O Hobbit vem sendo prejudicado
pelo fato de seus envolvidos terem pensado que seria uma boa ideia não contar
essa história em dois filmes como planejado originalmente, preferindo fazer
mais uma trilogia ambientada na Terra Média criada por J.R.R. Tolkien. Os filmes
têm sido ruins por causa disso? Não. Na verdade, tanto Uma Jornada Inesperada
quanto este novo, A Desolação de Smaug, revelam ser produções divertidas. Mas
mesmo assim, acho difícil que O Hobbit termine e se torne algo tão marcante
quanto foi O Senhor dos Anéis na década passada.
Escrito por Peter Jackson, Fran
Walsh, Phillippa Boyens (suas parceiras habituais) e Guillermo del Toro, A
Desolação de Smaug se inicia em um breve flashback que serve apenas para situar
o espectador novamente dentro da história, mostrando Gandalf (Ian McKellen) convencendo
Thorin Escudo-de-Carvalho (Richard Armitage) a ir resgatar Erebor, o reino dos
anões que fora dominado pelo dragão Smaug (Benedict Cumberbatch). Logo depois voltamos
a ver todos os desafios que Gandalf, os anões e o ladrão Bilbo Bolseiro (Martin
Freeman) estão enfrentando para cumprir essa missão.
Em primeiro lugar, é impossível
não admirar mais uma vez a riqueza com a qual o mundo criado por Tolkien ganha
vida nas mãos de Peter Jackson. Nisso, o design de produção faz um trabalho
fantástico ao construir aquele universo e suas locações nos mínimos detalhes,
desde a Floresta Negra dominada por aranhas gigantes até o reino dos elfos
comandado por Thranduil (Lee Pace), passando é claro pela Cidade do Lago. Aliás,
o roteiro expande um pouco mais o universo da história ao nos apresentar a uma
série de novos personagens, alguns interessantes, como a corajosa elfa Tauriel
(que ganha uma personalidade forte na pele de Evangeline Lilly) e o arqueiro
Bard (Luke Evans), e outros não tão necessários para a história, como o
transmorfo Beorn (Mikael Persbrandt), que entra e sai do filme sem deixar
grandes marcas. E também voltamos a ver mais alguns velhos conhecidos, como
Legolas (Orlando Bloom), que protagoniza uma boa gag envolvendo o pai de outro
personagem clássico da Terra Média.
No entanto, em termos de novos
personagens, o mais interessante acaba sendo mesmo o dragão Smaug, fruto de um
trabalho absolutamente impecável da equipe de efeitos visuais. Desde seu
primeiro segundo no filme, Smaug surge como uma figura imponente e ameaçadora, fazendo
a sequência que se passa em Erebor ser uma das melhores do filme. Mas vale
ressaltar que tal ameaça vem principalmente do trabalho de Benedict
Cumberbatch, um ator excepcional e que empresta para o personagem uma voz que
combina perfeitamente com sua grandeza.
Enquanto isso, as cenas de ação
são conduzidas de maneira muito criativa por Jackson, chegando a empolgar em
momentos pontuais. Nisso, a ótima sequência em que Bilbo e os anões fogem da prisão
dos elfos revela ser o ponto alto da produção, mostrando-se criativa com
relação aos embates vistos na tela. O que incomoda um pouco nesse quesito é o
fato de Jackson estender demais algumas das cenas, como a luta contra as
aranhas na Floresta Negra. Pra completar, os elfos parecem surgir sempre que
outros personagens estão em grande perigo, sendo verdadeiros deuses ex machina,
algo que cansa já na segunda vez em que acontece.
Mas o maior problema de A
Desolação de Smaug está mesmo no modo como sua história se desenrola. Em
determinado momento, por exemplo, Peter Jackson divide o filme em três núcleos:
Bilbo e os anões à caminho de Erebor para enfrentar Smaug (basicamente o fio
condutor da trama), alguns personagens que ficam na Cidade do Lago, e Gandalf em uma
missão em Dol Gundur. Nisso, a montagem de Jabez Olssen é bem sucedida ao
intercalar tudo eficientemente e sem quebrar o ritmo da história. Por outro
lado, apenas a parte de Erebor é realmente interessante, então a história se
torna bem menos envolvente sempre que os outros núcleos aparecem. Além disso, um
personagem passa a correr sério risco de vida ao longo da história, obrigando o
roteiro a desenvolvê-lo um pouco mais para que possamos nos importar com ele, o
que poderia ter um efeito muito maior caso isso tivesse sido realizado desde o
filme anterior. E o romance entre Kili (Aidan Turner) e Tauriel surge clichê e
até desnecessário, fazendo o filme ficar mais inchado.
A Desolação de Smaug termina com
a promessa de que mais batalhas estão por vir no próximo capítulo. E apesar de
ter seus problemas, essa segunda parte ainda é um bom filme. Mas não deixa de
ser um pouco triste ver que Peter Jackson deixou o lado comercial do projeto
falar mais alto do que o lado criativo, já que a história de O Hobbit poderia
muito bem ser finalizada aqui ao invés de ser esticada para um terceiro filme.
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