segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Os Melhores e os Piores Filmes de 2012

Beleza, pessoal. 2012 está acabando e chegou a hora das listas de fim de ano.
Em termos de filmes, esse foi mais um ano produtivo. Consegui mais uma vez me superar, assistindo 365 filmes, quebrando o recorde de 357 do ano passado. Desses 365, 109 foram lançados comercialmente nos cinemas brasileiros em 2012 (o que inclui ainda várias produções de 2011, e até mesmo de 2010), e se tornaram elegíveis para essas listas. Claro que não pude assistir a tudo que foi lançado, mas acho que deu pra ver pelo menos a maioria dos principais filmes.
Devo dizer que dessa vez foi até mais fácil compilar as listas, já que fiz isso ao longo de todo o ano, diferente de 2011 e 2010 quando organizei tudo meio que em cima da hora.
Enfim, vamos ao que interessa.
Os melhores filmes lançados nos cinemas brasileiros em 2012:
1) O Artista (The Artist), de Michel Hazanavicius: Encantador do início ao fim, esta é desde já uma das melhores homenagens que o cinema já recebeu.
2) A Separação (Jodaeiye Nader az Simin), de Asghar Farhadi: Um elenco afinadíssimo interpretando belíssimos personagens e uma narrativa extremamente envolvente comandada com grande segurança por Farhadi.
3) 007: Operação Skyfall (Skyfall), de Sam Mendes: Consegue ser um dos melhores exemplares da franquia, ao mesmo tempo em que completa com sucesso a ideia de um recomeço e apresenta nomes conhecidos do universo de James Bond, deixando o terreno muito bem preparado para as próximas aventuras.
4) Pina, de Wim Wenders: Belíssima e tocante homenagem de Wenders a uma grande artista. Gostaria muito de ter assistido em 3D, mas infelizmente não foi possível.
5) Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises), de Christopher Nolan: Nolan finaliza sua contribuição para o personagem não só satisfatoriamente, mas também da forma épica como deveria ser.
6) As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower), de Stephen Chbosky: Chbosky trata o tema amizade com uma sensibilidade tocante, e até por isso o filme faria uma ótima sessão dupla com o clássico O Clube dos Cinco.
7) Argo, de Ben Affleck: Affleck sai de sua querida Boston para conduzir uma história que conta até mesmo com mais núcleos narrativos, e mostra mais uma vez que é um dos melhores diretores que surgiram nos últimos anos.
8) Millennium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres (The Girl With the Dragon Tattoo), de David Fincher: Infinitamente superior à versão sueca, este é mais um grande trabalho na carreira de Fincher.
9) Drive, de Nicolas Winding Refn: Uma obra que tem em seu ritmo calmo e tom melancólico exatamente o que identifica seu protagonista.
10) O Homem da Máfia (Killing Them Softly), de Andrew Dominik: Um retrato interessantíssimo do mundo da máfia em plena crise econômica. Além disso, “Os Estados Unidos não são um país, são um negócio” é sem dúvida uma das melhores falas do ano.
Obs.: O Abrigo, filme dirigido por Jeff Nichols e estrelado por Michael Shannon, teria entrado na lista nas primeiras posições, mas infelizmente foi lançado direto no mercado de home video, o que o tornou inelegível para a lista.
Outros 22 filmes que merecem destaque (em ordem alfabética):
13 Assassinos (Jûsan-Nin No Shikaku), de Takashi Miike
As Aventuras de Tintim (The Adventures of Tintin), de Steven Spielberg
Deus da Carnificina (Carnage), de Roman Polanski
Dredd, de Pete Travis
O Espião Que Sabia Demais (Tinker, Tailor, Soldier, Spy), de Tomas Alfredson
Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios, de Beto Brant
Heleno, de José Henrique Fonseca
O Homem Que Mudou o Jogo (Moneyball), de Bennett Miller
O Impossível (The Impossible), de Juan Antonio Bayona
Intocáveis (Intouchables), de Olivier Nakache e Eric Toledano
Jogos Vorazes (The Hunger Games), de Gary Ross
Looper: Assassinos do Futuro (Looper), de Rian Johnson
Marcados Para Morrer (End of Watch), de David Ayer
Moonrise Kingdom, de Wes Anderson
A Negociação (Arbitrage), de Nicholas Jarecki
Na Estrada (On the Road), de Walter Salles
Precisamos Falar Sobre o Kevin (We Need to Talk About Kevin), de Lynne Ramsay
Ruby Sparks: A Namorada Perfeita (Ruby Sparks), de Jonathan Dayton e Valerie Faris
Shame, de Steve McQueen
Ted, de Seth MacFarlane
Os Vingadores (The Avengers), de Joss Whedon
Xingu, de Cao Hamburguer
Os piores filmes lançados nos cinemas brasileiros em 2012:
1) As Aventuras de Agamenon: O Repórter, de Victor Lopes: Seria uma arma perfeita nas mãos de qualquer torturador.
2) Cada Um Tem a Gêmea Que Merece (Jack & Jill), de Dennis Dugan: Nem Al Pacino conseguiu salvar este filme de ser uma catástrofe. Adam Sandler já está rivalizando com o amigo Rob Schneider quanto à qualidade de seus filmes.
3) Totalmente Inocentes, de Rodrigo Bittencourt: É um tanto irônico que se chame “Totalmente Inocentes”. Afinal, o filme é culpado por muitas coisas.
4) Pequenos Espiões 4 (Spy Kids: All the Time in the World), de Robert Rodriguez: Uma coisa é Robert Rodriguez fazer um filme ruim. Outra é ele achar que seu público é absurdamente estúpido.
5) Battleship: A Batalha dos Mares (Battleship), de Peter Berg: Mais uma prova de que talvez os brinquedos devessem ficar apenas nas mãos de crianças, e não nas de Hollywood.
6) A Hora da Escuridão (The Darkest Hour), de Chris Gorak: Uma história desinteressante, que além de ter alienígenas sem a menor graça, ainda conta com personagens que oscilam entre a chatice e a estupidez.
7) Atividade Paranormal 4 (Paranormal Activity 4), de Henry Joost e Ariel Schulman: Além de ser o fundo do poço para a franquia, ainda mostra que ela já está se estendendo demais.
8) Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros (Abraham Lincoln: Vampire Hunter), de Timur Bekmambetov: A ideia era interessante, mas o que poderia resultar em algo divertido acabou sendo uma péssima experiência graças a um roteiro desastroso e a direção totalmente sem noção de Bekmambetov.
9) Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança (Ghost Rider: Spirit of Vengeance), de Mark Neveldine e Brian Taylor: O personagem é bacana, mas só dá azar quando vai para as telonas. E Nicolas Cage, infelizmente, dá mais sinais de sua má fase.
10) A Dama de Ferro (The Iron Lady), de Phyllida Lloyd: Nem a grande atuação de Meryl Streep conseguiu salvar este filme de ser um desastre.
Outras 15 bombas (em ordem alfabética):
Bel Ami: O Sedutor (Bel Ami), de Declan Donnelan e Nick Ormerod
Branca de Neve e o Caçador (Snow White and the Huntsman), de Rupert Sanders
Busca Implacável 2 (Taken 2), de Olivier Megaton
Curvas da Vida (Trouble With the Curve), de Robert Lorenz
Como Agarrar Meu Ex-Namorado (One for the Money), de Julie Anne Robinson
Guerra é Guerra (This Means War), de McG
Histórias Cruzadas (The Help), de Tate Taylor
Um Homem de Sorte (The Lucky One), de Scott Hicks
O Legado Bourne (The Bourne Legacy), de Tony Gilroy
O Pacto (Seeking Justice), de Roger Donaldson
O Príncipe do Deserto (Black Gold), de Jean-Jacques Annaud
O Que Esperar Quando Você Está Esperando (What to Expect When You’re Expecting), de Kirk Jones
Resident Evil 5: Retribuição (Resident Evil: Retribution), de Paul W.S. Anderson
A Sombra do Inimigo (Alex Cross), de Rob Cohen
A Última Casa da Rua (House at the End of the Street), de Mark Tonderai
Então é isso. Desejo a todos um Feliz Ano Novo. Que 2013 seja cheio de realizações e venha com muitos filmes para serem apreciados.
Um grande abraço!

domingo, 30 de dezembro de 2012

3 Anos de Brazilian Movie Guy

Outro ano se completa no Brazilian Movie Guy. Um ano um pouco mais atarefado (só de críticas foram 67 escritas, contra as 52 de 2011 e as 44 de 2010, sem contar as outras 4 de 2009, o que acaba me deixando curioso quanto ao me espera em 2013), no qual tivemos mais um pequeno crescimento.
Acho que 2012 vai ser uma época na qual olharei pra trás e ficarei um pouco mais satisfeito com os textos que escrevi (nem consigo olhar direito as primeiras críticas que publiquei, por que não acredito que elogiei filmes que hoje já não gosto tanto). Foi um ano no qual acredito ter amadurecido mais, e acho que isso me dá segurança na hora de escrever. Consequentemente, as críticas ficaram um pouco maiores se comparadas com as que eu escrevia até mais ou menos a metade do ano passado.
Mas a grande mudança que o Brazilian Movie Guy sofreu em 2012 foi, é claro, em seu visual. Alguém ainda se lembra do formato com fundo marrom, letras laranjas nos títulos e a fita no cabeçalho? Esqueci completamente de salvar o modelo, que ficou no blog por dois anos inteiros. Mas acho que o fundo branco, com letras vermelhas e a sala de cinema aí em cima ficaram bem melhores. Sem falar que as cotações agora ganharam suas estrelas, não sendo mais um monte de asteriscos nos títulos das postagens. Tudo organizado pela pessoa que vos fala, o que me deixa orgulhoso.
Os leitores ainda não são muitos, mas espero que 2013 traga mais algumas pessoas para nos seguir. Talvez vocês também possam ajudar nisso, não? Recomendem o blog para seus conhecidos, curtam a página no Facebook, ou me sigam no Twitter caso queiram ver mais comentários. Como eu sempre digo, quanto mais leitores melhor. Afinal, quem escreve quer ser lido.
No mais, eu gostaria de dizer que o Blogger marca por dia uma média de 100 visualizações de página aqui no blog. Não sei se é um número real ou se ele faz isso apenas para me fazer sentir bem. Mas se for isso mesmo, gostaria de agradecer a todas as pessoas que passam por aqui para ler o que escrevo.
Acho que é isso. Fiquem atentos para amanhã, quando publicarei a lista anual com os melhores e os piores filmes do ano. Aí sim encerro 2012.
Um grande abraço,
Thomás Rodrigues Boeira

sábado, 22 de dezembro de 2012

Breve Comentário - A Última Casa da Rua

Jennifer Lawrence é uma das grandes revelações dos últimos anos, e desde que estourou no excepcional Inverno da Alma, ela pegou ótimos papéis para interpretar. Dessa forma, ela ainda se destacou em X-Men: Primeira Classe e Jogos Vorazes. Sendo assim, não vejo muitos motivos para a garota fazer um filme como A Última Casa da Rua, já que este é um daqueles fracos filmes de suspense que poderia muito bem ser lançado direto no mercado de home video.
Escrito por David Loucka e com argumento de Jonathan Mostow, A Última Casa da Rua nos apresenta a Elissa (Lawrence), jovem que acaba de se mudar com sua mãe, Sarah (Elizabeth Shue), para uma casa em uma pequena cidade. Na residência vizinha, uma menina assassinou os próprios pais quatro anos antes, o que fez o local perder muito de seu valor. Com uma vizinhança composta por pessoas extremamente idiotas, Elissa acaba se aproximando de Ryan (Max Thieriot), o outro filho do casal assassinado e que continua morando na casa onde aconteceu a tragédia. Mas mal sabe ela que o rapaz guarda um segredo obscuro.
O roteiro de Loucka é problemático demais. O conflito que existe entre mãe e filha, por exemplo, só é lembrado quando o roteirista acha necessário, e ainda assim não acrescenta muita coisa a narrativa, representando uma perda de tempo. O roteirista ainda se mostra preguiçoso logo no início, ao começar a incluir várias coincidências para colocar a protagonista no caminho de Ryan, como o detalhe de começar a chover exatamente quando o rapaz a oferece uma carona. Como se não bastasse, a história é muito pouco envolvente, e as reviravoltas além de bobas, ainda são realizadas de um jeito meio bagunçado.
Pra piorar, o diretor Mark Tonderai busca assustar o público, mas falha em todas as tentativas. Mesmo quando usa a trilha sonora o cineasta não consegue causar algum pulo na cadeira, o que prova que ele não tem muita competência nesse quesito. Além disso, Tonderai não impõe tensão alguma ao filme, o que só não o torna entediante graças aos risos involuntários que algumas cenas causam, como quando Elissa encontra determinada caixa dentro do lixo de Ryan.
Lawrence faz o possível com a personagem que tem em mãos, surgindo carismática no papel, o que acaba sendo importante porque Elissa incomoda um pouco sendo uma garota metida demais. Já Elizabeth Shue (outra atriz talentosa, mas que lamentavelmente não consegue bons papéis há algum tempo) infelizmente não consegue impedir que Sarah se torne uma figura desinteressante, ao passo que Max Thieriot aparece inexpressivo como Ryan, o que até combina um pouco com os traumas do personagem.
No fim, A Última Casa da Rua é só mais um filme de suspense genérico, que procura apenas ganhar dinheiro usando sua estrela em ascensão.
Cotação:

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Filmes do Fim do Mundo

(Obs.: Se você estiver lendo esta publicação, quer dizer que sobreviveu a um desastre que sabe-se lá como aconteceu. Se não estiver, sinto muito, mas acho que a Força não estava com você)
O grande dia chegou. O momento que a humanidade esperava ansiosamente. O fim do mundo está aqui e... nada aconteceu. Impressionante, não? Mas não fiquem tristes. Afinal, o cinema sempre foi mais emocionante do que o mundo real, e já tivemos muitos filmes mostrando o fim da humanidade. Ou pelo menos o quase fim da humanidade.
Aqui vai uma lista com alguns filmes sobre o assunto. Inclui um filme que não é lá muito memorável, mas ainda serve para uma futura brincadeira, em que as pessoas poderão dizer aos filhos (ou netos, ou bisnetos, e assim por diante) que sobreviveram ao caos mostrado por essas produções.
- Melancolia (Melancholia), de Lars von Trier:
O fim do mundo segundo Lars von Trier resultou em um dos melhores filmes do ano passado. O estado em que Justine (interpretada por Kirsten Dunst, na melhor atuação de sua carreira até agora) se encontra por causa da depressão é impressionante. Ao mesmo tempo, o planeta Melancolia se aproxima cada vez mais da Terra, estando prestes a nos engolir. É uma metáfora interessante sobre depressão que o cineasta conduz com talento irretocável. E é incrível o quanto o final do filme pode deixar os espectadores perplexos.
- 2012, de Roland Emmerich:
2012 é um filme divertido. Não por mostrar várias pessoas sofrendo para sobreviver ao caos previsto pelos maias, mas por ter muitas coisas absurdas. O filme é um espetáculo de efeitos visuais feito por Roland Emmerich, que conduz muito bem aquilo que é o motivo de o longa existir e prestar pra alguma coisa: a destruição do planeta. No resto, a produção é bastante problemática, com um roteiro formuláico (no final, é óbvio que só os personagens principais serão os grandes sobreviventes, ou ao menos ser os últimos a morrer) e incoerências infelizes. Sem falar na narração em português engraçadíssima no momento da queda do Cristo Redentor.
- Armageddon, de Michael Bay:
Geralmente, ver o nome de Michael Bay ligado a um filme tem apenas um significado: bomba. Pensando bem, essa palavra tem duplo sentido quando falamos do diretor, já que além de os filmes serem ruins, ainda são cheios de explosões. Mas a verdade é que Bay já dirigiu bons filmes, e um deles é Armageddon. Trazendo Bruce Willis e Ben Affleck lutando para impedir que um meteoro atinja a Terra, Bay faz um filme catástrofe eficiente, no qual nos importamos com o destino dos personagens. E foi a última vez que o diretor realizou uma obra satisfatória.
- O Abrigo (Take Shelter), de Jeff Nichols:
O Abrigo é um dos melhores filmes do ano passado. Chegou aqui no Brasil só este ano, mas lamentavelmente foi direto para o mercado de home video. Trazendo uma atuação absolutamente maravilhosa de Michael Shannon (que deveria ter sido indicado ao Oscar este ano, e até levado o prêmio), o filme acompanha Curtis (Shannon), um homem simples que começa a reformar o abrigo que tem no quintal de sua casa, já que ele quer salvar sua família de uma suposta tempestade devastadora que está por vir. Tal tempestade o aterroriza em seus sonhos, fazendo com que tenha até alucinações. Ao longo de todo o filme, o diretor Jeff Nichols consegue deixar uma dúvida: Curtis está enlouquecendo ou tendo mesmo uma visão do futuro? Isso torna tudo mais inquietante, e a cena em que ele estoura em um jantar é um exemplo não só da obsessão do personagem, mas também da belíssima atuação de seu intérprete.
- A Estrada (The Road), de John Hillcoat:
John Hillcoat é um ótimo diretor e A Estrada é um grande filme. Trazendo um futuro pós-apocalíptico arrasador, a produção ainda mostra o quanto as pessoas podem ser impiedosas quando o assunto é sobrevivência (a cena em que o personagem de Viggo Mortensen faz um homem entregar tudo o que tem é muito triste). Mantendo um constante nível de tensão ao longo de todo o filme, Hillcoat faz de A Estrada mais uma bela adaptação de um livro de Cormac McCarthy, além de contar com belas atuações de seu elenco, principalmente Mortensen e o jovem Kodi Smit-McPhee.
Menção honrosa:
- O Dia em Que a Terra Parou (The Day the Earth Stood Still), de Robert Wise:
Coloco O Dia em Que a Terra Parou como menção honrosa porque vergonhosamente não assisti ao filme ainda, então não tenho como falar muito sobre ele. Mas é um clássico inquestionável do cinema, mostrando um alienígena, Klaatu (Michael Rennie), que chega a Terra para passar uma mensagem para as pessoas: de que elas devem escolher entre viver em paz ou serem destruídas por representarem um perigo a outros planetas. O filme teve uma refilmagem em 2008, estrelada por Keanu Reeves e Jennifer Connelly, mas que não vale muito a pena.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O Impossível

O tsunami que atingiu as áreas próximas do Oceano Índico em 2004 resultou em uma das maiores catástrofes da década passada, deixando centenas de milhares de mortos. A Tailândia foi um dos países que mais sofreram com a tragédia. Depois de Clint Eastwood ter colocado uma história envolvendo esse triste acontecimento em Além da Vida (a cena do tsunami representa o melhor momento desse filme), boa parte da equipe do ótimo O Orfanato realiza agora uma produção que se concentra na tragédia em si, centrando sua história em uma família que tenta lidar com toda aquela situação. Mesmo que logo no início dê ênfase ao detalhe de ser baseado em uma história real (como se isso fosse tornar tudo mais relevante), O Impossível é um filme eficiente e bastante tenso, mostrando da maneira mais arrebatadora possível os resultados daquele desastre e como os personagens tentam sobreviver ali.
Escrito por Sergio G. Sánchez, O Impossível segue a família Bennett, formada por Maria (Naomi Watts), Henry (Ewan McGregor) e os filhos deles, Lucas (Tom Holland), Thomas (Samuel Joslin) e Simon (Oaklee Pendergast), que aproveitam as férias para passar o Natal na Tailândia. Mas a felicidade deles é interrompida pelo tsunami que consumiu o local e os separou. Enquanto Maria e Lucas são socorridos e vão para um hospital, Henry e as outras crianças se refugiam em um abrigo, e todos tentam se reencontrar em meio ao caos.
Estabelecendo muito bem a dinâmica familiar dos Bennett em seus primeiros minutos, o diretor espanhol Juan Antonio Bayona consegue fazer com que nos importemos com os destinos daquelas pessoas, o que acaba sendo fundamental para o restante da projeção. É interessante notar que o cineasta mostra o quanto aquelas pessoas estão felizes por estarem naquele belíssimo lugar, mas ao fundo ele utiliza uma música bastante melancólica, o que faz total sentido considerando que aquela alegria seria abalada dali algumas horas. Além disso, antes de o tsunami acontecer, volta e meia Bayona inclui o efeito sonoro de ondas, o que faz com que a tragédia esteja presente na vida dos Bennett desde o momento em que eles colocam os pés no país.
O que nos faz chegar à cena do grande desastre, que em nada deixa a desejar comparada ao já citado momento de Além da Vida, sendo até mais realista. Impactante e desesperadora, a sequência ressalta muito bem o sentimento de impotência daquele momento. Aliás, as cenas embaixo d’água que mostram os personagens batendo em vários obstáculos representam algumas das partes mais angustiantes do filme. E os ferimentos que eles inevitavelmente acabam sofrendo são usados pelo diretor como um meio inesperado para criar tensão, já que a dor que eles sentem é inimaginável, principalmente Maria e seu enorme corte na perna, focado em um plano de detalhe chocante.
Ao longo do filme, o roteiro muda várias vezes com relação a que personagem focar, com o objetivo de manter o espectador a par do que está acontecendo com todos os membros da família Bennett, e até consegue ser bem sucedido nesse quesito. A primeira metade do filme se dedica a Maria e Lucas, e depois Henry, Simon e Thomas também passam a ganhar atenção. O problema nisso é que o filme perde um pouco de ritmo quando passa a dar espaço a todos os personagens, já que enquanto Maria e Lucas sofrem até chegar ao hospital, os outros três parecem estar muito mais seguros, o que faz a história perder um pouco seu tom de urgência.
Em vários momentos, O Impossível mostra estar em busca de fazer o público chorar. Por ter personagens interessantes vivendo uma situação triste e caótica, o filme chega a cumprir esse objetivo com relativo sucesso. É comovente acompanhar Lucas ajudando várias pessoas a encontrarem seus familiares, ou ver Maria ter um pouco de sua dor (física e emocional) aliviada pelo carinho de uma criança que ela acabara de conhecer. No entanto, há cenas no terceiro ato que Juan Antonio Bayona parece fazer de tudo para arrancar lágrimas do espectador, usando até mesmo uma música feliz para torna-las mais emocionantes. E esse tipo de decisão do diretor acaba tendo o efeito oposto, tirando muito do impacto que elas poderiam ter, além de deixar o filme cair um pouco no melodrama, o que é lamentável.
Mas O Impossível certamente não iria muito longe caso não contasse com as atuações inspiradas de seu elenco, principalmente o trio Naomi Watts, Ewan McGregor e Tom Holland. Se Watts consegue transmitir muito bem o desgaste e o sofrimento de Maria, McGregor traz grande força a Henry, além de protagonizar uma cena particularmente tocante quando o personagem consegue contatar um conhecido pelo celular. Já o jovem Holland surpreende ao fazer de Lucas um garoto corajoso, que chega a guiar a mãe quando esta não sabe mais o que fazer.
Envolvente praticamente do início ao fim e com personagens muito humanos, O Impossível é uma grata surpresa nesse final de ano, fazendo um belo retrato do que foi aquele trágico evento. Pra completar, ainda prova que um filme catástrofe não precisa ser um grande blockbuster para chamar a atenção.
Cotação:

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O Hobbit: Uma Jornada Inesperada

Sendo uma saga grandiosa, que envolvia personagens cativantes e um universo incrível, a trilogia O Senhor dos Anéis conseguiu se tornar um marco do cinema com seus belíssimos filmes. Eis que quase dez anos depois de O Retorno do Rei, o mundo criado por J.R.R. Tolkien é trazido de volta por Peter Jackson aos cinemas em O Hobbit: Uma Jornada Inesperada, primeira parte da trilogia baseada no livro anterior a Saga do Anel (e que não li ainda, um erro que pretendo corrigir em breve). Apesar de ter sua parcela de problemas, Uma Jornada Inesperada ainda é um capítulo eficiente, representando um bom retorno à Terra Média.
Escrito a oito mãos por Peter Jackson, Fran Walsh, Philippa Boyens e Guillermo Del Toro (que desistiu de dirigir o filme para se dedicar a outros projetos), Uma Jornada Inesperada tem início quando a versão mais velha de Bilbo Bolseiro (interpretada mais uma vez por Ian Holm) começa a escrever o livro onde ele conta a grande missão da qual participou quando mais jovem. Com isso, voltamos 60 anos no tempo e encontramos Bilbo (agora interpretado por Martin Freeman) em paz em sua toca. É quando surge o mago Gandalf (Ian McKellen) ao lado de um grupo de anões liderados por Thorin Escudo de Carvalho (Richard Armitage), que acabam levando o jovem hobbit em uma viagem com o objetivo de recuperar o tesouro do Reino de Erebor, dominado pelo dragão Smaug.
Diferente de O Senhor dos Anéis, que empregava um tom mais urgente e sério, Uma Jornada Inesperada se assume desde o início como algo mais leve, uma aventura à la Indiana Jones, o que acaba se revelando muito apropriado para a história. Assim, as próprias gags que são incluídas ao longo da projeção surgem naturalmente e, principalmente, sem destoar da narrativa. Aliás, essas piadas ocasionais funcionam muito bem dentro do filme, deixando-o muito divertido de se assistir, desde o momento em que os anões vão chegando um por um a casa de Bilbo até a cena em que uma criatura enorme cai em cima dos personagens.
O design de produção de Dan Hennah volta a fazer um belo trabalho na construção da Terra Média (Valfenda é construída mais uma vez de maneira irretocável), além de criar grandiosamente os novos locais onde a história se passa, como o Reino de Erebor. E a fotografia luminosa de Andrew Lesnie ajuda muito a transformar aquele universo em algo fantástico. Para completar, Peter Jackson aproveita muito bem as maravilhas desse mundo, fazendo vários planos aéreos ao longo do filme que ressaltam muito bem a beleza dos lugares por onde os personagens passam. A única ressalva com relação a alguns cenários é o fato de em alguns momentos ficar claro o uso que o diretor fez do greenscreen para ajudar a concebê-los.
Jackson, aliás, faz belas cenas de batalha, sendo que algumas delas se encontram entre os melhores momentos do filme, principalmente a que ocorre no terceiro ato contra vários orcs. Ao longo de Uma Jornada Inesperada, o diretor também não resiste em fazer referências a O Senhor dos Anéis, fazendo cenas que lembram a trilogia, como quando Gandalf se levanta e deixa o ambiente todo escuro, ou um momento específico do encontro entre Bilbo e Gollum (Andy Serkis) envolvendo um pequeno objeto. E já que cheguei nesse belo personagem, vale dizer que ele aparece em Uma Jornada Inesperada como uma figura divertida e triste em medidas iguais, tornando compreensível o porquê de Bilbo sentir pena da criatura. E é impressionante ver as expressões de Andy Serkis serem tão bem transmitidas pelo motion capture, inclusive suas caretas.
No entanto, Peter Jackson falha ao deixar o filme ter um ritmo arrastado demais, o que é lamentável considerando que estamos falando de uma aventura que precisava ter um ritmo um pouco mais rápido, como foi com O Senhor dos Anéis. Dessa forma, o diretor não só prejudica um pouco o envolvimento do espectador com a história, como ainda faz com que algumas cenas soem desnecessariamente longas apesar de divertirem sempre que podem, como o momento em que os anões quase são cozinhados por um trio de trolls, ou o próprio encontro entre Bilbo e Gollum.
Se o envolvimento com a história não é totalmente sacrificado, isso se deve graças ao elenco que Peter Jackson tem em mãos, que demonstra ser mais do que adequado para interpretar os ótimos personagens que nos guiam por essa jornada. Martin Freeman (um ator talentoso, como pode ser conferido em filmes como O Guia do Mochileiro das Galáxias e na genial série Sherlock) traz seu carisma habitual para Bilbo Bolseiro, mostrando ainda um ótimo timing para cenas mais cômicas. Além disso, Freeman pega alguns detalhes da atuação de Ian Holm para compor o personagem, como a postura e o modo como segura o cachimbo, mas nunca copiando por completo a atuação do veterano ator, criando uma nova versão de Bilbo.
Já Ian McKellen retorna ao papel de Gandalf confortavelmente. Vendo o ator atuar, nem parece que ele ficou quase uma década sem interpretar o personagem, provando mais uma vez ter nascido para viver o mago. Enquanto isso, Richard Armitrage surpreende e transforma Thorin Escudo de Carvalho em mais um belo personagem do filme, tendo sempre uma presença interessante em cena e trazendo certa virilidade ao papel. Aliás, Thorin é o anão que mais ganha destaque na história, já que os outros nem têm muito espaço para serem desenvolvidos.
Essa primeira parte de O Hobbit pode não alcançar o brilhantismo de qualquer um dos filmes de O Senhor dos Anéis, mas ainda deixa a curiosidade quanto ao que vai acontecer no segundo capítulo, A Desolação de Smaug. E o belo gancho que finaliza o filme torna lamentável ter que esperar um ano para ver a continuação da história. Esperemos que esse tempo passe rápido.
Obs.: O filme foi exibido na cabine de imprensa no formato de 24 quadros por segundo e em 2D. Sendo assim, pretendo colocar uma pequena atualização abaixo da crítica após assistir ao filme no formato de 48 quadros por segundo e em 3D.
ATUALIZAÇÃO – 21/12/2012: Finalmente consegui conferir o filme em 48 quadros por segundo, e devo dizer que estou impressionado. A diferença entre este formato e o convencional de 24 quadros é incrível. Pode-se perceber coisas que antes passavam em branco, como a textura de roupas e de objetos de cena. Até os poros na pele dos atores podem ser vistos. Sem falar que os movimentos deles e da própria câmera de Peter Jackson são muito mais fluídos. Não se vê, por exemplo, o borrão que sempre aparece quando se faz um movimento mais rápido, já que os 48 quadros por segundo têm mais informações a serem passadas para a tela, o que acaba trazendo mais detalhes. Isso faz O Hobbit se tornar um filme até mais bonito de se assistir (não melhor, só mais bonito).
A única coisa que incomoda um pouco é o fato de tudo parecer estar em fastforward. Mas aí é questão de costume, já que depois de algum tempo (não vou especificar quanto, porque acho que isso depende de cada pessoa) nem se percebe mais essa particularidade.
Enfim, é uma experiência interessante assistir a um filme em 48 quadros por segundo. Agora é esperar e ver o que será feito do formato de agora em diante.
Cotação:

Globo de Ouro 2013 - Indicados

Depois dos indicados ao Screen Actors Guild Awards terem sido anunciados ontem, os indicados ao Globo de Ouro saíram hoje. E sem muitas surpresas. Lincoln, de Steven Spielberg, liderou em número de indicações, sendo lembrado em sete categorias (basicamente, todas as que estava elegível). Logo atrás veio Argo, de Ben Affleck, e Django Livre, de Quentin Tarantino, com cinco indicações cada. Amor Impossível, de Lasse Hallström, vem sendo considerado a grande surpresa entre os concorrentes, tendo conseguido três indicações nas categorias de Comédia/Musical.
Ainda é um pouco difícil comentar a lista, já que boa parte dos filmes só chegará ao Brasil a partir de janeiro. Mas vale dizer que o Globo de Ouro não tem mais a mesma credibilidade de anos atrás, apesar de ainda dar uma ideia quanto a que filmes serão indicados mais tarde no Oscar.
Confira a lista completa de indicados na parte de cinema:
Melhor Filme – Drama
- Argo
- Django Livre
- As Aventuras de Pi
- Lincoln
- A Hora Mais Escura
Melhor Filme – Comédia/Musical
- O Exótico Hotel Marigold
- Os Miseráveis
- Moonrise Kingdom
- Amor Impossível
- O Lado Bom da Vida
Melhor Diretor
- Ben Affleck, por Argo
- Kathryn Bigelow, por A Hora Mais Escura
- Ang Lee, por As Aventuras de Pi
- Steven Spielberg, por Lincoln
- Quentin Tarantino, por Django Livre
Melhor Ator – Drama
- Daniel Day-Lewis, por Lincoln
- Richard Gere, por A Negociação
- John Hawkes, por As Sessões
- Joaquin Phoenix, por O Mestre
- Denzel Washington, por O Voo
Melhor Atriz – Drama
- Jessica Chastain, por A Hora Mais Escura
- Marion Cotillard, por Ferrugem e Osso
- Helen Mirren, por Hitchcock
- Naomi Watts, por O Impossível
- Rachel Weisz, por The Deep Blue Sea
Melhor Ator – Comédia/Musical
- Jack Black, por Bernie
- Bradley Cooper, por O Lado Bom da Vida
- Hugh Jackman, por Os Miseráveis
- Ewan McGregor, por Amor Impossível
- Bill Murray, por Um Final de Semana em Hyde Park
Melhor Atriz – Comédia/Musical
- Emily Blunt, por Amor Impossível
- Judy Dench, por O Exótico Hotel Marigold
- Jennifer Lawrence, por O Lado Bom da Vida
- Maggie Smith, por Quartet
- Meryl Streep, por Um Divã Para Dois
Melhor Ator Coadjuvante
- Alan Arkin, por Argo
- Leonardo DiCaprio, por Django Livre
- Philip Seymour Hoffman, por O Mestre
- Tommy Lee Jones, por Lincoln
- Christoph Waltz, por Django Livre
Melhor Atriz Coadjuvante
- Amy Adams, por O Mestre
- Sally Field, por Lincoln
- Anne Hathaway, por Os Miseráveis
- Helen Hunt, por As Sessões
- Nicole Kidman, por The Paperboy
Melhor Roteiro
- Mark Boal, por A Hora Mais Escura
- Tony Kushner, por Lincoln
- David O. Russell, por O Lado Bom da Vida
- Quentin Tarantino, por Django Livre
- Chris Terrio, por Argo
Melhor Filme Estrangeiro
- Amor, de Michael Haneke (Áustria)
- A Royal Affair, de Nikolaj Arcel (Dinamarca)
- Intocáveis, de Olivier Nakache e Eric Toledano (França)
- Kon-Tiki, de Joachim Rønning e Espen Sandberg (Noruega)
- Ferrugem e Osso, de de Jacques Audiard (França)
Melhor Animação
- Valente
- Frankenweenie
- Hotel Transilvânia
- A Origem dos Guardiões
- Detona Ralph
Melhor Canção
- Monty Powell e Keith Urban por “For You”, de Ato de Coragem
- Taylor Swift, John Paul White, Joy Williams e T-Bone Burnett por “Safe and Sound”, de Jogos Vorazes
- Claude-Michel Schönberg, Alain Boublil e Herbert Kretzmer por “Suddenly”, de Os Miseráveis
- Adele e Paul Epworth por “Skyfall”, de 007: Operação Skyfall
- Jon Bon Jovi por “Not Running Anymore”, de Amigos Inseparáveis
Melhor Trilha Sonora
- Dario Marianelli, por Anna Karenina
- Alexandre Desplat , por Argo
- Reinhold Reil e Johnny Klimek, por A Viagem
- Mychael Danna, por As Aventuras de Pi
- John Williams, por Lincoln
O Globo de Ouro 2013 acontecerá no dia 13 de janeiro e tem Tina Fey e Amy Poehler como apresentadoras.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Saneamento Básico: O Filme

Se em sua carreia como curta-metragista Jorge Furtado já mostrava ser muito talentoso, depois de estrear na direção de longas-metragens o cineasta provou que é indubitavelmente uma das mentes mais criativas do atual cinema brasileiro. Isso fica claro logo no início deste Saneamento Básico: O Filme, quando ele coloca Marina (personagem de Fernanda Torres) falando com os espectadores, esperando eles se ajeitarem nas poltronas do cinema enquanto os patrocinadores do filme vão aparecendo. Poucas vezes essa parte se mostrou tão divertida quanto aqui. E quando a história finalmente começa, Furtado dá início a uma produção que se mostra tão engraçada quanto essa sequência inicial.
Escrito pelo próprio diretor, Saneamento Básico se passa na pequena vila de Linha Cristal, na serra gaúcha, onde moram muitos descendentes de italianos. Ao lado de seu marido Joaquim (Wagner Moura), Marina monta uma comissão para ir até a prefeitura e conseguir apoio para a construção de uma fossa, já que o tratamento de esgoto no local é terrível. Eles são informados de que existe uma verba de R$ 10 mil para a produção de um filme de ficção, dinheiro este que será devolvido ao governo federal caso não seja usado. Isso faz com que surja a ideia de utilizar a quantia na construção da fossa e na realização de um filme de monstro, no qual Marina ainda terá a ajuda de sua irmã, Silene (Camila Pitanga), e do namorado dela, Fabrício (Bruno Garcia).
Enquanto realiza um exercício muito interessante de metalinguagem, Jorge Furtado faz uma bela crítica ao modo como são tratados os problemas de saneamento básico das cidades, como se os políticos tentassem consertá-los apenas para mostrarem o “bom” trabalho que fazem. Quando a construção da fossa finalmente é aprovada, o prefeito aparece em cena para tentar ganhar créditos junto à imprensa, como se ele fosse uma espécie de salvador da pátria, quando na verdade nem parece ter mexido os pauzinhos para a obra ser iniciada.
Quanto ao “filme dentro do filme”, Jorge Furtado aproveita para fazer brincadeiras divertidíssimas com o processo de desenvolvimento de uma obra audiovisual. Como exemplo há a cena em que Marina, Joaquim, Silene e Fabrício começam a discutir qual deveria ser o nome de um personagem do filme, chegando ao ponto de dizer que isso tem que combinar com a cara do ator que irá interpretar a figura, o que faz pensar se este foi o modo como Furtado escolheu o nome dos personagens da história. Além disso, o diretor mostra as dificuldades de se fazer um filme, principalmente com as limitações que os personagens enfrentam. Em determinado momento, eles se veem na posição de ter apenas uma chance de filmar uma cena, e por isso precisam que tudo dê certo, algo que acontece muito na vida real.
Ao longo de Saneamento Básico, Jorge Furtado investe em enquadramentos e movimentos de câmera elegantes, como ao usar a câmera subjetiva para deixar clara a visão que Marina tem sobre uma cena. Além disso, o diretor mostra um timing cômico perfeito para as cenas cômicas, sendo que boa parte delas envolvem as filmagens do filme dos personagens. Aliás, isso é algo que faz de Saneamento Básico um filme diferente de outras comédias da Globo Filmes, como Se Eu Fosse Você e os recentes Totalmente Inocentes e As Aventuras de Agamenon. Afinal, Furtado tem consciência de que está dirigindo um filme de comédia, e não uma reunião de sketches de televisão ridículos ligados por uma historinha boba.
Vale dizer também que Furtado soube escolher muito bem seu elenco. Fernanda Torres e Wagner Moura surgem carismáticos interpretando Marina e Joaquim, desenvolvendo ainda uma bela química para o casal. Já Camila Pitanga e Bruno Garcia acertam no nível de futilidade de Silene e Fabrício, e não deixa de ser interessante que eles sejam as estrelas do “filme dentro do filme”, como se essa fosse uma pequena alfinetada em algumas celebridades. Enquanto isso, Lázaro Ramos aparece muito divertido como Zico, ao passo que o grande Paulo José dispensa comentários interpretando Otaviano, o pai de Marina. Aliás, é curioso ver que esse é o único personagem que aparece atuando bem no filme que está sendo feito, dando a entender que o veterano ator é tão bom naquilo que faz que não conseguiria atuar mal nem se tentasse.
Inteligente e cativante, Saneamento Básico: O Filme é mais um brilhante trabalho na riquíssima carreira de seu realizador. Depois de assisti-lo, só resta lamentar que Furtado esteja há cinco anos sem dirigir um filme para o cinema.
Cotação:

domingo, 9 de dezembro de 2012

Possíveis concorrentes nas principais premiações da temporada

Na próxima quinta-feira, serão anunciados os indicados ao Globo de Ouro 2013, que acontecerá no dia 13 de janeiro. Sendo assim, resolvi colocar por aqui alguns filmes que podem ser lembrados ao longo dessa temporada de premiações, o que inclui não só o Globo de Ouro, mas também o Oscar, o BAFTA, o SAG Awards, o Critics' Choice Awards e outros. Alguns dos títulos abaixo certamente estarão nas listas, já outros podem ser totalmente esquecidos.
- Argo, de Ben Affleck:
Se Argo não estiver presente nas premiações, é porque muita gente ainda não reconheceu o talento que Ben Affleck vem demonstrando ter atrás das câmeras. Até agora, o ator dirigiu três filmes (além de Argo, ele é responsável também por Medo da Verdade e Atração Perigosa) e não decepcionou em nenhum deles. Tenso, envolvente, divertido e com um grande elenco, Argo é um dos melhores filmes de 2012, e será uma grande surpresa caso fique de fora das premiações.
- As Aventuras de Pi (Life of Pi), de Ang Lee:
Tive a oportunidade de conferir As Aventuras de Pi na última quinta-feira. Apesar de não alcançar o brilhantismo de outras obras de Ang Lee, como O Tigre e o Dragão e O Segredo de Brokeback Mountain, é um belo filme. Na verdade, acredito que esta seja uma produção que dificilmente faz as pessoas saírem do cinema com um gosto amargo na boca, e isso já faz ele ter boas chances de ser indicado a vários prêmios. Tendo algumas coisas em comum com Náufrago, As Aventuras de Pi acompanha Piscine “Pi” Patel (interpretado na versão adolescente por Suraj Sharma e na versão adulta por Irrfan Khan), que após um naufrágio acaba ficando perdido no meio do Oceano Pacífico, em um barco salva-vidas e na companhia de um tigre de bengala chamado Richard Parker. A estreia no Brasil está prevista para o próximo dia 21.
- Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises), de Christopher Nolan:
Esse é um filme que coloco na lista sabendo que pode ser lembrado apenas em categorias técnicas. De modo geral, O Cavaleiro das Trevas Ressurge não foi recebido com o mesmo entusiasmo do filme antecessor. No entanto, a regra de que pode ter até dez indicados na categoria de Melhor Filme no Oscar foi criada exatamente pelo fato de, em 2009, O Cavaleiro das Trevas ter ficado de fora da lista. Pode ser resolvam lembrar deste último capítulo da trilogia como um prêmio de consolação, até pelo conjunto da obra. Não são muito grandes as chances de isso acontecer, mas estou arriscando de qualquer maneira. Nunca se sabe quando que os votantes desses prêmios resolvem surpreender.
- Django Livre (Django Unchained), de Quentin Tarantino:
Os filmes de Quentin Tarantino são sempre muito aguardados. Django Livre é o primeiro western do diretor, e considerando o fato de ele ser um fã incondicional do gênero, podemos esperar mais uma homenagem dele ao cinema (o próprio nome “Django” já remete a um famoso personagem dos westerns spaghetti). O filme conta a história de Django (Jamie Foxx), homem que se junta a um caçador de recompensas (Christoph Waltz) para tentar libertar sua esposa (Kerry Washington) das mãos de Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), dono da plantação onde ela é escrava. A estreia no Brasil está prevista para o dia 18 de janeiro.
- O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (The Hobbit: An Unexpected Journey), de Peter Jackson:
A primeira parte da trilogia O Hobbit parece estar mais ou menos na mesma posição de Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge. As primeiras críticas que saíram não mostraram uma grande empolgação como aconteceu com O Senhor dos Anéis. Mas também não indicaram um filme ruim (nessa quarta-feira tirarei isso à limpo). De qualquer forma, é um dos filmes que mais está fazendo barulho nessa temporada. Em Uma Jornada Inesperada, Gandalf (Ian McKellen) coloca Bilbo Baggins (Martin Freeman) ao lado de treze anões em uma viagem para tentar libertar o reino de Erebor, dominado pelo dragão Smaug. O filme estreia nessa sexta-feira.
- A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty), de Kathryn Bigelow:
Depois do excepcional e premiadíssimo Guerra ao Terror, Kathryn Bigelow está de volta com A Hora Mais Escura. A produção vem chamando atenção por abordar o período da caça ao terrorista Osama Bin Laden, e há rumores de que a diretora e seu roteirista, Mark Boal (o mesmo de Guerra ao Terror), tiveram acesso a arquivos confidenciais da CIA para fazer o filme. Até agora, A Hora Mais Escura está sendo bastante elogiado, e até ganhou os prêmios de Melhor Filme no National Board of Review e nas associações de críticos de Boston e Nova York. Pode não ser ainda um grande favorito, mas já se coloca como um concorrente nessa temporada. A estreia no Brasil está prevista para o dia 25 de janeiro.
- Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild), de Benh Zeitlin:
Indomável Sonhadora parece ser o grande filme independente de 2012, tendo sido muito bem recebido em sua estreia no Festival de Sundance, além de ter ganhado prêmios no Festival de Cannes. Até mesmo sua grande estrela, a jovem Quvenzhané Wallis, de apenas oito anos, está sendo considerada uma forte candidata a indicações para prêmios de Melhor Atriz. A história mostra uma menina (Wallis) que sai à procura da mãe depois que seu pai (Dwight Henry) adoece, consequência de uma grande tempestade que inundou toda a comunidade onde ela vive. A estreia no Brasil esta prevista para o dia 8 de fevereiro.
- O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook), de David O. Russell:
David O. Russell está de volta depois do bem sucedido O Vencedor, que rendeu prêmios para Christian Bale e Melissa Leo. Em O Lado Bom da Vida, uma comédia com toques de drama assim como foi o belíssimo Huckabees: A Vida É Uma Comédia, Russell conta a história de um professor (interpretado por Bradley Cooper) que acaba de sair de um hospital psiquiátrico e agora quer tentar reconstruir sua vida. O elenco só tem nomes fortes, contando não só com Bradley Cooper, mas também com Jennifer Lawrence, Jacki Weaver e Robert De Niro. A estreia no Brasil está prevista para o dia 1º de fevereiro.
- Lincoln, de Steven Spielberg:
Projeto dos sonhos de Steven Spielberg (que há muito tempo tentava colocar a produção nos trilhos), Lincoln vem sendo considerado o melhor filme do diretor em anos. Além disso, Daniel Day-Lewis só arranca elogios com sua atuação, despontando como um dos grandes favoritos a levar os principais prêmios de Melhor Ator. No filme, Spielberg aborda todo o período em que o famoso presidente americano lidou com a Guerra Civil. A estreia no Brasil está prevista para o dia 25 de janeiro.
- O Mestre (The Master), de Paul Thomas Anderson:
Paul Thomas Anderson é um dos melhores diretores de sua geração e, assim como acontece com Quentin Tarantino, seus filmes são sempre muito aguardados. O Mestre já foi recebido por muitas pessoas como o melhor filme do ano, uma grande obra-prima. Estreou no Festival de Veneza e só não levou o prêmio de Melhor Filme porque o evento tem uma regra boba de não entregar dois prêmios a uma mesma produção (no caso, Anderson levou Melhor Diretor). O Mestre também vem chamando a atenção por tratar de um assunto difícil: as origens de uma religião (aparentemente a cientologia, que tem celebridades como Tom Cruise e John Travolta como seguidores). Joaquim Phoenix, Phillip Seymour Hoffman e Amy Adams também parecem ter grandes chances nas categorias de atuações. A estreia no Brasil está prevista para o dia 25 de janeiro.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Houve Uma Vez Dois Verões

Ao longo das décadas de 1980 e 1990, Jorge Furtado construiu uma belíssima carreira como curta-metragista, dirigindo obras como O Dia em Que Dorival Encarou a Guarda, Barbosa, Ilha das Flores (que lhe rendeu o Urso de Ouro de melhor curta-metragem no Festival de Berlim) e O Sanduíche. Sendo assim, é surpreendente que o diretor tenha vindo a dirigir seu primeiro longa-metragem apenas em 2002. Mas tal demora acabou valendo a pena, já que em Houve Uma Vez Dois Verões o cineasta usa todo seu talento para criar uma narrativa divertida e envolvente, nos apresentando ainda a belos personagens.
Escrito pelo próprio Jorge Furtado, Houve Uma Vez Dois Verões conta a história de Chico (André Arteche), jovem de 16 anos que ao lado de seu melhor amigo Juca (Pedro Furtado, filho do diretor) passa sua primeira semana de aula naquela que, segundo ele, é a “maior e pior praia do mundo”, no Rio Grande do Sul. Numa noite, no fliperama, Chico conhece Roza (Ana Maria Mainieri), garota pela qual ele se apaixona quase que imediatamente. Eles transam logo no primeiro encontro, mas ela some no dia seguinte. Quando volta para Porto Alegre, Chico a reencontra, e ela diz que está grávida. É o começo de uma série de situações na qual Roza quase leva o garoto à loucura.
Logo de cara, Jorge Furtado apresenta algo que viria a ser uma marca registrada de quase todos os seus longas-metragens: a narração em off do protagonista (elemento que só não dá as caras em Saneamento Básico: O Filme). Em Houve Uma Vez Dois Verões, isso ajuda muito o espectador a se aproximar de Chico e a simpatizar com ele rapidamente. Some isso ao fato de o personagem ser uma figura realmente interessante, além de contar com o grande carisma de André Arteche, e tem-se uma narrativa que consegue manter o espectador sempre curioso quanto ao que vai acontecer ao longo da história.
Mas não é só Chico que prende a atenção do público. Os outros personagens que passam pela história mostram ser tão bons quanto ele. Roza faz coisas terríveis ao longo do filme, mas sua intérprete Ana Maria Mainieri traz uma ternura surpreendente para o papel, e isso acaba impedindo que a garota seja vista como uma verdadeira megera que brinca com os sentimentos do protagonista. E a química que a atriz desenvolve com André Arteche também é muito boa, contribuindo ainda mais para que o espectador se importe com os personagens. Enquanto isso, Juca é um alívio cômico bem-vindo, dono de algumas das cenas mais engraçadas do filme (como quando ele cumprimenta o namorado de uma garota no fliperama, mesmo estando com caxumba), além de ser interpretado de maneira divertida por Pedro Furtado.
O roteiro de Houve Uma Vez Dois Verões chega a ser uma miscelânea de gêneros muito curiosa. Uma hora o filme é um romance, em outra uma comédia de situações, em outra um road movie. É surpreendente que tudo se encaixe tão bem na narrativa, com essa mistura funcionando muito bem no filme e deixando-o ainda mais divertido, o que mostra como Jorge Furtado é um ótimo contador de histórias. Enquanto o relacionamento entre Chico e Roza é algo simpático apesar dos obstáculos que ele enfrenta, os momentos em que os personagens se metem em enrascadas conseguem arrancar risos ao mesmo tempo em que são tensos, já que nós não queremos ver aquelas figuras se dando mal.
No entanto, há um detalhe que incomoda em Houve Uma Vez Dois Verões: o fato de aqueles jovens serem independentes demais para a idade que têm. Isso nem incomoda tanto com relação a Roza, já que ela é um pouco mais velha e demonstra saber cuidar de si mesma. Mas é estranho demais ver Chico e Juca, dois garotos de 16 anos que ainda estão na escola, saírem por aí fazendo o que querem sem ter alguém que questione suas atitudes. Em determinado momento, por exemplo, Chico vende alguns objetos que tem em casa como se ninguém fosse dar falta deles, o que é muito difícil de acreditar.
Mas esse talvez seja o único problema que o roteiro de Jorge Furtado enfrenta. No resto, o cineasta capricha, e faz de seu primeiro longa-metragem um delicioso aperitivo para o filme que viria a fazer depois: o excepcional O Homem Que Copiava.
Cotação:

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A Origem dos Guardiões

A Origem dos Guardiões é a versão infantil de Os Vingadores. Se um dos maiores sucessos de 2012 era centrado no grupo formado por alguns dos principais super-heróis da Marvel Comics, essa nova animação da Dreamworks (responsável por Shrek, Kung Fu Panda, Como Treinar o Seu Dragão, entre outros) se concentra na reunião de um grupo composto por figuras cuja existência faz parte do imaginário de qualquer um que teve infância. O resultado dessa reunião é uma animação muito interessante e divertida, que encanta graças aos seus personagens.
Escrito por David Lindsay-Abaire, baseado no livro de William Joyce, A Origem dos Guardiões apresenta o grupo formado por Coelhão (voz original de Hugh Jackman), Fada do Dente (Isla Fisher), Sandman e o líder Norte (Alec Baldwin), também conhecido como Papai Noel. Depois que Breu (Jude Law), o Bicho-Papão, começa a amedrontar todas as crianças do mundo, com o objetivo de fazê-las parar de acreditar na existência de seres tão extraordinários, os guardiões ganham a ajuda de Jack Frost (Chris Pine) para tentar impedir que o vilão os deixem sem poderes e ainda estrague os sonhos dos pequenos.
Dirigido por Peter Mayhem, A Origem dos Guardiões chama a atenção logo de cara quanto ao visual dos personagens, que toma uma liberdade muito interessante com relação à imagem que eles têm em nosso imaginário. Norte, por exemplo, é grande, barrigudo e barbudo, mas também tem tatuagens em seus braços, “Mal” no direito e “Bom” no esquerdo, o que já o apresenta como uma pessoa bondosa, mas que também pode ser um forte lutador quando preciso, enquanto que o Coelhão aparece com dois bumerangues e lembrando quase que imediatamente um guerreiro nato.
Não deixa de ser curioso também ver que o diretor tenta deixar mais ou menos claro de onde os personagens eram antes de se tornarem guardiões. Enquanto Norte é claramente russo, Sandman poderia ser um monge asiático, ao passo que o Coelhão é australiano (o que fica óbvio até por ele utilizar bumerangues como armas) e a Fada do Dente pode ter saído do Brasil, tendo um visual exótico que exibe até mesmo as cores azul, verde e amarela. E se o visual dos personagens impressiona, o mesmo pode ser dito sobre o ótimo trabalho do design de produção, que cria brilhantemente o universo em que a história se passa, captando muito bem a essência dos personagens nos locais onde eles residem, desde o belo reino das fadas da Fada do Dente até o esconderijo sombrio e vazio de Breu.
Ao longo do filme, o roteiro dá a impressão de que estica um pouco a história além do necessário, incluindo algumas subtramas que a princípio parecem não acrescentar muita coisa ao filme, como quando uma menina vai parar na toca do Coelhão. Mas David Lindsay-Abaire surpreende ao não deixar que isso atrapalhe o filme, encaixando elas muito bem a trama principal, e é admirável ver que ele faz isso sem perder o foco da história que o filme realmente está contando. Já o lado mais descontraído do filme também é bem desenvolvido, seja utilizando os poderes dos personagens (como na cena em que o menino Jamie tem uma pequena aventura no trenó graças a Jack Frost) ou os duendes que trabalham para Norte, que até lembram muito os Minions de Meu Malvado Favorito, algo que me fez pensar se as animações andam precisando de criaturas pequenas e engraçadinhas para fazer rir.
Peter Mayhem faz um bom trabalho durante a maior parte do tempo. O diretor dá atenção a certos detalhes que acabam fazendo de A Origem dos Guardiões uma animação irrepreensível do ponto de vista técnico. É admirável ver, por exemplo, a fluidez com a qual a barba de Norte se move com o sopro do vento. Além disso, apesar de usar rápidos movimentos de câmera em vários momentos, Mayhem consegue deixar a ação e a geografia das cenas de ação compreensível. No entanto, é uma pena que elas se mostrem tão burocráticas durante a maior parte do filme, se concentrando apenas no uso dos poderes dos personagens, o que acaba se tornando repetitivo depois de algum tempo.
Mas a grande força do filme reside em seus personagens e na química que eles têm entre si. Simpáticos do início ao fim, os guardiões são os principais motivos do porquê de a história do filme ser tão interessante e envolvente, mesmo incluindo o detalhe de que eles vão perdendo os poderes à medida que as crianças param de acreditar neles, algo que a versão live-action de Peter Pan chegou a utilizar. E é bom ver que o roteiro encontra espaço para desenvolver todos eles, mesmo estabelecendo Jack Frost como o protagonista da história. Dessa forma, trágicos acontecimentos que ocorrem ao longo do filme são impactantes, a ponto de fazer com que nos importemos com o destino de todos eles, o que fica ainda mais intenso pelo fato de Breu ser um vilão bastante ameaçador (é até uma pena que seu final não faça jus a todo o perigo que ele representou).
Esse ano não vem sendo muito bom para as principais animações que estão sendo lançadas. Nem Tim Burton ou a Pixar conseguiram mostrar todo seu talento. Mas A Origem dos Guardiões surpreende e acaba sendo mais uma das poucas obras de destaque no gênero em 2012.
Cotação: