sábado, 28 de abril de 2012

Os Vingadores

“Estou aqui para falar da Iniciativa Vingadores!”. Com essa fala de Nick Fury (Samuel L. Jackson) depois dos créditos finais de Homem de Ferro, a Marvel lançou seu maior projeto até agora. Quando é dada a largada em algo tão ambicioso como Os Vingadores, é preciso um grande cuidado por parte das pessoas envolvidas. Afinal, não é fácil colocar vários de seus principais super-heróis em um mesmo filme. Houve um pouco de incerteza quando o nome de Joss Whedon (criador de séries de TV como Buffy, Angel e a espetacular Firefly) foi anunciado para comandar o espetáculo, muito pelo fato de ele ser pouco experiente com cinema, tendo dirigido apenas um filme (o excelente Serenity: A Luta Pelo Amanhã), que por sua vez fora baseado em um universo criado por ele mesmo. Mas a verdade é que os produtores acertaram em cheio ao escolher Whedon e Os Vingadores foi cuidadosamente preparado, empolgando e divertindo em medidas tão poderosas quanto o grupo que dá título ao filme.
Escrito pelo próprio Joss Whedon a partir do argumento concebido por ele e Zak Penn, Os Vingadores nos apresenta logo de cara a ameaça que os heróis irão enfrentar: Loki (Tom Hiddleston), o irmão de Thor (Chris Hemsworth). Após os acontecimentos no filme do Deus do Trovão, o vilão vem para a Terra com o desejo de dominar os humanos e ser um rei, trono que não conseguiu tomar em Asgard. Loki ataca uma base da SHIELD, onde adquire o poderoso cubo Tesseract, prometendo trazer um exército Chitauri para ajuda-lo a cumprir seu objetivo de fazer os humanos seus escravos e a Terra seu reino. Isso faz com que Nick Fury convoque os super-heróis para salvar o mundo.
Para que um grupo de pessoas poderosas seja necessário, o perigo precisa ser grande e iminente. Não adiantaria nada se tudo fosse apenas para derrotar um vilão qualquer. Nesse caso, Joss Whedon mostra nas primeiras cenas de Loki que esta é uma figura realmente ameaçadora, capaz de destruir tudo o que aparecer em seu caminho. É preciso mais de um herói para prendê-lo em certo momento do filme. Loki é cruel e poderoso, ainda mais com o Tesseract em mãos, e seus motivos para dominar o mundo até são compreensíveis. Muitos dizem que há um deus que protege a Terra de todo mal (Thor afirma em determinado momento que ele mesmo é esse deus), mas ainda assim os humanos são uma raça autodestruidora, causando guerras que prejudicam não só eles, mas também o mundo onde vivem. Nada melhor do que ter um rei para eles servirem, alguém para controla-los. Tom Hiddleston mais uma fez encarna Loki com eficiência, revelando as más intenções do personagem já em suas expressões e olhares.
Apesar da pouca experiência como diretor de filmes, Whedon já mostrou ser um grande comandante de equipes. Boa parte de suas séries TV contam com um grupo de personagens que precisam cumprir um objetivo juntos. Apesar de o líder dos Vingadores ser claramente Steve Rogers (Chris Evans), não é ele quem assume o papel de protagonista do filme. Whedon consegue fazer com que todos os membros sejam igualmente importantes e ganhem seus merecidos espaços, desde Tony Stark (Robert Downey Jr.) até Clint Barton (Jeremy Renner). É interessante ver que o roteiro continua desenvolvendo os personagens a partir do que foi visto anteriormente(Os Vingadores é praticamente uma sequência dos cinco filmes que fizeram parte do projeto) ao mesmo tempo em que consegue cria uma boa dinâmica entre eles. Aliás, o próprio universo dos personagens ganha continuidade no roteiro. Se em Homem de Ferro 2 a casa de Tony Stark ficou destruída, em Os Vingadores vemos ele terminar de construir sua Torre Stark, além de ainda estar em um relacionamento estável com Pepper Potts (Gwyneth Paltrow, em uma rápida participação).
O roteiro não ignora o fato de estar lidando com personalidades diferentes, portanto é normal que haja desentendimentos. Se de um lado temos a arrogância e o narcisismo de Tony Stark, do outro temos Steve Rogers e seu jeito antiquado para cumprir ordens e trabalhar em equipe. Mas as discussões acontecem naturalmente, surgindo de dúvidas que os personagens têm diante de tudo o que está acontecendo. A grande luta entre Thor e Stark é um exemplo de que estamos vendo personagens que ainda não se conhecem e não sabem direito como lidar uns com os outros.
As cenas de ação de Os Vingadores são dirigidas com grande segurança por Joss Whedon. Usando ao máximo os poderes e as habilidades dos personagens, o diretor cria sequências de tirar o fôlego, desde a luta entre Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) contra alguns capangas russos (cena que tem uma ótima gag envolvendo o Agente Coulson, interpretado pelo sempre divertido Clark Gregg) até o ataque dos capangas de Loki, liderados por um Clint Barton possuído, a base aérea da SHIELD. Mas a batalha final dos heróis contra Loki e seu exército Chitauri é um dos maiores espetáculos do filme. Whedon explora criativamente o trabalho em equipe dos personagens, como na cena em que o Homem de Ferro atira no escudo do Capitão América para destruir as criaturas ao redor deles. Além disso, o diretor tem noção de que os poderes de alguns personagens são limitados, o que os obriga a procurar outros modos de destruir seus inimigos, o que torna o filme muito mais real de certa forma.
A montagem da dupla Jeffrey Ford e Lisa Lassek se destaca por nunca deixar o filme episódico demais, algo que poderia acontecer em cenas como aquelas em que os heróis são recrutados. Esse é um risco que sequências de ação também poderiam correr. São vários personagens e às vezes eles estão longe um do outro e enfrentam perigos diferentes. Mas os montadores são hábeis ao conseguir fazer com que vejamos os heróis quase que ao mesmo tempo, tentando resolver seus respectivos problemas.
Todos os membros do elenco mostram estar bastante confortáveis em seus papéis. Chris Evans volta a interpretar Steve Rogers com a determinação que se espera de um líder, além de explorar muito bem o fato de que tudo o que é visto ainda é muito novo para o personagem, e sua postura e modo de falar em cena ressaltam o jeito antiquado do Capitão América. Mark Ruffalo não decepciona como Bruce Banner, criando seu personagem e nos fazendo esquecer o antigo intérprete, Edward Norton (e vale dizer que o Hulk ganha a cena mais divertida do filme). Scarlett Johansson surge forte como a Viúva Negra, uma das poucas personagens femininas do filme, ao passo que Chris Hemsworth mantém com sucesso a personalidade humilde adquirida por Thor no tempo de convívio com os humanos.
Sendo um dos únicos atores do elenco que estreia oficialmente seu personagem neste filme, o talentoso Jeremy Renner tem espaço o bastante para mostrar que Clint Barton se importa muito com aquilo que defende, lamentando ao pensar nos homens bons que matou enquanto estava possuído. Enquanto isso, Samuel L. Jackson interpreta Nick Fury com uma calma que claramente esconde uma preocupação, o que o torna mais humano. E Robert Downey Jr. é o grande alívio cômico do filme, tendo as falas mais engraçadas do roteiro (“Sua mãe sabe que você veste as cortinas dela”, ele fala para Thor), mas ao mesmo tempo o ator usa todo seu talento para lembrar o espectador que apesar de seu personagem ser bastante egocêntrico, ele sente bastante a perda de alguém que considera um amigo, algo que já havia mostrado em Homem de Ferro.
Os quatro anos de espera para o filme realmente compensaram. Nick Fury diz em determinado momento que a Iniciativa Vingadores era “uma promessa”. A julgar por este filme, Os Vingadores foi uma promessa muito bem cumprida. Agora, fica a ansiedade por mais um desafio que obrigue os heróis a se reunirem mais uma vez.
Obs.: Há uma cena nos créditos finais. Os conhecedores dos quadrinhos certamente ficarão empolgados.
Cotação:

terça-feira, 24 de abril de 2012

As Peças de Os Vingadores

Como todos sabem, o filme que traz alguns dos grandes heróis da Marvel Comics está chegando. Os Vingadores é um quebra-cabeça que foi bem montado ao longo dos últimos quatro anos, apresentando muito bem suas peças para a reunião que chegará aos cinemas no dia 27 de abril. Aliás, nós brasileiros teremos o privilégio de conferir o filme antes dos americanos, que só poderão acabar com a ansiedade a partir do dia 4 de maio.
Antes de assistir a Os Vingadores, resolvi rever cada uma das peças que formaram esse quebra-cabeça tão esperado. Coloquei no Facebook e no Twitter alguns breves comentários sobre cada um dos filmes, mesmo os que já têm críticas aqui no blog, como é o caso de Homem de Ferro 2 (uma crítica bem do começo do blog), Thor e Capitão América: O Primeiro Vingador.
Para não deixar em branco este período antes da estreia (infelizmente, não consegui me organizar para escrever críticas dos filmes que faltam), coloco estes comentários por aqui. Apesar de o personagem estar em Os Vingadores (e eu gostar muito do filme) preferi deixar o Hulk, de Ang Lee, fora da maratona, já que não fez parte desse grande projeto da Marvel.
- Homem de Ferro (Iron Man, 2008), de Jon Favreau: Um filme empolgante, que tem em Robert Downey Jr. o intérprete perfeito de Tony Stark, construindo um personagem que diverte com sua arrogância, mas ao mesmo tempo mostra se preocupar com os problemas ao seu redor. Cotação: 5/5
- O Incrível Hulk (The Incredible Hulk, 2008), de Louis Leterrier: Diferente do filme de Ang Lee ao investir mais nas cenas de ação do que no relacionamento entre os personagens, mas ao mesmo tempo tem um roteiro que consegue desenvolver seu protagonista e focar eficientemente em sua figura como herói. Cotação: 4/5
- Homem de Ferro 2 (Iron Man 2, 2010), de Jon Favreau: Traz Robert Downey Jr. mais confortável no papel de Tony Stark e um vilão ameaçador que já chama a atenção por ser interpretado por Mickey Rourke. Apesar de ter alguns problemas no roteiro, Homem de Ferro 2 apresenta elementos importantes para o universo do qual faz parte. Um filme divertido e eficiente, ainda que inferior ao seu antecessor. Cotação: 4/5
- Thor (Idem, 2011), de Kenneth Branagh: Não se preocupa apenas com a apresentação e o desenvolvimento de um dos principais membros dos Vingadores (interpretado com grande carisma por Chris Hemsworth), mas também procura estabelecer seu próprio universo. Cotação: 4/5
- Capitão América: O Primeiro Vingador (Captain America: The First Avenger), de Joe Johnston: Interpretado com muita eficiência por Chris Evans, Steve Rogers mostra ser um líder nato desde o início, além de um grande estrategista, sendo o homem ideal para ficar a frente dos Vingadores. E o roteiro acerta ao universalizar o personagem, não o explorando como um grande patriota dos Estados Unidos, e sim como a pessoa boa que sempre foi, o que o faz ser uma figura com a qual qualquer um pode se identificar. Cotação: 4/5
Para quem quiser se preparar um pouco mais, indico esses curtas-metragens protagonizados pelo Agente Coulson (Clark Gregg). The Consultant (que veio nos extras do Blu-Ray de Thor) mostra como foi os bastidores da participação de Tony Stark em O Incrível Hulk. E A Funny Thing Happened On The Way to Thor’s Hammer (que, por sua vez, veio nos extras do Blu-Ray de Capitão América) diverte por trazer Coulson de um jeito até então desconhecido, mas muito interessante. Infelizmente, a incorporação de The Consultant está desativada no YouTube, portanto para assisti-lo clique aqui. A Funny Thing Happened On The Way to Thor’s Hammer você pode ver logo abaixo.
Terreno preparado. Agora é esperar para assistir a grande reunião de alguns dos maiores heróis da Marvel. Avante Vingadores!

sábado, 21 de abril de 2012

American Pie: O Reencontro

Homenageando algumas comédias adolescentes da década de 1980, a franquia American Pie começou, em 1999, tendo como personagens principais jovens com os hormônios à flor da pele em busca de uma experiência com o sexo oposto. A série sempre explorou ao máximo as situações constrangedoras nas quais eles se metiam em meio aos esforços que faziam para conquistar as garotas. Três capítulos e quase dez anos depois, ficou no ar a pergunta: o que teria acontecido com Jim (Jason Biggs) e seus amigos depois do casamento dele? Isso é respondido nos primeiros minutos deste American Pie: O Reencontro, quarto filme da franquia (prefiro ignorar a existência das produções lançadas direto em DVD, protagonizadas por irmãos e primos de Stifler) que apesar de contar com a mesma fórmula de sempre, pelo menos tem consciência de que seus personagens não são mais adolescentes.
Escrito pelos diretores Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg (responsáveis pela trilogia Madrugada Muito Louca, estrelada por Kal Penn e John Cho), American Pie 4 traz Jim agora com um filho e sofrendo com a falta de uma vida sexual mais ativa com Michelle (Alyson Hannigan). Enquanto isso, os outros integrantes da turma, Oz (Chris Klein), Kevin (Thomas Ian Nicholas), Finch (Eddie Kaye Thomas) e Stifler (Seann William Scott), também não se encontram em momentos muito confortáveis, completamente diferente do que haviam imaginado para si mesmos quando adolescentes. Com a reunião do pessoal do ensino médio chegando, surge uma boa oportunidade para todos se encontrarem e deixarem suas vidas um pouco de lado, aproveitando o que puderem de um fim de semana. Mas como de costume, nada sai como planejado.
Começando o filme com uma gag que mostra uma cama tremendo, mas que revela não ser aquilo que pensamos, e sim Michelle balançando seu filho, os diretores já estabelecem como anda o dia-a-dia dela e de Jim, ou seja, uma vida bastante rotineira e sem tempo para que possam ficar juntos sozinhos. Ao mesmo tempo, os cineastas também já mostram o que será o recheio do filme: situações ao estilo vergonha alheia, na qual torceremos de qualquer maneira para que os personagens se salvem de uma enrascada, algo típico de American Pie. Isso fica bastante claro nos eventos que se seguem depois que a criança aparentemente dorme nesse breve prólogo.
Quase todos os personagens estão diferentes daquilo que eram quando os conhecemos. Stifler é a única exceção, sendo o mesmo babaca de sempre ainda que visualmente aparente ser um cara responsável. Enquanto isso, Oz é um jornalista esportivo e ex-participante de uma espécie de “Dança dos Famosos”. Kevin é quase um dono de casa que assiste a todos os programas que sua esposa gosta. E Finch se meteu em algumas encrencas ao redor do mundo. Naturalmente, o reencontro faz com que lembrem dos bons tempos, quando não tinham tantas responsabilidades. Isso torna fácil a tarefa de simpatizar com eles. Quem não imaginou um dia que seguiria um caminho, mas acabou se tornando algo diferente daquilo que esperava? Sendo assim, o roteiro trata muito bem o fato de que a vida é algo imprevisível, mostrando que sempre há circunstâncias que nos levam a mudar um pequeno detalhe, mas que acaba tendo um impacto maior que o esperado.
Não deixa de ser irônico, no entanto, que quando Hurwitz e Scholossberg precisam se concentrar um pouco mais nas piadas do que nos personagens, American Pie 4 perca forças. Algumas das situações nas quais Jim e os outros se metem não conseguem divertir como deveriam ou não são muito originais, como toda a sequência envolvendo a embriaguez de Kara (Ali Cobrin), que em certo momento chega a ser parecida com a parte de American Pie 2 na qual os personagens precisam se esconder para não serem pegos onde não deveriam estar. E quando os diretores-roteiristas resolvem fazer coisas infantis, como uma piada de gases em um momento no qual o filme não estava precisando, percebe-se uma espécie de desespero para fazer rir, como se não houvesse mais nenhuma outra gag para fazer, o que é decepcionante.
Mas American Pie 4 traz cenas divertidas, principalmente aquelas envolvendo o pai de Jim (Eugene Levy). Todos aqueles que assistiram aos filmes da franquia já se acostumaram com o jeito de bom moço do personagem. Portanto, é interessante ver como ele fica depois de fumar um pouco de maconha e tomar algumas doses de bebida alcóolica. O modo como Stifler se vinga de um grupo de jovens também consegue tirar algumas risadas. Não pelo modo como o plano é executado, e sim porque o roteiro pelo menos reconhece a infantilidade de tudo aquilo, o que também mostra o quanto que Stifler não cresceu ao longo dos anos.
Tendo um elenco que volta confortavelmente para seus antigos papéis e trazendo o carisma habitual para os personagens, fazendo com que mantenhamos o interesse neles até o final, American Pie 4 surpreende por trazer temas humanos em meio a sua bagagem de piadas. Apesar de ser um tanto falho com relação a uma de suas propostas, é um filme que ganha pontos por não esquecer que seus personagens agora são adultos e devem ser tratados dessa maneira de agora em diante.
Cotação:

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Foo Fighters: Back & Forth

É sempre interessante ver como uma grande banda deu seus primeiros passos para percorrer seu caminho de sucesso. Em 2011, tivemos dois documentários sobre bandas de rock que se formaram na década de 1990 e continuam fazendo grande sucesso até hoje: o Pearl Jam teve sua história contada em Pearl Jam Twenty, e o Foo Fighters teve este Foo Fighters: Back and Forth. Particularmente, devo dizer que gosto bastante das duas bandas. Infelizmente, ainda não consegui assistir o documentário sobre os 20 anos do grupo liderado por Eddie Vedder, mas Foo Fighters: Back and Forth consegue ser tão empolgante quanto a própria banda que documenta.
Dirigido por James Moll, Foo Fighters: Back and Forth conta toda a trajetória da banda formada atualmente por Dave Grohl, Nate Mendel, Taylor Hawkins, Chris Shiflett e Pat Smear, desde seu começo em 1994 até a produção do último álbum, Wasting Light. Vemos como cada membro entrou na banda, as discussões, os problemas pelos quais passaram e, é claro, o sucesso que foram conquistando ao longo dos anos. Tudo isso com depoimentos dos Foo Fighters, de antigos membros da banda, do produtor de Wasting Light, Butch Vig, e ainda mostrando boas imagens de arquivo, que são muito bem usadas ao longo do documentário.
Logo no início, o filme dá atenção para algo que acabou sendo uma espécie de semente para a criação do Foo Fighters: a morte de Kurt Cobain. Dave Grohl e Pat Smear faziam parte do Nirvana na época como baterista e guitarrista, respectivamente. Como todos sabem, a morte de Cobain resultou no fim do Nirvana, deixando os membros da banda em choque por um tempo. Meses depois da tragédia, Grohl alugou um estúdio e gravou uma fita cassete com algumas canções, fazendo tudo absolutamente sozinho, inclusive tocando todos os instrumentos, o que é muito admirável. Mais admirável ainda é ver que Grohl deu um tiro no escuro com o Foo Fighters, desistindo da chance de tocar com um de seus ídolos, Tom Petty, para investir em um projeto que não tinha futuro certo e do qual ele temia bastante. Afinal, não é qualquer baterista que resolve se arriscar e se tornar vocalista e guitarrista em uma banda que ainda não havia saído do papel.
O diretor James Moll acerta ao mostrar como o Foo Fighters era tratado pela imprensa e pelas pessoas que compareciam aos shows no inicio de sua trajetória. Sendo “a mais nova banda do baterista do Nirvana”, vários repórteres queriam saber qual era a influência de Kurt Cobain na música que era apresentada, e os primeiros fãs só queriam saber das canções do Nirvana. Mesmo com essa grande pressão, é surpreendente ver que Dave Grohl e seus companheiros de Foo Fighters (que ainda estava em sua primeira formação, com Grohl, Pat Smear, Nate Mendel e William Goldsmith) se mantiveram fieis ao projeto do qual faziam parte, não tocando nenhuma canção que não fossem suas e separando muito bem o Foo Fighters do Nirvana, deixando claro que as duas bandas eram diferentes uma da outra.
Os problemas que a banda passou com relação à saída de alguns membros é algo muito bem retratado. O período que abrange a produção do segundo álbum, The Color and The Shape, até o início da produção do terceiro, There Is Nothing Left to Lose, pode ser chamado de maldito. Foi quando William Goldsmith saiu da bateria para dar lugar a Taylor Hawkins, e Pat Smear entregou sua posição de guitarrista para Franz Stahl, que por sua vez acabou saindo depois da turnê de The Color and The Shape, obrigando o grupo a abrir audições para escolher o substituto, que veio a ser Chris Shiflett. Essa parte do documentário fica um pouco mais rápida, trazendo pontos positivos e negativos. Por um lado, sentimos exatamente o que Dave Grohl mostra em seu depoimento, ou seja, aquele pensamento de “Ah, não! Mais um saiu!”. Por outro lado, a passagem de tempo acaba não ficando muito clara. Franz Stahl ficou dois anos como guitarrista da banda, mas o documentário mostra isso rápido demais, o que faz parecer que foi apenas alguns meses.
É interessante notar que depois da saída inesperada desses membros, e de uma grande briga que ocorreu na tentativa de gravar o quarto álbum, One by One, o Foo Fighters simplesmente não parou mais e cresceu muito. A partir daí, a banda parece ter se encontrado ao ter Grohl, Mendel, Hawkins e Shiflett em sua formação, ganhando uma identidade. Dessa forma, é natural que eles ficassem mais confortáveis para tentar coisas novas em seus trabalhos, como lançar o quinto álbum, In Your Honor, como uma edição de dois discos, um contendo o rock que todos se acostumaram e o outro sendo uma versão acústica.
Algo que surpreende em Foo Fighters: Back and Forth é ver o quanto os membros da banda são humildes. Eles sabem que não são ruins naquilo que fazem, mas nunca pensaram que um dia poderiam lotar o estádio de Wembley, em Londres, com 85 mil pessoas como ocorreu em 2008. Na verdade, eles não têm ideia de como que ficaram famosos dessa maneira. O show em Wembley é um momento bonito de se ver no documentário, marcando o auge do sucesso do Foo Fighters. O plano que traz Dave Grohl colocando as mãos no rosto, em claro sinal de que não está acreditando no que está vendo naquele estádio, mostra o quão orgulhoso ele está pelo que a banda conquistou até então.
Mas as cenas que mostram a gravação de Wasting Light talvez sejam as melhores de Foo Fighters: Back and Forth. Vemos a banda se esforçar ao máximo para acertar todas as músicas do álbum, já que qualquer erro não poderia ser consertado graças a decisão de que tudo seria gravado em fita. James Moll consegue mostrar muito bem que gravar o álbum dessa maneira foi um grande desafio para a banda e que foi amenizado por um detalhe: o estúdio era a garagem da casa de Dave Grohl. Como Pat Smear (que voltou oficialmente para a banda neste álbum, algo que só fica claro depois de uma fala de Grohl no final do filme) diz em um de seus depoimentos: “O ambiente na casa de Dave é o mais confortável que você pode imaginar”. Durante as gravações, vemos ainda que apesar de os membros da banda priorizarem seu trabalho, eles não se esquecem de suas famílias, o que resulta em algumas cenas divertidas, principalmente entre Dave Grohl e sua filha.
É difícil não simpatizar com cada um dos membros do Foo Fighters durante esse documentário. Assim como a própria banda, este é um filme que tem seus momentos de diversão, mas nunca deixa de levar a sério os assuntos que trata ao longo de toda a história que está contando. Ao final, fica claro que todos os problemas pelos quais Dave Grohl e seus companheiros passaram desde a criação da banda ocorreram para que eles pudesse fazer sucesso. E pode-se dizer que esse sucesso é mais do que merecido.
Cotação:

sábado, 14 de abril de 2012

Como Agarrar Meu Ex-Namorado

Katherine Heigl parece querer seguir os mesmos passos de Jennifer Aniston, saindo de uma série de TV de muito sucesso e se dedicando ao campo das comédias românticas, um dos gêneros que mais abusa de clichês. Aliás, há um clichê específico que deve ser algum tipo de obrigação para que a atriz resolva embarcar no projeto: aquele do casal que se odeia, mas se ama. Partindo de Vestida Para Casar, passando por A Verdade Nua e Crua, Juntos Pelo Acaso e Noite de Ano Novo, e chegando finalmente a este Como Agarrar Meu Ex-Namorado, todos os filmes tem a atriz brigando com seu par romântico, até chegar ao final em que eles percebem que gostam um do outro.
Baseado no livro de Janet Evanovich, o roteiro escrito por Stacy Sherman, Karen Ray e Liz Brixius (não entendo o porquê de ser preciso três roteiristas para um filme tão formuláico) nos apresenta a Stephanie Plum (Heigl), que começa a trabalhar como caçadora de recompensas para seu primo depois de se divorciar e ser demitida de seu outro emprego. A primeira missão que a garota recebe é prender Joe Morelli (Jason O’Mara), policial que foi um de seus primeiros namorados e agora está sendo acusado de assassinato. À medida que se aprofunda nas investigações, Stephanie se vê dentro de um caso mais perigoso do que pensava e que pode colocar sua vida e a de pessoas próximas a ela em perigo.
Como Agarrar Meu Ex-Namorado é, na verdade, uma comédia romântica disfarçada de thriller policial, procurando se afastar um pouco de seu clichê e se concentrando mais na investigação de Stephanie. O problema é que o filme falha com relação aos dois gêneros que tenta seguir. Tirando duas ou três cenas, como quando a avó de Stephanie (vivida por Debbie Reynolds) atira em um frango assado, o filme não conta com situações muito divertidas. E a diretora Julie Anne Robinson não consegue transformar a história de mistério e perigo em algo envolvente, investindo em um tom cômico mesmo quando a situação em questão é um pouco mais séria. São elementos que tornam Como Agarrar Meu Ex-Namorado um filme bobo, previsível e despretensioso, assim como quase toda comédia romântica feita apenas para entreter seu público.
O roteiro apresenta vários coadjuvantes ao longo da história, desde a família da protagonista até Ranger (Daniel Sunjata), mas todos eles surgem apenas quando é necessário. A família de Stephanie é usada para trazer risadas, ao passo que Ranger aparece apenas para salvar a garota ou ensinar algo para ela. Nenhum deles é bem desenvolvido e todos somem a partir de um determinado momento para nunca mais darem as caras. É uma pena, por que pelo menos Debbie Reynolds diverte em algumas de suas cenas, apesar de serem poucas. Além disso, as roteiristas criam situações que investem em um humor óbvio demais, como a cena em que Ranger e Stephanie estão no estande de tiro e ele mostra do que é capaz com uma arma, ou o nome do primo dela, Vinnie, referência ao filme de 1992.
Katherine Heigl pode não ser uma das melhores atrizes atualmente, mas quase sempre consegue trazer carisma para suas personagens. Se Como Agarrar Meu Ex-Namorado não é um desastre total isso se deve ao fato de ela conseguir mais uma vez ser carismática o bastante para que sua personagem mereça atenção. Apesar de ter um casal central para manter certo foco, o roteiro se concentra quase que exclusivamente na figura de Stephanie, estabelecendo-a como uma personagem vulnerável, o que torna fácil a tarefa de simpatizar com ela. Mas não deixa de ser estranho que a personagem seja apresentada como uma garota normal no início para depois mostrar ser uma investigadora muito competente. Já o par romântico, Jason O’Mara, não tem muito espaço para transformar Morelli em um personagem divertido (como o Gerard Butler da primeira metade de A Verdade Nua e Crua) ou no mínimo interessante.
Katherine Heigl precisa encontrar algo diferente em seus próximos projetos. Até agora, são poucas as comédias românticas estreladas por ela que conseguem se salvar. Espero que este não seja um indicativo de que a atriz está se tornando uma espécie de Adam Sandler desse subgênero. Seria um desperdício.
Cotação:

segunda-feira, 9 de abril de 2012

A conversão para 3D de Titanic

Desde o sucesso estrondoso de Avatar, James Cameron vem atuando como se fosse o pai do 3D, o que me faz ter um pouco de antipatia por este talentoso diretor, porque a tecnologia existe desde a década de 1950. É claro que não na mesma qualidade do próprio Avatar ou de A Invenção de Hugo Cabret, por exemplo, mas ainda assim existia. Há algum tempo, Cameron criticou as conversões para 3D de filmes feitos convencionalmente. Disse que os estúdios estavam correndo para ganhar mais dinheiro, aproveitando a boa impressão deixada por Avatar, o que é a mais pura verdade. Chegou a falar que aquilo que o diretor Alexandre Aja fez em Piranha era o exemplo perfeito de como o 3D não deve ser usado (não gosto desse filme e não posso defendê-lo nesse sentido, já que não vi em 3D).
Mas parece que Cameron esqueceu totalmente suas palavras, pegando um de seus melhores filmes, Titanic, e fazendo a conversão de 2D para um 3D picareta, como são todas as conversões. Isso pode ser comparado a George Lucas e suas mudanças em Star Wars. Há 20 anos, Lucas fez um discurso dizendo que os filmes deveriam ser mantidos do jeito que são lançados. Depois disso, ele já mudou Star Wars duas vezes, tirando muito do impacto que a saga poderia ter.
O 3D de Titanic é uma mutilação da obra. Acho que todos já fizeram um pequeno teste nas sessões de filmes que usam essa tecnologia, tirando os óculos em algumas partes para ver qual é a diferença. Eu fiz isso constantemente durante Titanic e conclui duas coisas:
1º) Não há diferença alguma. O filme foi pensado e feito em 2D. Ou seja, não tem como ele funcionar de outra maneira;
2º) A fotografia de Russell Carpenter sai prejudicada, já que as lentes dos óculos 3D escurecem a nossa visão. Em Titanic isso atrapalha muito durante todo o filme, e chega ao ápice a partir do momento em que o navio começa a afundar. Como isso acontece à noite, as cenas já são escuras por natureza, e é usada uma paleta de cores azuladas que dão um clima congelante ao que está acontecendo, o que é perfeito considerando que o local em que o Titanic se encontra naquele momento é extremamente frio. Com os óculos, boa parte do impacto dessas cenas é perdida, por que tudo fica escuro demais.
Lançar Titanic em 3D parece muito mais uma desculpa para dar mais dinheiro para James Cameron do que para comemorar o centenário da tragédia. É uma pena ver um filme tão bom como esse (aliás, um de meus favoritos) ser tratado dessa forma. Está mais do que comprovado que a conversão de 2D para 3D é uma verdadeira perda de tempo. Estamos vendo isso nos filmes que estão sendo lançados atualmente, como Fúria de Titãs 2 e Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança, e em produções mais antigas, como Toy Story e Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma.
E quando pensamos que não há como piorar, Steven Spielberg anuncia que lançará Jurassic Park em 3D no ano que vem, comemorando o aniversário de 20 anos do filme. Ele claramente não aprendeu nada com o que está acontecendo. Quer relançar seu filme? Relance, mas do jeito como foi lançado originalmente. Assim, jovens cinéfilos como eu terão a oportunidade de assisti-lo da maneira como deve ser assistido: no cinema, sem um 3D desnecessário para atrapalhar.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Homenageando O Poderoso Chefão e Cantando na Chuva

Março de 2012 foi um mês cinematograficamente especial. Isso porque duas das maiores obras-primas do cinema completaram mais uma década de existência. No dia 15, O Poderoso Chefão, um dos grandes expoentes do período da Nova Hollywood, completou 40 anos desde sua primeira exibição. E no dia 27, foi a vez de Cantando na Chuva, que completou 60 anos. Espero que os Corleone e o trio Gene Kelly, Debbie Reynolds e Donald O’Connor me perdoem por esta homenagem sair atrasada.
Para comemorar essas datas importantes, revi a trilogia O Poderoso Chefão e assisti Cantando na Chuva pela primeira vez, corrigindo um dos erros vergonhosos na minha vida de cinéfilo.
Apesar de ter sido o aniversário apenas da primeira parte da saga dos Corleone, resolvi comemorar a existência da trilogia inteira. Diferente de minha primeira visita (quando vi a parte 1 e a parte 2 em curto espaço de tempo e esperei dois anos para ver a parte 3), dessa vez assisti aos três filmes de O Poderoso Chefão quase que um atrás do outro, e é incrível o impacto que essa maravilha tem quando vista dessa forma.
O Poderoso Chefão é uma história trágica, sobre um jovem, Michael Corleone, que no início não quer se envolver nos negócios da família, mas acaba mudando toda sua vida por amor a ela. Apesar de dizer que os crimes que cometeu foram para proteger seus entes queridos, Michael afasta todos eles por ser diferente de seu pai, Vito Corleone, colocando os negócios antes de qualquer outra coisa. E como resultado de sua vida como mafioso, ele chega ao fim de sua história sentado em uma cadeira, com uma laranja na mão e um cachorro andando em sua volta, sem mais ninguém por perto.
É uma saga tão triste e tão bem contada por Francis Ford Coppola que quando cheguei ao final da terceira parte, lágrimas começaram a cair dos meus olhos. Não só a história, mas tudo o que envolve O Poderoso Chefão é algo fascinante. São várias cenas sensacionais, falas memoráveis e atuações brilhantes, só para citar alguns dos elementos que tornam essa trilogia algo absolutamente perfeito.
Saindo de uma obra-prima para outra, chegou a vez de falar um pouco sobre Cantando na Chuva. Um filme que traz números musicais incríveis, uma história divertidíssima, personagens carismáticos e tantas outras coisas que o tornam um verdadeiro clássico. Tudo isso envolvendo uma belíssima homenagem ao cinema, retratando muito bem o período em que os filmes mudos começaram a dar espaço aos filmes falados. Vendo Cantando na Chuva, logo vi de onde saiu um pouco da inspiração para um recente (e brilhante) ganhador do Oscar.
Como não se divertir vendo Donald O’Connor pular e cantar em “Make ’em Laugh” ou vendo os três personagens principais cantando “Good Morning”? Como não se emocionar com Kathy Selden (interpretada por Debbie Reynolds) recebendo seu devido reconhecimento em uma das últimas cenas do filme? E claro que não podemos esquecer de Gene Kelly brincando com poças d’água em “Singin’ in the Rain”, cena que se tornou antológica. Não consigo entender como que o Oscar pôde esnobar aquele que é considerado por muitos o melhor musical já feito.
Existem produções que quando chegam ao fim me fazem dizer “É por isso que gosto de cinema!”. O Poderoso Chefão e Cantando na Chuva são dois desses filmes que me dão orgulho em ser um cinéfilo inveterado e aspirante a crítico. Não há palavras o bastante para descrever como é bom saber que essas obras-primas existem.