quinta-feira, 30 de junho de 2011

Fazendo Filmes, de Sidney Lumet

Sidney Lumet é um dos meus diretores favoritos. Já falei isso em outras postagens aqui no blog. Lembro do ano passado, quando assisti a 12 Homens e Uma Sentença, e no momento em que o filme terminou eu pensei: "É por isso que gosto de cinema!". Sendo assim, quando eu soube que Lumet havia escrito um livro, imediatamente fui à procura dessa obra, entitulada Fazendo Filmes. Para a minha sorte, a biblioteca da ULBRA (onde estou cursando Cinema) é bem grande, e foi lá que encontrei esse e muitos outros livros interessantes relacionados à minha área.
Fazendo Filmes é um livro onde Lumet fala sobre os bastidores de seus filmes, explicando todo o processo de produção pelo qual eles passaram, desde o roteiro até a hora em que vê suas obras prontas. Além disso, o diretor fala até mesmo sobre sua filosofia de trabalho, mostrando que além de grande diretor, ele era uma pessoa muito responsável (e para ilustrar isso, ele coloca imagens do cronograma de filmagem de alguns de seus filmes, algo simplesmente fascinante). Quando se lê Fazendo Filmes, a impressão que se tem é a de que Lumet está aconselhando futuros cineastas. E ele é a pessoa certa para dar tais conselhos.
Para aqueles que amam cinema, Fazendo Filmes é interessantíssimo do início ao fim. Mais uma obra-prima de Sidney Lumet.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Meia-Noite em Paris

Woody Allen parece nunca ter ouvido falar na palavra “férias”. O diretor-roteirista-ator (ele não atua desde Scoop: O Grande Furo, mas já confirmou presença no seu próximo filme) lançou nada menos do que 41 longas-metragens nos últimos 45 anos, sendo que ele não faz um intervalo desde 1982. Atualmente, alguns de seus melhores trabalhos têm sido produzidos longe da cidade que ele tanto adora: Nova York, palco de filmes como Noivo Neurótico, Noiva Nervosa e Poderosa Afrodite. Allen foi para Londres em Match Point: Ponto Final, para Barcelona em Vicky Cristina Barcelona e, agora, para Paris neste Meia-Noite em Paris, filme no qual ele mostra mais uma vez seu grande talento para contar histórias.
Gil Pender (Owen Wilson) é um ex-roteirista de Hollywood que agora tenta ganhar a vida como escritor. Fã de escritores renomados como Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald, Gil pensa que a época em que seus ídolos viveram era a Idade de Ouro. Em viajem a Paris com sua noiva Inez (Rachel McAdams), ele descobre que a cidade pode lhe proporcionar momentos especiais que podem lhe devolver a inspiração para escrever: todos os dias, à meia-noite, Gil pode viajar no tempo e encontrar seus ídolos (e outras figuras conhecidas) em sua época favorita.
Allen começa o filme de uma forma que eu ainda não havia visto (consegui assistir a apenas uma parte dos filmes dele). Antes dos tradicionais créditos iniciais, o diretor coloca uma sequência que mostra vários lugares que identificam a Cidade-Luz, como o Museu do Louvre, o Moulin Rouge e a Torre Eiffel. Dessa forma, ele nos diz que o protagonista do filme é a própria Paris, enquanto que Gil Pender é o protagonista da história que Meia-Noite em Paris conta. Aliás, a capital francesa é tratada como um lugar literalmente mágico, como mostram as várias “viagens no tempo” que Gil faz ao longo do filme. Allen faz um belíssimo tour por Paris, não só com planos gerais, mas também usando os personagens, que na maior parte do tempo aparecem caminhando pelas ruas da cidade ou visitando museus e monumentos.
O roteiro conta com diálogos divertidos e inteligentes. Quando Gil entrega o manuscrito de seu livro para Hemingway, pedindo para que este o leia, o “veterano” responde de forma hilária e genial: “Não vou ler. Se for ruim, vou detestar. Se for bom, vou ficar com inveja e detestarei ainda mais”. Outro grande momento do filme é a divertida conversa de Gil com o fotógrafo Man Ray, o cineasta Luis Buñuel e o pintor Salvador Dalí, figuras conhecidas do surrealismo. O fato de Allen trazer caras famosas para o filme é uma grande sacada, já que o brilhantismo deles cria um belo contraste com a insegurança de Gil. Meia-Noite em Paris perde um pouco de força quando a história se afasta das “celebridades”, já que elas divertem bastante, mas Gil Pender é um personagem muito bacana, fazendo com que tal falha seja esquecida pouco depois.
Gil Pender poderia ser interpretado pelo próprio Woody Allen se este estivesse nos seus 30 ou 40 anos. Um cara inseguro que procura evitar qualquer atividade que sabe que o deixarão desconfortável (como passear com os amigos de Inez), Gil é muito parecido com vários personagens que Allen interpretou ao longo de sua carreira, como o Lenny Weintraub de Poderosa Afrodite ou o Kleinman de Neblina e Sombras. Isso fica ainda mais óbvio na atuação de Owen Wilson, que interpreta o personagem com os trejeitos que são marca registrada de Allen. Wilson aparece em cena atrapalhado, tanto com as palavras quanto com as pessoas ao seu redor. O ator não decepciona ao ser um substituto de Woody Allen, trazendo ainda um enorme carisma para o personagem. Outro detalhe interessante sobre Gil Pender é que seus sentimentos são muito bem mostrados através de suas roupas. Quando está no presente, Gil usa camisas lisas ou xadrez, algo que ressalta sua vida entediante. Já quando está no passado com seus ídolos, ele aparece mais arrumado, usando suéteres ou até mesmo um terno.
Entre os coadjuvantes, Marion Cotillard aparece adorável como Adriana, mulher que Gil conhece em suas aventuras pelo passado, enquanto que Corey Stoll aparece brilhante como Ernest Hemingway, quase roubando a cena de Owen Wilson. Rachel McAdams se sai bem como Inez, personagem muito mais preocupada com seu bem-estar. Outros atores também conseguem se destacar apesar de aparecerem pouco. Michael Sheen consegue deixar suas marcas com um personagem inteligente, que muda de humor rapidamente quando vê estar errado sobre alguma coisa. E Adrien Brody diverte em sua única cena como Salvador Dalí.
Meia-Noite em Paris é mais um exemplo de que Woody Allen ainda tem capacidade para fazer grandes filmes. Se ele continuar assim, espero que não entre de férias tão cedo.
Cotação:

domingo, 19 de junho de 2011

3D ou "3D"?

O que seria o 3D?
É uma tecnologia que nos dá a impressão de que as imagens que vemos têm três dimensões. Ver um filme literalmente “saindo da tela” diante dos nossos olhos é algo interessante, sendo uma forma de entretenimento diferente. Mas é uma tecnologia que está sendo usada para entreter o público ou para juntar mais dinheiro no cofre dos estúdios?
Bem, se para eles a resposta é a primeira, para nós o que realmente parece estar acontecendo é a segunda. Afinal, somos nós que pagamos o dobro do preço normal de ingresso para ter uma experiência que, na grande maioria das vezes, é decepcionante.
Avatar, Premonição 4, Toy Story (1, 2 e 3), Alice no País das Maravilhas, Fúria de Titãs, Resident Evil 4: Recomeço, A Lenda dos Guardiões, Jogos Mortais: O Final, Megamente, Tron: O Legado, Rio, Thor, Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas, Kung Fu Panda 2.
Esses foram os 16 filmes que assisti em 3D nos cinemas, até o momento. Quantos realmente impressionaram com a tecnologia? Dois: Avatar e Resident Evil 4. Foram os únicos filmes que assisti que foram feitos com o sistema desenvolvido por James Cameron. Os outros 14 foram convertidos na pós-produção e não impressionaram muito (alguns nem fizeram diferença, como foi o caso de Fúria de Titãs e Piratas do Caribe 4).
O 3D de Resident Evil 4 foi algo surpreendente, sendo até melhor que o de Avatar. Digo isso porque há uma grande diferença entre Paul W.S. Anderson e James Cameron. Se a tecnologia for bem utilizada em Os Três Mosqueteiros, não vou ficar surpreso caso Anderson comece a dividir o título de “o cara do 3D” com Cameron, apesar de ele ser um diretor bem irregular, responsável por bombas como Alien vs. Predador e Corrida Mortal.
Quando Rango e X-Men: Primeira Classe foram lançados, vi as pessoas ficarem surpresas e, até mesmo, felizes quando souberam que eles não vieram com a opção 3D. Isso mostra que a tecnologia não caiu muito nas graças do público, por que o modo como ela é tratada simplesmente está começando a cansar as pessoas. A conversão via computador não é “3D de verdade”. É ilusão de algo que por si só já é uma ilusão.
Mas, afinal, o que nos leva a ir ver um filme em 3D mesmo tendo quase certeza de que a tecnologia será decepcionante? A minha resposta é esta: para ter uma experiência completa no cinema (sempre esperamos ver um grande filme, e se ele “sair da tela” será um bônus muito bem-vindo). A primeira parte da experiência tem boas chances de ser realizada, mas a segunda exige muita competência dos envolvidos na produção do filme. Competência esta muito pouco vista.

sábado, 4 de junho de 2011

X-Men: Primeira Classe

(Antes de mais nada, dou o recado de sempre para não perder o hábito. Sou fã dos quadrinhos da Marvel Comics, e recentemente comecei a bloquear o meu fanatismo quando assisto a filmes como este X-Men: Primeira Classe, pois não quero que meu julgamento seja atrapalhado).
O universo de X-Men é interessantíssimo. Diferente da realidade de outros heróis como Homem-Aranha, Batman e Homem de Ferro, as histórias do time de Charles Xavier exploram não só seus personagens, mas também o preconceito, algo presente também no nosso dia-a-dia. Isso foi tratado de forma brilhante na ótima trilogia iniciada por Bryan Singer e finalizada por Brett Ratner. Se X-Men Origens: Wolverine mostrou as origens do personagem-título e acabou sendo um escorregão, X-Men: Primeira Classe mostra o início de todo esse universo dos mutantes, conseguindo ser o oposto de um escorregão.
X-Men: Primeira Classe mostra como tudo começou, desde a amizade de Charles Xavier (James McAvoy) com Erik Lehnsherr (Michael Fassbender) até a formação do grupo X-Men. Quando o poderoso mutante Sebastian Shaw (Kevin Bacon) resolve começar a Terceira Guerra Mundial, Xavier e Lehnsherr se unem para derrotar esse inimigo em comum, mesmo com ideias diferentes um do outro. Enquanto Xavier quer impedir a guerra, Lensherr quer se vingar da morte de sua mãe, assassinada por Shaw. A dupla monta seu time com jovens mutantes, e juntos acabam aprendendo a extensão de seus poderes e como controlá-los.
O diretor Matthew Vaughn (o mesmo do excelente Kick-Ass) continua mostrando todo o seu talento. Dando a X-Men: Primeira Classe o mesmo tom dos filmes da trilogia, Vaughn faz cenas de ação empolgantes, explorando os poderes dos personagens sempre de forma muito orgânica. O ataque de Sebastian Shaw ao esconderijo na CIA é espetacular, sendo marcante também por ser o momento em que os jovens mutantes se vêem obrigados a virarem adultos. Aliás, Vaughn faz um belo uso da câmera na mão nesta cena, algo que a deixa ainda mais tensa. Para completar, o diretor ainda faz uma bela sequência onde um mapa mostra quais países serão atacados por Shaw.
O roteiro escrito pelo próprio diretor em parceria com Jane Goldman, Ashley Miller e Zack Stentz, e baseado no argumento de Bryan Singer (de volta a franquia depois de X-Men 2) e Sheldon Turner, é cheio de grandes momentos, a maioria deles envolvendo o modo como os mutantes são tratados pelas pessoas. Quando Mística (vivida com um carisma surpreendente pela ótima Jennifer Lawrence, de Inverno da Alma) diz “Porque nós temos de nos adaptar a sociedade? Porque a sociedade não se adapta a nós?” é impossível não ficar pensativo. Com a ideia de “Mutante e orgulhoso”, o roteiro acaba passando uma belíssima mensagem de que as pessoas devem ser elas mesmas.
Para quebrar o gelo, X-Men: Primeira Classe ainda traz excelentes momentos de humor, alguns envolvendo fatos que ainda acontecerão com os personagens (Xavier dizendo “Não toque no meu cabelo” é hilário). Mas a cena mais engraçada do filme certamente é aquela que coloca Xavier e Lehnsherr ao lado de um dos mutantes mais adorados do universo dos X-Men.
O design de produção faz um ótimo trabalho de recriação de época (o filme se passa, em sua maioria, na década de 1960) e na concepção do jato dos X-Men e do Cérebro, aparelho usado por Xavier para encontrar outros mutantes. O jato ganha um formato mais antigo, enquanto que o Cérebro aparece cheio de fios, deixando óbvia a carência de recursos para construí-lo.
A montagem de X-Men: Primeira Classe é maravilhosa. Trazendo transições de cena usando a tela dividida (clara referência aos quadrinhos), ela consegue de forma brilhante acompanhar os protagonistas até a parte em que eles se encontram. Um momento inspiradíssimo do filme acontece quando Lehnsherr e Xavier se emocionam quando o primeiro compartilha uma memória. Nessa cena, ocorre uma superposição de imagens simplesmente sensacional, e que mostra o que o personagem está sentindo.
Vivido por James McAvoy com grande segurança, o jovem Charles Xavier nada deixa a desejar em comparação com a versão mais experiente mostrada na trilogia (e muito bem interpretada por Patrick Stewart, mais notável no primeiro filme). Desde criança, Xavier mostra ser uma pessoa bondosa e livre de preconceitos. É interessante notar que Xavier tenta mostrar para as pessoas “normais” que elas também são mutantes, algo que pode ser considerado como uma tentativa de acalmar essas pessoas, caso algum dia elas se deparem com seres especiais. E McAvoy acerta ao não tentar ser uma cópia mais jovem de Patrick Stewart, construindo a sua própria versão do personagem.
Michael Fassbender também aparece brilhante como Erik Lehnsherr. Tendo em mãos o personagem mais complexo da história, Fassbender tem uma atuação amargurada e, às vezes, tocante. Erik Lensherr mostra ser uma pessoa vingativa, e que faz qualquer coisa para alcançar seu objetivo, algo que resulta em grandes cenas. E o sentimento de Lehnsherr quando este vê a extensão de seu poder é um dos momentos mais bacanas do filme, graças à atuação do ator.
Kevin Bacon também se destaca. Interpretando Sebastian Shaw com um misto de seriedade e bom humor, Bacon aparece em cena sempre ameaçador. Shaw é um mutante poderosíssimo e que nos faz temer pelos heróis. É possível perceber que alguns traços de sua personalidade acabam sendo tomados por Lehnsherr, já que o Magneto que conhecemos ao longo da trilogia mostrou ser um líder dos mutantes e dizia que uma guerra estaria por vir. E no elenco de jovens atores, além de Jennifer Lawrence, o Um Grande Garoto Nicholas Hoult também tem uma grande atuação interpretando Hank McCoy, um personagem adorável que aparece sempre triste por se considerar uma aberração.
Em meio ao lançamento de tantas sequências medíocres, X-Men: Primeira Classe é uma pré-continuação que traz um grande alívio para a temporada, mostrando que os mutantes têm muita força para continuar sua saga nos cinemas.
Cotação: