iniciando o filme com um longo e magnífico plano que dura cerca de quinze minutos sem cortes, Cuarón já mostra sua incrível competência para comandar cenas que demandam grande preparação por parte de sua equipe. Mas o que é sempre interessante em seu trabalho é que quando realiza sequências como essa (ou como a que vem logo depois, onde a câmera subjetiva é usada para mostrar o ponto de vista de Ryan), o diretor faz isso sempre a favor de sua narrativa, e não como um mero exercício de estilo. Neste plano, por exemplo, Cuarón aproveita para apresentar os personagens, o acidente com o satélite e o ambiente inóspito onde toda a ação do filme vai desenrolar, além de envolver da melhor maneira possível o espectador em toda a ação e estabelecer a tensão que permeia quase toda a narrativa.
E que tensão. Por causa da gravidade zero do ambiente em que Ryan e Matt se encontram, é impressionante como qualquer choque mais forte deles em uma superfície pode ser fatal, já que pode mandá-los para algum lugar no espaço que os deixe sem chances de salvação. Cuarón comanda isso tudo com maestria, ressaltando a confusão dos personagens (em especial, Ryan) diante de uma situação em que estão perdidos e a mercê de ameaças não planejadas. Quando os destroços vêm na direção dos personagens, por exemplo, é difícil não imaginar que o pior pode acontecer. Além disso, o fato de o cineasta em vários momentos manter sua câmera próxima do rosto de seus atores cria uma atmosfera claustrofóbica que serve perfeitamente ao filme.
Enquanto isso, o design de produção cria o universo do filme nos mínimos detalhes, desde as estações espaciais até o espaço em si, que volta e meia acaba rendendo imagens sensacionais, algo que ganha a ajuda da fotografia do excelente Emmanuel Lubezki (parceiro habitual de Cuarón), que também merece créditos pelo ótimo trabalho que faz nos longos planos filmados pelo diretor. Já a montagem de Mark Sanger e do próprio Cuarón consegue passar com eficiência a impressão de tempo real, com os saltos no tempo surgindo de maneira orgânica. E a belíssima trilha composta por Steven Price pontua brilhantemente algumas das grandes sequências que vemos durante a projeção.
Mas a tensão de Gravidade provavelmente não funcionaria adequadamente caso Cuarón não tivesse em mãos nomes talentosos no elenco, que fazem com que nos importemos com os personagens. George Clooney consegue impor muito bem a experiência de Matt Kowalski, além de encarnar o lado tranquilo e meio brincalhão do personagem com naturalidade, mas sem que isso diminua o perigo visto no filme. No entanto, quem acaba merecendo todos os aplausos é Sandra Bullock. Sendo o grande centro na história, a atriz carrega o filme com uma segurança invejável, deixando clara a vulnerabilidade de Ryan ao mesmo tempo em que a transforma em uma personagem forte. E o arco dramático de renascimento que ela percorre no decorrer da história (algo que Cuarón chega a apontar ao trazê-la na posição fetal em determinado momento, com fios do cenário servindo como cordão umbilical), é um dos pontos mais admiráveis do filme, trabalhado com cuidado pelo roteiro e por Bullock, que merece ser indicada a vários prêmios (inclusive o Oscar) por sua atuação delicada e por vezes tocante.
Espero que não precisemos aguardar mais sete anos até que Alfonso Cuarón faça mais um filme. Apesar de que se for para realizar uma obra como Gravidade, ele pode levar o tempo que quiser.
Cotação:

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

É o Fim

O elenco de É o Fim é composto por um grupo de atores que têm talento para a comédia. E além de levarem jeito para a coisa, eles também são amigos na vida real, sendo que alguns deles frequentemente aparecem estrelando filmes juntos (Superbad: É Hoje e Segurando as Pontas são exemplos disso). Sendo assim, é curioso ver todos eles se unindo para realizar uma produção que é uma mistura de comédia e filme-catástrofe, na qual eles aparecem interpretando a “si mesmos” (uso as aspas porque ainda assim se tratam de personagens) e chamam vários outros nomes conhecidos para fazer participações especiais. Isso acaba resultando em uma brincadeira em que vemos uma hipótese de como esses atores famosos agiriam caso o Apocalipse realmente acontecesse, o que rende belas risadas.
Escrito e dirigido por aquele que pode ser considerado um dos líderes da trupe, Seth Rogen, e por seu parceiro habitual Evan Goldberg (ambos estreantes na direção de longas-metragens), É o Fim mostra Rogen recebendo a visita de seu amigo Jay Baruchel, que há algum tempo não vinha para Los Angeles. Mesmo contra a vontade de Baruchel, os dois acabam indo parar em uma grande festa na casa de James Franco, onde também encontram figuras como Jonah Hill, Craig Robinson, Michael Cera, Emma Watson, entre outros. No entanto, quando tudo aparenta estar tranquilo, o fim do mundo começa, deixando todos em pânico absoluto diante do caos.
O que se segue é um prato cheio para que os atores possam mostrar a ótima química que têm em cena, além de ser uma ótima oportunidade para que eles brinquem com a imagem que estabeleceram para si mesmos ao longo dos anos. Um exemplo divertido disso é Michael Cera, ator conhecido por seu jeito meio tímido e nerd, mas que aqui surge cheirando cocaína e dando tapa na bunda de Rihanna. E as referências que eles fazem aos próprios filmes não só são engraçadas, como também surgem organicamente na história e não soam gratuitas, como quando vemos os objetos guardados por James Franco em sua casa, ou quando Danny McBride diz que Seth Rogen está tendo uma atuação melhor do que aquelas que ele mostrou em seus últimos filmes, como Besouro Verde (e não deixa de ser curioso ver a humildade de Rogen ao incluir esta piada no filme, admitindo que sua empreitada como super-herói realmente não deu certo).
Além disso, as situações criadas pelo roteiro de Rogen e Goldberg (ou pela própria improvisação do elenco, algo que com certeza ocorreu em algumas cenas) funcionam muito bem na maioria das vezes, explorando com eficiência o pânico sentido pelos personagens, como o pequeno mal-entendido envolvendo Emma Watson (que termina numa fala genial de Danny McBride) ou o momento em que todos resolvem confessar algumas coisas ruins que fizeram. E apesar de as referências religiosas incluídas no roteiro parecerem bobas inicialmente (como o fato de apenas as pessoas boas serem salvas do Apocalipse), ao longo do filme elas vão rendendo momentos divertidos, sendo o principal deles envolvendo James Franco no terceiro ato.
Claro que nem tudo dá certo em É o Fim. Às vezes o filme investe em piadas que não tem muita graça, como quando James Franco se irrita ao descobrir o que fizeram com uma de suas revistas masculinas (uma cena que ainda por cima é bem longa) ou quando Jonah Hill é pego de maneira indevida por um monstro. Pra completar, o pequeno conflito entre Seth Rogen e Jay Baruchel não é muito interessante, o que é uma pena quando consideramos que os dois são os protagonistas da história. Mas esses são problemas pequenos quando vemos o filme como um todo.
Tendo nas participações especiais de outros astros alguns de seus elementos mais hilários e contando com um elenco que não teme se expor ao ridículo quando necessário (um detalhe que contribui muito para a eficácia de boa parte das piadas que o filme tenta fazer), É o Fim se revela uma brincadeira interessante de Seth Rogen e seus amigos. Assistindo ao filme, fica claro que todos os envolvidos no projeto devem ter se divertido no decorrer das filmagens, e é bom ver que ao mesmo tempo eles conseguem fazer o público se divertir junto com eles.
Cotação:

sábado, 5 de outubro de 2013

Aposta Máxima

Richie Furst (Justin Timberlake) é um estudante da Faculdade de Princeton que tenta pagar seu doutorado com o dinheiro que ganha em um cassino online. Quanto mais jogadores ele consegue para o site, mais dinheiro ele ganha. No entanto, após perder tudo o que tinha em uma mesa de pôquer, ele vê que foi trapaceado e vai até a Costa Rica encarar Ivan Block (Ben Affleck), o grande chefe por trás dos jogos. Por não fazer alarde com relação ao caso, Richie acaba ganhando a confiança de Block e começa a subir na vida, mas mal sabe que está entrando em uma zona perigosa.
Comandado por Brad Furman (o mesmo diretor do ótimo O Poder e a Lei), Aposta Máxima não tem uma trama das mais originais, lembrando filmes como Wall Street. Isso piora quando o roteiro escrito por Brian Koppelman e David Levien passa seguir a mesma fórmula desses filmes, tornando tudo previsível demais para o espectador. E Furman não consegue injetar muita energia na história, tendo uma direção lamentavelmente burocrática.
Além disso, é difícil se envolver com a trama quando ela é recheada de personagens desinteressantes, e o elenco infelizmente não melhora muito as coisas. Justin Timberlake surge um tanto aborrecido como Richie, e a narração em off do personagem muitas vezes explica para o público o que está acontecendo, o que não é algo necessário. Já Gemma Arterton tem em Rebecca Shafran uma personagem que aparece na tela apenas para fazer poses sensuais e ser o interesse amoroso do protagonista, enquanto que Anthony Mackie não tem muito o que fazer com seu agente Shavers. E Ben Affleck até que encarna bem a canalhice de Ivan Block, mas é uma pena vê-lo se dedicar a um projeto como esse depois da bela reviravolta que deu em sua carreira.
No fim, Aposta Máxima é mais um filme que não consegue fazer muitas coisas interessantes ao longo de sua história, se mantendo no lugar-comum do início ao fim.