quinta-feira, 10 de outubro de 2013
Gravidade
Dono de uma filmografia com produções bem diferentes umas das outras, mas ainda assim muito eficientes (como A Princesinha, E Sua Mãe Também, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban e Filhos da Esperança), o mexicano Alfonso Cuarón sempre mostrou ser um diretor que merece atenção, e parece que a cada novo filme ele está em busca de novos desafios. Sete anos após lançar Filhos da Esperança (uma obra-prima na qual ele realizou algumas sequências absolutamente geniais em termos de técnica e narrativa), o cineasta finalmente volta com Gravidade. E a boa notícia é que esse longo hiato valeu a pena, já que aqui Cuarón realiza mais um filme empolgante.
Escrito pelo próprio Alfonso Cuarón e por seu filho, Jonás Cuarón, Gravidade nos apresenta a Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock), engenheira da NASA que se encontra em sua primeira missão no espaço, consertando o telescópio Hubble ao lado de Matt Kowalsky (George Clooney), que por sua vez está em sua última missão. No entanto, os dois se veem em perigo quando um satélite é destruído por um míssil russo e os destroços atingem seu ônibus espacial, deixando-os totalmente sozinhos e sem comunicação com a Terra. Começa então uma luta pela sobrevivência, na qual os astronautas terão que enfrentar os perigos que o espaço reserva para que possam tentar voltar para casa.
Iniciando o filme com um longo e magnífico plano que dura cerca de quinze minutos sem cortes, Cuarón já mostra sua incrível competência para comandar cenas que demandam grande preparação por parte de sua equipe. Mas o que é sempre interessante em seu trabalho é que quando realiza sequências como essa (ou como a que vem logo depois, onde a câmera subjetiva é usada para mostrar o ponto de vista de Ryan), o diretor faz isso sempre a favor de sua narrativa, e não como um mero exercício de estilo. Neste plano, por exemplo, Cuarón aproveita para apresentar os personagens, o acidente com o satélite e o ambiente inóspito onde toda a ação do filme vai desenrolar, além de envolver da melhor maneira possível o espectador em toda a ação e estabelecer a tensão que permeia quase toda a narrativa.
E que tensão. Por causa da gravidade zero do ambiente em que Ryan e Matt se encontram, é impressionante como qualquer choque mais forte deles em uma superfície pode ser fatal, já que pode mandá-los para algum lugar no espaço que os deixe sem chances de salvação. Cuarón comanda isso tudo com maestria, ressaltando a confusão dos personagens (em especial, Ryan) diante de uma situação em que estão perdidos e a mercê de ameaças não planejadas. Quando os destroços vêm na direção dos personagens, por exemplo, é difícil não imaginar que o pior pode acontecer. Além disso, o fato de o cineasta em vários momentos manter sua câmera próxima do rosto de seus atores cria uma atmosfera claustrofóbica que serve perfeitamente ao filme.
Enquanto isso, o design de produção cria o universo do filme nos mínimos detalhes, desde as estações espaciais até o espaço em si, que volta e meia acaba rendendo imagens sensacionais, algo que ganha a ajuda da fotografia do excelente Emmanuel Lubezki (parceiro habitual de Cuarón), que também merece créditos pelo ótimo trabalho que faz nos longos planos filmados pelo diretor. Já a montagem de Mark Sanger e do próprio Cuarón consegue passar com eficiência a impressão de tempo real, com os saltos no tempo surgindo de maneira orgânica. E a belíssima trilha composta por Steven Price pontua brilhantemente algumas das grandes sequências que vemos durante a projeção.
Mas a tensão de Gravidade provavelmente não funcionaria adequadamente caso Cuarón não tivesse em mãos nomes talentosos no elenco, que fazem com que nos importemos com os personagens. George Clooney consegue impor muito bem a experiência de Matt Kowalski, além de encarnar o lado tranquilo e meio brincalhão do personagem com naturalidade, mas sem que isso diminua o perigo visto no filme. No entanto, quem acaba merecendo todos os aplausos é Sandra Bullock. Sendo o grande centro na história, a atriz carrega o filme com uma segurança invejável, deixando clara a vulnerabilidade de Ryan ao mesmo tempo em que a transforma em uma personagem forte. E o arco dramático de renascimento que ela percorre no decorrer da história (algo que Cuarón chega a apontar ao trazê-la na posição fetal em determinado momento, com fios do cenário servindo como cordão umbilical), é um dos pontos mais admiráveis do filme, trabalhado com cuidado pelo roteiro e por Bullock, que merece ser indicada a vários prêmios (inclusive o Oscar) por sua atuação delicada e por vezes tocante.
Espero que não precisemos aguardar mais sete anos até que Alfonso Cuarón faça mais um filme. Apesar de que se for para realizar uma obra como Gravidade, ele pode levar o tempo que quiser.
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