quinta-feira, 28 de junho de 2012

A Era do Gelo 4

A franquia A Era do Gelo parece ser uma daquelas séries que começa bem, mas começa a se estender tanto que acaba perdendo a noção do momento de dizer “chega”. Assim, ela lembra um pouco o que aconteceu com Shrek. Gosto dos dois primeiros capítulos da série, mas o terceiro já mostrou certo desgaste, sendo um filme no máximo mediano e parecendo ter sido feito muito mais para ganhar dinheiro com as crianças que vão ao cinema e depois pedem para seus pais comprarem outros produtos do filme, desde brinquedos até lancheiras. Mesmo com esse desgaste, agora temos A Era do Gelo 4 e o resultado é um filme que se não é um desastre, tampouco chega a ser grande coisa, mostrando que a série realmente já está se estendendo um pouco além do que devia.
Escrito por Michael Berg e Jason Fuchs, A Era do Gelo 4 coloca Manny (voz original de Ray Romano) tendo que impor limites a sua filha adolescente, Amora (Keke Palmer), que sempre o desobedece. Depois que o esquilo Scrat provoca a separação dos continentes com sua amada noz, o mamute e seus amigos, Diego (Denis Leary) e Sid (John Leguizamo) acabam se separando de seu bando. Em meio aos perigos que passam, o trio precisa lutar contra o terrível Capitão Entranhas (Peter Dinkladge, uma pena não ter podido ouvir sua dublagem) e sua trupe de piratas para poder reencontrar Ellie (Queen Latifah), Amora e os gambás Crash (Seann William Scott) e Eddie (Josh Peck). Além disso, eles ainda precisam cuidar da avó de Sid (dublada por Wanda Sykes), que é largada com eles por ser considerada um peso na família do bicho-preguiça.
Apesar de absurdo, o modo como A Era do Gelo 4 mostra a separação dos continentes não deixa de ser divertida, além de criativa dentro do universo do filme. Se essa cena já diverte e coloca o filme em um nível agradável, isso prova o quanto que o esquilo Scrat continua carismático mesmo depois de dez anos fazendo a mesma coisa, lembrando um pouco os pinguins de Madagascar. E se aqueles personagens já ganharam uma série de TV, não é a toa que Scrat já começou a protagonizar curtas-metragens.
Mas logo depois vem um dos problemas do filme: são muitos personagens. Se o roteiro já precisa se preocupar com as figuras que foram adicionadas ao longo dos outros três filmes, aqui são introduzidas mais algumas. Afinal, algo de novo o filme precisa ter além do trio principal vivendo aventuras e Scrat perseguindo sua noz. Com isso, personagens que faziam graça nos filmes anteriores, como Crash e Eddie, quase não aparecem ao longo da história, sendo substituídos pela avó de Sid como principal alívio cômico do projeto. Nesse sentido o roteiro é feliz, já que a personagem é divertida. Por outro lado, temos também Amora, que depois de nascer no terceiro filme agora aparece crescida. O problema é que ela, infelizmente, é usada para alguns clichês, como a garota que está disposta a mudar tudo o que faz só para poder andar com os adolescentes populares, além do velho conflito entre pai e filha.
Como o filme um grupo de piratas entre novos personagens, os diretores Steve Martino e Mike Thurmeier (que substituem o brasileiro Carlos Saldanha, que volta apenas como produtor executivo) são criativos na hora de construir os “navios” que são vistos no filme, sendo eles grandes icebergs. Os canhões e o gambá que serve como bandeira também são detalhes inspirados da dupla. E como não poderia deixar de faltar, é claro que há referências a franquia Piratas do Caribe. No entanto, em nenhum momento Martino e Thurmeier conseguem tornar a história envolvente, além de não conseguirem fazer cenas de ação interessantes. Quando Manny luta contra o Capitão Entranhas, por exemplo, este parece não saber usar uma espada, acertando quase que propositalmente as presas do protagonista “cheinho”. Aliás, o vilão é outro acerto do filme, já que apesar de não protagonizar grandes cenas de batalha, pelo menos ele consegue soar ameaçador e tem uma presença interessante.
Em A Era do Gelo 2, Manny ganhou uma namorada. Em A Era do Gelo 3, foi a vez de Scrat (apesar de a relação ter durado pouco tempo). Neste quarto filme, mais um personagem ganha uma alma gêmea. Sendo assim, acho que já posso prever um dos possíveis caminhos que A Era do Gelo 5 seguirá. Mas ainda espero que a série pare por aqui, talvez ficando apenas nos curtas-metragens, antes que o desgaste comece a ser um desastre.
Obs.: O curta-metragem dos Simpsons, The Longest Daycare, que passou antes da sessão, é muito divertido. Espero que Matt Groening e companhia façam outros.
Cotação:

terça-feira, 26 de junho de 2012

30 Anos de Blade Runner e O Enigma de Outro Mundo

Em 2012, Ridley Scott voltou ao campo da ficção científica com Prometheus, depois de ficar trinta anos longe do gênero, quando dirigiu o filme que fez aniversário ontem: Blade Runner: O Caçador de Androides. Aliás, não foi só este belo filme que completou trinta anos de existência, mas também um dos melhores filmes de John Carpenter, O Enigma de Outro Mundo, o que tornou a data 25 de junho de 1982 um dia ainda mais especial. Infelizmente, o post está um pouco atrasado, mas a homenagem é justa, e preferi escrever alguma coisa para não deixar o momento passar em branco.
Blade Runner levou alguns anos para ser reconhecido como o grande clássico que todos conhecem. Na época de seu lançamento, o filme não conquistou a crítica e fracassou nas bilheterias. A produção passou por muitos problemas, entre eles estão os produtores, que viram o primeiro corte do filme e, achando que as pessoas não entenderiam nada, mandaram Ridley Scott colocar uma narração de Rick Deckard (Harrison Ford), além de um final feliz (isso tudo é falado nos extras da edição especial tripla do DVD). Dessa forma, Blade Runner continuou sendo um filme muito bom, mas com problemas. A narração, por exemplo, tira muito do impacto que o discurso final feito por Roy Batty (interpretado magistralmente por Rutger Hauer) tem no filme.
Em 1992, depois de várias exibições testes, foi lançada a Versão do Diretor e Blade Runner foi reconhecido como um grande clássico. Ainda assim, a versão foi lançada as pressas e não agradou totalmente Ridley Scott, que queria fazer mais algumas alterações. Só em 2007 o diretor conseguiu lançar aquela que ele considera como sua versão definitiva para o filme.
As várias versões de Blade Runner abriram espaço para diversos debates sobre o que o filme mostra. As discussões vão desde religião até a possibilidade de Deckard ser um replicante. Independentemente da versão, o filme sempre chamou muito a atenção pelo seu visual estonteante da Los Angeles futurista. É um filme que mistura muito bem o estilo de ficção científica com o noir, o que o torna algo muito lindo de se ver esteticamente. Tudo isso em uma história envolvente do início ao fim, grandes atuações (Rutger Hauer, em particular, deveria ter sido indicado a todos os prêmios do mundo na época) e um Ridley Scott em um início de carreira brilhante.
O Enigma de Outro Mundo é um terror absolutamente espetacular. Representando o auge da parceria entre John Carpenter e Kurt Russell, o filme conta com um dos vilões mais assustadores da história do cinema: a “coisa”, como diz o título original.
Nada é mais assustador do que o desconhecido. Steven Spielberg soube usar isso muito bem em Tubarão e John Carpenter foi um mestre em O Enigma de Outro Mundo. Ao longo de todo o filme, nós não vemos a forma real do alienígena que inferniza os cientistas. Esse detalhe cria um nível de tensão muito grande no ambiente em que os personagens se encontram. Afinal, o monstro pode ser qualquer coisa que esteja ali, desde um cachorro até um dos cientistas. E como ele pode se transformar naquilo que quiser, não é difícil compará-lo ao bicho-papão que tanto assombra crianças. Sendo assim, ele pode ser a representação dos nossos próprios medos e isso faz deste vilão uma figura interessantíssima.
Se o vilão já é incrível, as cenas tensas que John Carpenter comanda não são menos do que geniais. Temos a parte em que MacReady (personagem de Kurt Russel) faz o exame de sague com todos os outros cientistas. Mas talvez a mais famosa seja mesmo a cena em que Cooper (Richard Dysart) tenta usar um desfibrilador em Norris (Charles Hallahan), mas o corpo deste se torna uma boca enorme, naquele que é o momento mais assustador do filme.
Dois grandes filmes, e não sei se lamento o fato de estarem rendendo mais produções. O Enigma de Outro Mundo teve uma prequel (que ainda não vi) lançada no ano passado, enquanto que Blade Runner está com uma continuação em desenvolvimento. Mas nada irá mudar o status dessas duas belíssimas obras-primas. Então, parabéns a elas.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Sombras da Noite

Como escrevi aqui, Tim Burton e Johnny Depp sempre conseguiram manter um bom padrão de qualidade nos projetos em que se envolveram, não fazendo nenhum filme realmente desagradável (pelo menos para mim). Depois de fazer uma releitura de Alice no País das Maravilhas, a dupla se aventura agora adaptando para as telonas Dark Shadows, a série de TV que fez muito sucesso na década de 1960 (e da qual não conheço nada). Apesar de Sombras da Noite não ser um filme tão bom quanto outras obras que Burton e Depp fizeram, como Edward Mão de Tesoura, Ed Wood e A Noiva Cadáver, este novo exemplar da dupla também não é uma perda de tempo.
Escrito por Seth Grahame-Smith e com argumento feito por ele em parceria com John August, Sombras da Noite nos apresenta a Barnabas Collins (Johnny Depp), um vampiro que ficou soterrado e preso em um caixão por 196 anos graças à bruxa Angelique Bouchard (Eva Green). Ao voltar para sua antiga mansão, o ano é 1972 e ele encontra alguns de seus estranhos parentes distantes, sendo Elizabeth (Michelle Pfeiffer) a matriarca da família. Ao mesmo tempo em que se vê tendo que se adaptar aos novos tempos, Barnabas também procura viver tranquilamente com sua família, mas Angelique ameaça os planos do vampiro ao saber de seu retorno.
No pequeno prólogo antes dos créditos, que se passa no século 18 e mostra o que aconteceu com Barnabas, Tim Burton investe seu já conhecido estilo para dar um tom sombrio e sério para as cenas, o que é ainda mais ressaltado pela fotografia de Bruno Delbonnel e pela trilha sonora do colaborador habitual do cineasta, o eficiente Danny Elfman. Ao passar o filme para 1972, algo que a montagem faz bem naturalmente, não fazendo soar muito brusco, o diretor já impõe um clima mais descontraído e começa incluir cores mais saturadas não só em alguns cenários, mas também nos figurinos e na maquiagem de seu elenco, deixando mais do que claro que os tempos mudaram completamente do século XVIII para o XX. Até mesmo a trilha sonora sofre mudanças, e ao invés de ouvirmos a composição de Elfman o tempo todo, Burton inclui também canções da época em que o filme se passa, indo de The Carpenters até Alice Cooper. Este último inclusive aparece em uma ponta que diverte pelo modo como é tratada.
Essa diferença entre as duas épocas mostradas no filme acaba sendo o alvo da maioria das piadas do roteiro de Grahame-Smith. Acostumado com a vida que tinha antes, Barnabas estranha algumas coisas que vê na década de 1970. Por exemplo, ele fica surpreso ao saber que Julia Hoffman (Helena Bonham Carter, esposa de Burton e figura carimbada nos filmes dele) é uma psicóloga, já que ele nunca imaginou que uma mulher poderia assumir uma posição como essa. Em outro, ele diz que a jovem Carolyn (Chloë Grace Moretz) já deveria estar casada e pronta para ter filhos. Mas nenhuma gag consegue superar aquela envolvendo o símbolo do McDonalds. E Johnny Depp (incluindo mais um personagem estranho em sua carreira) não só traz carisma para Barnabas como também o interpreta com seriedade, o que torna seus diálogos ainda mais divertidos.
Infelizmente, as piadas não desviam a atenção dos problemas do filme, principalmente com relação ao roteiro. No início, Victoria Winters (Bella Heathcote), a jovem que começa a trabalhar para os Collins cuidando do pequeno David (Gulliver McGrath), ganha bastante atenção, parecendo que ela surgirá como uma das principais personagens do filme, o que fica um pouco mais aparente graças ao fato de ela ser parecida com Josette, antiga paixão do protagonista (e que também é interpretada por Heathcote). Por causa disso, fica bem claro em sua primeira cena com Barnabas que ela será o interesse amoroso do vampiro. No entanto, ao longo do filme, ela só ganha importância quando o roteiro julga ser realmente necessário, o que demonstra uma dúvida do roteirista quanto ao que focar na história.
Além disso, a vilã vivida por Eva Green soa mais irritante do que propriamente ameaçadora, querendo que Barnabas a ame e castigando-o por ele não correspondê-la. Já Roger Collins (personagem de Jonny Lee Miller) além de ter poucas cenas e não acrescentar quase nada ao filme, ainda é simplesmente descartado depois de algum tempo. E o humor do filme nem sempre funciona, como na bizarra cena de sexo entre Barnabas e Angelique, na qual Burton tenta causar o riso com o resultado de toda a ação, mas acaba não conseguindo o impacto que gostaria, além de lembrar demais o desastroso Todo Mundo em Pânico 2.
No elenco, se Johnny Depp surge divertido como Barnabas, Michelle Pfeiffer tem uma presença interessante como Elizabeth. Já a talentosa Chloë Grace Moretz faz da antipática Carolyn uma figura suportável, apesar de a atuação da jovem atriz ser um tanto artificial no momento em que a personagem grita com a família na hora do jantar, uma cena na qual Burton consegue mostrar que ela não se sente parte daquele grupo de pessoas, colocando-a em uma ponta isolada na mesa. É uma pena, no entanto, que o roteiro resolva desenvolver Carolyn um pouco mais no terceiro ato do filme, incluindo um elemento desnecessário e do qual não fora nem indicado ao longo da história. Enquanto isso, Helena Bonham Carter aparece um tanto apagada como a excêntrica Dra. Julia Hoffman, ao passo que Jackie Earle Haley tem momentos divertidos como Willie, o faz-tudo da família Collins.
Sombras da Noite não é o tipo de filme que fica na memória após a sessão. Mesmo assim, mostra ser uma experiência divertida, ainda que tenha seus problemas.
Cotação:

terça-feira, 19 de junho de 2012

A Parceria Johnny Depp e Tim Burton

Todos sabem que é muito comum ver atores e diretores formarem parcerias, fazendo vários filmes juntos, seja porque ambos ficaram amigos nas filmagens de um longa e admiram muito o trabalho um do outro ou porque simplesmente se completam de alguma forma (mesmo que não se suportem, como Klaus Kinski e Werner Herzog). Parcerias é algo que não falta no cinema. Temos Russel Crowe e Ridley Scott, Leonardo DiCaprio e Robert De Niro com Martin Scorsese, Liv Ullman e Ingmar Bergman, Brad Pitt e David Fincher, Penélope Cruz e Pedro Almodóvar, só para citar alguns exemplos. Com a estreia de Sombras da Noite se aproximando, resolvi falar um pouco sobre uma parceria que já rendeu muitos sucessos desde que se iniciou em 1990: Johnny Depp e Tim Burton.
É uma parceria bastante compreensível. Não só porque eles se tornaram grandes amigos no set de Edward Mãos de Tesoura, mas também porque eles têm um gosto muito parecido. Depp é famoso por interpretar personagens estranhos e excêntricos, enquanto Burton tem como marca registrada seus mundos estranhos e excêntricos, no qual seu estilo gótico impera. Em todos os filmes que fizeram juntos, Depp interpretou um personagem louco, que às vezes beira a caricatura, mas que combina com o universo criado por Burton.
Oito filmes contaram com as marcas de Depp e Burton e o que é mais interessante é que eles viajam por vários gêneros, desde o terror (A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça) até o musical (Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet), passando pela animação (A Noiva Cadáver), a comédia (Ed Wood e Sombras da Noite) e a fantasia (A Fantástica Fábrica de Chocolate, Edward Mãos de Tesoura e Alice no País das Maravilhas). Com exceção de Sombras da Noite (que não vi ainda e, portanto, não posso opinar), todos os filmes são muito agradáveis, o que é até surpreendente considerando que é difícil manter um bom padrão de qualidade durante tanto tempo.
São dois artistas talentosíssimos, mas é curioso ver que Tim Burton tem uma limitação, relacionada a sua visão artística, algo diferente de Johnny Depp. Enquanto que o ator consegue embarcar em vários projetos, precisando se preocupar apenas com os personagens que irá interpretar, não importando se são excêntricos ou não (uma hora ele é Jack Sparrow, em outra ele é John Dillinger), o diretor precisa sempre combinar seu estilo com o filme que irá fazer. O visual gótico e estranho que Burton utiliza nas produções é sua marca registrada, e ele consegue inseri-la até em projetos mais leves, como A Fantástica Fábrica de Chocolate e Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas, e duvido muito que algum dia ele irá deixar de lado seu estilo. Isso faz as pessoas pensarem que todos os filmes de Burton são praticamente a mesma coisa, o que não é verdade.
Johnny Depp e Tim Burton já trouxeram muitas alegrias para os cinéfilos. E acredito que essa parceria ainda irá render muitas outras produções interessantes.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Prometheus

Foram necessários trinta anos para ver Ridley Scott finalmente retornar ao campo que o transformou no diretor do qual todos os filmes são esperados, mesmo que às vezes ele decepcione um pouco. Na ficção científica, Scott fez duas grandes obras-primas: Alien: O Oitavo Passageiro e Blade Runner: O Caçador de Andróides. Para essa volta do diretor a um campo que sempre foi interessante para ele, nada melhor do que um projeto que ele mesmo começou. Mas com tantos problemas na pré-produção, ficou a dúvida: seria Prometheus uma prequel para a série Alien ou algo completamente novo? Ao longo da trama, essa pergunta vai sendo respondida, mas é uma pena que um filme tão ambicioso não se aprofunde nas ideias que desenvolve.
Escrito por Jon Spaihts e Damon Lindelof, Prometheus nos apresenta a uma expedição que está à procura das origens da humanidade. Após encontrar vestígios nas cavernas da Ilha de Skye, na Escócia, em 2089, o casal de arqueólogos Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e Charlie Holloway (Logan Marshall-Green) vê aquilo como um convite para desvendar os segredos do universo. Dois anos mais tarde, depois de um período de hibernação, eles são parte da tripulação da nave Prometheus, em um projeto criado por Peter Weyland (Guy Pearce) com o propósito de fazer pesquisas mais aprofundadas sobre nossas origens. Ao pousarem em um mundo ainda desconhecido, o que eles encontram pode ser uma grande ameaça a toda a raça humana.
Para quem conhece bem a franquia Alien, fica bastante claro que Prometheus tem sim relação com aqueles filmes, já que há várias referências aos quatro capítulos da série protagonizada por Sigourney Weaver. Em uma cena, o androide David (Michael Fassbender) aparece jogando basquete melhor do que muitos profissionais, referência mais do que óbvia a Alien: A Ressureição. O refeitório da nave lembra muito aquele visto na Nostromus em Alien: O Oitavo Passageiro, incluindo até os mesmos planos feitos por Ridley Scott naquele filme. Aliás, a própria presença de um androide entre os tripulantes já é outra referência ao universo de Alien, algo que fica ainda mais claro no 3º ato da trama. Mas o que realmente liga todos os filmes é Peter Weyland, provável dono da corporação que enviou a tripulação de Ellen Ripley para o espaço. Assim, o modo como Prometheus é feito lembra muito Planeta dos Macacos: A Origem.
Visualmente o filme é impecável. O design de produção da nave Prometheus mostra ser bem diferente da Nostromus, apesar de lembrar a bela nave do filme de 1979 em alguns momentos. Um dos compartimentos mais interessantes é o quarto da diretora da missão, Meredith Vickers (Charlize Theron), que pode colocar a imagem que quiser em uma das paredes, um possível sinal de que a personagem não se sente a vontade na posição em que se encontra, e ver uma imagem de sua terra natal poderia ser um jeito de relaxar.
Ridley Scott consegue fazer com que nos importemos com os personagens do início ao fim. Isso fica claro nas cenas de ação/terror, que ainda são bem feitas pelo diretor. Scott consegue fazer com que torçamos até para personagens mais aborrecidos, como Fifield (Sean Harris) e Millburn (Rafe Spall). Quando Prometheus investe no terror, o que se vê são momentos de arrepiar, como quando o braço de um membro da tripulação é quebrado. E é óbvio que alguns personagens vão morrer ao longo do filme. Afinal, o roteiro utiliza a velha fórmula usada não só na série Alien, mas também em 98% dos slasher movies: no final, apenas os personagens que realmente interessam para a história vão estar vivos.
Spaihts e Lindelof bolam questões muito interessantes, e é isso que faz de Prometheus um longa tão ambicioso. Logo na primeira cena do filme, eles apresentam para o público (não para os personagens) como que decorreu toda a criação da raça humana. Aliás, é uma pena que a cena seja muito artificial, não deixando claro o porquê de aquilo estar acontecendo. Essa talvez seja a principal questão do filme. Por que fomos criados? E mais além: de onde vieram nossos criadores (ou Engenheiros, como são chamados)? O grande problema é que o roteiro se aproxima dessas respostas, mas não chega a se aprofundar nelas, deixando algo um tanto vazio no filme. O pior é ver que isso acontece em prol do susto, já que tudo é interrompido no exato momento em que os vilões começam a aparecer e a situação dos personagens no mundo que estão visitando fica cada vez mais feia e tensa. Talvez as respostas apareçam em uma futura (e muito provável) continuação, mas essa possibilidade não deveria importar agora.
Infelizmente, esse não é o único problema de Prometheus. Quando o real motivo de toda a expedição é revelado, acaba sendo decepcionante por ser uma razão muito tola para pesquisar algo tão fascinante. E um fato trágico na vida de Elizabeth é inserido um tanto que artificialmente, e é usado mais para fazer a situação na qual ela se encontra depois parecer mais absurda do que já poderia ser. Apesar disso, acaba criando uma relação interessante entre a personagem e suas pesquisas.
No elenco há grandes destaques. Noomi Rapace, tão ignorada em Sherlock Holmes 2, finalmente ganha espaço para mostrar o talento que possui, algo que já havia ficado claro na versão sueca de Os Homens Que Não Amavam as Mulheres. A atriz não chega a construir uma “nova Ellen Ripley”, mas tem uma presença em tela muito interessante, fazendo de Elizabeth Shaw uma mulher decidida e de personalidade forte. Já Charlize Theron apaga a imagem não muito boa que deixou no recente Branca de Neve e o Caçador, transformando Meredith Vickers em uma personagem adequadamente fria e distante. Enquanto isso, Guy Pearce, apesar de ter poucas cenas, se destaca interpretando o velho Peter Weyland, ao passo que Idris Elba surge carismático como Janek, o piloto da nave.
Mas é o talentosíssimo Michael Fassbender quem rouba a cena sempre que pode. Assim que aparece na tela, o ator já consegue mostrar que David não é um humano, desde o modo como se movimenta até o jeito controlado como fala, diferente do que Ian Holm e Wynona Rider fizeram na franquia Alien (e que pelo menos naqueles filmes funcionava muito bem). Além disso, Fassbender tem a sorte de contar com as melhores falas do roteiro (“Grandes coisas tem pequenos começos”) e que tornam seu personagem a figura mais interessante do filme.
Finalizado de um jeito que uma continuação possa vir e dar sequência a toda a história, Prometheus deixa mais ou menos claro em sua última cena o que aconteceu após os eventos mostrados aqui. Mas de qualquer forma, o sentimento de que este é um filme que poderia ser melhor acaba persistindo. Infelizmente, acho que é mais fácil Prometheus ser lembrado como a primeira ficção científica de Ridley Scott em trinta anos do que propriamente como uma obra marcante do gênero.
Cotação:

domingo, 10 de junho de 2012

Personagens Marcantes - Ellen Ripley

Com a estreia de Prometheus, nova ficção científica de Ridley Scott, se aproximando (aliás, a crítica do filme já está pronta e publicarei aqui no blog em breve), o espaço de Personagens Marcantes aproveita o momento para homenagear uma das heroínas de ação mais interessantes do cinema. Os homens sempre foram maioria nesse quesito de herói. Mas, em 1979, houve uma pequena (e importante) quebra nesse costume, que mostrou que mulheres podem ter uma presença tão boa quanto a dos homens no papel de protagonistas de filmes de ação, aventura ou ficção científica. Foi nesse ano que Alien: O Oitavo Passageiro foi lançado, filme que nos apresentou a Ellen Ripley, personagem interpretada sempre com competência por Sigourney Weaver.
Em Alien, Ridley Scott chega a brincar com o fato de os homens serem sempre os heróis nos filmes. Ripley é mantida “escondida”, como uma coadjuvante, durante boa parte do filme. Nesse período, Dallas (personagem de Tom Skerrit) é colocado como o personagem central, sendo até mesmo o líder que dá ordens para o restante do grupo. Ripley é trazida para o centro da narrativa gradualmente, e só depois de mais de uma hora de filme é que vemos que, na verdade, ela é a protagonista da história.
Um grande clichê é aquele da mocinha em perigo. Os roteiristas de Alien originalmente queriam que todos os personagens fossem homens, para evitar que o filme caísse em algo tão comum. No fim, o filme contou com duas personagens femininas. Mas Ripley é qualquer coisa, menos uma mocinha em perigo. Ela encara o vilão do filme (aliás, dos filmes) com muita coragem e inteligência, sempre procurando um modo de tirá-lo do caminho. E tanto no primeiro filme como no quarto, Alien: A Ressurreição, ela consegue derrota-lo jogando-o para fora da nave (sendo que em A Ressurreição ela faz isso de um modo até mesmo grotesco).
James Cameron foi chamado para fazer uma sequência de Alien, e em 1986 foi lançado Aliens: O Resgate. A revista britânica Empire elegeu o filme como a melhor sequência de todos os tempos, colocando a frente de outras grandes produções como O Poderoso Chefão: Parte 2, Batman: O Cavaleiro das Trevas e O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final. Aliens explora o lado maternal de Ripley, e descobrimos que ela era uma mãe antes de ir para a missão no espaço. Quando Ripley fica sabendo que sua filha morreu, nós sentimos a grande falta que a personagem sente por não ter ficado muito tempo ao lado de uma pessoa que amava. O roteiro de James Cameron, então, coloca a menina Newt (interpretada por Carrie Henn) no caminho de Ripley, e a relação de mãe e filha que elas criam acaba sendo um dos pontos altos do filme.
Aliens: O Resgate talvez represente o principal momento de Ripley no cinema. Por sua excelente atuação, Sigourney Weaver foi indicada a prêmios importantes, como o Globo de Ouro e o Oscar. Além disso, uma das falas de Ripley (“Fique longe dela, sua vadia”) foi cogitada para a lista de “Frases Memoráveis” do American Film Institute (AFI), divulgada em 2005.
O que vou dizer a seguir pode ser algo completamente errado, mas arrisco dizer que sem Ellen Ripley talvez nós não tivéssemos outras grandes heroínas de ação, como Sarah Connor (O Exterminador do Futuro). Ou pelo menos teríamos que esperar um pouco mais para ver uma mulher derrotar alienígenas e androides.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Para Sempre

Muitos romances que são lançados atualmente são feitos com o intuito de repetir fórmulas que deram certo (pelo menos financeiramente), tentando assim fazer seu público sair do cinema com um sorriso no rosto. Por não serem melhor preparados, esses filmes acabam resultando em algo de qualidade muito duvidosa (um exemplo recente é Um Homem de Sorte, estrelado por Zac Efron). Mas há filmes que não se importam só em tentar satisfazer seu espectador, se preocupando também com sua história e seus personagens. Chega a ser surpreendente quando uma produção assim é lançada, e é interessante ver que Para Sempre consegue ser um desses filmes.
Escrito por Jason Katims, Abby Kohn e Marc Silvertein e baseado no argumento de Stuart Bender, Para Sempre é inspirado em uma história real. Paige (Rachel McAdams) e Leo (Channing Tatum) são foram um casal que, no ápice da felicidade, sofre um acidente de carro que acaba deixando Paige em coma. Quando acorda, ela não se lembra de Leo, tendo como últimas recordações um passado que tentava esquecer. Dessa forma, Leo se vê na posição de tentar fazer sua amada se apaixonar por ele novamente, tarefa que fica ainda mais difícil graças ao fato de ela não entender o porquê de ter abandonado a vida que tinha antes, com os pais (Sam Neil e Jessica Lange), a faculdade de direito e o noivo (Scott Speedman).
De cara, a história lembra muito o divertido Como Se Fosse a Primeira Vez. Mas Para Sempre é diferente da comédia romântica com Adam Sandler e Drew Barrymore, investindo exclusivamente no drama que os personagens vivem. Sendo assim, a história precisa soar no mínimo interessante, para que o público possa se importar com o que acontecer ao longo da projeção. Com isso em mente, o diretor Michael Sucsy (mais conhecido pelo seu trabalho no filme para a TV Grey Gardens) não decepciona, dedicando o início do filme para o desenvolvimento do relacionamento, com os personagens se conhecendo, se apaixonando e, finalmente, se casando. Isso se torna mais interessante graças a boa química entre Rachael McAdams e Channing Tatum.
Os atores, aliás, não se destacam apenas quando estão juntos, alcançando atuações eficientes individualmente. McAdams, em especial, constrói em Paige uma personagem madura e decidida, mas depois do acidente ela se torna o oposto disso, mostrando até ter uma mentalidade mais jovem do que antes (em certo momento, ela parece uma criança perdida na cidade grande). Isso se encaixa bem na personagem, já que ela literalmente retrocedeu alguns anos devido à amnésia. Já Channing Tatum, apesar de inexpressivo em várias cenas (algo que parece fazer parte de seu modo de atuar, como já se viu em filmes como G.I. Joe e Querido John), se salva por emprestar carisma a Leo, além de às vezes aparecer um tanto atrapalhado, mas de um jeito divertido.
Com tantos romances rasteiros por aí, Para Sempre parece caminhar para o mesmo abismo de previsibilidade que essas produções, o que representaria a vontade dos envolvidos no filme em querer entregar uma obra que apenas satisfaça a vontade de seu público e nada mais. Mas o roteiro acaba surpreendendo ao seguir o caminho oposto ao que parecia óbvio, evitando usar um deus ex machina em seu desfecho, algo que poderia resultar em um final feliz muito artificial. Além disso, os motivos que fizeram Paige querer uma vida longe do conforto que tinha surgem, de modo geral, naturalmente.
É uma pena que alguns problemas comprometam um pouco o resultado final. Os amigos dos protagonistas, por exemplo, surgem muito chatos, com exceção da sócia de Leo, Lily (Tatiana Maslany), que parece ser a única pessoa amigável de quem vale a pena ouvir conselhos. Os outros aparecem até falando os problemas que o rapaz precisará enfrentar ao longo do filme (“E se ela não se lembrar de você? E de amar você?”), como se isso já não estivesse claro. Outra coisa que irrita um pouco é o fato de Leo fazer várias coisas por Paige, e mesmo assim não conseguir conquistar o amor da garota, o que soa um pouco como enrolação, ainda mais quando os pais resolvem se meter na história. Aliás, esse é um clichê desnecessário, sendo apenas mais um de vários problemas que os roteiristas resolvem colocar no caminho de Leo.
De qualquer forma, é bom ver quando um romance conta uma história interessante e ainda consegue contrariar expectativas. Sim, Para Sempre é um romance “água com açúcar”, mas acaba sendo como um breve raio de luz no meio da escuridão.
Cotação:

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Madagascar 3: Os Procurados

Os dois primeiros filmes da franquia Madagascar exploraram bastante o fato de seus protagonistas terem fugido do zoológico para descobrir um mundo livre e diferente. Mas as boas experiências pelas quais eles passam não conseguiam fazê-los esquecer da felicidade que traziam para várias crianças em Nova York, e não é à toa que eles sentem saudades desses tempos e desejam voltar pra casa. Em Madasgascar 3: Os Procurados, nós voltamos a ver os personagens tentando alcançar esse objetivo, algo que já causa um certo cansaço. Apesar de o filme não chegar a divertir tanto como os outros longas da franquia, pelo menos o roteiro conta com uma história interessante que consegue amenizar os problemas.
Escrito por um dos diretores, Eric Darnell, em parceria com Noah Baumbach , Madagascar 3 traz Alex (Ben Stiller) e seus amigos Marty (Chris Rock), Melman (David Schwimmer) e Gloria (Jada Pinkett Smith) abandonados pelos pinguins milicos. Com medo de ficar velho e ainda não ter conseguido voltar para casa (algo que fica claro no sonho logo no início do filme), Alex resolve pegar seus amigos e ir atrás dos pinguins em Monte Carlo. Lá, eles começam a ser perseguidos pela Capitã Chantel DuBois (Frances McDormand), mas também encontram o grupo circense Zaragoza, que os ajuda a fugir além de se tornar a última esperança para que o quarteto possa voltar a Nova York. Tudo depende da apresentação que o circo tiver em Londres.
Os diretores Tom McGrath, Conrad Vernon e o já citado Eric Darnell colocam várias gags ao longo do filme, algo comum não só na franquia Madagascar, mas também em todos os desenhos da Dreamworks/PDI. O problema é que a média de acertos deles não é muito alta. Se por um lado é engraçado ver a vilã atirar em alguns policiais quando estes estão enfileirados, por outro é repetitivo ver uma cena como aquela em que os protagonistas aparecem nas mais variadas manobras enquanto uma luz acende e apaga. E como sempre, os pinguins roubam a cena em vários momentos com seu estilo militar. Se isso aconteceu em todos os filmes da franquia, então já está mais do que na hora de eles ganharem seu próprio filme (apesar de eles já terem uma série de TV). No entanto, é uma pena que eles, mais uma vez, tenham tão pouco espaço diante dos outros personagens.
Quanto a vilã, o roteiro acerta em cheio. Chantel DuBois mostra desde o início ser uma figura perigosa com suas habilidades absurdas (e divertidas), nos fazendo temer pelo destino dos personagens, em especial Alex que é seu principal alvo. A cena de perseguição na qual ela corre atrás da van com os protagonistas é empolgante e muito bem feita, sendo um dos melhores momentos da animação. E o modo como a personagem se move lembra muito uma aranha atrás de sua presa, o que é muito interessante e ajuda a torna-la uma figura chamativa.
Um dos elementos mais interessantes em Madagascar 3 é o circo que Alex e seus amigos encontram. À primeira vista, o grupo liderado pelo carismático leão-marinho Stefano (Martin Short) é um verdadeiro desastre, mas depois é revelado que eles já tiveram dias de glória. A diferença entre esses dois momentos pode ser percebida pelo próprio Stefano, que em um flashback aparece com o bigode muito bem feito, diferente da realidade atual, em que ele conta com apenas alguns fios. Essa história de redenção do circo acaba funcionado graças as simaticas novas figuras acrescentadas ao filme, como a leoparda Gia (Jessica Chastain), os divertidos cãezinhos agressivos e o tigre Vitaly (Bryan Cranston). Este último, aliás, é o típico personagem valentão com coração de ouro, que acaba tendo um arco dramático clichê, mas que mesmo assim acaba sendo interessante. No entanto, é inexplicável o porquê de os diretores resolverem investir praticamente em um formato videoclipe na hora da grande apresentação do grupo, usando um visual diferente que acaba não deixando claro o que está acontecendo na tela e fazendo a canção “Firework”, de Katy Perry, brilhar mais do que os personagens, o que não deveria acontecer.
A subtrama envolvendo o Rei Julien (Sacha Baron Cohen) e sua namorada (ou seria namorado?) é outro ponto fraco em Madasgacar 3. Inicialmente, isso surge como algo engraçado, mas depois mostra ser absolutamente dispensável, já que além de não acrescentar nada ao filme, acaba perdendo a graça ao longo da história, servindo apenas para desviar o foco daquilo que realmente interessa. O roteiro compensa isso com o modo como trata o objetivo dos personagens principais, os fazendo perceber coisas que ignoravam ao longo dos três filmes.
Madagascar 3 pode não ser uma animação que rende várias gargalhadas (como o recente Piratas Pirados!), mas tampouco nos faz sair do cinema com um gosto amargo na boca. É um filme que consegue ser simpático o bastante para que nos importemos com seus personagens do início ao fim.
Obs.: O 3D do filme funciona mais quando algo é jogado em nossa direção ou pelo menos aproximado. Mas considerando que isso acontece bastante ao longo da projeção, a tecnologia acaba sendo eficiente.
Cotação:

domingo, 3 de junho de 2012

Inside The Actors Studio

É bacana quando figuras que admiramos contam um pouco sobre suas vidas e outras coisas que nem sempre elas falam abertamente. Nesse sentido, de todos os programas de entrevistas que já vi, o mais completo e interessante é definitivamente o Inside The Actors Studio, apresentado por James Lipton desde 1994. Ao longo dos 18 anos de existência, já passaram pelo programa mais de 200 convidados, que se sentam na poltrona ao lado de Lipton como um livro aberto, prontos para compartilhar suas experiências com qualquer um que queira ouvir.
Para aqueles que não sabem, o Actors Studio é uma das melhores escolas de atores. Ali, os alunos aprendem o famoso Método, técnica que consiste no ator desenvolver o personagem da maneira mais realista possível. Entre os seguidores do Método temos de Marlon Brando a Sean Penn, passando por Robert De Niro, Al Pacino, Ellen Burstyn, Jane Fonda, Mickey Rourke, e muitos outros. O Actors Studio ensina até mesmo diretores e roteiristas, o que é muito interessante.
Recentemente, comecei a procurar as entrevistas do Inside The Actors Studio (encontrei várias no You Tube) e no meio de tantas coisas bacanas, vi o que James Lipton falou antes do “episódio” com o grande Paul Newman,o primeiro entrevistado do programa, que você pode conferir no vídeo abaixo. Lipton diz que o programa tem uma hora de duração, mas o convidado fica ali respondendo às perguntas durante cinco a seis horas. Isso é algo muito admirável por que essas entrevistas são como aulas para os alunos do Actors Studio, e por estarem presentes ali essas pessoas merecem um conteúdo mais exclusivo. Lipton faz algumas perguntas (como “O que você espera de um diretor?”, “O que você procura em um roteiro, em um personagem?”, “Qual seu método de trabalho?”) com o intuito de que aqueles jovens possam aprender algo com os convidados, e isso representa momentos muito interessantes nas entrevistas.
Mas o que o Inside The Actors Studio tem de tão especial é o fato de os convidados realmente compartilharem sua vida pessoal sem medo de esconder alguma coisa. Robert Downey Jr., por exemplo, fala com bom humor de seus problemas com drogas, e Gene Hackman chega a se emocionar ao falar do momento em que seu pai abandonou ele e sua mãe. Não é algo que se vê em entrevistas comuns. E a prova do quanto que o programa é admirado pode ser vista no início da entrevista com Will Smith, quando este diz que estava louco para sentar na poltrona ao lado de James Lipton.
Quem está disposto a ser entrevistado no Inside The Actors Studio também precisa estar disposto a fazer outras coisas no palco. O lado cômico de algumas entrevistas vem, em parte, pelo fato de James Lipton fazer os convidados mostrarem habilidades especiais, como cantar, dançar ou até imitar outras pessoas, algo que Kevin Spacey faz com perfeição (veja o vídeo). Às vezes, esses momentos são quase micos, como quando Samuel L. Jackson é obrigado a sapatear.
Outra parte divertida que é tradição do programa é o famoso quiz no final de cada entrevista. Originalmente criado pelo ídolo de James Lipton, Bernard Pivot, o quiz conta com perguntas como “Qual sua palavra favorita?”, “Qual seu palavrão favorito?”, “Se o paraíso existe, o que você gostaria de ouvir de Deus quando chegasse lá?”. A pergunta do palavrão já teve as mais variadas respostas, desde o mais simples de todos (“Fuck”) até Natalie Portman dizendo algo usado em Israel que significa “A vagina da sua mãe”.
Já tendo sido indicado a 14 Emmys o Inside The Actors Studio é um programa que sempre vale a pena assistir não só para saber mais sobre as pessoas que são entrevistadas, mas também sobre os filmes que elas fizeram e o próprio cinema. Um verdadeiro prato cheio para cinéfilos.