domingo, 19 de maio de 2019

John Wick 3: Parabellum


Às vezes analisar uma obra de arte pode ser engraçado, ainda mais quando se tem em mente a ideia de que não há um jeito certo de conceber uma. Certos filmes podem partir de um fiapo de trama e ainda assim funcionar maravilhosamente, conseguindo se sustentar com uma proposta muito bem executada. John Wick 3: Parabellum é uma dessas obras.

Tendo início cerca de 40 minutos depois de onde o segundo filme havia nos deixado, John Wick 3 encontra o personagem-título (interpretado mais uma vez com segurança e determinação por Keanu Reeves) fugindo de praticamente todos os membros da organização assassina da qual ele fazia parte. E é assim que podemos resumir a trama, que então passa a jogar o protagonista em uma série de sequências de ação que aproveitam ao máximo as habilidades dele e de seus adversários.

É um verdadeiro deleite acompanhar cada um desses embates, já que se tem algo que podemos dizer sobre a trilogia de John Wick é que ela estabeleceu seu diretor, Chad Stahelski (e o parceiro dele nos longas anteriores, David Leitch, que veio a fazer Atômica e Deadpool 2), como uma revelação do cinema de ação. Fugindo completamente da escola Michael Bay, Stahelski conduz as cenas deixando sempre claro para o espectador a mise-en-scène e o que está acontecendo em cena, apostando frequentemente em planos mais longos que privilegiam as excepcionais coreografias de seus atores. E cada uma dessas sequências empolga em maior ou menor grau, impressionando também por sua variedade, utilizando facas, espadas, cavalos, cães, motos e o que quer que esteja ao alcance dos personagens. Além, claro, das costumeiras armas, que rendem confrontos de gun fu (uma mescla de arte marcial e armas) que certamente deixariam John Woo orgulhoso.

Tudo isso é ancorado em um universo rico em seus mínimos detalhes. Se John Wick 2 já havia tratado de expandir o submundo dos assassinos, divertindo com suas regras e as fachadas que mantêm ele funcionando entre os civis, este terceiro capítulo não faz diferente, apresentando novas hierarquias e sabendo até mesmo explorar o próprio respeito que os assassinos têm uns pelos outros, especialmente pelo protagonista. E o próprio design de produção merece destaque em meio a isso, dando vida a lugares que estabelecem rapidamente a grandeza e a sofisticação daquele universo, como o teatro regido pela Diretora (vivida por Angelica Huston), além do conhecido Hotel Continental dos longas anteriores, que volta a ser plano de fundo para parte da ação através de novos cenários, merecendo destaque especial a sala de espelhos do terceiro ato.

É seguro dizer que, assim, John Wick 3 surge não como um dos grandes filmes de ação do ano, mas sim como um dos grandes filmes do ano. E honestamente, eu não me importaria de ver mais exemplares da série.