sexta-feira, 30 de maio de 2014

A Culpa é das Estrelas

John Green vem se destacando nos últimos anos graças a sua carreira literária e ao seu canal de vídeos no YouTube (no qual discute assuntos interessantes de um jeito rápido e divertido). Mas mesmo sendo talentoso como escritor, A Culpa é das Estrelas talvez seja sua obra mais irregular, simpática em algumas partes e boba em outras. Mas é o livro responsável por seu sucesso absoluto. Não à toa, é o primeiro a ganhar as telas de cinema. Afinal, quando um romance se torna tão popular, a ideia de uma adaptação cinematográfica entra em desenvolvimento quase que naturalmente.

Escrito por Scott Neustadter e Michael H. Weber (que recentemente escreveram o ótimo The Spectacular Now), A Culpa é das Estrelas nos apresenta a Hazel Grace Lancaster (Shailene Woodley), jovem que está numa batalha contra um câncer há alguns anos, sentindo que a qualquer momento ele irá tomar a sua vida. É então que em uma das reuniões de seu grupo de apoio ela conhece Augustus Waters (Ansel Elgort), que perdeu a perna por causa da doença, mas conseguiu sobreviver a ela. Juntos, Hanzel e Gus iniciam um relacionamento no qual se completam e que os faz aproveitar o tempo que lhes resta juntos, incluindo aí uma viagem para conhecer Peter Van Houten (Willem Dafoe), o escritor favorito da garota.
O diretor Josh Boone (responsável pelo bom Ligados Pelo Amor), conduz o filme com sensibilidade, trazendo uma fluidez admirável para o desenrolar da história. É um detalhe que também se deve ao roteiro, construído com calma e naturalidade. E pelo fato da protagonista ter uma doença que é quase uma bomba, podendo explodir a qualquer momento, o realizador merece créditos por sempre dar atenção à condição da garota (como o desgaste físico que sente em vários momentos), criando tensão quando isso se mostra necessário. Mas ainda que isso ocupe uma parte respeitável da narrativa, A Culpa é das Estrelas é pontuado com curiosos momentos de humor – mesmo que alguns sejam mais bobos – possibilitando uma bem-vinda descontração.
Se Hazel e Gus fossem desinteressantes, A Culpa é das Estrelas certamente seria um fracasso. Por sorte, o relacionamento deles se segura principalmente por causa de seus intérpretes, que têm belas atuações e mostram uma química invejável em cena. Shailene Woodley (que ao lado de Jennifer Lawrence é uma das jovens atrizes que mais vem merecendo atenção nos últimos anos) surge absolutamente adorável como a protagonista, ao mesmo tempo em que faz dela uma garota forte e realista com relação à própria condição. Já Ansel Elgort (que interpretou o irmão de Woodley no recente Divergente) encarna a contraparte masculina com carisma, oferecendo senso de humor e charme para o personagem. Assim, é fácil para o espectador se importar com aquelas figuras e com o que elas estão vivendo. No elenco, também vale destacar Laura Dern e Sam Trammel, como os afetuosos pais de Hazel, além de um excêntrico Willem Dafoe no papel de Peter Van Houten
.Porém, nem tudo é as mil maravilhas em A Culpa é das Estrelas. Um dos problemas é a construção do enredo, que ao buscar uma maior fidelidade ao livro, termina por inserir cenas que até funcionam isoladamente, mas que quando vistas no contexto cinematográfico praticamente param o desenrolar da trama, não a levando para frente e alongando-a desnecessariamente. Exemplo disso é a sequência em que Isaac (Nat Wolff), amigo do casal, joga ovos em um carro. No entanto, o principal problema vem no terço final, quando o filme infelizmente se entrega a certos clichês. É então que a produção passa a apelar para o choro do espectador de maneira artificial, enfraquecendo a narrativa. Mesmo assim, assistir a A Culpa é das Estrelas se revela uma experiência agradável durante a maior parte do tempo, o que não deixa de ser uma boa surpresa.
Nota:


quinta-feira, 29 de maio de 2014

Raze


Zoë Bell é mais conhecida por seu trabalho como dublê em vários filmes, entre eles  produções comandadas por Quentin Tarantino (foi ela quem ajudou Uma Thurman nas cenas de ação de Kill Bill: Vol. 1). Mas ela vem se destacando nos últimos tempos também como intérprete, como quando foi uma das ótimas surpresas de À Prova de Morte, outro projeto de Tarantino, em que apareceu como uma das protagonistas. E agora, encabeça o elenco deste Raze, filme de ação de baixo orçamento que não só revela ser uma produção eficiente como também prova que Bell merece ganhar outras oportunidades como protagonista.

Escrito por Robert Beaucage a partir de um argumento feito por ele em parceria com Kenny Gage e o diretor Josh Waller, Raze acompanha Sabrina (Bell), que foi sequestrada por uma organização e colocada ao lado de outras 49 mulheres em um cativeiro. Ela se vê obrigada a lutar até a morte com suas “companheiras”, em uma espécie de torneio transmitido para figuras poderosas e organizado pelo casal Joseph (Doug Jones) e Elizabeth (Sherilyn Fenn). Caso as participantes se recusem a lutar ou saiam da arena derrotadas, os responsáveis pelo evento mandam eliminar seus entes queridos. No caso de Sabrina, a filha dela é quem vira um alvo.
Levando em conta sua trama, Raze poderia facilmente resultar em uma obra misógina. No entanto, o roteiro surpreende ao construir personagens femininas que ganham maior aprofundamento, oferecendo peso dramático à história. Assim, quando Sabrina ou suas amigas Cody (Bailey Anne Borders) e Teresa (Tracie Thoms, também presente em À Prova de Morte) saem para lutar, nos importamos com elas e nos identificamos com sua situação (afinal, é mais fácil criar um elo emocional com alguém que está vulnerável).
Enquanto isso, as cenas de luta são bem conduzidas por Josh Waller, que deixa sempre claro para o espectador o que está acontecendo na tela, inevitavelmente representando a parte brutal do longa. O diretor investe em um gore impactante por mostrar o que as lutadoras são capazes de fazer com as próprias mãos, trazendo um grande peso para seus atos. Logo na primeira luta, por exemplo, o rosto de uma delas é totalmente dilacerado. E é exatamente por isso ser um elemento forte que Waller toma a decisão de manter a câmera focada apenas no rosto de quem está finalizando a luta, usando flashes do rosto da perdedora e efeitos sonoros para dar uma ideia do resultado dos golpes desferidos.
Mas é mesmo Zoë Bell o grande destaque. Ela faz de Sabrina uma personagem forte e demonstra ter um alcance dramático admirável. Isso, somado à ótima dinâmica com Bailey Anne Borders e Tracie Thoms, resulta nos momentos mais tristes do filme. Bell ainda encara a parte física das cenas de ação tranquilamente, detalhe que também não é nenhuma surpresa. Já Doug Jones e Sherilyn Fenn criam vilões apropriadamente insanos em sua misoginia. Esta última, por sinal, é até mais cruel e não deixa de ser tratada pelo roteiro como uma traidora do próprio gênero.
Trazendo um comentário social interessante de como as mulheres se encontram constantemente em posições de subserviência, Raze até pode ser um pouco esquemático e contar com alguns clichês, como a velha figura da lutadora vilã que quer matar a protagonista (com ambas eventualmente se enfrentando). Mas é um filme que no geral funciona muito bem, tornando-o uma das boas surpresas do Fantaspoa 2014.
Nota:


180 Segundos


Produção colombiana de assalto a banco escrita e dirigida pelo estreante Alexander Giraldo, 180 Segundos nos apresenta a Zico (Manuel Sarmiento), que lidera um grupo especializado em roubos e que está sendo procurado pela polícia. Ao lado de sua irmã, Angie (Angelica Blandon), ele planeja um último golpe para que então possam aproveitar a vida da maneira que tanto sonharam. O plano consiste em saírem com o dinheiro do local em apenas três minutos, tempo que o alarme leva para ser acionado. Para tanto, precisam de mais um membro em sua equipe, encontrando-o em Rincón (Alejandro Aguilar), indicado por um velho parceiro de crime. Mas o decorrer da operação não sai como o planejado e tragédias acontecem.

À medida que a história de 180 Segundos se desenrola é triste constatar o quão formulaica ela se revela, trazendo um amontoado de clichês que chegam a fazer com que uma reviravolta que ocorre no terceiro ato se torne previsível (aqui lembramos, por exemplo, do primeiro capítulo da franquia Velozes e Furiosos). O curioso sobre isso é que Alexander Giraldo parece ter noção de todos esses problemas envolvendo a trama de seu filme, e na tentativa de tornar as coisas interessantes ele resolve investir em uma estrutura não-linear, fragmentando a edição e embaralhando as cenas para fazer uma espécie de quebra-cabeça que o público deve montar para entender o que está acontecendo. Mas o tiro saiu pela culatra, já que o modo como utiliza esse recurso não tem uma lógica interna e gera um grave problema de ritmo para a narrativa. Dessa forma, quando 180 Segundos parece estar finalmente engrenando, Giraldo corta para um momento sem maiores interesses e frustra as expectativas do espectador. Para completar, os cortes entre cada parte da ação são realizados de maneira muito brusca, atrapalhando ainda mais nosso envolvimento com o filme.
Não que 180 Segundos se resuma a apenas estes pontos negativos. Zico e Angie mostram ser figuras carismáticas, o que se deve principalmente ao trabalho de seus intérpretes (Angelica Blandon, em especial, traz uma bem-vinda doçura a sua personagem), enquanto que os tons pastel da fotografia de Eduardo Ramirez Gonzalez chamam a atenção por darem um ar mais sombrio ao enredo. Já a cena em que acompanhamos a explicação de Zico sobre como acontecerá o assalto é o momento mais inspirado, com uma bela montagem que insere com eficiência alguns gráficos na tela. Este é um recurso que, ainda que não seja totalmente original, expõe muito bem o raciocínio do personagem com relação ao plano que desenvolveu. No entanto, tais qualidades, infelizmente, acabam sendo muito pouco para salvar o longa de todos seus problemas de narrativa.
Assim, 180 Segundos se estabelece como uma obra que decepciona muito mais do que empolga. Mas parece que elenco e diretor gostaram da experiência de trabalhar na produção, considerando que se reuniram para o filme seguinte de Giraldo. Tomara que essa nova empreitada resulte em uma colaboração um pouco melhor do que esta vista por aqui.
Nota:

terça-feira, 27 de maio de 2014

O Último Portal

Em 1968, o grande diretor Roman Polanski lançou o excepcional O Bebê de Rosemary, filme que envolvia misteriosos rituais satânicos, e que é reconhecido como um de seus melhores trabalhos. Não à toa, se tornou um clássico do cinema desde então. Trinta anos mais tarde, Polanski fez uma obra tematicamente semelhante, O Último Portal, que trouxe Johnny Depp no papel principal. No entanto, o filme foi uma escorregada na carreira do cineasta, com o resultado ficando muito aquém daquele que havia conseguido anteriormente.

Baseado no livro O Clube Dumas, de Arturo Pérez-Reverte, o roteiro escrito por Polanski em parceria com John Brownjohn e Enrique Urbizu acompanha Dean Corso (Depp), homem que trabalha com livros raros, interessado no dinheiro que eles podem render. Ao ser contatado pelo colecionador Boris Balkan (Frank Langella), Corso descobre que o sujeito adquiriu uma cópia de Os Nove Portais, obra que supostamente adapta o texto escrito pelo próprio Demônio. Assim, ele recebe a tarefa de comparar o livro com as outras duas edições existentes para atestar qual delas é a autêntica. No caminho, ele tem que lidar com Liana Telfer (Lena Olin), esposa do homem que vendeu a cópia a Balkan, e que a quer de volta mesmo com o marido tendo se matado.
O Último Portal tem um início promissor, com Polanski criando uma atmosfera inquietante que contribui para o suspense em volta da investigação de Corso, detalhe que também é ressaltado pelos tons avermelhados da bela fotografia de Darius Khondji. Mas, se por um lado essas qualidades são evidentes, por outro elas acabam dividindo espaço com os sérios problemas que o filme passa a ter no seu desenrolar. Gradualmente ele perde muito da força e do ritmo que mostra inicialmente, prejudicando nosso envolvimento com a história. Além disso, quando a parte sobrenatural da trama surge, tudo fica bobo demais, chegando ao ponto de causar alguns risos involuntários, como no momento em que determinado personagem aparece voando abruptamente. Para completar, a fraca trilha composta por Wojciech Kilar se revela intrusiva durante boa parte do tempo, servindo basicamente para estabelecer o tom do filme desnecessariamente.
Em meio a isso, Johnny Depp até que se sai bem ao interpretar Dean Corso com um curioso senso de humor, tendo ainda uma bem-vinda vulnerabilidade, enquanto Frank Langella surge de maneira bastante elegante como Boris Balkan, exibindo uma frieza que faz ele soar ameaçador. Porém, é uma pena que o personagem se torne uma figura tão patética no terceiro ato. E se Lena Olin exagera no modo como encarna Liana Telfer, o que talvez não seja culpa da atriz e sim da forma como o roteiro a aborda, Emmanuelle Seigner (esposa de diretor) surge inexpressiva como a garota misteriosa que segue o protagonista, sendo que o roteiro nem se dá ao trabalho de explicar quem ela é.
Mesmo com um terceiro ato particularmente bagunçado, O Último Portal tinha potencial, mas infelizmente acabou decepcionando. No entanto, Roman Polanski mais do que compensaria esse tropeço em seu filme seguinte, o maravilhoso O Pianista, pelo qual viria a ganhar merecidamente o Oscar de Melhor Direção.
Nota:

quinta-feira, 22 de maio de 2014

X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido

Dentro do subgênero de super-heróis, a franquia X-Men vem se destacando como uma das coisas mais interessantes. Com exceção dos filmes-solo de Wolverine (que não são tão memoráveis quando os exemplares focados na equipe), a série tem conseguido encantar com seus personagens e seu rico universo, trazendo ainda uma alegoria relevante na qual os mutantes representam grupos que sofrem repressão por parte da sociedade. Assim, é fascinante ver que, mesmo que já tenham passado quase quinze anos desde o lançamento do primeiro filme, a franquia mostra que ainda é capaz de surpreender, dessa vez com este X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido, que pega como uma base para sua trama uma das melhores histórias que a equipe protagonizou nos quadrinhos.

Escrito por Simon Kinberg a partir do argumento concebido por ele em parceria com Jane Goldman e Matthew Vaughn, Dias de Um Futuro Esquecido traz os mutantes testemunhando a própria extinção nas mãos dos robôs Sentinelas, que têm o propósito de exterminar qualquer pessoa que tenha o gene mutante. A semente disso foi plantada em 1973, quando Mística (Jennifer Lawrence) assassinou o Dr. Bolivar Trask (o sempre eficiente Peter Dinklage), dando início ao Programa Sentinela. Para evitar que essa realidade apocalíptica aconteça, o Professor Xavier (Patrick Stewart), ao lado de seu amigo Magneto (Ian McKellen) e dos X-Men sobreviventes, decide enviar a mente de Wolverine (Hugh Jackman) para seu corpo no passado. Ele então reúne os jovens Xavier e Magneto (interpretados por James McAvoy e Michael Fassbender), que passam a fazer de tudo impedir Mística de dar início a uma guerra devastadora.

Abrindo a projeção com uma cena no futuro que traz vários mutantes andando em um corredor num momento que remete diretamente àquela em que os judeus caminham rumo ao Holocausto no primeiro filme, o diretor Bryan Singer (de volta ao comando da série depois de ter dirigido os dois capítulos iniciais) faz uma rima visual e temática admirável, estabelecendo também a urgência que permeia Dias de Um Futuro Esquecido do início ao fim. O diretor é hábil ao impor uma tensão crescente em volta dos personagens, fazendo com que o espectador fique envolvido nas duas linhas temporais da história, até porque problemas que ocorrem no futuro podem implicar na missão de Wolverine no passado e vice-versa. Singer ainda conduz a ação do filme com firmeza, deixando clara a geografia das cenas além de aproveitar os poderes dos personagens com criatividade e não tendo medo de inserir momentos chocantes, como aqueles que vemos na primeira luta contra os Sentinelas e que fazem jus a já citada urgência. Aliás, a diversidade das habilidades dos mutantes é impressionante, e mais uma vez prova a inventividade por trás de todo esse universo.

Nos aspectos técnicos Dias de Um Futuro Esquecido também capricha. A montagem de John Ottman (colaborador habitual de Singer e que compôs a ótima trilha) se destaca ao fazer a história pular do passado para o futuro sempre organicamente, sem quebrar o ritmo do filme. E o design de produção e a fotografia de Newton Thomas Siegel (outro colaborador habitual do diretor) são excelentes ao tornarem o mundo futurista um lugar escuro e sem vida (detalhes que refletem nos figurinos dos personagens), criando um contraste apropriado com o que é visto no passado.

No entanto, é inegável que o maior atrativo de Dias de Um Futuro Esquecido é mesmo seu excepcional elenco, que traz tanto os atores da trilogia original e quanto os jovens intérpretes de X-Men: Primeira Classe, e todos voltam aos papeis confortavelmente, desde Patrick Stewart como Xavier até Nicholas Hoult como Hank McCoy. Sobre os veteranos, chega a ser difícil não sentir um ar nostálgico ao vê-los de volta, mesmo que alguns surjam mais como participações especiais. Stewart e Ian McKellen têm uma grande presença em cena, encarnando Xavier e Magneto como figuras mais sábias e que têm um respeito enorme um pelo outro mesmo depois de terem se confrontado tantas vezes. Isso difere completamente do que vemos nas composições dos excelentes James McAvoy e Michael Fassbender, já que as versões mais jovens dos personagens se encontram cheias de mágoas e com pensamentos diferentes, o que os fazem agir de maneiras bastante distintas. O primeiro se deixa levar pela sensibilidade, ao passo que o segundo é movido por uma raiva implacável.

Enquanto isso, a Mística de Jennifer Lawrence se revela bastante diferente daquela que vimos anteriormente, lutando por sua raça, mas sem pensar nas consequências que seus atos podem trazer. Já Hugh Jackman mais uma vez mostra que poderia ficar com as mãos amarradas nas costas e ainda assim conseguiria interpretar Wolverine com carisma e segurança, e é bom ver que ele não rouba o filme para si. Para fechar, é impossível não falar da participação de Evan Peters, que no papel de Mercúrio surpreende ao ser a grande revelação da produção, brilhando em seus poucos minutos em cena e protagonizando o melhor momento do filme (aquele em que ele usa seu poder em uma cozinha repleta de guardas). Aaron Taylor-Johnson, que interpretará o personagem em Os Vingadores 2, terá que se esforçar muito para chegar no nível que Peters apresenta aqui.

Alguns furos nas linhas temporais de X-Men permanecem ao final de Dias de Um Futuro Esquecido. Mas são pontos insignificantes quando comparados com as qualidades do filme e da série como um todo. A verdade é que este é mais um brilhante exemplar da franquia, que empolga e deixa o público ansioso pela próxima aventura de seus grandes personagens.



Obs.: Há uma cena após os créditos finais. Não deixe de conferi-la.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Cannon Fodder



Primeiro filme de zumbi apoiado pela Israeli Film Fund (a maior financiadora de filmes em Israel), Cannon Fodder nos apresenta a Doron (Liron Levo), membro das forças especiais israelenses que é obrigado a desistir de sua lua de mel ao ser chamado por seu superior, Gideon (Amit Leor), para uma última missão. Ao lado de Daniel (Roi Miller), Moti (Emos Ayeno) e Avner (Gome Sarig), Doron deve ir até o Líbano capturar um líder terrorista. Mas ao chegar no local, o grupo se depara com uma horda de zumbis que os obriga a mudar os planos. Com a ajuda de Noele (Yafit Shalev), filha do terrorista procurado, Doron e os outros lutam contra os zumbis ao mesmo tempo em que procuram uma cura para a epidemia.


Considerando os conflitos que estão acontecendo em Israel, Cannon Fodder poderia usar os zumbis para fazer uma alegoria política envolvendo a situação do país, o que seria algo corajoso. O roteiro escrito pelo diretor Eitan Gafny até faz algumas referências a isso (como na cena durante os créditos finais), mas é tudo muito raso. Gafny mostra que prefere se concentrar na luta pela sobrevivência dos personagens. O problema com relação a isso, porém, é que o filme não é muito diferente de outras produções do gênero, com sua história se revelando formulaica, clichê e desinteressante. Além disso, com a exceção de Noele (interpretada com força por Shalev), é difícil nos importarmos com os personagens, detalhe que faz com que determinadas cenas não funcionem como deveriam. Mesmo com tudo isso, Gafny insere alguns momentos de humor na história, principalmente envolvendo a dupla Daniel e Moti, que são usados quase como alívio cômico. Mas essas tentativas não só fracassam em fazer o público rir, como também resultam em um grave problema de tom na narrativa.
Já as cenas de ação, que deveriam ser o grande atrativo da produção levando em conta sua proposta, são conduzidas por Gafny de maneira pouco envolvente, não raro, visualmente confusas. O realizador também busca ditar o ritmo da trama utilizando uma trilha que varia entre a tensão da presença dos zumbis e algo mais eletrizante. Escolha essa que soa batida e até irritante por ser usada excessivamente. Como se não bastasse, os efeitos visuais empregados pelo cineasta não poderiam ser mais artificiais, e por ele criar grande parte do gore e das explosões que vemos na tela a partir deste expediente, consequentemente vários momentos do filme não têm nenhum impacto (como no terceiro ato, quando os personagens explodem uma casa para destruir alguns zumbis). Na verdade, esse quesito chega a causar o riso involuntário de tão constrangedor.
Contando ainda com um conflito bobo em um barco no terceiro ato, que apenas estica um pouco mais a história sem a menor necessidade, Cannon Fodder é o tipo de filme de zumbi que é esquecido com facilidade. Esperemos que Israel produza obras melhores em suas futuras tentativas de investir no gênero.
Nota:

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Godzilla 2000

Tendo rendido dezenas de filmes desde sua primeira aparição em 1954, Godzilla ficou conhecido como um dos monstros clássicos do cinema. Tamanho sucesso fez com que Hollywood realizasse uma superprodução com o personagem, lançando-a em 1998. Sob o comando de Roland Emmerich e com um elenco formado por atores como Matthew Broderick e Jean Reno, Godzilla é visto até hoje como uma das grandes decepções daquele ano, apesar de seu relativo sucesso nas bilheterias. Dessa forma, a produtora japonesa Toho, originalmente responsável pelo personagem, decidiu trazer a criatura de volta as telas antes da virada do milênio. O resultado disso foi Godzilla 2000, dando início a uma nova era de filmes da franquia.

Escrito por Hiroshi Kashiwabara e Wataru Mimura, Godzilla 2000 mostra que o personagem-título continua apavorando a população japonesa. Yuji Shinoda (Takehiro Murata), ao lado de sua filha pequena Io (Mayu Suzuki), tenta prever onde serão os ataques, ao mesmo tempo em que tem a companhia da repórter Yuki Ichinose (Naomi Nishida). Enquanto isso, cientistas descobrem uma nave alienígena que está na Terra há milhões de anos, e que, ao acordar, demonstra ter um interesse particular na genética de Godzilla. É então que Tóquio vira o palco de uma batalha destruidora.
Um dos principais problemas de Godzilla 2000 é o fato de o roteiro ter um fiapo de história que se revela bem desinteressante, formuláico e clichê. Assim, o filme não prende totalmente a atenção do público. Ele não se perde por completo graças aos personagens humanos. Estes são carismáticos o bastante para que tenhamos alguém com quem nos importar no meio dos ataques. Outro problema são alguns dos efeitos visuais, que são pouco convincentes, como na cenaem que Godzilla aparece nadando no fundo do mar ou no momento, logo no início, quando um vidro é quebrado (sim, até isso é feito digitalmente).
No entanto, o diretor Takao Okawara consegue passar por cima destas limitações, impressionando com as cenas nas quais Godzilla entra em ação. Por mais precárias que sejam (os prédios arrebentados parecem ter sido feitos de papelão), elas se destacam por trazerem o monstro fazendo aquilo que faz de melhor: destruir a cidade enquanto assusta a população. O filme, inclusive, não perde tempo e inclui um ataque logo em seus primeiros minutos. E se outros exemplares da franquia já haviam deixado claro o quão indestrutível Godzilla é, os humanos continuam teimosos, subestimando sua força ao terem esperança de que alguns mísseis o machuquem. Mas nada chama mais atenção do que a luta final entre Godzilla e Orga, a criatura da nave alienígena, sequência que faz valer o filme. Aliás, Orga mostra ser um vilão à altura de Godzilla, por quem obviamente passamos a torcer no final das contas, não só por ele ser o “monstro bom” da história, mas também pelo sentimento um tanto nostálgico que há em sua volta.
Inserindo pontualmente algumas gags divertidas (como quando Yuji liga o para-brisa de um carro que não tem vidro algum), Godzilla 2000 está longe de ser um grande filme da franquia. Mas dentro do que se propõe a fazer, é eficiente. No final, isso é o suficiente para ficar satisfeito com o que se vê na tela.
Nota:

domingo, 11 de maio de 2014

O Vingador Tóxico

 
O Vingador Tóxico é um dos trabalhos mais famosos da produtora independente Troma, conhecida por realizar filmes baratos e que visualmente remetem a produções trash. À primeira vista, aliás, a produção dirigida por Lloyd Kaufman e Michael Herz (fundadores da Troma) aparenta ser ruim. No entanto, é impressionante como o filme diverte com sua história, e por isso não é surpresa alguma ver quantos fãs ganhou desde seu lançamento em 1984, a ponto de hoje ser considerado um cult.

Escrito por Joe Ritter a partir do argumento de Lloyd Kaufman, O Vingador Tóxico se passa na cidade de Tromaville e nos apresenta a Melvin Junko (Mark Torgl), o atrapalhado e franzino responsável pela limpeza da academia local. Ele constantemente sofre bullying nas mãos dos atletas do estabelecimento, principalmente a dupla Bozo e Slug (Gary Schneider e Robert Prichard, respectivamente), sociopatas que ainda tem adoração por atropelar pessoas inocentes na rua. É então que em uma tentativa de dar uma lição em Melvin os grandalhões jogam o rapaz em um tonel de lixo tóxico. O acidente causa sérias transformações no faxineiro, que se torna um monstro extremamente forte, passando então a ajudar a população de Tromaville, sem medir esforços para acabar com os criminosos da cidade.
O Vingador Tóxico possui uma narração em off desnecessária, que inicia o filme explicando demais certos detalhes – e retorna só no final. Outro problema é a montagem, que insere cortes secos onde menos esperamos, além de atuações que não poderiam ser mais artificiais. Mas depois de um tempo, nem nos preocupamos tanto com esses elementos. Isso não só por eles meio que se encaixarem na bizarrice do filme, mas também porque as belas sacadas de Herz e Kaufman compensam tudo muito bem, causando boas risadas ao longo da projeção. É algo que pode ser visto, por exemplo, na forma como o roteiro satiriza os vilões brutamontes da academia (“Gordura? Aaaaaah!”), ou no romance entre o protagonista e Sara (Andree Maranda), garota que ele salva em determinado momento e que obviamente é cega, não tendo como ver o quão monstruoso ele é.
Mas de todas as ideias do filme, a melhor é sem dúvida a concepção do próprio Vingador Tóxico. Mistura de super-herói e assassino de slasher movie, o personagem diverte com sua voz particularmente interessante e com a maneira absurda como age ao salvar as pessoas. Quando enfrenta os criminosos, Herz e Kaufman investem bastante no gore, como quando ele abate alguém na academia usando um dos equipamentos, ou ao arrancar os olhos de um assaltante. Com relação a isso, vale dizer que as criaturas que passam pelas mãos do protagonista são tão odiáveis e irritantes que nem sentimos pena quando as atrocidades ocorrem com elas. E já que mencionei a estética assumida, é interessante notar como os efeitos práticos usados pelos diretores funcionam eficientemente na maior parte do tempo, merecendo destaque toda a transformação de Melvin.
Embalado por uma seleção de músicas típicas da década de 1980 e que hoje soam bem datadas,O Vingador Tóxico mostra saber entreter o público com seus excessos. De certa forma, é um filme que ri de si mesmo, mas sem se esquecer de fazer com que o público ria junto.
Nota:


sábado, 10 de maio de 2014

Oldboy: Dias de Vingança

Hollywood tem dessas coisas: refilmar uma obra icônica e importante sem muito propósito. Quando a produção é de outro país, na maioria das vezes o motivo por trás dessa atitude é o fato de os americanos não gostarem de ler legendas. O que nos traz a obra-prima sul-coreana Oldboy, do diretor Park Chan-wook, que é sem dúvida uma das melhores produções da década passada. Exatos dez anos após seu lançamento, o filme ganha uma versão em inglês pelas mãos de um cineasta de renome: Spike Lee. Mas o resultado, infelizmente, não é um trabalho que possamos colocar na lista de boas refilmagens.

Escrito por Mark Protosevich, Oldboy: Dias de Vingança (subtítulo desnecessário, mas enfim) mostra Joe Doucett (Josh Brolin), executivo que dá mais atenção ao trabalho e a bebida do que para a própria família, em especial sua filha, Mia. É então que ele é sequestrado e levado para um quarto isolado, ficando preso em cativeiro durante 20 anos. Nesse meio tempo, se torna o principal suspeito do assassinato da ex-esposa. Ao ser solto, busca vingança e tenta descobrir quem foi o responsável por seu aprisionamento, querendo no processo reencontrar a filha e provar sua inocência. Para tanto, ganha a ajuda da enfermeira Marie Sebastian (Elizabeth Olsen).
Algo possível de se perceber inicialmente é que Spike Lee tem calma no desenvolvimento da história. No entanto, ao longo da narrativa isso desaparece, pois o roteiro termina por se revelar bastante esquemático, fazendo com que determinados acontecimentos ocorram de maneira muito forçada (e um dos vários méritos do filme original é exatamente o fato de conseguir encaixar as peças de sua história com grande naturalidade). Sem falar que em alguns momentos vemos coincidências clichês, como quando um personagem se salva de uma tortura por que um celular toca bem na hora. Por fim, a história em si fica enrolada demais, o que deixa a investigação de Joe pouco envolvente, um problema ainda mais grave por este ser o fio condutor da trama.
Outro ponto decepcionante é a ausência de personalidade, o que é até uma surpresa por não ser algo que se espera de alguém como Spike Lee. De vez em quando percebemos alguns elementos diferentes, mas no geral ele não se arrisca e busca tudo o que havia dado certo no original. Só que acaba fazendo isso sem o mesmo brilho, seja na cena de luta feita em um longo plano sem cortes ou na reviravolta que acontece no terceiro ato. Assim, é difícil assisti-lo sem a sensação de que Lee, na verdade, fez uma cópia mal acabada do original.
Encabeçando a produção, Josh Brolin se destaca ao encarnar o protagonista com intensidade, retratando bem a determinação e o jeito por vezes insano do sujeito. Já Olsen (a irmã talentosa das gêmeas Mary-Kate e Ashley) oferece carisma para Marie, mas o romance da personagem com Joe não funciona tão bem, parecendo óbvio desde o início. E enquanto Michael Imperioli (um ótimo ator, mas que raramente aparece em bons papéis) é desperdiçado como Chucky, o melhor amigo do protagonista, Samuel L. Jackson claramente se diverte como Chaney, homem responsável pelo local utilizado como cativeiro e que até ganha mais espaço na tela do que o necessário. Fechando o elenco, Sharlto Copley não chega a fazer de Adrian um vilão interessante, investindo em uma composição que beira a caricatura. Sua última cena chega a ser motivo de risos de tão artificial.
Com poucos momentos de maior inspiração (como as transições de cena envolvendo certos flashbacks no fim do segundo ato), este Oldboy dificilmente conseguiria se equiparar ao original. Mas poderia ter rendido ao menos um filme satisfatório, considerando a história que tinha em mãos e os bons nomes entre os envolvidos. Não foi o ocorreu, e o mais triste com relação a uma refilmagem desnecessária por natureza é vê-la simplesmente confirmar sua irrelevância.
Nota:

terça-feira, 6 de maio de 2014

Meu Melhor Inimigo

Entre 1972 e 1987, o diretor Werner Herzog e o ator Klaus Kinski trabalharam juntos em cinco filmes, alguns reconhecidos como verdadeiros clássicos do cinema. Muitos pensariam que esta é uma parceria entre grandes amigos, assim como acontece com Martin Scorsese e Robert De Niro, ou Tim Burton e Johnny Depp. Mas a verdade é que a relação de Herzog com Kinski era um tanto conturbada. Se em um momento poderiam conversar amigavelmente, no instante seguinte poderiam querer se matar. É até uma surpresa que tenham conseguido trabalhar juntos por tanto tempo. Essa relação de amor e ódio foi retratada por Herzog neste Meu Melhor Inimigo, documentário lançado em 1999.

Visitando as locações dos filmes que fez com Kinski, Herzog refaz os passos que deu ao lado do ator durante a prolífica parceria que tiveram, ao mesmo tempo em que relata certas situações ocorridas e conversa com pessoas que estiveram nos sets de filmagem com eles, como as atrizes Eva Matter e Claudia Cardinale (que estrelaram Woyseck e Fitzcarraldo, respectivamente). Assim, o diretor constroi um retrato interessante de seu antigo colaborador e do modo como lidava com sua personalidade explosiva.
Mantendo um diálogo com o espectador ao longo da maior parte dos 95 minutos de duração do filme, Werner Herzog fala sobre Klaus Kinski de um jeito empolgado, o que denota que apesar das desavenças entre eles (e não foram coisas leves, como será falado mais adiante), o cineasta se lembra do astro com admiração e, principalmente, respeito. Na verdade, é difícil não reconhecer o grande artista que Kinski era, por mais insano que pudesse ser, pois trazia uma intensidade para seus papeis que certamente contribuiu para que estes causassem algum impacto. Herzog, inclusive, ilustra isso muito bem ao mostrar duas versões de uma cena do citado Fitzcarraldo. A primeira é com Jason Robards (que precisou abandonar o filme ao ficar doente) e a outra com Kinski, cuja atuação chega a mudar o tom da cena, que fica mais agitada em comparação com o que seria originalmente.
No entanto, mesmo com todo o respeito que existia entre ator e diretor, isso não os impedia de protagonizarem momentos de tensão durante as produções que trabalharam juntos. Com relação a isso, o modo como Herzog conta as histórias de bastidores chega a ser até engraçado, como quando fala do dia em que ameaçou atirar em Kinski caso ele abandonasse o set de Aguirre: A Cólera dos Deuses (Eu disse a ele que tinha um rifle e que quando ele chegasse à curva do rio teria oito balas em sua cabeça, e a nona seria na minha”, conta o diretor). Ou quando os índios de Fitzcarraldo se ofereceram para matar o ator caso ele quisesse. Em outro momento, mostra Kinski discutindo enlouquecidamente com um chefe de produção, ao que o realizador se refere como um ataque mais “calmo”, nos fazendo apenas imaginar como seriam os mais agressivos. Mas em meio a tudo isso, o diretor abre espaço para mostrar que por baixo do temperamento complicado o ator ainda era um homem com qualidades, seja sua inteligência ao encarnar um personagem, seu profissionalismo ou seu calor humano, mesmo que estas pudessem sumir assim que o ator se irritasse.
Werner Herzog, sem dúvida, é uma das pessoas que melhor poderia falar sobre Klaus Kinski. Afinal, como ele mesmo diz em determinado momento deste documentário, eles se completavam de alguma forma. Talvez seja exatamente por isso que a parceria entre eles tenha dado tão certo. Dessa forma, Meu Melhor Inimigo não deixa de ser também uma bela homenagem do diretor ao artista que pode ter lhe dado muitas dores de cabeça, mas compensava isso brilhantemente em frente às câmeras.
Nota:

sábado, 3 de maio de 2014

Elektra

Trazida pra as telonas em Demolidor, Elektra foi um dos bons elementos daquela razoável produção, uma personagem forte e que ganhou na bela Jennifer Garner uma intérprete interessante e carismática. Apesar do destino que recebeu no filme do Homem Sem Medo, não foi surpresa ver que a heroína ganharia um spin-off, assim como ocorreu nos quadrinhos. Mas, infelizmente, o resultado dessa ideia resultou naquele que, sem dúvida, é um dos piores filmes baseados em um personagem da Marvel Comics.

Com roteiro de Zak Penn, Stuart Zicherman e Raven Metzner, Elektra mostra que, depois dos eventos vistos no filme anterior, a personagem-título se tornou uma assassina profissional (como é conhecida nos quadrinhos). Em uma de suas missões, conhece a jovem Abby (Kristen Prout) e o pai da garota, Mark (Goran Visnjic), e se aproxima deles, ainda que fazer amigos não seja um de seus hábitos. Mas ao descobrir que os alvos que deve matar são exatamente os novos amigos, Elektra decide não realizar o serviço. É então que descobre que pai e filha são perseguidos por membros do Tentáculo, um grupo de mercenários que lidam com magia negra, e passa a protegê-los.
Logo no início o roteiro dá indícios de que ter cuidado com o desenvolvimento da trama e dos personagens não é exatamente um de seus interesses, e ao longo da narrativa é triste ver isso se confirmar. O desenrolar da história é clichê e bobo, envolvendo um ponto crítico da guerra entre o Bem e o Mal (algo que a preguiçosa sequência inicial trata de explicar para o espectador) e um certo “Tesouro”, figura que pode ser decisiva na batalha. Como se não bastasse, o relacionamento de Elektra com Abby e Mark é a típica história da personagem durona cujo coração é amolecido por outras pessoas, revelando-se bem formulaica.
O diretor Rob Bowman (que no cinema é mais conhecido pelo primeiro filme da série de TV Arquivo X) não consegue contornar alguns problemas de ritmo que a história encontra graças à estrutura narrativa, que constantemente inclui flashbacks superficiais para estabelecer o passado da protagonista, inseridos de maneira nada orgânica na narrativa. O cineasta também não impressiona no comando de sequências burocráticas de ação, além de visualmente confusas, como na decepcionante luta final entre Elektra e o vilão Kirigi (Will Yun Lee). Em determinado momento, quando uma árvore cai em cima de um capanga, o diretor lembra até desenhos animados, chegando a causar o riso involuntário (só faltou alguém gritando “Madeira!”). Para completar, os efeitos visuais são terríveis, principalmente com relação ao bandido cujas tatuagens ganham vida própria.
Voltando ao papel de Elektra, Jennifer Garner surge claramente no piloto automático, não tendo nem metade do carisma que havia mostrado na primeira aparição da personagem. Isso torna difícil para o público se identificar com ela, que ainda ganha como característica um transtorno obsessivo compulsivo que não acrescenta nada à trama. Kirsten Prout, por sua vez, tem uma presença irritante, enquanto que Goran Visnjic fica um tanto apagado, e a sugestão de um romance entre ele e Elektra é totalmente desnecessária. Fechando o elenco, Will Yun Lee não consegue compor um vilão satisfatório, ao passo que Terence Stamp é dono de algumas falas desastrosas interpretando Stick, mestre de Elektra que poderia muito bem ser uma versão mais velha de Matt Murdock, com uma cegueira que o faz enxergar melhor do que qualquer outra pessoa, sem mencionar suas habilidades em artes marciais.
É raro ver um filme de super-herói protagonizado por uma mulher. Geralmente, quando surge uma personagem assim, ela fica no nível dos coadjuvantes (basta vermos a posição da Viúva Negra nas produções do atual universo Marvel nos cinemas). Isso inevitavelmente é prova do machismo que ainda impera em Hollywood e na sociedade de modo geral, o que torna mais lamentável o fato de Elektra ter ganhado um filme tão ruim e mal feito como esse.
Nota:

sexta-feira, 2 de maio de 2014

O Justiceiro: Em Zona de Guerra

Frank Castle, também conhecido como o Justiceiro, deve ser o herói mais azarado da Marvel quando o assunto são adaptações cinematográficas. A primeira vez que isso aconteceu, em 1989, rendeu um filme com Dolph Lundgren que as pessoas preferem não comentar muito. Já em 2004, quando as transposições para a tela grande de histórias em quadrinhos já estavam em alta, tivemos O Justiceiro com Thomas Jane no papel principal e John Travolta como vilão, e mesmo sendo um filme até razoável, acabou não fazendo sucesso. Ainda assim, os produtores insistiram no potencial do personagem, e em 2008 foi lançado este O Justiceiro: Em Zona de Guerra, uma mistura de continuação e reboot que não resultou em uma obra das mais eficientes.

Escrito por Nick Santora em parceria com Art Marcum e Matt Holloway, O Justiceiro: Em Zona de Guerra traz Frank Castle (Ray Stevenson) derrubando vários criminosos, principalmente da máfia de Nova York, e fazendo coisas que a polícia normalmente não poderia fazer. Quando vai à caça do chefe do crime Billy Russoti (Dominic West), Frank o joga em um triturador de vidro, além de matar um de seus capangas sem saber que este é um agente infiltrado. Sentindo o peso de seu erro, Frank tenta proteger Angela (Julie Benz) e Grace (Stephanie Janusauskas), a esposa e a filha do agente, que passam a ser perseguidas por Russoti após este sobreviver ao ataque e partir para a vingança com seu – agora – desfigurado rosto, assumindo assim o nome de Retalho.
A diretora Lexi Alexander traz para o filme um visual repleto de cores quentes que são bem utilizadas para criar um universo sombrio, uma opção que vai desde o design de produção até a fotografia de Steve Gainer, que ainda dá uma bela vivacidade à produção e também remete bastante ao material original. Mas esse talvez seja o melhor elemento do projeto, já que no resto o filme não chega a caprichar. Ao mesmo tempo em que leva sua história muito a sério, Alexander investe em uma violência cujo gore é extremamente cartunesco, com tiros explodindo cabeças e facas decepando personagens com grande facilidade, algo que também vem dos quadrinhos, mas infelizmente não funciona direito no filme e resulta em um grave problema de tom da narrativa.
As próprias cenas de ação conduzidas pela cineasta não são tão empolgantes, sem nos fazer temer pelo destino do protagonista. Claro que muito se deve ao fato de que os vilões mostram ter uma péssima mira, ao passo o herói acerta quase todos os tiros. Isso é uma pena, principalmente porque o roteiro não desenvolve uma trama boa o suficiente para prender a atenção do público. O drama de Frank por ter matado um homem supostamente bom, por exemplo, é tratado de maneira superficial, enquanto que sua relação com a família dele não deixa de ser um tanto clichê, assim como a tal vingança de Retalho.
Substituindo Thomas Jane no papel principal – que preferiu não reprisar o papel –  Ray Stevenson encarna Frank Castle sem muito carisma, mas sua composição como um homem que fala pouco e não tem nenhum senso de humor até que é apropriada para o personagem. Já Dominic West interpreta Billy Russoti se baseando bastante no Coringa de Jack Nicholson (isso, inclusive, é referenciado na cena em que um médico tira algumas bandagens em volta do rosto do personagem), mas o ator resvala no exagero, sem falar que nunca chega a ser realmente ameaçador. O mesmo pode ser dito sobre Doug Hutchison, que interpreta o irmão canibal de Russoti, Loony Bin Jim. E se Wayne Knight aparece apagado como Microship, famoso parceiro do protagonista, a fraca Julie Benz surge como a única presença feminina com mais espaço no filme, mas não conseguindo fazer de Angela uma figura interessante.
Depois do fracasso de O Justiceiro: Em Zona de Guerra, os direitos do personagem retornaram para a Marvel, que por enquanto parece não ter planos de trazê-lo de volta para o cinema. Mas quando um novo projeto com o herói for produzido, esperemos que seja algo melhor do que as três versões já exibidas.
Nota:

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Ed TV

Filmes tematicamente parecidos e lançados na mesma época são comuns em Hollywood. Em 1998, por exemplo, O Show de Truman trouxe Jim Carrey interpretando um homem que não sabe que sua vida é um programa de TV famoso no mundo inteiro, e tudo o que acontece em seu dia-a-dia é esquematizado pelos produtores. Um ano após esse lançamento, Ron Howard apareceu com Ed TV, que tem semelhanças claras com a obra premiada de Peter Weir, mas que tenta fazer suas críticas à televisão apostando mais na comédia do que em um tom fabulesco.

Escrito por Lowell Ganz e Babaloo Mandel, baseado no filme canadense Louis 19: Le Roi Des OndesEd TV se concentra no atendente de locadora Ed Pekurny (Matthew McConaughey), que é escolhido por Cynthia Topping (Ellen DeGeneres), produtora do programa True TV, para ser o protagonista da primeira edição do show. Para tanto, ela passa a filmá-lo 24 horas por dia e sem cortes. Com Ed tendo uma rotina monótona, o programa não inicia tão bem quanto era esperado. No entanto, depois que o rapaz se envolve com Shari (Jenna Elfman), namorada de seu irmão Ray (Woody Harrelson), o negócio começa a virar um enorme sucesso, mostrando que o público está interessado em ver algum conflito no ar, como ocorre normalmente na ficção. É então que a vida de Ed se torna uma grande confusão em frente às câmeras em nome da audiência do programa.
O que Ron Howard acaba fazendo em Ed TV é um retrato divertido, ainda que bastante óbvio, de como as câmeras podem invadir a privacidade de alguém e de como a televisão influencia as pessoas. É difícil agir normalmente quando se está sendo filmado para o prazer de milhões, e por isso acaba sendo engraçado ver os personagens se preparando quando veem que aparecerão no True TV, não se importando com quem realmente são, mas sim com o desejo de passarem uma boa impressão para os telespectadores. Da mesma forma, é interessante acompanhar como Ed é quase obrigado a limitar certos hábitos (como sua coceira matinal, que rende um momento hilário), além de ver várias coisas intrigantes acontecerem consigo ao longo do show, o que acaba basicamente guiando toda sua vida. E o diretor mostra bem o alcance e o sucesso que Ed vai conquistando, incluindo pontualmente cenas de telespectadores dos mais variados lugares. Estes ficam cada vez mais presos àquilo que veem, chegando ao ponto de tentarem adivinhar o que acontecerá em seguida, esquecendo-se completamente de que estão assistindo a algo real.
Em um de seus primeiros grandes papeis como protagonista, Matthew McConaughey convence ao compor Ed como um cara comum, detalhe que ajuda a tornar o personagem uma figura com a qual conseguimos nos identificar com facilidade, além de divertir e ter um carisma e uma presença em cena inabaláveis. O mesmo pode ser dito sobre Jenna Elfman, que como Shari surge como a única pessoa que vê as câmeras com maior desdém. No resto do elenco, vale destacar as participações de Woody Harrelson, Ellen DeGeneres, Martin Landau (como Al, o padrasto do protagonista, que tem ótimas tiradas) e Rob Reiner (como o Sr. Whitaker, chefão do canal responsável pelo programa), todos se saindo bem em seus respectivos papeis. Harrelson, em especial, faz da canalhice de Ray algo tão engraçado que é até uma pena que o personagem seja quase esquecido na segunda metade do filme.
Falhando ainda com relação a alguns conflitos e resoluções previsíveis, além de contar com uma trilha aborrecida que não cansa de comentar a história e estabelecer o tom de cada momento do filme, Ed TV se revela uma comédia eficiente, e até por isso não deixa de ser motivo de lamento que tenha sido um grande fracasso de bilheteria na época de seu lançamento nos cinemas.
Nota: