É difícil não ver Lightyear
como uma produção caça-níquel feita pela Pixar. Com uma aparente falta de
planos para Toy Story, franquia carro-chefe do estúdio, realizar um
longa focado na figura que inspirou o brinquedo coprotagonista daqueles filmes
parece ser só mais uma nova maneira encontrada de explorar aquela boa e velha propriedade.
E nem podemos dizer que isso não foi feito de alguma forma antes, já que há 20
anos tivemos a série animada Buzz Lightyear do Comando Estelar. Mas motivações
do projeto à parte, o diretor Angus MacLane aproveita bem o material que tem em
mãos para realizar uma divertida aventura de ficção científica, ainda que longe
do que o estúdio já fez de melhor.
Em Lightyear, encontramos
o personagem-título (dublado na versão original por Chris Evans) em meio a uma
missão com sua equipe em um planeta hostil, onde ele e toda sua tripulação acabam
ficando presos após um acidente. Se sentindo culpado pela situação, Buzz não
desiste por nada da ideia de levar todos de volta para a Terra, se juntando no
processo a um grupo de recrutas iniciantes liderados por Izzy (Keke Palmer) e
enfrentando ameaças robóticas inesperadas.
Além de contar com o perfeccionismo técnico comum dos filmes da Pixar (dessa vez fiquei particularmente surpreso com a verossimilhança dos rostos suados dos personagens), Lightyear claramente se inspira em grandes clássicos de ficção científica (como 2001: Uma Odisseia no Espaço e Star Wars) até clássicos mais recentes (como Gravidade) para montar uma narrativa que entretenha. E nisso o filme não desaponta, apresentando sequências de ação divertidas e chegando a exibir até certa ambição ao brincar com o espaço-tempo. É algo que inclusive serve para realçar o próprio arco dramático de Buzz, que aqui surge como uma figura determinada e leal (como já havíamos visto em Toy Story), e que por isso mesmo tem um foco tão grande em cumprir uma missão que acaba deixando de viver e notar o que ocorre ao seu redor. Mas por melhor que o roteiro se saia ao desenvolver os dramas de Buzz e outros personagens humanos, é preciso dizer que o gato robótico SOX (dublado por Peter Sonh) rouba o filme sempre que aparece, nos conquistando com seu carisma e suas tiradas.
Lightyear perde pontos
mesmo é em seu terceiro ato, que frustra ao exibir certa pressa para finalizar
a trama, resolvendo alguns pontos de maneira excessivamente simples. A sensação
acaba sendo de que ganhamos uma recompensa que não chega à altura de todo o
trabalho que foi feito. De qualquer forma, trata-se de uma aventura válida no
universo de um personagem carismático, e não ficarei surpreso se isso futuramente
nos levar a uma produção mostrando os casos de Woody e companhia no Velho
Oeste.
Obs.: Há algumas cenas adicionais
durante os créditos finais.
Nota: