quinta-feira, 22 de maio de 2014

X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido

Dentro do subgênero de super-heróis, a franquia X-Men vem se destacando como uma das coisas mais interessantes. Com exceção dos filmes-solo de Wolverine (que não são tão memoráveis quando os exemplares focados na equipe), a série tem conseguido encantar com seus personagens e seu rico universo, trazendo ainda uma alegoria relevante na qual os mutantes representam grupos que sofrem repressão por parte da sociedade. Assim, é fascinante ver que, mesmo que já tenham passado quase quinze anos desde o lançamento do primeiro filme, a franquia mostra que ainda é capaz de surpreender, dessa vez com este X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido, que pega como uma base para sua trama uma das melhores histórias que a equipe protagonizou nos quadrinhos.

Escrito por Simon Kinberg a partir do argumento concebido por ele em parceria com Jane Goldman e Matthew Vaughn, Dias de Um Futuro Esquecido traz os mutantes testemunhando a própria extinção nas mãos dos robôs Sentinelas, que têm o propósito de exterminar qualquer pessoa que tenha o gene mutante. A semente disso foi plantada em 1973, quando Mística (Jennifer Lawrence) assassinou o Dr. Bolivar Trask (o sempre eficiente Peter Dinklage), dando início ao Programa Sentinela. Para evitar que essa realidade apocalíptica aconteça, o Professor Xavier (Patrick Stewart), ao lado de seu amigo Magneto (Ian McKellen) e dos X-Men sobreviventes, decide enviar a mente de Wolverine (Hugh Jackman) para seu corpo no passado. Ele então reúne os jovens Xavier e Magneto (interpretados por James McAvoy e Michael Fassbender), que passam a fazer de tudo impedir Mística de dar início a uma guerra devastadora.

Abrindo a projeção com uma cena no futuro que traz vários mutantes andando em um corredor num momento que remete diretamente àquela em que os judeus caminham rumo ao Holocausto no primeiro filme, o diretor Bryan Singer (de volta ao comando da série depois de ter dirigido os dois capítulos iniciais) faz uma rima visual e temática admirável, estabelecendo também a urgência que permeia Dias de Um Futuro Esquecido do início ao fim. O diretor é hábil ao impor uma tensão crescente em volta dos personagens, fazendo com que o espectador fique envolvido nas duas linhas temporais da história, até porque problemas que ocorrem no futuro podem implicar na missão de Wolverine no passado e vice-versa. Singer ainda conduz a ação do filme com firmeza, deixando clara a geografia das cenas além de aproveitar os poderes dos personagens com criatividade e não tendo medo de inserir momentos chocantes, como aqueles que vemos na primeira luta contra os Sentinelas e que fazem jus a já citada urgência. Aliás, a diversidade das habilidades dos mutantes é impressionante, e mais uma vez prova a inventividade por trás de todo esse universo.

Nos aspectos técnicos Dias de Um Futuro Esquecido também capricha. A montagem de John Ottman (colaborador habitual de Singer e que compôs a ótima trilha) se destaca ao fazer a história pular do passado para o futuro sempre organicamente, sem quebrar o ritmo do filme. E o design de produção e a fotografia de Newton Thomas Siegel (outro colaborador habitual do diretor) são excelentes ao tornarem o mundo futurista um lugar escuro e sem vida (detalhes que refletem nos figurinos dos personagens), criando um contraste apropriado com o que é visto no passado.

No entanto, é inegável que o maior atrativo de Dias de Um Futuro Esquecido é mesmo seu excepcional elenco, que traz tanto os atores da trilogia original e quanto os jovens intérpretes de X-Men: Primeira Classe, e todos voltam aos papeis confortavelmente, desde Patrick Stewart como Xavier até Nicholas Hoult como Hank McCoy. Sobre os veteranos, chega a ser difícil não sentir um ar nostálgico ao vê-los de volta, mesmo que alguns surjam mais como participações especiais. Stewart e Ian McKellen têm uma grande presença em cena, encarnando Xavier e Magneto como figuras mais sábias e que têm um respeito enorme um pelo outro mesmo depois de terem se confrontado tantas vezes. Isso difere completamente do que vemos nas composições dos excelentes James McAvoy e Michael Fassbender, já que as versões mais jovens dos personagens se encontram cheias de mágoas e com pensamentos diferentes, o que os fazem agir de maneiras bastante distintas. O primeiro se deixa levar pela sensibilidade, ao passo que o segundo é movido por uma raiva implacável.

Enquanto isso, a Mística de Jennifer Lawrence se revela bastante diferente daquela que vimos anteriormente, lutando por sua raça, mas sem pensar nas consequências que seus atos podem trazer. Já Hugh Jackman mais uma vez mostra que poderia ficar com as mãos amarradas nas costas e ainda assim conseguiria interpretar Wolverine com carisma e segurança, e é bom ver que ele não rouba o filme para si. Para fechar, é impossível não falar da participação de Evan Peters, que no papel de Mercúrio surpreende ao ser a grande revelação da produção, brilhando em seus poucos minutos em cena e protagonizando o melhor momento do filme (aquele em que ele usa seu poder em uma cozinha repleta de guardas). Aaron Taylor-Johnson, que interpretará o personagem em Os Vingadores 2, terá que se esforçar muito para chegar no nível que Peters apresenta aqui.

Alguns furos nas linhas temporais de X-Men permanecem ao final de Dias de Um Futuro Esquecido. Mas são pontos insignificantes quando comparados com as qualidades do filme e da série como um todo. A verdade é que este é mais um brilhante exemplar da franquia, que empolga e deixa o público ansioso pela próxima aventura de seus grandes personagens.



Obs.: Há uma cena após os créditos finais. Não deixe de conferi-la.

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