quarta-feira, 30 de agosto de 2023

As Tartarugas Ninja: Caos Mutante

Dentre todos os filmes produzidos sobre as Tartarugas Ninja, sejam eles longas em live-action ou animações, a palavra “adolescentes” que os personagens exibem em seu título original (“Teenage” Mutant Ninja Turtles) raramente tinha algum sentido na tela. Não que isso fosse um problema grave naquelas produções, que tinham suas próprias propostas narrativas, mas é um aspecto com o qual o diretor Jeff Rowe (que codirigiu o ótimo A Família Mitchell Contra as Máquinas) e os produtores (dentre eles a dupla Seth Rogen e Evan Goldberg) claramente se preocuparam mais na hora de realizar um novo filme focado na equipe. E o resultado é este As Tartarugas Ninja: Caos Mutante.

O roteiro parte da premissa que já conhecemos: Leonardo, Raphael, Michelangelo e Donatello são tartarugas que moram com seu pai e mentor, o rato Splinter, nos esgotos de Nova York depois de terem tido contato com uma gosma mutagênica, vivendo escondidos da sociedade. Mas o quarteto sonha em ser aceito pelos humanos. Para isso, com a ajuda da jovem aspirante a jornalista April O’Neil, eles resolvem utilizar suas habilidades em artes marciais para tentar capturar uma gangue que está aterrorizando a cidade. Eles são pegos de surpresa, porém, quando os bandidos revelam ser animais mutantes como eles, liderados pela figura do Super-Mosca.

É interessante notar como a adolescência das tartarugas surge não tanto pela faixa etária em que elas estão e pela dinâmica que exibem umas com as outras, mas sim pelo que aspiram viver. Com o obscurantismo guiando e limitando suas rotinas, o roteiro desenvolve com naturalidade o fato de eles desejarem ser adolescentes normais que vão à escola, estudam, têm amigos e vivem as experiências comuns dessa fase. Dessa forma, o filme até dialoga com produções como aquelas dirigidas por John Hughes nos anos 1980 (Curtindo a Vida Adoidado até aparece em uma sessão de cinema), trazendo em seu centro personagens que querem viver sua adolescência por saberem a importância dela para sua formação humana, o que é uma grata surpresa considerando que estamos falando de tartarugas que sabem artes marciais, um conceito com o qual o filme poderia se dar por satisfeito.


Já visualmente As Tartarugas Ninja: Caos Mutante é encantador, com Jeff Rowe e sua equipe concebendo o design dos cenários e dos personagens em um formato 2D que lembra páginas de histórias em quadrinhos, o que reverencia o próprio material de origem do filme, além de mostrar que longas como Homem-Aranha no Aranhaverso talvez já estejam fazendo escola. E o filme ainda abraça com gosto certos absurdos. Talvez pudéssemos questionar de onde Donatello tirou seus óculos ou como Michelangelo colocou aparelho nos dentes, mas esses detalhes não são nada quando vemos que o filme já parte da premissa de um rato que ensina tartarugas a lutar, de forma que quaisquer outros absurdos servem até para pincelar a liberdade criativa de Jeff Rowe ao dar vida aos personagens. Além disso, as cenas de ação ganham a tela de maneira ágil, merecendo destaque a sequência em que acompanhamos intercaladamente cada um dos protagonistas ir atrás de chefões do crime, um momento que brilha pela continuidade visual que mantém entre cenas.

Ainda que o roteiro com alguma frequência se revele expositivo e trate de maneira repetitiva a questão do preconceito enfrentado pelos personagens, não fugindo muito do lugar-comum, As Tartarugas Ninja: Caos Mutante mostra ser um longa digno dos personagens divertidos que retrata, algo que eles estavam precisando tendo em vista que as últimas empreitadas deles nos cinemas não haviam sido muito interessantes.

Obs.: Há uma cena durante os créditos finais.


Nota: