quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Megatubarão


Recentemente, fiz uma pequena maratona de filmes cujas histórias consistiam basicamente de um confronto entre pessoas e uma força animal perigosa, o tipo de ideia que já foi explorado a exaustão no cinema, principalmente após o sucesso fenomenal de Tubarão. O Jacaré Assassino, Piranha e Aracnofobia foram alguns dos longas dessa linha que acabei conferindo. Comento isso agora porque é difícil assistir a este Megatubarão e não lembrar de todas essas obras e da fórmula que suas premissas estabeleceram ao longo dos anos. Mesmo assim, este novo filme consegue render um entretenimento satisfatório.

Em Megatubarão, Jason Statham interpreta Jonas Taylor, um experiente mergulhador que se exilou na Tailândia depois que liderou um trágico resgate a tripulação de um submarino. No entanto, quando a base de pesquisas Mana Um vê parte de sua equipe em perigo em uma região recém-descoberta no fundo do mar, onde é atacada por uma criatura desconhecida, Jonas é chamado por ser o único capaz de driblar os riscos e realizar um resgate bem sucedido, ajudando velhos conhecidos. É então que ele e todos os membros da Mana Um passam a enfrentar um megalodonte, um tubarão pré-histórico de mais de 20 metros de comprimento.


Não é um filme em que possamos ver sinais de frescor na narrativa, até porque o roteiro escrito por Dean Georgaris e Jon e Erich Hoeber (que por sua vez é baseado no livro de Steve Alten) é envolvido em um amontoado de clichês que engessam o desenvolvimento da trama, mantendo-a firme no lugar-comum. Seguindo isso, o diretor Jon Turteltaub falha em praticamente todas suas tentativas de surpreender ou assustar o público, já que a forma como ele concebe os ataques do megalodonte torna fácil para o público antecipar o que acontecerá, algo evidente em cenas que aparentam alguma tranquilidade (é óbvio que o animal aparecerá quando os personagens menos esperam). Se isso já é capaz de incomodar, os diálogos que volta e meia martelam informações na cabeça do espectador não ficam muito atrás (coisas como “Aquilo é maior do que pensávamos ser possível” ficam repetitivas depois de um tempo), ao passo que os personagens não deixam de ser tipos bastante batidos, desde o herói traumatizado que precisa enfrentar seus medos até o ricaço que financia as pesquisas, mas se preocupa mais com seu dinheiro e imagem que com as pessoas.


Porém, esses pontos não atrapalham o divertido senso de humor que o filme tem diante da bobagem inerente de sua história. É engraçado, por exemplo, ver os personagens tensos à procura do megalodonte, mas aliviados ao se depararem com uma horda de tubarões comuns, uma imagem que faria qualquer pessoa normal saltar. Considerando o currículo de Jon Turteltaub (ele é conhecido por comédias e aventuras como Jamaica Abaixo de Zero e A Lenda do Tesouro Perdido), não é uma surpresa ver esse tipo de leveza na narrativa. Além disso, ainda que criatividade não seja exatamente seu forte, Turteltaub consegue criar alguns momentos genuinamente inquietantes, com destaque para as cenas em que os personagens são perseguidos pelo vilão, fazendo o possível para se salvarem. Nesse sentido, o elenco liderado por um carismático Jason Statham (e que também conta com nomes interessantes, como Li Bingbing, Cliff Curtis e Rainn Wilson) também merece créditos, exibindo em cena uma dinâmica divertida e simpática que ajuda o público a torcer pelos personagens.

Talvez Megatubarão tivesse chances de ser algo do nível da pavorosa franquia Sharknado. Mas para a nossa sorte, o projeto conta com algum talento, o que certamente contribui para que suas ideias funcionem. Por mais que no fim tenhamos um longa que não deixa de soar como um produto reciclado.

Nota:


quarta-feira, 15 de agosto de 2018

O Protetor 2


Denzel Washington é um ator fantástico, e é interessante notar que, ao longo de sua carreira, ele evitou fazer continuações de seus filmes, por mais que aqui e ali houvesse potencial para isso (para citar um exemplo, Lincoln Rhyme, personagem que ele interpretou no mediano O Colecionador de Ossos, teve origem em uma série de livros policiais que tem novos exemplares lançados até hoje). Quer dizer, evitou até agora. Em O Protetor 2, Washington retoma sua parceria com o diretor Antoine Fuqua e volta ao papel de Robert McCall após o eficiente (ainda que nada memorável) primeiro filme, que trouxe para o cinema a série de TV protagonizada por Edward Woodward na década de 1980. E o nível da saga do personagem nas telonas não muda nada nessa continuação.

Escrito pelo mesmo Richard Wenk do longa anterior, O Protetor 2 traz Robert McCall trabalhando como motorista, usando suas horas vagas para colocar em prática suas habilidades de ex-agente do governo e ser uma espécie de anjo da guarda, não se importando de ajudar completos desconhecidos quando vê que estes estão sendo vítimas de alguma injustiça. Mas quando alguém próximo a ele é assassinado, McCall logo se envolve no caso que a pessoa vinha investigando, passando então a não medir esforços para descobrir por que ela morreu e quem a matou.


Se eu tivesse escrito sobre o primeiro filme, talvez escrever sobre O Protetor 2 fosse mais ou menos como bater nas mesmas teclas, já que ambos os longas compartilham praticamente dos mesmos problemas e das mesmas virtudes. O roteiro, por exemplo, além de se concentrar na investigação realizada pelo protagonista, também tenta desenvolver várias subtramas envolvendo pessoas que ganham o auxílio dele, sendo pontos que podem até ser vistos como pequenos episódios considerando a natureza do material original. Entre elas, a que ganha maior destaque é a de Miles (Ashton Sanders, uma das revelações da obra-prima Moonlight), jovem que se vê dividido entre seu talento como artista e uma possível vida de crimes. O problema é que tais subtramas em sua maioria pouco acrescentam ao filme, que às vezes até perde o foco ao se ver tendo que pausar o desenvolvimento da trama principal para poder dar conta de tudo, montando uma estrutura que faz a narrativa perder o ritmo pontualmente.


Se o filme não chega a ficar desinteressante mesmo em seus momentos mais fracos, isso se deve principalmente a Denzel Washington, que novamente usa sua costumeira segurança para encarnar Robert McCall como um homem de modos bastante simples e metódicos, criando um contraste natural com sua implacabilidade ao partir para a ação. Esta característica, por sinal, funciona tanto a favor quanto contra o filme. Por um lado, Antoine Fuqua aproveita as habilidades de McCall para conceber sequências de ação ágeis e eficientes, se destacando, por exemplo, quando o personagem luta contra um capanga enquanto dirige seu carro (e é bom ver que o diretor não tenta driblar a violência presente na ação, mostrando a sanguinolência resultante dos golpes desferidos em cena). Mas por outro, isso faz com que em momento algum duvidemos do sucesso do protagonista, o que tira boa parte da tensão que a narrativa poderia ter. Contribui para isso também o fato de o roteiro construir vilões que pouco servem como ameaça, dando a eles uma inteligência que nunca é párea a do herói, que parece sempre estar vários passos à frente deles.

O Protetor 2 fica longe de ser um ponto alto na carreira de Denzel Washington. Mas também não chega a ser um longa que faça o astro se arrepender de ter decidido estrelar uma continuação, já que, apesar de suas irregularidades, o que temos aqui é um trabalho que ainda consegue se sustentar como filme de ação.


Nota:

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Missão: Impossível - Efeito Fallout


Ao escrever sobre Missão Impossível: Nação Secreta, comentei como era surpreendente acompanhar a franquia. Isso porque, mesmo com duas décadas nas costas, ela consegue manter uma consistência admirável, tendo a façanha de melhorar a cada novo capítulo (com exceção de Missão Impossível 2, que mesmo sendo um longa eficiente, ainda é o mais irregular da série). Pois bem, essa consistência tem continuidade neste sexto exemplar, Missão Impossível: Efeito Fallout, com Tom Cruise e companhia voltando a impressionar.

Escrito e dirigido por Christopher McQuarrie (que já havia comandado Nação Secreta, marcando assim a primeira vez que um realizador faz mais de um filme da franquia), Efeito Fallout coloca Ethan Hunt (Cruise) precisando recuperar três bombas de plutônio antes que estas caiam nas mãos do desconhecido John Lark e dos Apóstolos, grupo formado a partir do que restou do Sindicato liderado por Solomon Lane (Sean Harris). Mas é claro que isso não é tão fácil para Hunt e, depois que uma primeira investida dá errado, ele e sua equipe formada por Benji (Simon Pegg) e Luther (Ving Rhames) passam a correr atrás do prejuízo, tendo o auxílio nada bem-vindo do agente da CIA August Walker (Henry Cavill), que cuida para que nada na missão fique comprometido. No caminho, eles ainda reencontram a agente do MI6 Ilsa Faust (Rebecca Ferguson).


É uma premissa relativamente simples, e por isso é até curioso que Efeito Fallout acabe sendo o filme mais longo da franquia. Mas as duas horas e meia de duração são muito bem justificadas e passam rápido. Assim como fez em Nação Secreta, Christopher McQuarrie concebe uma narrativa ágil, que prende a atenção do espectador e não a solta até os créditos finais, desenvolvendo também um roteiro que, além de se estruturar maravilhosamente em cima das sequências de ação, nos mantêm constantemente instigados com relação ao desenrolar da trama. Nesse sentido, é interessante ver o diretor pontualmente inserir reviravoltas que até brincam com a nossa impressão do que está acontecendo em cena, rendendo algumas boas surpresas.

O que não é surpreendente, porém, é o quão empolgante o filme é ao partir para a ação. Desde um salto de avião, passando por lutas como aquela situada em um banheiro, e chegando finalmente a perseguições de carros e helicópteros, McQuarrie novamente coloca na tela sequências espetaculares e que levam quase ao pé da letra o título da franquia. E o diretor conduz tudo com maestria, mantendo a mise en scène das cenas sempre clara para o público e impondo uma tensão crescente na narrativa. Nisso, é impossível não destacar também o excepcional trabalho do montador Eddie Hamilton, que em um mundo justo seria considerado a prêmios, já que é notável a maneira como ele intercala naturalmente várias ações que estão acontecendo ao mesmo tempo, em montagens paralelas que ajudam o filme a não perder seu ritmo e fazem com que a tensão se torne ainda mais forte.


Para completar, as sequências de ação ainda contam com a habitual entrega de Tom Cruise, que mais uma vez encarna Ethan Hunt como um sujeito capaz de fazer absolutamente tudo, de forma que quando alguém questiona como ele fará algo improvável (para não dizer impossível), ele só responde “Eu vou dar um jeito” e isso é o suficiente para que acreditemos nele e fiquemos curiosos para ver suas peripécias. E o ator constantemente parece surpreso com o que está realizando em cena, detalhe que de certa forma traz um pouco de humanidade ao papel. Mas Cruise consegue ir além da fisicalidade de Hunt, tendo a chance de dar a ele um peso dramático maior que nos longas anteriores, levando em consideração tudo o que o personagem já viveu e como isso determina sua forma de agir.

Essa humanidade do protagonista também pode ser vista na relação dele com Benji e Luther, figuras que se tornaram fieis parceiros ao longo dos filmes e que aqui voltam a ser interpretados com grande carisma por Simon Pegg e Ving Rhames. Este último, por sinal, ganha um breve monólogo que aproveita seu talento como pouquíssimos filmes têm aproveitado, rendendo um dos momentos mais tocantes da série. E se Henry Cavill tem em seu August Walker um ótimo contraponto ao protagonista, sendo bem mais impulsivo, Rebecca Ferguson volta a fazer de Ilsa Faust uma personagem forte e que nunca é tratada como mero interesse romântico, tendo seus próprios objetivos para cumprir, enquanto que Sean Harris retoma a ameaça que Solomon Lane representava no longa anterior e o estabelece como o vilão mais interessante da franquia.

Com tudo isso, Efeito Fallout assume facilmente a posição de melhor da franquia Missão Impossível. Mais que isso, o filme se revela um dos grandes destaques do ano, sendo uma daquelas obras de ação capazes de fazer o espectador sair literalmente sem fôlego da sala de cinema.

Nota: