terça-feira, 30 de junho de 2020

7500

Desde seus primeiros papeis de destaque (como na série 3rd Rock From the Sun e em 10 Coisas Que Odeio em Você), Joseph Gordon-Levitt se mostrou um ator muito carismático. É até natural que, com o passar dos anos, ele tenha se firmado como um dos intérpretes mais talentosos de sua geração. Depois de dar uma pausa na carreira (seu último filme havia sido em 2016, quando teve uma atuação digna de prêmios no excelente Snowden), Gordon-Levitt agora faz seu retorno às telas como o protagonista deste 7500.

Escrito e dirigido por Patrick Vollrath, 7500 (que, para deixar claro, nada tem a ver com o pavoroso Voo 7500, feito por Takashi Shimizu em 2014) traz Joseph Gordon-Levitt no papel do copiloto Tobias Ellis, que está no comando de um voo de Berlim até Paris ao lado de seu capitão Michael Lutzmann (Carlo Kitzlinger). Mas o que deveria ser um voo como qualquer outro se torna um pesadelo quando um grupo de terroristas tenta sequestrar o avião. Tobias, então, passa a seguir os protocolos de segurança, preocupando-se com as pessoas que estão a bordo, em especial sua namorada Gökce (Aylin Tezel), que é uma das aeromoças.

Ao longo de todo o filme, Patrick Vollrath mantém o espectador ao lado de Tobias dentro da cabine de comando. A única visão que temos do lado externo se resume a uma pequena tela, que exibe o que é focado pela câmera de segurança situada atrás da porta da cabine, e o que o protagonista pode ver de sua janela. Assim, o diretor mostra com calma e naturalidade o passo a passo do trabalho dos pilotos, conseguindo no processo nos ambientar àquele espaço que será nosso lar pelos 90 minutos seguintes (e como filho de um aeronauta, não pude evitar de pensar que meu pai vai adorar esses detalhes do filme quando assisti-lo).


Mas o que acaba sendo importante em meio a esses detalhes é que Patrick Vollrath utiliza as limitações daquele espaço para potencializar a tensão, aspecto que rege a narrativa quando os sequestradores entram em cena. Além de estar lidando com um ambiente fechado por natureza, o diretor aposta em planos mais fechados que passam uma sensação de claustrofobia, o que dá mais intensidade para a situação ali retratada. Também merece créditos o trabalho de Joseph Gordon-Levitt, já que o ator não só traz seu carisma habitual para Tobias, mas também encarna com segurança a pressão pela qual o personagem passa, que fica mais próximo de ser um homem comum do que um herói de ação como poderíamos estar habituados. Nisso, vale dizer que o roteiro coloca o protagonista diante de decisões cujo o peso afligiria qualquer um, testando sua humanidade.


É uma pena, porém, que 7500 não consiga manter essa intensidade ao longo de toda a trama. Se em sua primeira metade o filme gera tensão, na segunda isso acaba caindo bastante, dando a impressão de que o roteiro não sabe mais o que fazer ou para onde ir com a história. E por mais interessante que seja a relação que Tobias cria com um dos sequestradores, esta infelizmente não chega a ser um grande centro emocional que sustente a narrativa. Mas ainda que irregular, o filme funciona suficientemente bem dentro de sua proposta, servindo como um retorno eficaz para o grande ator que o protagoniza.

7500 está disponível na Amazon Prime Video.

Nota:

sábado, 27 de junho de 2020

Fervura Máxima

A primeira coisa que precisei fazer após assistir a Fervura Máxima foi pesquisar quantas balas de festim o diretor John Woo utilizou ao longo das filmagens da produção. Isso porque as sequências de tiroteio (ou gun fu, como Woo veio a estabelecer) são tão elaboradas, trazendo verdadeiras rajadas de balas, que é impossível não dar uma atenção especial a esse detalhe do filme na hora de pensar sobre ele. Pois bem, cerca de 100 mil projéteis foram usados. Não encontrei nada que informasse em que posição Fervura Máxima ficaria em um ranking do quesito, mas acho que podemos dizer que Woo soube utilizar essas balas para conceber um de seus melhores trabalhos.

Fervura Máxima traz Chow Yun-fat como o Inspetor Tequila Yuen, que está no encalço da máfia liderada por Hoi (Kwan Hoi-Shan), mesmo que seu temperamento constantemente o faça bater de frente com seus superiores. Já Tony Leung Chiu-Wai interpreta Alan, homem de confiança de Hoi e que está na mira de outro mafioso, Johnny Wong (Anthony Wong), que quer trazê-lo para sua gangue. Alan, porém, é um policial trabalhando infiltrado, e se junta a Tequila para derrubar os criminosos.

O roteiro de Barry Wong concebe Tequila e Alan como figuras com personalidades bem distintas, sendo o primeiro mais explosivo e o outro mais frio e racional. Mas por estarem no mesmo meio, ambos constantemente se veem em uma linha tênue entre manterem a integridade ou se corromperem, um dilema que ajuda a aproximá-los do espectador. E os talentosos Chow Yun-fat e Tony Leung Chiu-Wai encarnam seus papeis com segurança, desenvolvendo ainda uma bela dinâmica em cena. O resultado lógico disso tudo é que temos protagonistas muito interessantes, o que se revela essencial para que nos importemos com eles nos tiroteios das sequências de ação.

Estas por sua vez são conduzidas com maestria por John Woo, que exibe boa parte de suas marcas registradas, desde o slow motion até personagens atacando com uma pistola em cada mão. Mas o importante é que Woo sabe como criar tensão em meio ao caos no qual Tequila e Alan são inseridos, além de manter a mise-en-scène sempre clara para o espectador, mesmo quando as cenas envolvem muitas pessoas e trazem milhares de balas voando para todos os lados. Nisso, é impossível não destacar a sequência de abertura que ocorre em uma casa de chá e o confronto final em um hospital, sendo este último o momento em que Woo claramente mostra estar pouco ligando para possíveis exageros (estes, na verdade, não deixam de tornar a narrativa mais impressionante e até divertida).

Empolgante na ação e instigante no desenrolar de sua trama, Fervura Máxima faz por merecer seu lugar no panteão de grandes filmes de ação.


quinta-feira, 25 de junho de 2020

Dragões Para Sempre

Antes de mais nada, é preciso dizer que Jackie Chan é um gênio. Misturando suas habilidades em artes marciais com seu talento para a comédia física, Chan é alguém que certamente deixaria artistas lendários como Buster Keaton e Charlie Chaplin profundamente orgulhosos. E basta assistir a obras como a série Police Story, os dois filmes de Projeto China, O Mestre Invencível, Arrebentando em Nova York ou a série A Hora do Rush (especialmente os dois primeiros exemplares) para constatar não só o talento do ator, mas também sua coragem. Afinal, estamos falando de alguém que já quebrou inúmeros ossos em nome de sua arte.

Este Dragões Para Sempre, porém, não se destaca como os citados.

Último filme da parceria de Jackie Chan com outros dois talentos das artes marciais, os atores Sammo Hung (que co-dirigiu o longa ao lado de Corey Yuen) e Yuen Biao, Dragões Para Sempre mostra os chefões de uma empresa de produtos químicos contratando o advogado Jackie Lung (Chan). Eles são acusados de estarem poluindo as águas locais, prejudicando a empresa de pesca da senhora Yip (Deannie Yip). Jackie então pede o auxílio de Wong (Sammo Hung) e Tung (Yuen Biao) para desacreditar as acusações, mas logo vê que pode estar do lado errado da história.

As sequências de ação com certeza são o ponto alto do longa, trazendo ótimas coreografias que aproveitam ao máximo as habilidades de seus atores, como poderíamos esperar. Nesse quesito, o confronto que ocorre em uma fábrica no terceiro ato sem dúvida se revela o ápice do filme. No entanto, apesar da boa dinâmica entre Jackie Chan, Sammo Hung e Yuen Biao, Dragões Para Sempre tropeça ao desenvolver sua parte cômica, criando situações e conflitos muito tolos entre seus personagens, algo que apenas contribui para um ritmo narrativo irregular. E como se não bastasse, o machismo presente no longa chega a níveis inacreditáveis, sendo até revoltante o momento em que Jackie interroga seu interesse amoroso (interpretada por Pauline Yeung) no tribunal, fazendo perguntas constrangedoras.

Dragões Para Sempre pode até divertir em alguns momentos. Mas não é uma obra que sirva de exemplo do melhor que Jackie Chan e sua equipe podem fazer.

O filme está disponível para streaming na Amazon Prime Video.

terça-feira, 23 de junho de 2020

Uma Saída de Mestre


Estrelado por Michael Caine no fim da década de 1960, Um Golpe à Italiana divertia com seu charme e bom humor, sendo um heist movie (subgênero em que um grupo de personagens se reúne para realizar algum tipo de assalto) que mantinha o espectador envolvido com a execução engenhosa do plano de seu protagonista. E esses são quesitos que foram mantidos quando resolveram realizar um remake. Mas é curioso notar como o diretor F. Gary Gray ainda consegue criar em Uma Saída de Mestre algo muito diferente do material original. E perdi a conta de quantas vezes já assisti ao filme, tamanha diversão que ele proporciona.

Assumindo o papel que no original era de Caine, Mark Wahlberg interpreta Charlie Croker, líder de um grupo de ladrões que é traído por um de seus integrantes, Steve (Edward Norton), após um serviço. Charlie então chama Stella Bridger (Charlize Theron), especialista em cofres e filha de seu mentor John Bridger (Donald Sutherland), para que a gangue possa se vingar de Steve, recuperando no processo os milhões de dólares em barras de ouro que foram roubados naquele trabalho.

Em termos de trama e estrutura, o filme pouco tem de semelhante a Um Golpe à Italiana, preferindo remodelar o material para algo mais atualizado. Se antes Michael Caine praticamente carregava sozinho a narrativa, aqui a dinâmica do elenco diverte desde o princípio, sendo que Mark Wahlberg, Charlize Theron e companhia não só exalam carisma, mas também tem a oportunidade de criar personagens com personalidade, que não ficam definidos por suas funções na equipe. Mas Uma Saída de Mestre mantém-se fiel ao espírito de sua obra original, não desapontando quando parte para a ação e para o desenvolvimento da história, empolgando nas sequências de perseguição de carro e entretendo o público com uma narrativa ágil e inteligente. Tudo isso é conduzido com segurança por F. Gary Gray, que cria um instigante jogo de gato e rato entre Charlie e Steve.

Uma continuação para Uma Saída de Mestre foi especulada por um bom tempo, por conta do sucesso que o filme fez quando lançado em 2003. Mas a ideia acabou não indo pra frente. E até lamento por isso considerando o quão bacana é o filme e seus personagens.

O filme está disponível para streaming na Netflix.

domingo, 21 de junho de 2020

You Should Have Left

Há cerca de 20 anos, Kevin Bacon e o diretor-roteirista David Koepp fizeram Ecos do Além, um terror sobrenatural que trazia o ator no papel de um homem que, após ser hipnotizado, passa a ter visões de uma jovem que desapareceu de sua vizinhança meses antes. Mesmo ficando longe de ser uma obra de destaque no gênero, o filme provocava sua parcela de arrepios, além de contar com o talento de Bacon para carregar a narrativa. Pois bem, agora o ator volta a trabalhar com Koepp neste You Should Have Left, que não consegue nem ser minimamente satisfatório como a parceria anterior da dupla.

Baseado no livro de Daniel Kelhmann (que não li), You Should Have Left coloca Kevin Bacon no papel de Theo Conroy, sujeito de passado obscuro e casado com a jovem atriz Susanna (Amanda Seyfried), com quem tem a pequena Ella (Avery Essex). Com o objetivo de fugir um pouco de suas rotinas, eles resolvem passar alguns dias em uma bela e isolada mansão no País de Gales. Mas o que deveria ser uma experiência relaxante acaba sendo exatamente o contrário.

No início, quando começa a apresentar elementos sobrenaturais, o roteiro escrito pelo próprio David Koepp até consegue deixar o espectador curioso quanto a natureza do que ocorre por ali. Mas You Should Have Left mostra ser uma bomba cuja explosão fica maior à medida que avançamos na história, já que esta, eventualmente, recompensa a curiosidade do público com respostas tolas e previsíveis. E como se não bastasse, Koepp se agarra em uma série de clichês para construir a tensão da narrativa, sendo difícil não revirar os olhos a cada vez que ele utiliza a trilha sonora para nos fazer pular na cadeira.

You Should Have Left até merece alguns créditos pelo design de produção, que concebe a mansão que situa a trama como um local intimidante por sua imponência. Mas no fim o longa acaba servindo mais para desperdiçar o talento de seus atores (especialmente Kevin Bacon, um dos melhores intérpretes de sua geração) com um material vazio.