terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Os Melhores e os Piores Filmes de 2013



E mais um ano está chegando ao fim.

Devo dizer que gostei de 2013. Foi um ano bacana, com muitos filmes assistidos (esse ano vi 402 filmes, quebrando o recorde que estabeleci no ano passado), 63 críticas publicadas e uma paixão por cinema que aumenta cada vez mais.

Agora chegou a hora das tradicionais listas de fim de ano com os melhores e os piores filmes. Como sempre, considero para as listas até mesmo as produções de outros anos, mas que só chegaram ao Brasil em 2013 (ainda sonho com o dia em que os filmes estrearão aqui no mesmo período que lá fora).

Assim como fiz em 2012, fiz as listas ao longo de todo o ano ao invés de esperar chegar a reta final para compila-las, o que novamente facilitou bastante apesar de eu ainda estar trocando algumas posições enquanto escrevo esta breve introdução.

Mas aí estão elas.

Os melhores filmes lançados nos cinemas brasileiros em 2013:

1) A Viagem (Cloud Atlas), de Andy Wachowski, Lana Wachowski e Tom Tykwer: Como diz o título brasileiro, esse filme é uma viagem. Uma viagem grandiosa e absolutamente fantástica.

2) Gravidade (Gravity), de Alfonso Cuarón: Cuarón voltou com tudo nesse filme de incrível tensão e com uma história de renascimento muito bem construída, além de contar com uma atuação excepcional de Sandra Bullock.

3) Elena, de Petra Costa: Um documentário bastante pessoal e que serve como uma linda e emocionante carta da diretora Petra Costa para sua irmã Elena.

4) Os Suspeitos (Prisoners), de Denis Villeneuve: Um thriller exemplar, com um roteiro absolutamente fantástico e grandes atuações de seu elenco, em especial Hugh Jackman e Jake Gyllenhaal.

5) Antes da Meia-Noite (Before Midnight), de Richard Linklater: Não apenas fecha satisfatoriamente uma trilogia, como ainda mantém o nível de genialidade da linda história de Jesse e Celine.

6) Amor (Amour), de Michael Haneke: Drama angustiante como toda a filmografia de Michael Haneke e atuações brilhantes de Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintignant.

7) O Mestre (The Master), de Paul Thomas Anderson: Um filme intrigante, com uma narrativa muito bem conduzida e que levanta questões interessantes sobre a sociedade. Mais um belíssimo trabalho de um dos melhores diretores em atividade. 

8) Azul é a Cor Mais Quente (La Vie d’Adèle), de Abdellatif Kechiche: Uma maravilhosa história de autodescobrimento e aceitação com uma atuação central magnífica de Adèle Exarchopoulos.

9) Amor Bandido (Mud), de Jeff Nichols: Nichols vem se revelando um dos melhores diretores que surgiram nos últimos anos e aqui cria grandes personagens, que se envolvem em conflitos tensos e ajudam a fazer com que a história prenda a atenção.

10) A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty), de Kathryn Bigelow: A caça a Osama bin Laden rende um filme instigante, que deixa claro que matar um líder terrorista não termina com o terrorismo em si. E Jessica Chastain tem uma atuação maravilhosa.

Obs.: Menção honrosa para Breaking Bad, série que chegou ao fim em 2013 e que foi tão boa quanto os filmes citados nessa lista. E sua 5ª e derradeira temporada foi sensacional.

Outros 29 filmes que merecem destaque (em ordem alfabética):

Além da Escuridão – Star Trek (Star Trek Into Darkness), de J.J. Abrams
À Procura do Amor (Enough Said), de Nicole Holofcener
Blue Jasmine, de Woody Allen
A Caça (Jagten), de Thomas Vinterberg
Capitão Phillips (Captain Phillips), de Paul Greengrass
Círculo de Fogo (Pacific Rim), de Guillermo del Toro
Como Não Perder Essa Mulher (Don Jon), de Joseph Gordon-Levitt
Os Croods (The Croods), de Kirk De Micco e Chris Sanders
Depois de Lúcia (Después de Lucía), de Michel Franco
Detona Ralph (Wreck-It Ralph), de Rich Moore
Django Livre (Django Unchained), de Quentin Tarantino
Dossiê Jango, de Paulo Henrique Fontenelle
Faroeste Caboclo, de René Sampaio
Frances Ha, de Noah Baumbach
O Grande Gatsby (The Great Gatsby), de Baz Luhrmann
Guerra Mundial Z (World War Z), de Marc Forster
Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild), de Benh Zeitlin
Invocação do Mal (The Conjuring), de James Wan
Jogos Vorazes: Em Chamas (The Hunger Games: Catching Fire), de Francis Lawrence
Killer Joe: Matador de Aluguel (Killer Joe), de William Friedkin
Questão de Tempo (About Time), de Richard Curtis
Reino Escondido (Epic), de Chris Wedge
Segredos de Sangue (Stoker), de Park Chan-wook
As Sessões (The Sessions), de Ben Lewin
Sete Psicopatas e Um Shih Tzu (Seven Psychopaths), de Martin McDonagh
O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho
Terapia de Risco (Side Effects), de Steven Soderbergh
O Verão da Minha Vida (The Way Way Back), de Nat Faxon e Jim Rash

Os piores filmes lançados nos cinemas brasileiros em 2013:

1) Para Maiores (Movie 43), de vários diretores: Lamentável que tantos atores talentosos tenham topado participar de algo tão estúpido, grosseiro e sem graça quanto este filme.

2) Todo Mundo em Pânico 5 (Scary MoVie), de Malcolm D. Lee: Tenta parodiar vários filmes, mas falha miseravelmente ao achar que o espectador rirá de qualquer gag idiota, como àquelas em que um cara leva pancadas no meio das pernas.

3) O Último Exorcismo – Parte 2 (The Last Exorcism – Part 2), de Ed Gass-Donnelly: Terror que falha em todas suas tentativas de assustar além de contar com uma série de clichês irritantes e uma fraca protagonista.

4) O Resgate (Stolen), de Simon West: Sequências de ação desinteressantes, diálogos sofríveis, cenas que causam o riso involuntário de tão absurdas, Nicolas Cage parecendo tão entediado quanto o público. Enfim, um desastre.

5) A Hospedeira (The Host), de Andrew Niccol: A premissa curiosa é desperdiçada em meio a uma narrativa nenhum pouco envolvente e um triângulo amoroso (ou quadrado amoroso?) com personagens aborrecidos demais.

6) O Tempo e o Vento, de Jayme Monjardim: Érico Veríssimo deve estar se revirando no túmulo pelo que fizeram com sua obra. E considerando que o filme foi transformado em minissérie, seu lançamento nos cinemas foi totalmente desnecessário, servindo apenas para tirar alguns trocados do público.

7) Amanhecer Violento (Red Dawn), de Dan Bradley: Personagens insuportáveis, cenas de ação confusas e uma história politicamente estúpida.

8) R.I.P.D. – Agentes do Além (R.I.P.D.), de Robert Schwentke: Apesar da premissa interessante, é uma produção visualmente feia, pouco divertida e clichê. Inacreditável que tenham sido gastos 130 milhões de dólares para realiza-la.

9) G.I. Joe: Retaliação (G.I. Joe: Retaliation), de Jon M. Chu: É um pouquinho melhor do que seu antecessor, mas ainda assim é mais um filme de ação que subestima a inteligência do público e não faz jus aos divertidos brinquedos que o originaram.

10) Meu Malvado Favorito 2 (Despicable Me 2), de Pierre Coffin e Chris Renaud: Um pouco pior que o primeiro filme, investindo numa história boba e formuláica, subtramas nada interessantes, gags pouco inspiradas e um sentimentalismo entediante.

Outras 20 produções que merecem menção desonrosa (em ordem alfabética):

Os Amantes Passageiros (Los Amantes Pasajeros), de Pedro Almodóvar
Aposta Máxima (Runner Runner), de Brad Furman
O Ataque (White House Down), de Roland Emmerich
Aviões (Planes), de Klay Hall
Caça aos Gângsteres (Gangster Squad), de Ruben Fleischer
O Casamento do Ano (The Big Wedding), de Justin Zackham
Chamada de Emergência (The Call), de Brad Anderson
Depois da Terra (After Earth), de M. Night Shyamalan
Duro de Matar: Um Bom Dia ParaMorrer (A Good Day to Die Hard), de John Moore
Os Estagiários (The Internship), de Shawn Levy
Giovanni Improtta, de José Wilker
Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos (The Mortal Instruments: City of Bones), de Harald Zwart
Invasão à Casa Branca (Olympus Has Fallen), de Antoine Fuqua
João e Maria: Caçadores de Bruxas (Hansel & Gretel: Witch Hunters), de Tommy Wirkola
O Massacre da Serra Elétrica: A Lenda Continua (Texas Chainsaw 3D), de John Luessenhop
Uma Noite de Crime (The Purge), de James DeMonaco
Se Beber, Não Case! Parte 3 (The Hangover Part 3), de Todd Phillips
Sem Dor, Sem Ganho (Pain & Gain), de Michael Bay
Os Smurfs 2 (The Smurfs 2), de Raja Gosnell
Thor: O Mundo Sombrio (Thor: The Dark World), de Alan Taylor

Para encerrar, coloco aqui uma montagem feita pelo site JoBlo.com que faz uma ótima retrospectiva com 283 filmes lançados em 2013, sendo que alguns chegarão aos cinemas brasileiros nos próximos meses. Um dia aprenderei a fazer vídeos como esse.


E, claro, desejo um Feliz Ano Novo a todos. Espero que 2014 venha com muitas coisas boas.

Um grande abraço!

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

4 Anos de Brazilian Movie Guy


No fim da noite do dia 30 de dezembro de 2009, minha colega Simone dava o empurrãozinho final que eu precisava para criar um blog (por sinal, acessem o dela aqui). Hoje penso que o nome que dei a ele poderia ser melhor (desde o ano passado passei a achar “Brazilian Movie Guy” um nome feio e egocêntrico), mas de qualquer forma é bom constatar que ele não é mais um bebê já algum tempo e está caminhando satisfatoriamente.

Desde sua criação, o blog tem sido muito importante para mim e todo ano ele traz alguns bons frutos. Em 2013, por exemplo, passamos a fazer parte da SBBC (Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos), o que vem sendo muito interessante e me pôs em contato com pessoas muito bacanas. E estou muito curioso com relação a 2014, já que começarei a fazer parte da equipe do site Papo de Cinema, a convite do amigo Robledo Milani. O blog ficará em segundo plano, mas as críticas que eu escrever para lá serão linkadas aqui. Assim ele continuará atualizado, ainda que não tenha mais um conteúdo exclusivo.

Agradeço a todos àqueles que leem o que escrevo. Afinal, como já ouvi falarem várias vezes, quem escreve quer ser lido, e é bom saber que alguém entra no blog e confere as críticas, os comentários, as listas e quaisquer outras coisas que publico por aqui. Espero que continuem nos seguindo em 2014 e que os números cresçam ainda mais.

Para encerrar, amanhã finalizo oficialmente 2013 no blog com as tradicionais listas de melhores e piores filmes do ano. Fiquem ligados.

Um grande abraço!

domingo, 29 de dezembro de 2013

Personagens Excêntricos no Cinema

Há algumas semanas, assisti ao ótimo Frances Ha, filme dirigido por Noah Baumbach, e adorei sua excêntrica protagonista, Frances, interpretada por uma adorável Greta Gerwig. Desde então, venho pensando em fazer uma pequena lista com personagens excêntricos pelos quais simpatizamos de alguma forma.

Enfim, eis a lista:

- Samantha (Natalie Portman), em Hora de Voltar, de Zach Braff:

Hora de Voltar é um filme no qual Zach Braff (mais conhecido como o protagonista da série Scrubs) nos apresenta a um universo melancólico, povoado por personagens sem grandes ambições, o que inclui Andrew Largeman, o protagonista depressivo vivido pelo próprio Braff. Nisso aparece Samantha, uma garota serelepe e incomum quando comparada com as outras figuras vistas no filme, e que chacoalha radicalmente a vida de Andrew. Além disso, Natalie Portman surge absolutamente carismática e apaixonante no papel, que coroou seu belo ano de 2004, quando ela também apareceu brilhantemente em Closer: Perto Demais.


- Jack Sparrow (Johnny Depp), na franquia Piratas do Caribe:

Eu poderia colocar vários personagens de Johnny Depp nessa lista, mas é melhor me concentrar em apenas um. Em sua primeira cena no ótimo Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra, o Capitão Jack Sparrow já aparece firme no topo de seu navio enquanto este naufraga. Mesmo numa situação como essa, o personagem parece incapaz de perder a compostura, tendo delírios de grandeza que o tornam um dos personagens mais divertidos a terem surgido na década passada. E claro, tudo isso se deve também a estranha composição de Depp, que eventualmente o levou ao estrelato absoluto e lhe rendeu uma indicação ao Oscar.


- Ace Ventura (Jim Carrey), em Ace Ventura: Um Detetive Diferente, de Tom Shadyac:

Alrighty then. Poucas pessoas devem amar os animais da mesma forma que Ace Ventura, um detetive cheio de tiques e que de vez em quando faz suas nádegas “falarem”. Mas o curioso é que mesmo com todas suas esquisitices, Ace é muito bom naquilo que faz, sempre surpreendendo aqueles que duvidam de sua inteligência ao julgarem-no por sua aparência. Ace ajudou Jim Carrey a se tornar um grande astro na década de 1990, quando ele começou a protagonizar comédias de sucesso como Débi & Lóide e O Máskara.


- Amélie Poulain (Audrey Tautou), em O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet:

Com um sorriso e um jeito graciosos, Amélie Poulain é uma garota absolutamente adorável, sendo responsável por boa parte da simpatia ao redor do excepcional filme do qual faz parte. Contando com carisma da bela Audrey Tautou (cuja carreira é praticamente definida pela personagem), Amélie protagoniza uma série de cenas divertidas, como quando ajuda um senhor cego a atravessar a rua ao mesmo tempo em que descreve para ele como estão as coisas a sua volta. É uma personagem realmente encantadora.


- Jeff Spicoli (Sean Penn), em Picardias Estudantis, de Amy Heckerling:

Sean Penn é um dos melhores atores em atividade. Mas o que é interessante e até difícil de acreditar é que o responsável por personagens como Matthew Ponselet (de Os Últimos Passos de Um Homem), Jimmy Markum (de Sobre Meninos e Lobos) e Harvey Milk surgiu para o mundo interpretando uma figura tão divertida como o Jeff Spicoli, de Picardias Estudantis. Surfista, doidão e totalmente sem noção, Spicoli é responsável pelos momentos mais divertidos deste clássico adolescente da década de 1980. Difícil esquecer a cena em que o personagem pede uma pizza em plena aula de história. E o fato de Penn conseguir encarnar alguém como Spicoli além uma série de personagens complexos mostra o quão talentoso ele é.


- Annie Hall (Diane Keaton), em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, de Woody Allen:

Com seu jeito inseguro, roupas que revelam muito sobre sua personalidade e uma inteligência admirável, Annie Hall mexe com a vida de Alvy Singer, o personagem de Woody Allen em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa. E como não mexeria? É difícil assistir ao filme e não se apaixonar por Annie. Sem dúvida ela é uma das melhores personagens da vasta filmografia de Woody Allen e também uma das melhores atuações de Diane Keaton, que trouxe muito de si mesma para o papel que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz em 1978.


sábado, 28 de dezembro de 2013

Questão de Tempo

Ao longo de sua carreira, primeiramente como roteirista e mais tarde como diretor, Richard Curtis realizou comédias simpáticas e divertidas, que contam com certo encantamento em sua volta e mandam o espectador para fora da sala de cinema com um grande sentimento de satisfação. Foi assim com os ótimos Quatro Casamentos e um Funeral e Um Lugar Chamado Notting Hill, além do excepcional Simplesmente Amor (uma das melhores comédias românticas da década passada, para não dizer a melhor). Pois isso volta a acontecer neste seu novo trabalho, Questão de Tempo, filme no qual Curtis nos apresenta a personagens tão carismáticos que é difícil não torcer para que tudo dê certo para eles quando chegarmos ao final da história.

No filme, Tim Lake (Domhnall Gleeson, filho de Brendan Gleeson) é um jovem tímido e inseguro que é informado por seu pai, James (Bill Nighy), que os homens de sua família podem viajar no tempo. Tim decide usar os seus recém-descobertos poderes em suas tentativas para arranjar uma namorada, algo difícil porque “Nenhuma viagem no tempo pode fazer alguém amar você”, como ele mesmo constata em determinado momento. Mas ao se mudar para Londres, Tim conhece Mary (Rachel McAdams) e vê nela seu grande amor, passando a fazer o possível para ter uma vida feliz ao seu lado.

Questão de Tempo conta com elementos que lembram outros filmes escritos por Curtis. A timidez de Tim, por exemplo, não é muito diferente daquela do personagem de Hugh Grant em Um Lugar Chamado Notting Hill. Por sinal, se estivéssemos na década de 1990, Grant poderia ser um intérprete excelente para Tim. Mas suposições à parte, o papel é encarnado eficientemente por Domhnall Gleeson, que consegue passar para o público toda a insegurança do personagem ao mesmo tempo em que faz dele uma figura mais confiante no decorrer do filme, revelando um carisma arrebatador no processo. Gleeson tem ainda uma ótima química com Rachel McAdams, que por sua vez traz uma graciosidade fundamental para Mary. E se a história de amor do casal é algo bacana de se acompanhar, o mesmo pode ser dito sobre a relação pai e filho entre Tim e James, que acaba sendo o centro dos momentos mais tocantes do filme, principalmente no terceiro ato.

Enquanto isso, o modo como a viagem no tempo é usada rende cenas divertidas, como quando Tim desiste de falar com Charlotte (Margot Robbie), um velho interesse amoroso, ao ver que todas suas tentativas foram frustradas e que nada de bom sairá dali. Aliás, é fácil se identificar com Tim e suas viagens no tempo, já que qualquer um gostaria de voltar a um momento constrangedor de sua vida e tentar consertá-lo de alguma forma (isso até lembra o que Wagner Moura fazia no divertido O Homem do Futuro). E a boa montagem de Mark Day merece créditos por inserir todas as viagens sem que estas quebrem o ritmo da história.

No entanto, quando se trata de viagem no tempo, é comum que os filmes deixem algum pequeno furo ou forcem certas coisas para que sua história não tenha tantos problemas. E isso ocorre no roteiro de Questão de Tempo. Durante a projeção, é um pouco difícil acreditar que Tim volte no tempo tantas vezes, mude alguns detalhes e quando ele volta para o presente sua vida está quase sempre da mesma maneira como ele a deixou antes. Mas para a sorte de Richard Curtis, o carinho que criamos pelos personagens e o grande coração do filme fazem com que problemas como esse não incomodem tanto.

Trazendo mensagens como “a vida é uma caixinha de surpresas” e “certas coisas não podem ser mudadas” (que por mais óbvias que sejam, são transmitidas com uma bela sensibilidade), Questão de Tempo mostra que Richard Curtis ainda não perdeu a mão para contar adoráveis histórias de amor.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

À Procura do Amor

À Procura do Amor nos apresenta a Eva (Julia Louis-Dreyfus), que trabalha como massagista e há algum tempo está divorciada, sendo que agora está prestes a se despedir da filha, Ellen (Tracey Fairaway), que está indo para a universidade. Em uma festa, ela conhece Marianne (Catherine Keener), poetisa divorciada e que vira sua amiga e cliente. Na mesma festa ela conhece Albert (James Gandolfini), também divorciado e com quem recomeça sua vida amorosa. Mas ela acaba descobrindo que Marianne e Albert eram casados um com o outro, o que pode colocar em risco sua relação com ambos.

É possível descobrir essa relação entre Albert e Marianne bem antes de Eva ligar os pontos, e o roteiro passa por conflitos que não poderiam ser mais previsíveis, além de uma subtrama envolvendo Eva e Chloe (Tavi Gevinson), a melhor amiga de Ellen, que toma um espaço às vezes maior do que o necessário. Mas a diretora e roteirista Nicole Holofcener compensa esses problemas ao fazer um retrato interessante sobre relacionamentos, sejam casamentos duradouros ou fracassados. E algo curioso de se ver é que Eva gosta de Albert e Marianne mesmo com eles falando mal um do outro o tempo todo, o que mostra que o casamento deles acabou não por eles serem más pessoas, e sim por o amor que eles sentiam um pelo outro ter se dissipado.

Holofcener ainda traz certa graciosidade à história, conseguindo também impedir que ela caia em um sentimentalismo bobo em determinados momentos. Além disso, as belas atuações de Julia Louis-Dreyfus e James Gandolfini (em um de seus últimos trabalhos, tendo ele falecido em junho desse ano e fazendo muita falta desde então) merecem créditos não só por eles trazerem grande carisma para Eva e Albert, mas também por terem uma química em cena impecável, o que rende uma série de momentos divertidos.

Boa parte das comédias românticas encontram problemas ao investir demais em fórmulas batidas do gênero. No entanto, vale dizer que muitas vezes surgem filmes como À Procura do Amor, que mesmo seguindo certas convenções em sua história, ainda assim consegue funcionar.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Como Não Perder Essa Mulher

Joseph Gordon-Levitt sempre se mostrou um ator muito talentoso, e nos últimos anos ele tem conseguido se destacar em filmes diferentes, como 500 Dias Com Ela, A Origem, 50%, Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge e Looper. Sendo assim, é interessante vê-lo assumindo funções atrás das câmeras, fazendo sua estreia como diretor de longas-metragens neste Como Não Perder Essa Mulher (mais uma tradução horrível, para variar), o que inclusive mostra a ambição que ele tem como artista. Aqui, Gordon-Levitt é inteligente ao fazer uma comédia romântica que consegue ser um pouco diferente do que estamos acostumados dentro do gênero.
  
Escrito pelo próprio Joseph Gordon-Levitt, Como Não Perder Essa Mulher acompanha Jon Martello (Gordon-Levitt), um cara que se importa com seu apartamento, sua família, a igreja, os amigos, garotas e filmes pornôs, sendo este último quesito um verdadeiro vício. Mesmo quando vai a festas e consegue conquistar as mulheres mais lindas da pista, Jon ainda acha que assistir pornografia no computador é muito melhor do que sexo. Depois de conhecer Barbara Sugarman (Scarlett Johansson), Jon parece ter encontrado a garota perfeita, mas nem isso o faz parar com os filmes. Ao mesmo tempo, ele passa a ter contato com Esther (Julianne Moore), uma colega de classe que parece determinada a ficar em seu encalço.

O modo como Joseph Gordon-Levitt estabelece Jon e Barbara já demonstra o quão seguro ele é na condução da história. Se no apartamento e nas roupas de Jon o que predomina são cores com tons mais escuros e pastel, que refletem também na iluminação dos momentos em que ele aparece se dedicando a seu vício, Barbara surge dominada por cores quentes, o que mostra logo de cara o contraste entre ela e o universo do protagonista. Sem falar que quando ele está “caçando” garotas ouvimos uma música eletrônica mais agitada, enquanto ela é sempre acompanhada por uma bela música clássica que ajuda a torna-la a garota aparentemente perfeita vista por Jon. E ao longo do filme, não é difícil fazer um paralelo entre eles e os pais de Jon, que acabam servindo como uma versão mais velha do casal.

Tal contraste entre os personagens também é ressaltado pelos gostos deles, considerando que Barbara é adoradora de comédias românticas, algo completamente diferente das preferências de Jon. E já que mencionei isso, um detalhe muito interessante no filme é que ao citar comédias românticas e dizer a fórmula básica que as envolve e que geralmente as tornam cansativas (o que resulta em uma cena divertida e que traz algumas participações espaciais), Gordon-Levitt deixa claro que não pretende fazer um trabalho comum em Como Não Perder Essa Mulher. No geral, a intenção do diretor funciona muito bem. Aqui e ali, o roteiro até cai em algumas situações previsíveis, mas a história ainda assim se mantém interessante do início ao fim e conta com um bem-vindo frescor. E o filme não deixa de ser também uma espécie de estudo sobre um personagem que não consegue estabelecer uma relação amorosa com nenhuma garota, conseguindo isso apenas com os filmes pornôs, e por isso mesmo seu arco dramático acaba chamando bastante atenção.

Como se não bastasse, Joseph Gordon-Levitt ainda tem em mãos um elenco afinado, e que ele lidera com seu carisma habitual. Como ator, Gordon-Levitt faz com que gostemos de Jon mesmo ele sendo o típico machão que trata as mulheres como meros objetos. Além disso, ele encarna o personagem com muito bom humor, o que resulta em cenas divertidas, como nas cenas em que Jon se confessa na igreja. Já Scarlett Johansson brinca um pouco com o estereótipo da loira burra, investindo numa voz maliciosa e num jeito delicado que apenas escondem a figura segura de si mesma que Barbara realmente é, sendo que ela tem total noção do que sua beleza é capaz de fazer com os homens. Enquanto isso, Julianne Moore traz uma bela sensibilidade para Esther, protagonizando alguns belos momentos com Gordon-Levitt, ao passo que Tony Danza, Glenne Headly e Brie Larson conseguem se destacar interpretando os pais e a irmã de Jon (esta última fica calada quase o tempo todo, mas fica claro que uma hora ela abrirá a boca e falará algo útil).

Como Não Perder Essa Mulher firma Joseph Gordon-Levitt ainda mais como um ator admirável, além de mostrar que ele é um diretor bastante promissor. E ao final do filme, fica a curiosidade para ver como ele dará continuidade a essa carreira.

domingo, 15 de dezembro de 2013

O Hobbit: A Desolação de Smaug

O Hobbit vem sendo prejudicado pelo fato de seus envolvidos terem pensado que seria uma boa ideia não contar essa história em dois filmes como planejado originalmente, preferindo fazer mais uma trilogia ambientada na Terra Média criada por J.R.R. Tolkien. Os filmes têm sido ruins por causa disso? Não. Na verdade, tanto Uma Jornada Inesperada quanto este novo, A Desolação de Smaug, revelam ser produções divertidas. Mas mesmo assim, acho difícil que O Hobbit termine e se torne algo tão marcante quanto foi O Senhor dos Anéis na década passada.

Escrito por Peter Jackson, Fran Walsh, Phillippa Boyens (suas parceiras habituais) e Guillermo del Toro, A Desolação de Smaug se inicia em um breve flashback que serve apenas para situar o espectador novamente dentro da história, mostrando Gandalf (Ian McKellen) convencendo Thorin Escudo-de-Carvalho (Richard Armitage) a ir resgatar Erebor, o reino dos anões que fora dominado pelo dragão Smaug (Benedict Cumberbatch). Logo depois voltamos a ver todos os desafios que Gandalf, os anões e o ladrão Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) estão enfrentando para cumprir essa missão.

Em primeiro lugar, é impossível não admirar mais uma vez a riqueza com a qual o mundo criado por Tolkien ganha vida nas mãos de Peter Jackson. Nisso, o design de produção faz um trabalho fantástico ao construir aquele universo e suas locações nos mínimos detalhes, desde a Floresta Negra dominada por aranhas gigantes até o reino dos elfos comandado por Thranduil (Lee Pace), passando é claro pela Cidade do Lago. Aliás, o roteiro expande um pouco mais o universo da história ao nos apresentar a uma série de novos personagens, alguns interessantes, como a corajosa elfa Tauriel (que ganha uma personalidade forte na pele de Evangeline Lilly) e o arqueiro Bard (Luke Evans), e outros não tão necessários para a história, como o transmorfo Beorn (Mikael Persbrandt), que entra e sai do filme sem deixar grandes marcas. E também voltamos a ver mais alguns velhos conhecidos, como Legolas (Orlando Bloom), que protagoniza uma boa gag envolvendo o pai de outro personagem clássico da Terra Média.

No entanto, em termos de novos personagens, o mais interessante acaba sendo mesmo o dragão Smaug, fruto de um trabalho absolutamente impecável da equipe de efeitos visuais. Desde seu primeiro segundo no filme, Smaug surge como uma figura imponente e ameaçadora, fazendo a sequência que se passa em Erebor ser uma das melhores do filme. Mas vale ressaltar que tal ameaça vem principalmente do trabalho de Benedict Cumberbatch, um ator excepcional e que empresta para o personagem uma voz que combina perfeitamente com sua grandeza.

Enquanto isso, as cenas de ação são conduzidas de maneira muito criativa por Jackson, chegando a empolgar em momentos pontuais. Nisso, a ótima sequência em que Bilbo e os anões fogem da prisão dos elfos revela ser o ponto alto da produção, mostrando-se criativa com relação aos embates vistos na tela. O que incomoda um pouco nesse quesito é o fato de Jackson estender demais algumas das cenas, como a luta contra as aranhas na Floresta Negra. Pra completar, os elfos parecem surgir sempre que outros personagens estão em grande perigo, sendo verdadeiros deuses ex machina, algo que cansa já na segunda vez em que acontece.

Mas o maior problema de A Desolação de Smaug está mesmo no modo como sua história se desenrola. Em determinado momento, por exemplo, Peter Jackson divide o filme em três núcleos: Bilbo e os anões à caminho de Erebor para enfrentar Smaug (basicamente o fio condutor da trama), alguns personagens que ficam na Cidade do Lago, e Gandalf em uma missão em Dol Gundur. Nisso, a montagem de Jabez Olssen é bem sucedida ao intercalar tudo eficientemente e sem quebrar o ritmo da história. Por outro lado, apenas a parte de Erebor é realmente interessante, então a história se torna bem menos envolvente sempre que os outros núcleos aparecem. Além disso, um personagem passa a correr sério risco de vida ao longo da história, obrigando o roteiro a desenvolvê-lo um pouco mais para que possamos nos importar com ele, o que poderia ter um efeito muito maior caso isso tivesse sido realizado desde o filme anterior. E o romance entre Kili (Aidan Turner) e Tauriel surge clichê e até desnecessário, fazendo o filme ficar mais inchado.

A Desolação de Smaug termina com a promessa de que mais batalhas estão por vir no próximo capítulo. E apesar de ter seus problemas, essa segunda parte ainda é um bom filme. Mas não deixa de ser um pouco triste ver que Peter Jackson deixou o lado comercial do projeto falar mais alto do que o lado criativo, já que a história de O Hobbit poderia muito bem ser finalizada aqui ao invés de ser esticada para um terceiro filme.