sexta-feira, 7 de setembro de 2012

ParaNorman

O estúdio de animação Laika parece estar se especializando em fazer filmes em stop-motion que tenham toques macabros, ao mesmo tempo em que divertem com suas histórias. Cinco anos após o sucesso do excelente Coraline e o Mundo Secreto, o estúdio retorna com ParaNorman, uma animação que pega vários elementos do gênero terror (zumbis, bruxas, maldições) para criar uma história interessante, e que mescla muito bem momentos de diversão com momentos de maior tensão.
Escrito por Chris Butler, que co-dirigiu o filme ao lado de Sam Fell, ParaNorman pega a premissa de O Sexto Sentido e desenvolve uma trama envolvente de zumbis e maldições. Na cidade de Blithe Hollow, o jovem Norman (voz na versão original de Kodi Smit-McPhee) pode falar com os mortos. No entanto, quase ninguém acredita que o garoto tenha esse dom e por isso ele é tratado como um estranho, inclusive por sua família. O único que realmente acredita nele é seu novo amigo, Neil (Tucker Albrizzi). Depois da morte de seu tio, o Sr. Prenderghast (John Goodman), Norman ganha a tarefa de proteger Blithe Hollow de uma maldição da bruxa Agatha (Jodelle Ferland), que pode acordar alguns zumbis. Mas ele acaba falhando e os monstros vêm assombrar as pessoas.
ParaNorman já começa interessante ao incluir a vinheta de Feature Presentation, como se estivéssemos prestes a entrar em um universo criado por Quentin Tarantino. Logo depois, passa para um filme de zumbi que parece ter sido gravado com uma câmera Super 8. Com isso, somos apresentados ao interesse do protagonista em filmes de terror, o que ainda fica bastante claro pelo quarto dele, que é enfeitado pela direção de arte com várias referências a zumbis, desde um abajur até imagens coladas nas paredes. Norman ainda tem como toque de celular a trilha sonora de Halloween, o que é divertido de se ver. Isso é apenas uma das várias referências que a dupla de diretores fazem a filmes de terror, sendo que eles ainda incluem uma trilha sonora que lembra bastante as produções do gênero feitas na década de 1980. Até o velho clichê da figura que aparece e some de uma hora para outra surge aqui de maneira divertida.
Apesar de parecido com Cole Sears (personagem de Haley Joel Osment em O Sexto Sentido), Norman difere daquele garoto no fato de não sentir medo do próprio dom. Na verdade, por ele ser um garoto solitário, os mortos são os únicos com quem ele se sente confortável, já que eles não o discriminam por ele ser diferente das outras pessoas. A cena em que Norman conversa com vários espíritos nas ruas (ou falando sozinho, como as pessoas comuns veem) talvez seja o maior exemplo dessa confortabilidade e também de sua solidão. E é um pouco irônico ver que ele pode não sentir medo dos mortos, mas teme um pouco os vivos, como quando ele olha com tristeza os vários colegas pelos quais ele tem que passar para chegar à porta do colégio.
Mesmo que estejam fazendo um filme que tem como principal alvo o público infantil, Chris Butler e Sam Fell não temem incluir cenas mais tensas, algo que o diretor Henry Selick fez em Coraline, ainda que em comparação com aquele filme a dupla de ParaNorman pegue bem mais leve. Nesse sentido, as alucinações que Norman tem ao longo do filme conseguem trazer uma atmosfera angustiante, assim como quando uma floresta começa a se mexer contra os personagens (em uma cena que me lembrou um pouco The Evil Dead). Mas a parte mais sombria do filme reside em sua vilã e suas motivações, que poderiam muito bem fazer parte de um filme terror comum com elementos de bruxaria.
Ao longo do filme, os diretores não ficam investindo em gags o tempo todo (como acontece no divertido Piratas Pirados!), inserindo-as quando surge uma oportunidade, o que ameniza a tensão em volta da situação em que os personagens se encontram. São gags eficientes, como quando um carro capota várias vezes para desespero de seus passageiros ou quando Mitch (Casey Affleck), irmão de Neil, revela algo sobre si mesmo. Mas a cena mais divertida de ParaNorman acontece quando o protagonista tenta pegar um livro preso nas mãos do cadáver de seu tio, fazendo rir por ser uma situação bastante nojenta.
Tendo personagens muito carismáticos, ParaNorman peca por não conseguir impedir que sua história se torne um pouco previsível ao longo da projeção. Mas é uma animação eficiente e que coloca a Laika como uma empresa que pode fazer frente a outros grandes estúdios.
Cotação:

Nenhum comentário: