sábado, 29 de setembro de 2012

Looper: Assassinos do Futuro

Looper faz parte de um tipo de ficção científica que tem surgido pelo menos uma vez por ano: aquela em que um conceito fascinante é criado e explorado ao máximo ao longo da história, como acontece em exemplos recentes como A Origem e Contra o Tempo. Dito isso, em uma temporada em que não são muitos os blockbusters de grande destaque, é bom ver que o diretor-roteirista Rian Johnson (responsável pelo ótimo A Ponta de Um Crime, além de Vigaristas, que não vi ainda) surge com uma obra que confia na inteligência do espectador, ao mesmo tempo em que é desenvolvida uma narrativa interessantíssima e envolvente usando a boa e velha viagem no tempo como um de seus principais elementos.
Looper se passa no ano de 2044 e a viagem no tempo só será criada dali trinta anos. Sendo assim, a máfia do futuro envia seus desafetos ao passado para que assassinos profissionais, conhecidos como “loopers”, os matem e se livrem do corpo. Quando a organização quer encerrar o contrato dos loopers, as versões mais velhas deles, conhecidas como “loops”, são enviadas para serem eliminadas. O grande chefe da máfia, conhecido como “Rainmaker”, começa a encerrar o contrato de vários loopers, sendo um deles o jovem Joe (Joseph Gordon-Levitt), que deixa seu loop (Bruce Willis) escapar. Enquanto Joe precisa fugir de seus chefes, se escondendo na fazenda de Sara (Emily Blunt), sua versão mais velha procura o jovem Rainmaker com o objetivo de matá-lo e impedir que destrua a vida que tinha no futuro.
Rian Johnson dedica boa parte da primeira hora de Looper para explicar como tudo funciona naquele universo, apresentando os poderes telecinéticos de uma minoria da população rapidamente (e que mais tarde tem papel importante na história) e deixando claro como os loopers e seus chefes agem, além de mostrar cenas impressionantes como quando um loop começa a sofrer as consequências de uma tortura realizada em sua versão do passado. Johnson ainda inclui a narração em off de Joe, o que acaba sendo importante para que tudo seja explicado sem a necessidade de parar a história. Com tantos elementos para serem explicados, o filme demora um pouco a engrenar, mas depois que chega ao ponto principal de sua história, o diretor a conduz com agilidade e inteligência, confiando que o espectador conseguirá acompanhar a trama tranquilamente.
Sendo uma espécie de mistura entre os excelentes Primer e O Exterminador do Futuro, o roteiro de Looper é bastante complexo, tendo que lidar com várias linhas do tempo e duas versões do mesmo personagem, o que faz com que qualquer coisa que aconteça com a versão do presente também precise acontecer com a versão do futuro. Em determinado momento, por exemplo, Joe presencia uma cena chocante, o que faz com que seu loop tenha a mesma memória e ganhe uma informação importante. Esse tipo de detalhe que Rian Johnson inclui é algo que ajuda o conceito de Looper a se tornar ainda mais fascinante.
Joe, por sinal, é um personagem muito interessante. No presente, ele demonstra ser um homem frio, que realiza seu trabalho rapidamente e sem hesitação. Sempre sério, ele tem em uma sonhada viagem a França uma das poucas coisas que podem colocar algum sinal de sorriso em seu rosto. Já o velho Joe é um homem arrependido de muitas coisas e que tinha em sua vida no futuro algo pelo que realmente se importar. E depois que ele mata alguém que não devia, éinteressante ver sua reação de tristeza, já que isso acaba representando um retorno a uma vida que ele há muito tempo abandonou.
Joseph Gordon-Levitt e Bruce Willis interpretam seus Joes com extrema eficiência, criando o personagem até com os mesmos maneirismos um dos outro. Um dos grandes momentos de Looper é exatamente uma cena em que os dois conversam frente a frente, na qual vemos o quanto o jovem Joe ainda vai mudar com o passar dos anos. Enquanto isso, Emily Blunt se sai admiravelmente bem como uma mãe que protege seu filho ao mesmo tempo em que tem uma relação um tanto conturbada com ele.
Se a história que Rian Johnson conduz já é envolvente, o mesmo pode ser dito com relação às cenas de ação. Tensas e violentas na medida certa, elas ajudam a fazer de Looper um filme que prende a atenção do início ao fim. Johnson ainda economiza bastante no uso dos efeitos visuais, incluindo-os apenas quando necessário. As viagens no tempo, por exemplo, não contam com esses recursos, o que inclusive torna tudo muito mais orgânico na tela.
Looper é no final das contas uma ficção científica exemplar. Se com A Ponta de Um Crime Rian Johnson já demonstrava talento, agora ele parece se confirmar como um diretor que merece ser acompanhado.
Cotação:

sábado, 22 de setembro de 2012

Ted

Seth MacFarlane é mais conhecido como o criador de três séries animadas de muito sucesso: Family Guy (ou Uma Família da Pesada, como ficou conhecida no Brasil), American Dad e The Cleveland Show. Dessas, a única com a qual sou familiarizado é a primeira, ainda que não a assista com frequência. Em Family Guy, MacFarlane sempre mostrou ter talento para fazer um humor politicamente incorreto com eficiência, e por causa disso era grande a curiosidade para ver o que ele iria fazer em Ted, sua estreia na direção de longas-metragens. Tendo em mãos um simples ursinho de pelúcia e transformando-o numa figura mal-educada e extremamente divertida, MacFarlane não poderia ter estreado melhor na função.
Escrito pelo próprio MacFarlane em parceria com Alec Sulkin e Wellesley Wild, Ted conta a história de John Bennett (Mark Wahlberg), que quando criança desejou que Ted (dublado por MacFarlane), seu ursinho de pelúcia, pudesse falar com ele. O desejo se realizou e os dois se tornaram amigos inseparáveis. Mas quando Lori (Mila Kunis), a namorada de John há quatro anos, vê que ele não consegue dar atenção para o relacionamento deles da mesma forma que para o amigo, o rapaz precisa decidir entre ficar com a garota ou com o companheiro que esteve ao seu lado durante toda sua vida.
É possível prever em pouco tempo que o filme terá alguns conflitos clichês ao longo da história. Mas MacFarlane não joga esses artifícios de qualquer forma na tela, como se fosse obrigatório a presença deles. O diretor-roteirista faz com que eles funcionem a favor da história, não fazendo com que eles soem forçados. Além disso, como ele faz com que nos importemos com seus personagens, tais conflitos têm um peso um pouco maior do que o esperado.
Já que mencionei os personagens, vale dizer que são figuras não só interessantes, mas também muito divertidas. A começar por John, um homem de 35 anos que ainda age como se fosse uma criança em vários momentos. Quando ele demonstra essa infantilidade (como no momento em que nega para Lori sobre ter medo de trovões, em uma das cenas mais engraçadas do filme), o personagem tira várias risadas, além de mostrar o quanto que não cresceu ao longo dos anos. O fato de Mark Walhberg ainda acertar no tom da criancice do personagem, sem cometer nenhum exagero, é algo que contribui ainda mais para que ele conquiste o espectador. Enquanto isso, Lori não surge como a namorada que quer que seu amado faça tudo o que ela pedir, compreendendo que o relacionamento entre John e Ted é importante para ambos. E além de linda como sempre, Mila Kunis empresta grande carisma para a garota, o que impede que ela seja vista como uma estraga prazeres.
Mas Ted é mesmo o grande trunfo do filme. Se com uma família formada por pessoas incomuns Seth MacFarlane já conseguia arrancar risadas, o que dizer quando ele tem em sua história um ursinho de pelúcia que se droga, fala palavrões sem pudor e transa com uma colega de trabalho na hora do expediente? Mas mesmo com essas atitudes, em nenhum momento o personagem vira uma figura condenável. Muito pelo contrário, o fato de ele ser assim é o que o torna tão interessante. Além disso, a equipe que ajudou na concepção de Ted está de parabéns, já que o personagem jamais surge como algo falso na tela e os atores nunca parecem estar atuando com o “nada”. Apesar de ser um ursinho de pelúcia, Ted é uma figura tão humana quanto qualquer outra pessoa no filme, e quando ele sofre alguns machucados fica muito clara a dor que ele sente, mostrando que não é mais um mero brinquedo.
Mas para que Ted fosse um projeto bem sucedido, a amizade entre o personagem-título e seu dono precisaria ser bem estabelecida, por ser basicamente o centro da história. E Seth MacFarlane faz isso muito bem logo no começo, quando vemos Ted ficar famoso (afinal, estamos falando de um ursinho de pelúcia que fala!) e mesmo assim ele não se separa de John. Uma das provas do quanto que aqueles dois personagens se gostam está no modo que tratam um ao outro durante a história, com direito a xingamentos e brincadeiras, o que ainda resulta em mais momentos divertidos para o filme.
MacFarlane ainda cria um universo no qual alguns personagens reagem de maneira extremamente exagerada (mas não menos engraçada) a determinados acontecimentos, como quando os pais de John descobrem que Ted começou a falar. Já em cenas mais de ação, o diretor surpreende ao conseguir impor tensão em uma sequência de perseguição no terceiro ato, e na luta que ocorre em um quarto de hotel é admirável o fato de ele não colocar nenhuma trilha cômica no fundo, deixando a cena prender a atenção e divertir por si mesma.
Tendo momentos absurdos que acabam soando perfeitamente críveis na história (como os motivos de o personagem-título ser promovido em seu trabalho) e repleto de cenas e diálogos hilários (“Um cara pegou meu ursinho de pelúcia!”, diz John para a polícia), Ted é sem dúvida uma das melhores comédias do ano. Agora fica a curiosidade para saber quais serão as próximas empreitadas de Seth MacFarlane por trás câmeras. Além de Ted 2, é claro.
Cotação:

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O Palhaço é o candidato brasileiro para o Oscar 2013

Assim como foi com Tropa de Elite 2 no ano passado, mais uma vez o Brasil escolhe sua melhor obra para tentar concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Foi anunciado hoje que O Palhaço, de Selton Mello, lutará por uma das cinco vagas da categoria.
É um grande filme, que diverte e emociona. Tem uma direção sensível de Selton Mello, que ainda atua brilhantemente no papel do palhaço Benjamin, tendo uma excelente química com Paulo José, que interpreta seu pai. Por ser uma história mais universal, O Palhaço tem boas chances de conquistar os membros da Academia, e isso é o que acaba importando no final.
Não vai ser uma disputa fácil. O ganhador da Palma de Ouro em Cannes, Amour, dirigido por Michael Haneke, é o candidato da Áustria e parte como um dos filmes que já deve ter vaga garantida na premiação. A França escolheu o ótimo Intocáveis, filme que fez sucesso no mundo todo e também tem grandes chances de estar entre os cinco indicados. Beyond the Hills, que venceu Melhor Roteiro em Cannes, é o candidato da Romênia e o vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza, Pietà, é o representante da Coréia do Sul. Mas difícil não é o mesmo que impossível.
Desde 1999, com Central do Brasil, de Walter Salles, o Brasil não chega à lista final de Melhor Filme Estrangeiro. Já passou da hora de esse jejum acabar e O Palhaço não poderia ser um representante melhor para isso.

Totalmente Inocentes

É um tanto irônico que Totalmente Inocentes se chame “Totalmente Inocentes”. Afinal, assim como As Aventuras de Agamenon: O Repórter, o filme é culpado pelos crimes de tortura e assalto a mão armada. Mesmo que o ingresso custasse R$ 1,00, ainda seria caro para ver uma produção tão ruim como essa. A ideia em volta do film...opa, me desculpem, “filme” é interessante. Paródia é algo que há muito tempo não era explorado no Brasil, que na década de 1950 chegou a fazer filmes como Matar ou Correr (paródia do clássico Matar ou Morrer, estrelado por Gary Cooper). Em Totalmente Inocentes, as vítimas são produções como Cidade de Deus e Tropa de Elite. Mas sem conseguir bolar nenhuma piada realmente engraçada e com um estilo infantil muito mal aproveitado, o “filme” acaba resultando em algo constrangedor demais para se assistir.
Escrito por Rafael Dragaud e dirigido pelo estreante Rodrigo Bittencourt, Totalmente Inocentes nos apresenta ao jovem Da Fé (Lucas D’ Jesus) e seu irmão mais novo, Torrado (Carlos Evandro). Eles moram na favela do DDC, onde o marginal João do Morro (Fábio Porchat) acaba de se tornar o rei do pedaço, tomando o poder do antigo líder, Diaba Loira (Kiko Marscarenhas). Da Fé é perdidamente apaixonado por Gildinha (Mariana Rios), irmã de seu melhor amigo, Bracinho (Gleison Silva). Mas o garoto acha que ela prefere ficar com Do Morro, e para tentar conquistar seu coração ele tenta impressioná-la se tornado um cara “do mal”, mesmo não levando jeito pra isso.
O que se vê ao longo de Totalmente Inocentes são diversas tentativas de fazer piada, mas nenhuma delas se concretiza em algo divertido. Não há nem como saber onde estão as piadas nos diálogos. O desespero do roteiro em tentar fazer rir é tanto que grande parte das falas de personagens como Da Fé e, principalmente, Do Morro termina com um palavrão, um dos recursos mais usados por pessoas que não sabem fazer um humor mais inteligente. Mesmo as boas sacadas que Totalmente Inocentes tem são desperdiçadas. Colocar Leandro Firmino (o Zé Pequeno de Cidade de Deus) e Fabio Lago (o Baiano de Tropa de Elite) interpretando a dupla de policiais Tranquilo e Nervoso é uma ideia interessante, mas que é mal desenvolvida, como se o fato de os atores apenas estarem do outro lado da lei já servisse para fazer rir.
Ao longo do “filme”, Rodrigo Bittencourt não demonstra ter nenhum timing cômico para comandar o projeto, não conseguindo colocar nenhuma energia na história, o que faz com que a uma hora e meia de duração seja tão arrastada que nem parece que o “filme” é relativamente curto. Já as gags visuais que Bittencourt tenta fazer soam tão previsíveis e clichês (como quando Wanderley, personagem de Fábio Assunção, se suja no carro com um milk-shake) que acabam tornando a experiência de assistir a Totalmente Inocentes ainda mais aborrecida. Além disso, o diretor parece duvidar da capacidade do espectador em entender quais os principais filmes que ele está tentando satirizar, colocando cartazes de Cidade de Deus e Tropa de Elite nas portas da casa de Da Fé (se isso fosse uma tentativa de mostrar o bom gosto cinematográfico do garoto, isso certamente deveria ser desenvolvido).
Para completar, o diretor em alguns momentos parece mais preocupado em focar seus patrocinadores, fazendo isso de forma nada discreta. Então o que não falta são planos de detalhe em um Toddynho ou um plano que deixe bem à mostra o letreiro do restaurante Spoleto. E quando Tranquilo e Nervoso aparecem bebendo latas de cerveja com um rótulo em que está escrito apenas a palavra “cerveja”, isso me fez pensar que algumas marcas famosas foram mais espertas e deram no pé assim que ouviram falar do “filme”.
Na sessão para a imprensa que compareci, uma das coisas que mais me chamou a atenção (além de ter faltado luz nos quinze minutos finais) foi o fato de absolutamente ninguém ter dado uma única risada ao longo da projeção. E o sucesso ou o fracasso de uma comédia pode ser medido pelo número de risadas que causa em seus espectadores. Isso é apenas mais uma prova de que Totalmente Inocentes é um desastre do início ao fim, chegando bem perto de As Aventuras de Agamenon no quesito mau gosto.
É lamentável, mas o cinema brasileiro produziu em 2012 dois “filmes” que ultrapassam todas as barreiras do ruim.
Cotação:

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Chuvas no Cinema

Chuvas têm rondado várias partes do Brasil nos últimos dias (em Porto Alegre, onde moro, algumas ruas ficaram mais do que alagadas). Pensando nisso, e na preguiça que deve bater quando se vê toda a água que terá de ser enfrentada ao longo do dia, coloco hoje alguns filmes que contam com alguma cena interessante envolvendo esse tempo que nem todas as pessoas gostam. Devo ter esquecido várias obras que deveriam ser incluídas por aqui, mas isso é a pior coisa quando o assunto é fazer listas. Não tem como lembrar de todos os filmes, então preferi citar apenas os cinco primeiros que vieram à cabeça.
- Cantando na Chuva (Singin’ in the Rain, 1952), de Gene Kelly e Stanley Donen:
Escrevi um pouco sobre Cantando na Chuva na época em que o filme completou 60 anos, mas não citar esta obra em uma lista como essa seria um crime digno de prisão perpétua. Em meio a uma linda homenagem ao Cinema, o filme conta com uma das cenas mais marcantes de todos os tempos. Ver Gene Kelly chutando poças e balançando seu guarda-chuva para todos os lados feliz da vida é inesquecível, o que faz do número musical de “Singin’ in the Rain” um show à parte em uma obra-prima divertidíssima. Uma curiosidade: não sei se todos sabem, mas a chuva vista na cena não foi feita apenas com água, tendo também um pouco de leite.
- Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany’s, 1961), de Blake Edwards:
Sou apaixonado por Audrey Hepburn, e nas últimas semanas tenho desejado cada vez mais que uma máquina do tempo seja criada para que eu possa ter a oportunidade de conhecê-la, e Bonequinha de Luxo é apenas um dos motivos de a atriz me encantar tanto. Enfim, o filme entrou nessa lista por causa de sua bela cena final. Com Holly Golightly (Hepburn) fugindo para o Brasil e chutando seu gato para fora do taxi, apenas para depois perceber o quanto ela pode ser feliz ao lado de Paul Varjak (George Peppard), a cena é um ótimo final para dois ótimos personagens.
- Blade Runner: O Caçador de Androides (Blade Runner, 1982), de Ridley Scott:
Blade Runner completou 30 anos em 2012, e escrevi um pouco sobre o filme aqui. A obra-prima de Ridley Scott é cheia de grandes momentos, mas o discurso final de Roy Batty (Rutger Hauer) se destaca mais do que outros. Sendo a última chance que ele tem para compartilhar um pouco de suas experiências com alguém (que acaba sendo Rick Deckard, personagem de Harrison Ford), a cena chega a ser triste mesmo se tratando daquele que deveria ser o vilão da história.
- Homem-Aranha (Spider-Man, 2002), de Sam Raimi:
O filme que colocou as adaptações de quadrinhos no topo de prioridades de alguns estúdios tem uma das cenas de beijo mais incomuns da década passada. Tão incomum e única que Mary Jane (Kirsten Dunst) e se refere a este momento como “Nosso beijo” ao falar com Peter Parker (Tobey Maguire) no restaurante, em Homem-Aranha 3. Com o herói aracnídeo se segurando de ponta-cabeça enquanto que sua amada o beija (isso depois de uma bela cena de ação de baixo da chuvarada), a cena é uma das partes mais lembradas daquele filme.
- Magnólia (Magnolia, 1999), de Paul Thomas Anderson:
Para fechar, lembro também de Magnólia, uma das obras-primas de Paul Thomas Anderson, que tem uma cena de chuva considerada absurda por muitas pessoas (e sabendo que haveria alguma estranheza com relação ao que aconteceria, o diretor ainda colocou um aviso de “Isso realmente aconteceu” alguns segundos antes). Funcionando perfeitamente dentro da história, a chuva de sapos talvez seja um dos momentos mais marcantes da década de 1990, em um filme que ajudou Anderson a se firmar um pouco mais como um dos diretores que mais merece atenção.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O Legado Bourne

Tendo em mãos um grande personagem e tramas envolventes, a franquia centrada em Jason Bourne rendeu três dos filmes de ação mais eficientes da década passada, sendo que O Ultimato Bourne foi um desfecho mais do que satisfatório para a história. Mas, como sempre, os produtores pensam muito mais com o bolso do que com a cabeça, e por isso temos O Legado Bourne, que traz um protagonista e intérprete diferentes. Sai Jason Bourne e Matt Damon, entra Aaron Cross e Jeremy Renner. Infelizmente, este quarto filme mostra que a franquia começa a se estender mais do que deveria.
Dirigido por Tony Gilroy (roteirista dos três filmes anteriores) e escrito por ele e seu irmão Dan Gilroy, O Legado Bourne mostra que além do projeto Treadstone, o governo americano também mantinha sob sigilo o Projeto Outcome, que faz seus agentes melhorarem suas habilidades físicas e psicológicas graças a alguns medicamentos verdes e azuis. Para deletar qualquer relação do governo com esse e outros projetos, Eric Byer (Edward Norton) é chamado e decide mandar eliminar qualquer um que esteja ligado ao Outcome, o que inclui agentes e cientistas. Aaron Cross escapa, salvando ainda a Dra. Marta Shearing (Rachel Weisz). Os dois se tornam fugitivos da CIA, sendo que Aaron ainda tem que lidar com a abstinência causada pela falta de seus medicamentos.
A ideia de incluir e explorar outras áreas no universo da franquia é até interessante. Afinal, Jason Bourne fazia parte de algo muito grande antes de ser encontrado no oceano no início de A Identidade Bourne. Mas é lamentável que Tony Gilroy não consiga criar uma boa história envolvendo tudo isso. Ver Aaron Cross e Marta em busca dos remédios dele enquanto fogem de Eric Byer e sua equipe é algo muito desinteressante, provando que este quarto filme não tem muita ambição e serve mais para alongar a série e faturar mais alguns milhões nas bilheterias.
O roteiro tenta fazer com que Jason Bourne continue sendo um personagem importante, ao mesmo tempo em que acompanha a jornada de Aaron Cross. Ao longo do filme, Bourne inferniza a vida da CIA, nos eventos mostrados no terceiro capítulo da série. Mas isso não acrescenta absolutamente nada para a história que este novo filme quer contar. Na verdade, isso parece ter apenas uma função: ser uma desculpa para que a palavra “Bourne” apareça no título. A verdade é que se Tony Gilroy não mencionasse o nome desse personagem, O Legado Bourne seria algum novo filme de ação fraco, o que poderia até ser melhor porque encurtaria um pouco a duração, não desviaria a atenção da história de Aaron e ainda deixaria a franquia Bourne intacta.
Depois de ter surgido tão bem como diretor no ótimo Conduta de Risco, Gilroy já não voltou a demonstrar o mesmo talento em seu filme seguinte, o irregular Duplicidade. E é lamentável ver que em O Legado Bourne ele não falhe apenas com relação a história, mas também no modo como conduz a narrativa. Ele acerta ao trazer de volta o caráter documental que Paul Greengrass utilizou para os dois últimos filmes da trilogia, mas infelizmente Gilroy parece não ter uma mão tão firme para as cenas de ação, que aqui surgem burocráticas e pouco empolgantes. Além disso, nas cenas de luta, Gilroy mantém a câmera próxima demais dos atores e investe em muitos cortes, tentando mostrar a rapidez do protagonista, mas tornando a ação incompreensível.
O Legado Bourne ainda falha com relação ao seu protagonista. Aaron Cross não tem nada da complexidade de Jason Bourne, o que consequentemente o torna uma figura muito menos intrigante. Mas vale dizer que ele tem sorte de ter o talentoso Jeremy Renner como intérprete, já que o ator convence como herói de ação e traz um pouco de credibilidade para o papel. Enquanto isso, Rachel Weisz não consegue transformar Marta em uma figura realmente interessante, ao passo que Edward Norton pouco pode fazer com Eric Byer, personagem que deveria ser o vilão do filme, mas nunca surge como uma ameaça, apenas comandando as operações na CIA. E não entendo o porquê de Gilroy incluir uma cena que mostra que Byer e Cross se conhecem e já trabalharam juntos se isso nunca é explorado ao longo da história.
Sendo longo demais até para um filme da franquia, O Legado Bourne é um capítulo decepcionante em uma série que até então estava muito boa. E uma continuação já está confirmada. Resta torcer para que a franquia não caia ainda mais de rendimento.
Cotação:

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

ParaNorman

O estúdio de animação Laika parece estar se especializando em fazer filmes em stop-motion que tenham toques macabros, ao mesmo tempo em que divertem com suas histórias. Cinco anos após o sucesso do excelente Coraline e o Mundo Secreto, o estúdio retorna com ParaNorman, uma animação que pega vários elementos do gênero terror (zumbis, bruxas, maldições) para criar uma história interessante, e que mescla muito bem momentos de diversão com momentos de maior tensão.
Escrito por Chris Butler, que co-dirigiu o filme ao lado de Sam Fell, ParaNorman pega a premissa de O Sexto Sentido e desenvolve uma trama envolvente de zumbis e maldições. Na cidade de Blithe Hollow, o jovem Norman (voz na versão original de Kodi Smit-McPhee) pode falar com os mortos. No entanto, quase ninguém acredita que o garoto tenha esse dom e por isso ele é tratado como um estranho, inclusive por sua família. O único que realmente acredita nele é seu novo amigo, Neil (Tucker Albrizzi). Depois da morte de seu tio, o Sr. Prenderghast (John Goodman), Norman ganha a tarefa de proteger Blithe Hollow de uma maldição da bruxa Agatha (Jodelle Ferland), que pode acordar alguns zumbis. Mas ele acaba falhando e os monstros vêm assombrar as pessoas.
ParaNorman já começa interessante ao incluir a vinheta de Feature Presentation, como se estivéssemos prestes a entrar em um universo criado por Quentin Tarantino. Logo depois, passa para um filme de zumbi que parece ter sido gravado com uma câmera Super 8. Com isso, somos apresentados ao interesse do protagonista em filmes de terror, o que ainda fica bastante claro pelo quarto dele, que é enfeitado pela direção de arte com várias referências a zumbis, desde um abajur até imagens coladas nas paredes. Norman ainda tem como toque de celular a trilha sonora de Halloween, o que é divertido de se ver. Isso é apenas uma das várias referências que a dupla de diretores fazem a filmes de terror, sendo que eles ainda incluem uma trilha sonora que lembra bastante as produções do gênero feitas na década de 1980. Até o velho clichê da figura que aparece e some de uma hora para outra surge aqui de maneira divertida.
Apesar de parecido com Cole Sears (personagem de Haley Joel Osment em O Sexto Sentido), Norman difere daquele garoto no fato de não sentir medo do próprio dom. Na verdade, por ele ser um garoto solitário, os mortos são os únicos com quem ele se sente confortável, já que eles não o discriminam por ele ser diferente das outras pessoas. A cena em que Norman conversa com vários espíritos nas ruas (ou falando sozinho, como as pessoas comuns veem) talvez seja o maior exemplo dessa confortabilidade e também de sua solidão. E é um pouco irônico ver que ele pode não sentir medo dos mortos, mas teme um pouco os vivos, como quando ele olha com tristeza os vários colegas pelos quais ele tem que passar para chegar à porta do colégio.
Mesmo que estejam fazendo um filme que tem como principal alvo o público infantil, Chris Butler e Sam Fell não temem incluir cenas mais tensas, algo que o diretor Henry Selick fez em Coraline, ainda que em comparação com aquele filme a dupla de ParaNorman pegue bem mais leve. Nesse sentido, as alucinações que Norman tem ao longo do filme conseguem trazer uma atmosfera angustiante, assim como quando uma floresta começa a se mexer contra os personagens (em uma cena que me lembrou um pouco The Evil Dead). Mas a parte mais sombria do filme reside em sua vilã e suas motivações, que poderiam muito bem fazer parte de um filme terror comum com elementos de bruxaria.
Ao longo do filme, os diretores não ficam investindo em gags o tempo todo (como acontece no divertido Piratas Pirados!), inserindo-as quando surge uma oportunidade, o que ameniza a tensão em volta da situação em que os personagens se encontram. São gags eficientes, como quando um carro capota várias vezes para desespero de seus passageiros ou quando Mitch (Casey Affleck), irmão de Neil, revela algo sobre si mesmo. Mas a cena mais divertida de ParaNorman acontece quando o protagonista tenta pegar um livro preso nas mãos do cadáver de seu tio, fazendo rir por ser uma situação bastante nojenta.
Tendo personagens muito carismáticos, ParaNorman peca por não conseguir impedir que sua história se torne um pouco previsível ao longo da projeção. Mas é uma animação eficiente e que coloca a Laika como uma empresa que pode fazer frente a outros grandes estúdios.
Cotação:

sábado, 1 de setembro de 2012

Os Mercenários 2

Vejamos alguns dos nomes que estão no elenco de Os Mercenários 2: Sylvester Stallone, Jet Li, Dolph Lundgreen, Arnold Schwarzenegger, Bruce Willis, Chuck Norris, Jean-Claude Van Damme. Todos são grandes astros do gênero ação, ainda que boa parte deles já não faça mais tanto sucesso como faziam nas décadas de 1980 e 1990. Não é sempre que se vê figuras como essas estrelando a mesma produção, e esse é o grande atrativo dessa franquia. Os Mercenários 2 é até mais interessante do que seu antecessor, mas ainda assim não chega a ser um filme que faz jus a fama que seus astros conquistaram ao longo dos anos.
Escrito por Sylvester Stallone e Richard Wenk, com argumento deste último em parceria com Ken Kaufman e David Agosto, Os Mercenários 2 traz os homens liderados por Barney Ross (Stallone) em mais uma missão proposta por Church (Bruce Willis). O objetivo: encontrar um aparelho que pode localizar uma mina de plutônio. Mas o líder do grupo terrorista “The Sangs”, Jean Vilain (Van Damme, em um personagem que não poderia ter um sobrenome mais óbvio), também está atrás do objeto, e por isso mata um dos homens de Barney. Agora, o grupo quer vingar o amigo, e contará com toda a ajuda possível para isso.
O roteiro não perde tempo e inicia o filme com ação desenfreada, em uma missão dos personagens no Nepal. Já nessa parte, o diretor Simon West apresenta um problema de sua direção que infelizmente percorrerá ao longo de boa parte do filme. O diretor e seu montador Todd E. Miller investem em muitos cortes durante as cenas de ação, e às vezes isso acaba deixando o que acontece um pouco incompreensível, tornando-as menos empolgantes do que poderiam ser.
Mas o diretor ainda consegue fazer cenas eficientes, como o confronto entre Yin Yang (Jet Li) e alguns capangas logo no início do filme, que ainda lembra um pouco as produções estreladas por Jackie Chan, graças ao uso de alguns objetos de cena. E a esperada luta entre Stallone e Van Damme é interessante enquanto dura, colocando os atores desferindo golpes que os tornaram famosos em seus filmes. Se Stallone dá alguns socos como se fosse Rocky Balboa, Van Damme manda seu famoso chute de 360°. Ainda que não consiga empolgar muito com as cenas que constrói, Simon West ao menos impõe um ritmo que prende a atenção, fazendo com que o filme não se torne algo aborrecido ao longo de seus 102 minutos de duração.
O roteiro de Os Mercenários 2 procura fazer algumas homenagens aos personagens que levaram alguns de seus astros a fama. Então, há várias referências a filmes estrelados por eles, o que vai desde o apelido que Barney Ross usa ao se referir a Booker (Chuck Norris) até certas falas de Trench (Schwarzenegger) e Church. Apesar de não surgirem no filme de maneira muito orgânica, essas homenagens são divertidas de se ver em cena.
Mas não é só com essas homenagens que o roteiro tenta divertir, procurando fazer várias gags ao longo da história. O problema é que em alguns momentos os roteiristas parecem estar desesperados para fazer o público rir, mas não têm muita criatividade para isso. Sendo assim, nem sempre eles são bem sucedidos nessa área. Em determinado momento, eles chegam a incluir a velha piada da bomba que parece que vai explodir, mas que acaba soltando apenas faíscas. No meio de tantas gags, não chega a ser surpreendente que a melhor piada do filme caia nas mãos de Chuck Norris, que inclui mais um detalhe para sua fama de indestrutível, como foi apontado nos famosos “Chuck Norris Facts”.
Com tantos personagens no filme, é uma pena que nem todos tenham muito espaço na história. Chuck Norris, Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis basicamente aparecem apenas quando necessário (ou seja, nas cenas de ação), fazendo mais participações especiais do que sendo membros ativos do filme. Nem Jean-Claude Van Damme tem tempo de fazer de Jean Vilain um vilão realmente ameaçador (de qualquer forma, a criança que ainda existe dentro de mim vibrou com cada aparição sua, já que ele é um ídolo de infância). Enquanto isso, o Yin Yang de Jet Li é descartado logo no início do filme, e os outros personagens nem dão falta de sua ausência. O pouco tempo de tela dessas figuras é lamentável por que todos trazem uma presença interessante para seus personagens, e seria bom vê-los mais vezes no filme.
No resto do elenco, Sylvester Stallone lidera o grupo com competência, enquanto que Jason Statham volta a fazer de Lee Christmas um personagem badass. Já Liam Hemsworth tem uma participação marcante ao fazer de Billy The Kid uma figura carismática, o que acaba sendo importantíssimo para a história. E representando o sexo feminino no filme, a chinesa Nan Yu consegue fazer de Maggie uma personagem forte e digna de confiança.
Mesmo não sendo um grande filme, Os Mercenários 2 é uma produção eficiente, e acaba sendo algo agradável de se assistir em boa parte por causa do elenco que tem. Um terceiro capítulo vem aí, mas espero que seja algo mais interessante do que apenas mais uma reunião de grandes astros de filmes de ação.
Cotação: