sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Gigantes de Aço

Filmes de boxe são comuns no cinema, sendo um gênero que já rendeu grandes filmes, como Touro Indomável e Rocky - Um Lutador. Gigantes de Aço é um filme que aparenta ser diferente das várias produções de boxe com as quais estamos acostumados. Isso porque temos robôs lutando no lugar das pessoas. É uma pena que essa seja uma das poucas diferenças que o filme traz, já que no resto a história copia elementos de produções do gênero, algo que acaba deixando um gosto de “poderia ser melhor” ao final da sessão.
Escrito por John Gatins com argumento de Dan Gilroy e Jeremy Leven, baseado na história de Richard Matheson, Gigantes de Aço nos apresenta a Charlie Kenton (Hugh Jackman), um ex-lutador de boxe que agora tenta ganhar dinheiro com o novo estilo do esporte: lutas com robôs. Quando sua ex-namorada morre, ele se vê disputando a guarda de seu filho, Max (Dakota Goyo), com a tia dele, Debra (Hope Davis). Charlie resolve passar um tempo com o garoto em troca de dinheiro, e juntos eles acabam se tornando a equipe perfeita para transformar o robô Atom em um grande lutador.
O tratamento dado à história lembra muito três filmes: Rocky – Um Lutador, Rocky 4 e Menina de Ouro. De Rocky temos o próprio protagonista. Ao longo do filme descobrimos que Charlie era um zé-ninguém na época em que lutava, até que fez um campeão dos pesos pesados suar em uma luta. Isso acaba refletindo em Atom, robô feito especialmente para apanhar em treinos, mas que mostra um potencial para ser algo muito maior do que isso. De Rocky 4 temos o vilão, um robô que seus criadores dizem ser indestrutível, assim como era considerado o Ivan Drago interpretado por Dolph Lundgreen. E de Menina de Ouro temos o fato de Charlie e Max subirem a categoria de Atom aos poucos, assim como o Frank interpretado por Clint Eastwood fazia com a Meg interpretada por Hilary Swank. Elementos como esses enfraquecem Gigantes de Aço, por que fazem o filme ser previsível demais.
Apesar de copiar esses elementos, o roteiro se beneficia do fato de nós, como público, sempre torcermos pelo personagem aparentemente mais fraco. Exemplos disso aparecem quando um protagonista enfrenta sozinho vários policiais ou quando enfrenta alguém claramente mais forte. Sempre torcemos por quem está em desvantagem. Sendo assim, quando Atom vai lutar com robôs mais fortes, é impossível não se importar com o que vai acontecer com ele. O design do robô ajuda muito nisso, dando um formato mais amigável ao personagem, algo que incluí um sorriso permanente em seu “rosto”.
Com relação aos outros personagens, o roteiro mostra Charlie como alguém orgulhoso e muito ambicioso, o que faz com que não pense antes de fazer alguma coisa e se importe muito com dinheiro. A ambição do personagem é tão grande que por muito pouco ele não se torna desinteressante. Mesmo depois de ver o potencial de Atom, Charlie quase o vende quando um personagem oferece uma boa quantia em dinheiro, não fazendo isso graças a Max. Se Charlie não se torna alguém chato, isso se deve a atuação do sempre eficiente Hugh Jackman. Ator talentoso e carismático, Jackman empresta esta última qualidade para o personagem, algo que faz com que nos importemos com ele até o fim do filme.
Max, por outro lado, mostra ser diferente de seu pai. Interpretado por Dakota Goyo com grande determinação, Max mostra ser mais esperto por agir baseado na confiança. Por ser considerado um novato, o personagem é usado pelo roteiro para que possa ser explicado para o público o que aconteceu com as lutas normais, uma estratégia compreensível e necessária não só para o desenvolvimento da história, mas também para não deixar perguntas no ar. E a bela Evangeline Lilly se destaca interpretando Bailey, personagem que sempre apoiou Charlie na carreira de lutador e agora o ajuda com os robôs.
Ambientado em um futuro não muito distante, Gigantes de Aço conta com um grande design de produção que acerta ao não colocar carros voadores e outros elementos comuns em filmes do tipo, o que faz do universo apresentado algo muito mais acreditável. Os detalhes futurísticos são colocados na tecnologia usada na época, seja em celulares ou no estilo dos locais onde os robôs lutam. Aliás, esses lugares são muito bem usados pelo diretor Shawn Levy para mostrar a evolução de Atom, já que eles ficam cada vez mais sofisticados à medida que o robô vai “ganhando experiência”. Se sua primeira luta acontece em um local onde um ringue é praticamente inexistente, no final ele já luta em um lugar onde a tecnologia usada para controlar os robôs chega ao seu ápice. Os efeitos visuais também são excelentes, algo mais notável nas cenas de luta, onde os movimentos rápidos dos robôs mostram ser muito convincentes.
Shawn Levy (o mesmo diretor de Recém Casados e dos filmes de Uma Noite no Museu) é uma aposta curiosa dos produtores para conduzir o filme, considerando que nunca dirigiu uma produção com cenas de ação do nível que aparece em Gigantes de Aço. Mas Levy se sai admiravelmente bem nesse ponto do filme. Além disso, ele trata com sensibilidade o relacionamento de pai e filho, algo que resulta em belos momentos, como quando Charlie salva Max em um penhasco.
Gigantes de Aço tem qualidades admiráveis e é muito bom tecnicamente, mas é uma pena que a história tenha tão pouca originalidade. No final do filme, a única coisa que faltou foi um personagem gritar o nome de alguém, assim como Sylvester Stalone fez em Rocky. E acho que isso só não aconteceu por que aí seria copiar demais.
Cotação:

domingo, 23 de outubro de 2011

Atividade Paranormal 3

Atividade Paranormal foi uma das grandes surpresas entre os filmes que estrearam nos cinemas em 2009 (originalmente, é uma produção de 2007). Com um orçamento baixíssimo, o filme é incrivelmente tenso, tem uma história envolvente e interessante, e ainda conta com momentos assustadores. Como todo sucesso inesperado de bilheteria, Atividade Paranormal vira agora uma franquia. Mas, como de costume, as continuações não conseguem ser tão boas quanto o original. Se Atividade Paranormal 2 é um bom filme, e nada mais do que isso, Atividade Paranormal 3 fica quase no mesmo nível, sendo um pouco inferior.
Escrito por Christopher B. Landon, baseado nos personagens criados por Oren Peli, Atividade Paranormal 3 volta um pouco mais no tempo com relação aos outros filmes. Dessa vez, nós vemos como foi a infância de Katie e Kristi (as duas assombradas) e vemos que o fantasma (ou seja lá o que for) já estava presente em suas vidas nessa época. O padrasto delas, Dennis, coloca câmeras em alguns pontos da casa depois de ter gravado um terremoto e algo estranho ter aparecido no vídeo.
Dirigido pela dupla Henry Joost e Ariel Schulman, Atividade Paranormal 3 inicia com Katie e Kristi adultas encontrando uma caixa de fitas com imagens da época em que elas eram crianças. Essa parte serve apenas para mostrar de onde virão as imagens que veremos a seguir. É uma cena estranha, já que o modo como os personagem interagem uns com os outros dá a entender que eles vão olhar o que tem dentro das fitas, o que deixaria eles de boca aberta. A partir daí, entramos direto para a infância das meninas, em 1988.
Os diretores conseguem mostrar imediatamente que as meninas tinham uma vida tranquila com a mãe, Julie, e o padrasto, o que já indica que eles são uma família comum. Joost e Schulman estabelecem isso com agilidade, sendo que não demora muito para que o fantasma comece a perturbar a paz da família, e em nenhum momento isso soa abrupto.
A dupla ainda consegue com talento causar o que já é esperado de um filme de Atividade Paranormal: sustos. A maioria deles surge naturalmente e graças à tensão que os diretores conseguem colocar nas cenas (algo que pecou um pouco no segundo filme). Um dos principais modos que os diretores encontram para deixar o público com os olhos grudados na tela (ou tapados) é girar uma das câmeras de um lado para o outro. Desse modo, quando a câmera vai para o lado esquerdo, no momento em que ela começar a voltar já tememos ver algo no lado direito.
Se a direção é boa (apesar de falhar em algo que discutirei mais adiante), o mesmo não pode ser dito sobre o roteiro, que desenvolve uma história pouco interessante (e se o filme é envolvente, isso é graças à direção). Como foi visto em Atividade Paranormal 2, a avó de Katie e Kristi fez um pacto com o diabo, e o custo seria o primeiro primogênito da família (que veio a ser Hunter, o bebê do segundo filme). Porém, isso nunca é desenvolvido nesta terceira parte (ou seria primeira?), deixando tudo muito subentendido.
Aliás, muitas coisas ficam subentendidas. Se o que o fantasma queria era o primeiro filho homem, porque ficar incomodando os personagens agora? Por que não esperar o garoto nascer, como aconteceu em Atividade Paranormal 2? E o que aconteceu com as meninas entre os eventos do terceiro e do segundo filme? (Se você não viu o filme ainda e não quer saber nada sobre a história, sugiro que pule para o próximo parágrafo) Mas a grande pergunta que surge não é sobre algo subentendido, e sim pelo conteúdo das fitas que estão sendo mostradas. Se as fitas são uma lembrança da infância assustadora das meninas e ainda mostram a mãe e o padrasto delas sendo mortos pela avó e seu grupo de bruxos, então porque guardá-las?
Outro ponto que prejudica o filme é o modo como termina. Não estou falando sobre o final da história, e sim sobre uma parte bem simples que não existia no primeiro filme e que, por isso, dava um toque especial para ele: os créditos finais. Quando Atividade Paranormal terminava, ficava uma magia interessante, como se o que havíamos acabado de assistir tivesse acontecido de verdade, e os letreiros que diziam o que aconteceu com os personagens contribuía ainda mais para isso. Atividade Paranormal 3 não tem nenhum pouco dessa magia pelo fato de os diretores colocarem os créditos finais, tirando muito do impacto que o filme poderia ter. Este erro também prejudicou o segundo filme.
Com um elenco desconhecido que consegue convencer como pessoas comuns, importante para que um filme no estilo “found footage” como este funcione, Atividade Paranormal 3 funciona dentro do que se propõe a fazer. Prende a atenção e causa sustos interessantes, apesar de não ser um exemplar memorável do gênero de terror como foi o primeiro filme da série.
Cotação:

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Blow Up - Depois Daquele Beijo

(Texto originalmente escrito para a aula de Estudo do Cinema Internacional)
Primeiro filme em que o diretor Michelangelo Antonioni dirigiu fora da Itália, Blow Up: Depois Daquele Beijo é centrado em Thomas (David Hemmings), fotógrafo que, um dia em uma praça, tira várias fotos de uma jovem (Vanessa Redgrave) com um homem mais velho. Depois de despistá-la, entregando-lhe o rolo de filme errado, Thomas revela as fotos e vê um homem armado atrás dos arbustos. Ele então investiga e descobre um corpo na praça. Mais tarde, as prova somem e Thomas retorna a sua vida normal.
Quando mostra Thomas tentando desvendar o que está acontecendo, Blow Up fica ainda mais interessante por mostrar a obsessão do personagem, que investiga tudo o que pode através das fotos, tentando descobrir o que elas realmente significam. A investigação chega a tal ponto que Thomas vai a uma festa, onde pede ajuda para um conhecido, mas não sabe explicar o porquê de estar ali.
Apesar de contar com uma história parecida com um thriller, Blow Up nunca mostra ser um filme deste estilo. Antonioni se concentra muito mais no universo em que o filme se passa, que mostra ser estranho em várias cenas. Por exemplo, Thomas vai a um show (da banda The Yardbirds) e encontra um público formado por pessoas quietas, como se fossem robôs, e que ficam loucas no momento que um membro da banda destrói uma guitarra. Nessa cena, o diretor mostra o quanto as pessoas fazem muito barulho por pequenas coisas. Isso, de certa forma, encontra reflexo no próprio trabalho do protagonista, que se irrita ao ver que um pequeno detalhe de uma foto não está do modo como gostaria, algo que podemos ver na cena em que ele tira fotos e pede para as modelos sorrirem, mas elas não fazem do jeito “certo”.
Um filme que causou polêmica na época de seu lançamento por contar com cenas de nudez, Blow Up mostra que a primeira excursão de Michelangelo Antonioni fora de casa não só é muito interessante, mas também é eficiente com relação a sua proposta. Um grande filme feito por um grande diretor.

sábado, 15 de outubro de 2011

Os Três Mosqueteiros

Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas père, é uma obra que já recebeu várias versões para o cinema e seus personagens já foram interpretados por vários atores. A última grande aparição de Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnan em um filme foi no ótimo O Homem da Máscara de Ferro, em 1998, onde foram brilhantemente interpretados por John Malkovich, Gerard Depardieu, Jeremy Irons e Gabriel Byrne. Agora, os mosqueteiros voltam para a telona pelas mãos do irregular diretor Paul W. S. Anderson, em um filme que não condiz com a grandeza dos personagens.
Escrito por Alek Litvak e Andrew Davis, Os Três Mosqueteiros mostra os personagens em um momento quase depressivo. Depois de serem traídos por Milady de Winter (Milla Jovovich) em uma missão, Athos (Matthew Macfadyen), Porthos (Ray Stevenson) e Aramis (Luke Evans) não fazem mais nada além de beber, lutar contra os guardas de Rochefort (Mads Mikkelsen) e beber mais um pouco. Com a ajuda do jovem D’Artagnan, que sonha ser um deles, os heróis tentam impedir que Milady e o Duque de Buckingham (Orlando Bloom) iniciem uma guerra.
O pequeno prólogo, feito em animação, dá a impressão inicial de que Paul W. S. Anderson desenvolvera uma criatividade surpreendente. Mas é apenas impressão. À medida que os personagens principais aparecem pela primeira vez, o diretor congela a tela para cada um deles e coloca uma legenda com seus nomes, indicando estar com preguiça de deixar eles mesmos mostrarem quem são. Além disso, em certo momento, Anderson parece desconfiar que o público não sabe ler, colocando na tela o nome de um determinado local, Da Vinci’s Vault, para logo depois um dos personagens dizer “Estamos em Da Vinci’s Vault”.
Em termos de desenvolvimento de personagens, não é só Anderson quem mostra preguiça, mas os roteiristas também, que preferem nos apresentar aos personagens apressadamente para partir logo para a ação. Nos primeiros minutos de filme vemos que Athos é o estrategista do grupo e também o que mais sente a traição de Milady. Aramis é o religioso, algo que Anderson ainda ressalta através de um plano de detalhe do terço que ele segura em sua primeira cena. Porthos é o brutamontes, enquanto que D’Artagnan é um jovem arrogante, que pensa que pode derrotar qualquer um em uma batalha.
O mais decepcionante é ver que essa pressa não é bem recompensada, já que as cenas de ação, de modo geral, não empolgam. Em todas elas, Anderson insere momentos em câmera lenta, da mesma forma que Zack Snyder fez em 300. Mas se Snyder conseguiu dar mais impacto em seu filme (ou filmes), Anderson não consegue alcançar absolutamente nada, fazendo do efeito uma grande perda de tempo.
Mas Anderson não erra em tudo. A cena de luta na qual D’Artagnan e os mosqueteiros enfrentam os capangas de Rochefort merece créditos por não se limitar a apenas golpes de espadas e alguns socos, mas também pelo modo como o próprio cenário é usado. É interessante notar em algumas cenas o modo como os personagens posicionam suas espadas, formando um “X” indicando o famoso “versus” dos jogos de video-game, algo que não é nenhum pouco surpreendente considerando a carreira do diretor. A montagem é interessante, contando com belas transições de cena onde Anderson usa o estilo de animação mostrado no prólogo para sair de um lugar para outro. São acertos isolados considerando o filme como um todo, mas ainda assim são acertos.
Além de não conseguir desenvolver bem os personagens, outro grande problema do roteiro de Litvak e Davis é o modo como eles tentam fazer graça. Nesse quesito, eles investem pesado em um personagem: o rei Louis XIII (interpretado por Freddie Cox). Mas os roteiristas conseguem o efeito contrário. Louis é o personagem mais irritante de todo o filme. Tratado pelos roteiristas como uma criança mimada que precisa de alguém até para desenrolar o tapete no qual está caminhando, o rei é alguém que se importa muito mais em andar com as roupas da moda (aparentemente, a moda é qualquer cor que o Duque de Buckingham estiver vestindo) do que com qualquer outra coisa. Os momentos em que ele percebe que está vestindo uma roupa “diferente” a princípio divertem, mas depois se tornam repetitivos e chatos. Freddie Cox ainda exagera nos toques afeminados do personagem, que nada mais é do que uma caricatura na qual o roteiro perde um enorme tempo desenvolvendo (tempo este que poderia ter sido dedicado aos personagens principais).
Quanto ao elenco, não há grandes destaques. Entre os heróis, Logan Lerman (um bom ator, como mostrou em Bill e no fraco Percy Jackson e o Ladrão de Raio) faz de D’Artagnan um jovem determinado, apesar de sua ingenuidade o deixar um pouco marrento. Matthew Macfadyen transforma Athos em alguém muito vazio até na maneira como fala. Ray Stevenson consegue nos passar o orgulho que Porthos sente consigo mesmo. E Luke Perry tem como grande trabalho ficar lendo na maioria das cenas em que aparece, já que seu Aramis pouco tem a dizer. Mas se individualmente, estes atores mostram resultados bem diferentes um do outro, como grupo eles mostram uma boa dinâmica, que não deixa de ser interessante.
Os vilões não chegam a chamar a atenção. Milla Jovovich traz um ar de inocência para Milady de Winter, algo que não combina muito com a personagem, que mostra ser uma femme fatale. Orlando Bloom investe em uma voz sacana para compor o Duque de Buckinham, o que o torna ainda mais desprezível. Mads Mikkelsen e Christoph Waltz pouco tem a fazer com Rochefort e Richelieu. O primeiro mostra ser alguém mal-encarado apenas com sua expressão de malvado e seu tapa-olho, enquanto que o segundo mal aparece em cena.
Quando Os Três Mosqueteiros chega ao fim, fica clara a vontade dos realizadores em fazer uma continuação. Talvez por isso o filme seja tão falho. Paul W. S. Anderson e companhia esqueceram que antes de pensar em sequências, o filme inicial tem de falar por si mesmo. Se estes personagens protagonizarem mais uma franquia, que esta seja do mesmo nível que eles. Do contrário, Alexandre Dumas père irá se revirar em seu túmulo, envergonhado com o que estão fazendo com sua obra.
Cotação:

domingo, 9 de outubro de 2011

A Hora do Espanto

Recentemente, assisti a versão original de A Hora do Espanto, que é considerado um clássico da década de 1980. Não gostei do filme, já que a maioria dos personagens era desinteressante (alguns beirando o insuportável) e a história não era tão envolvente. O que salvou o filme foi Peter Vincent, interpretado por Roddy McDowall, um ótimo personagem que divertia bastante com sua “experiência” em matar vampiros. Como anda acontecendo muito ultimamente, os clássicos estão sendo refilmados e é bom constatar que o novo A Hora do Espanto, apesar de ter falhas, corrige os erros do filme original e ainda conta com um bom elenco.
Escrito por Marti Noxon, A Hora do Espanto nos apresenta a Charley Brewster (Anton Yelchin), jovem que tem como vizinho o bacana Jerry (Colin Farrell). Seu amigo Ed (Christopher Mintz-Plasse), alguém que Charley está evitando, o alerta sobre o fato de Jerry ser um vampiro, responsável por vários ataques. Depois do desaparecimento de Ed, Charley descobre que o amigo tinha razão. Desacreditado por sua mãe, Jane (Toni Collette), e por sua namorada, Amy (Imogen Poots), Charley resolve dar um jeito na sua situação vampiresca de alguma maneira.
A Hora do Espanto não tem como propósito assustar o público, sendo muito mais uma comédia com bons toques de suspense, como foi o filme original. Nesse sentido, esta nova versão é bem sucedida. O diretor Craig Gillespie consegue trazer tensão para algumas cenas, a maioria delas envolvendo Charley e Jerry. Gillespie ainda conduz satisfatoriamente, apesar de não empolgar, as cenas de ação, sendo a perseguição de carros uma das melhores (esta cena tem uma ponta de Chris Sarandon, o Jerry original). O diretor falha com relação à trilha sonora, que às vezes é usada apenas para nos assustar desnecessariamente, como na cena em que Charley e Ed invadem atrapalhadamente a casa de Adam, um amigo deles que desapareceu. Além disso, Gillespie não consegue aproveitar o 3D, que se mostra eficaz apenas quando algum objeto é jogado na direção do espectador, algo que acontece muito pouco. Aliás, não entendo o fato de A Hora do Espanto ter sido feito em 3D, já que a tecnologia não acrescenta nada ao filme.
Marti Noxon faz um roteiro que conta com momentos divertidos, como quando Charley visita Peter Vincent e este surpreende tirando sua fantasia, mostrando ser completamente diferente do estilo gótico que mostra na televisão. Alguns diálogos também divertem, como aquele mencionando Crepúsculo (e que é muito bem retrucado). Por outro lado, colocar um personagem pesquisando no Google já está virando um clichê, e o conflito entre os amigos Charley e Ed é mal desenvolvido, não causando o impacto que deveria. Para completar, a explicação para o porquê de um objeto curar as vítimas transformadas em vampiros soa artificial e barata.
As novas versões dos personagens são interessantes. Charley faz parte do grupo dos populares do colégio, apesar de ainda mostrar os traços de sua personalidade nerd. Tal personalidade é muito bem retratada por Anton Yelchin, que nos últimos anos vem mostrando ser um ator muito talentoso, além de carismático. Isso se revela crucial, já que desvia a atenção do fato de o roteiro, em alguns momentos, tratar Charley como um personagem que não é muito esperto. Logo depois de ver um vampiro morrer, Charley pergunta a Peter Vincent como matar uma dessas criaturas, como se não soubesse nada sobre o assunto (aliás, se ele procurou no Google o local onde Vincent se encontra, então ele poderia muito bem pesquisar como matar vampiros).
Outro personagem com uma versão mais bacana é o próprio vilão do filme. Jerry não só é ameaçador, mas também um verdadeiro sádico, como pode ser visto na cena em que Charley tenta resgatar sua vizinha, que se encontra presa na casa do sujeito. Colin Farrell claramente se diverte com seus olhares sedutores e suas falas (“Não precisa de convite se não há casa!”).
David Tennant consegue fazer de seu Peter Vincent um personagem divertido, como era no original. Apesar de não ser melhor que a caracterização de Roddy McDowall, pelo menos não deixa a desejar. Christopher Mintz-Plasse traz segurança para Ed, um nerd que enfrenta os valentões (algo raro de se ver), enquanto que a Amy da bela Imogen Poots mostra não ser uma mocinha em perigo. E a mãe de Charley ganha muito mais espaço no novo filme, tendo em Toni Collette uma intérprete com carisma.
Com créditos finais que lembram muito Sherlock Holmes, a nova versão de A Hora do Espanto pode não ser um grande filme, mas é melhor do que muitas refilmagens que são feitas atualmente.
Cotação:

sábado, 8 de outubro de 2011

Filmes de 2011 - Parte 2

Em julho, coloquei aqui no blog a primeira parte dos grandes filmes que assisti em 2011. Limitei a lista para os filmes lançados de 1990 para trás. Eu havia colocado ainda que a Parte 2 seria postada só em dezembro, mas de lá para cá assisti a vários grandes filmes e por isso resolvi fazer a segunda lista mais cedo. Abri uma exceção para dois filmes lançados depois de 1990, porque são filmes que gostei muito mesmo.
- A Vida de Brian (Life of Brian, 1979), de Terry Jones: O Monty Python é um grupo de comédia que gosto bastante. Este A Vida de Brian conta com piadas sensacionais envolvendo os personagens do Novo Testamento, algo que só o Monty Python tinha o talento e a coragem de fazer. Os comediantes mostram neste filme um ponto de vista onde seu humor escrachado impera, o que faz a produção ser hilária do início ao fim.
- Monty Python: O Sentido da Vida (The Meaning of Life, 1983), de Terry Jones: Outro filme do Monty Python que eu ainda não havia assistido. Aqui, o grupo traz piadas inteligentes envolvendo o sentido da vida. O filme é cheio de cenas memoráveis absolutamente hilárias.
- Asas do Desejo (Der Himmel Über Berlin, 1987), de Wim Wenders: Wim Wenders é um dos diretores mais importantes do cinema alemão, e Asas do Desejo é um de seus melhores filmes. A história de um anjo que se apaixona por uma humana e resolve largar sua imortalidade para ficar com ela é algo muito bonito de se ver.
- Serpico (1973), de Sidney Lumet: Uma das obras-primas de Sidney Lumet, Serpico conta ainda com uma das melhores atuações da carreira de Al Pacino. Um grande filme sobre um policial honesto que tenta fazer seu trabalho em meio à corrupção de seu departamento.
- Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos (Mujeres al Borde de un Ataque de Nervios, 1987), de Pedro Almodóvar: Depois de ter assistido Cría Cuervos, de Carlos Saura, tive a oportunidade de ver em aula outro clássico do cinema espanhol: Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos. Enquanto Saura fazia em seu filme uma metáfora envolvendo o regime franquista, Almodóvar fez uma comédia com toques de melodrama onde as cores quentes representam uma maior liberdade criativa. Um filme bastante divertido que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 1988.
- Um Corpo Que Cai (Vertigo, 1958), de Alfred Hitchcock: Um dos vários grandes filmes do Mestre do Suspense, Alfred Hitchcock. O diretor insere aqui um modo inteligente de mostrar a vertigem do protagonista (John “Scottie” Ferguson, interpretado por James Stewart), usando o zoom in e o zoom out ao mesmo tempo. Um thriller interessantíssimo, com grandes reviravoltas.
- Boogie Nights: Prazer Sem Limites (Boogie Nights, 1997), de Paul Thomas Anderson: Passado nas décadas de 1970 e 1980, Boogie Nights mostra o jovem Eddie Adams (Mark Wahlberg) que acaba fazendo sucesso como ator pornô graças ao seu “grande dom”. Um filme com personagens interessantíssimos, uma história envolvente, um roteiro cheio de ótimos diálogos e belos planos feitos pelo seu diretor.
- Contato (Contact, 1997), de Robert Zemeckis: Um filme absolutamente fantástico. O roteiro sensacional nos apresenta a uma história fascinante e Robert Zemeckis conduz tudo com seu grande talento. Um filme que trata ciência e religião muito bem e levanta discussões interessantíssimas.
- Isto É Spinal Tap (This Is Spinal Tap, 1984), de Rob Reiner: Um documentário fictício sobre uma banda fictícia. Isto é Spinal Tap é muito criativo e divertido, tendo várias cenas memoráveis, entre elas o momento em que os membros do Spinal Tap se perdem a caminho do palco ou quando o baixista, Derek Smalls (interpretado por Harry Shearer), não passa no detector de metais no aeroporto.

domingo, 2 de outubro de 2011

Gosto de Sangue

(Texto originalmente escrito para a aula de Estudo do Cinema Internacional)
Ao longo dos anos, os irmãos Joel e Ethan Coen construíram uma carreira muito interessante. Eles são os responsáveis por comédias hilárias, como O Grande Lebowski, Arizona Nunca Mais e Na Roda da Fortuna, por dramas muito eficientes, como Ajuste Final, e por thrillers sensacionais como Onde os Fracos Não Têm Vez e este Gosto de Sangue, estreia deles no cinema em 1984.
O filme tem uma trama bem montada. Marty (Dan Hedaya) acha que sua mulher, Abby (Frances McDormand), está traindo ele com Ray (John Getz). Ele contrata Loren Visser (M. Emmet Walsh) para segui-los, e mais tarde pede para matá-los. O desenrolar da história é cheio de desconfiança, onde ninguém sabe o que realmente está acontecendo.
Desde o início o clima de suspense impera, desde a fotografia sombria de Barry Sonnenfeld até a direção de Joel Coen (Ethan só começou a ser creditado a partir de Matadores de Velhinha, de 2004). A trilha sonora consegue deixar o público aflito para saber o que vai acontecer a seguir. O curioso é notar que essa trilha utiliza até mesmo a exaustão de um cachorro para fazer suspense, como quando Marty ataca Abby na casa de Ray. O roteiro dos Coen ainda traz cenas que divertem, como quando uma mulher mostra um apartamento para Abby e grita com o homem que está dormindo lá.
Algo interessante é ver que a direção dá ênfase em algumas coisas no filme que aparentemente não parecem ter propósito algum, mas mais tarde elas revelam ter alguma função. Por exemplo, quando Marty fica olhando para a incineradora perto de seu bar pouco depois do início do filme, isso parece ser apenas algo comum, mas depois ele pede para Visser desaparecer com os corpos dos amantes queimando-os ali.
A estreia dos Coen não poderia ser melhor. Gosto de Sangue é um grande filme. Hoje, pode-se dizer que os irmãos só melhoraram com o tempo.

sábado, 1 de outubro de 2011

Contra o Tempo

Em 2009, Duncan Jones (filho de David Bowie) mostrou ser um diretor bastante promissor ao lançar Lunar, excelente ficção científica que lembrou muito 2001: Uma Odisséia no Espaço, obra-prima de Stanley Kubrick. Depois de vários adiamentos, Contra o Tempo, novo filme de Jones, finalmente estreia no Brasil (já manifestei meu descontentamento quanto a este tipo de atividade das distribuidoras na minha crítica de Scott Pilgrim Contra o Mundo) e mostra que o diretor tem mão firme para dirigir uma trama cheia de ação no estilo “corrida contra o tempo”.
Escrito por Ben Ripley como uma espécie de Corra Lola, Corra versão ficção científica, Contra o Tempo mostra Colter Stevens (Jake Gyllenhaal), piloto da força aérea americana que acorda em um trem ao lado de Christina (Michelle Monaghan), uma mulher que nunca viu antes. O trem explode e Stevens volta para uma cabine onde Goodwin (Vera Farmiga) o informa que o acidente já havia acontecido. Stevens estava em uma simulação chamada “código-fonte”, e Goodwin diz que ele precisa voltar para lá para encontrar a bomba e o terrorista responsável pela explosão, porque pode evitar outro ataque. Stevens tem apenas oito minutos para cumprir sua missão, tempo de duração do código-fonte.
Cada chance que Stevens tem de “viajar” no código-fonte é tratada por Duncan Jones como se fosse um desafio pessoal para o protagonista. Sendo um membro da força aérea americana, Stevens tem um instinto de resgate, e ás vezes ele esquece que está em uma simulação e tenta salvar alguém que está no trem. Como o filme tem várias “viagens”, Jones acerta ao inserir uma montagem cada vez mais rápida, já que ficar repetindo todos os acontecimentos que nós já sabemos que vão ocorrer serviria apenas para deixar o filme mais longo (os 93 minutos de duração já são muito bem distribuídos).
Durante o filme, Stevens fica preso na cabine de acesso ao código-fonte podendo conversar apenas com Goodwin e o chefe de toda a operação, Dr. Rutledge (Jeffrey Wright). Isso traz para Contra o Tempo um ar de claustrofobia muito interessante e quando o protagonista vai encarar sua missão é como se fossem oito minutos de liberdade. Não é á toa que Stevens claramente parece mais confortável na simulação ao lado de Christina do que quando está na cabine. O roteiro ainda é hábil ao conseguir desenvolver o personagem enquanto a ação ocorre.
Mas a grande missão de Colter Stevens ao longo do filme é encontrar o terrorista que explodiu o trem. Nesse quesito, Jones é bem sucedido ao conseguir fazer com que Stevens (e o público), desconfie de vários passageiros, algo que chega ao auge quando ele persegue um dos que saíram em uma parada do trem. Quando vemos que o terrorista é um daqueles de quem desconfiamos pode parecer decepcionante, mas o roteiro em nenhum momento mostra ter como propósito trazer alguma surpresa com relação a isso.
O conceito concebido por Ben Ripley é interessantíssimo. Depois da sessão, fiquei pensando em como seria se realmente existisse um modo de evitar um ataque terrorista? Será que 11 de setembro de 2001 seria uma data importante como é hoje? Contra o Tempo está muito ligado a isso. Antes de entrar na cabine, Stevens lembra de estar pilotando um helicóptero no Afeganistão. Porque ele estaria no Afeganistão? Provavelmente tentando evitar que mais estragos, como os atentados do 11 de setembro, ocorram. Seja na guerra ou no código-fonte, Stevens está tentando evitar mais terrorismo durante quase todo o filme.
Jake Gyllenhaal, um ator talentosíssimo, encarna Colter Stevens com uma determinação admirável. Inicialmente confuso, Stevens muda de postura no momento que descobre o propósito de sua missão, não medindo esforços para cumpri-la, mas sem esquecer de seu drama pessoal: saber o que aconteceu consigo mesmo, algo que apenas Goodwin e Rutledge parecem ser capazes de responder. Goodwin é vivida por Vera Farmiga com grande seriedade, mas ela não esconde sua preocupação com o protagonista, se sentindo obrigada a informá-lo de certos fatos. Michelle Monaghan traz carisma para Christina, mulher que faz Stevens mostrar seu lado afetuoso. Enquanto isso, Jeffrey Wright faz de Rutledge alguém que merece nossa desconfiança.
Com um belíssimo plano em seu final, Contra o Tempo consegue prender a atenção de seu público do início ao fim. Se continuar assim, Duncan Jones será uma promessa muito bem cumprida.
Cotação: