Talvez eu vá ser julgado por muitos
ao dizer isso, mas não vejo Top Gun: Ases Indomáveis como um dos
grandes filmes da década de 1980. É sem dúvidas um dos mais conhecidos, além de
eficaz como filme de ação, mas tinha também alguns dos piores vícios de Hollywood
naquela época (só de lembrar das montagens musicais do filme bate certo
constrangimento). Vícios estes que até voltam a dar as caras 36 anos depois
neste Top Gun: Maverick, uma continuação que sabe-se lá por que foi ser
feita somente agora. Mas surpreendentemente, eis que Tom Cruise e
companhia realizam aqui o tipo de continuação que supera o original.
Top Gun: Maverick
reencontra o Pete “Maverick” Mitchell vivido por Tom Cruise já de cara
concertando um avião, mostrando que ainda vive e respira o trabalho aéreo. Depois
de confrontar as ordens de um superior, ele recebe como “castigo” ter que
voltar ao seu velho conhecido programa de caças da marinha norte-americana, onde
terá que treinar um grupo de jovens pilotos para uma missão de alto risco.
Entre esses pilotos está Bradley Bradshaw (Miles Teller), também conhecido como
“Rooster”, o filho de seu falecido melhor amigo Goose (vivido por Anthony
Edwards no original) e com quem tem sérias desavenças para resolver.
Certamente querendo retomar o espírito do longa original, Top Gun: Maverick introduz cenas, personagens, relacionamentos e clichês que às vezes fazem a produção parecer uma refilmagem. Isso vai desde a rivalidade entre Rooster e o arrogante Hangman (Glen Powell), que lembra àquela entre Maverick e Iceman (Val Kilmer), até o romance entre Maverick e Penny (Jennifer Connelly), que chega a render o momento mais risível da projeção em uma sequência romântica extremamente cafona. E são elementos tratados de maneira tão óbvia pelo roteiro que até tiram muito do frescor que o longa poderia ter.
Mas mesmo assim o filme consegue
envolver o espectador e fazer com que este se importe com os personagens, sendo
que muito se deve ao elenco. Tom Cruise, por exemplo, volta ao papel de Maverick
sem se acomodar, compondo o protagonista como alguém que, mais uma vez, parece
fazer sempre questão de exibir o prazer que tem de voar e superar desafios. Mas
ao mesmo tempo, o ator é hábil ao mostrar como a perda do melhor amigo no longa
anterior impactou Maverick mais do que poderíamos imaginar há 36 anos, um peso
que vemos na dinâmica dele com o ótimo Miles Teller. Teller, aliás, já entra em
cena mostrando uma segurança invejável como Rooster, tendo muito do espírito e
da presença que Anthony Edwards tinha como Goose. E se é um pouco decepcionante
ver Jennifer Connelly ser relegada a interesse romântico e apoio emocional do
protagonista, ao menos ela ainda faz de Penny uma figura carismática e que diverte
em determinados momentos, enquanto Glen Powell se destaca com a arrogância de
Hangman, não deixando de ter ele próprio um arco dramático que chama a atenção.
Mas é no ar que Top Gun: Maverick realmente impressiona, já que o diretor Joseph Kosinski (que, por sinal, já havia feito um retorno a uma obra da década de 1980 em Tron: O Legado) cria sequências de ação absolutamente fantásticas e de tirar o fôlego – me desculpem por usar essa expressão, mas não resisti ao contexto com a famosa canção do filme original. Sempre deixando clara a geografia espacial desses momentos, Kosinski conduz o espectador magistralmente por sequências aéreas bastante complexas, merecendo destacar também o ótimo trabalho do montador Eddie Hamilton, que evita o uso de cortes rápidos que poderiam deixar o público perdido em meio a ação. E apesar de seguir o que Tony Scott fez originalmente, exibindo certo maniqueísmo ao evitar dar rostos para os inimigos (afinal, é mais fácil torcer por Maverick e companhia quando não vemos humanidade do outro lado da trincheira), o terceiro ato com a missão dos personagens acaba sendo mesmo o auge da ação, fazendo eu lembrar também que “não importa sobre o que é um filme, e sim como ele é” (já diria o saudoso Roger Ebert). Assim, podemos até prever uma ou outra coisa que acontecerá, mas o filme ainda mantém o espectador curioso quanto a como ele irá se desenrolar.
Posso não ter sido alguém que
esperou tantos anos para que Top Gun ganhasse uma continuação. Mas vendo
Top Gun: Maverick, certamente posso dizer que sou alguém que ficou feliz
por tal continuação ter sido feita.
Nota: