sexta-feira, 28 de abril de 2017

Guardiões da Galáxia: Vol. 2

Apesar de contar com personagens que até então não eram os mais populares da vasta galeria que a Marvel tem em mãos, Guardiões da Galáxia encontrou sucesso ao apostar em um humor irreverente que, somado ao carisma de seu grupo de heróis e a riqueza de seu universo cósmico, o tornou uma das grandes surpresas entre os filmes produzidos pelo estúdio. Naturalmente, o filme chegava ao fim deixando a vontade de reencontrar aquelas figuras em novas aventuras, o que finalmente ocorre neste Guardiões da Galáxia: Vol. 2, que felizmente consegue fazer a fórmula do primeiro exemplar funcionar novamente.

Com James Gunn assinando mais uma vez o roteiro e a direção, Guardiões da Galáxia 2 coloca Peter Quill (Chris Pratt), Gamora (Zoe Saldana), Drax (Dave Bautista), Rocket (voz de Bradley Cooper) e o pequeno Groot (voz de Vin Diesel) encarando o surgimento de Ego (Kurt Russell, sempre uma presença interessante), o pai de Peter. Mas enquanto conhecem novos aliados, lidam com antigos antagonistas e descobrem mais detalhes sobre a natureza de seu líder, os Guardiões ainda se veem sendo perseguidos pelos Soberanos liderados por Ayesha (Elizabeth Debicki), que querem o fim dos heróis devido a contas mal acertadas.

A partir disso, James Gunn forma a base para repetir o que havia feito no primeiro filme, de maneira que este novo longa tem as mesmas qualidades e também os mesmos problemas de antes. Sendo assim, o roteiro recorre muito para diálogos expositivos (às vezes longos demais) para estabelecer coisas importantes, enquanto que algumas piadas soam um tanto forçadas e bobas, o que não deixa de ser natural considerando a grande quantidade delas (seria uma surpresa se todas fossem eficazes). Para a sorte de Gunn, o humor irreverente que ele volta a impor ainda funciona na maior parte do tempo com suas gags, sendo algo que o diretor preza a ponto de parar o filme apenas para poder fazer uma série de piadas, como quando Yondu (Michael Rooker) e Rocket têm falhas de comunicação com Groot (um dos momentos mais divertidos do filme).


Se esse quesito trata de levar o espectador constantemente ao riso, o trabalho de design de produção e de maquiagem concebe aquele universo e seus habitantes com uma diversidade fascinante, desde o império dos Soberanos, um povo com uma adoração pelo dourado, até o planeta de Ego e os membros bizarros da tripulação de Yondu. Aliás, é curioso notar como todos esses elementos constroem uma identidade bem particular do universo dos Guardiões da Galáxia no cinema, de forma que é até uma surpresa que, no fim das contas, o longa faça parte da mesma franquia que heróis como Homem de Ferro, Capitão América, Thor e Hulk, detalhe que o roteiro lembra pontualmente.

Enquanto isso, mesmo desenvolvendo uma história muito grande, James Gunn nunca perde de vista a chance de se aprofundar nos personagens e nas relações entre eles, criando momentos mais intimistas em meio à trama e que, por vezes, tocam o espectador com sua surpreendente sensibilidade, como a breve cena em que Peter e Ego brincam com uma bola. Para completar, Gunn é hábil na condução das sequências de ação, que divertem e exibem uma energia contagiante (a abertura com a dança de Groot em um momento caótico é um dos melhores exemplos disso), conseguindo também envolver o público por contar com personagens com os quais nos importamos. Nesse ponto, o carisma de atores como Chris Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista e Michael Rooker (sem dúvida um dos grandes destaques) se revela essencial, com eles ganhando a chance de humanizar um pouco mais seus personagens e exibindo no processo uma segurança maior nos papeis.


Embalado por canções tão boas quanto as do primeiro filme e encerrando com aquele que é desde já um dos momentos mais belos da franquia do universo Marvel, Guardiões da Galáxia 2 é uma continuação que usa a máxima do “em time que está ganhando não se mexe” a favor da narrativa, sabendo usar isso para ficar no mesmo nível de seu já admirável antecessor.

Obs.: Há nada mais, nada menos que cinco cenas durante os créditos finais.

Nota:

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Velozes & Furiosos 8

Apesar de não ser uma franquia particularmente consistente, mesclando exemplares divertidos com outros mais irregulares, é no mínimo curioso (para não dizer insano) notar a evolução de Velozes & Furiosos ao longo de seus pouco mais de 15 anos de existência. Se no início a série apresentava tramas policiais situadas no submundo das corridas clandestinas, mais tarde ela entrou no ramo dos heist movies (quando um grupo se organiza para realizar um roubo), apenas para hoje ser uma espécie de filhote de Missão Impossível. Tudo isso mantendo sua natureza motorizada, enquanto que a escala de produção e o nível de absurdo foram aumentando gradualmente. Esses dois últimos detalhes chegam ao ápice neste Velozes & Furiosos 8, um longa que podemos classificar como sem noção, algo que até contribui para que ele seja uma diversão eficiente.

Escrito pelo mesmo Chris Morgan que assumiu os roteiros da franquia a partir do terceiro filme, Velozes & Furiosos 8 mostra Dominic Toretto (Vin Diesel) em lua de mel com sua amada Letty (Michelle Rodriguez), finalmente vivendo em paz. Mas isso muda quando a ciberterrorista Cipher (Charlize Theron) surge em seu caminho, obrigando-o a trair seus ideais e sua família para ajuda-la em seus crimes ao redor do mundo e que podem iniciar uma guerra (quem imaginaria esse tipo de coisa lá no primeiro exemplar da franquia?). Cai no colo de Hobbs (Dwayne Johnson) e da equipe habitual de Dom impedir que os planos de Cipher com o herói cooptado se concretizem, sendo que para isso o grupo ainda ganha o auxílio de velhos antagonistas e do Sr. Ninguém (Kurt Russell).

Trazendo um novo diretor para a franquia ao ir parar nas mãos de F. Gary Gray (o mesmo do ótimo Straight Outta Compton e que também é o responsável pelo belo remake de Uma Saída de Mestre, que tem elementos em comum com Velozes & Furiosos), este oitavo capítulo não deixa de seguir a fórmula que a série estabeleceu para si mesma nos últimos exemplares, conseguindo apresentar dentro disso uma narrativa que abraça com muito gosto os absurdos que surgem na tela, por mais idiotas que possam ser. E quando achamos que isso chegou no limite, o longa dá um jeito de se superar um pouco mais. É desse jeito que se forma a diversão que ele proporciona durante suas mais de duas horas de duração, trazendo momentos que causam risos por serem inacreditáveis, seja a fuga da prisão que ocorre no início do segundo ato (e na qual Dwayne Johnson mostra o quanto se diverte com a força bruta de Hobbs) ou o suicídio coletivo cometido por carros (você leu isso certo), sem falar na sequência final situada em um infinito canal congelado, local que parece desafiar a infinita pista de decolagem vista no sexto filme. Nisso, F. Gary Gray merece créditos por comandar a ação de maneira ágil e conseguindo injetar energia o suficiente para prender a atenção do público durante a maior parte do tempo.


No entanto, ainda que Velozes & Furiosos 8 divirta com todos esses elementos, há de se ressaltar que em determinados momentos a estupidez inerente da narrativa simplesmente testa a paciência do público. Se por um lado a descaracterização de alguns personagens feita pelo roteiro acaba funcionando para o que o filme quer fazer, por outro ele ainda aposta em frases de efeito e diálogos bobos (“Cipher é um ato digital de Deus”, “Eu vou te bater como um tambor cherokee”) enquanto desenvolve uma trama que quer surpreender, mas sem ter a competência ou criatividade para isso, como comprovam algumas reviravoltas pontuais, sendo que aquela envolvendo o retorno de um personagem no terceiro ato chega a irritar em sua tentativa óbvia e mal feita de enganar o público.

Enquanto isso, o elenco liderado por Vin Diesel volta a exibir uma boa dinâmica tanto como equipe quanto como família, algo que o roteiro preza bastante e, por isso mesmo, põe à prova ao longo da história. É um ponto que até rende momentos interessantes, como aquele em que vários cabos tentam prender o protagonista, tentando trazê-lo de volta para o lado do bem, ou o outro no qual ele encontra pessoalmente o motivo de sua aliança com Cipher, cena que deve ser a mais dramaticamente eficaz de toda a série. Aliás, falando na vilã, Charlize Theron cria uma figura que faz questão de mostrar o prazer que sente em ser uma canalha, além de surgir como uma ameaça palpável para os heróis e obrigando-os a se superarem para detê-la.


Mesmo não fazendo nada de muito diferente dentro do que a franquia tem apresentado, Velozes & Furiosos 8 funciona bem como entretenimento, sendo uma possível constatação de que os realizadores encontraram um caminho mais satisfatório para a diversão ao não temerem assumir o lado ridículo da narrativa.

Nota: