sábado, 30 de dezembro de 2023

Os Melhores Filmes de 2023

2023 serviu para mim como uma espécie de reconexão com o cinema. Seja por conta da pandemia ou por outros motivos particulares, os últimos anos foram um tanto complicados para que eu acompanhasse os filmes que eram lançados. Vi poucas coisas, escrevi menos ainda e me vi constantemente desmotivado. Mas 2023 foi um pouco mais produtivo. Além de ter conseguido voltar a ver mais filmes e escrito com alguma frequência, pude cobrir o meu primeiro festival de cinema presencialmente e que foi uma das experiências mais ricas que tive, me ajudando a confirmar algo que, por incrível que pareça, só tive certeza recentemente: se tenho alguma função nesse mundo, esta é escrever (lamento caso alguém não goste do que produzo, mas realmente não pretendo parar).

Assim, me sinto confortável para retomar a lista de melhores filmes do ano que costumo fazer nessa época, e que deixei de publicar nos últimos anos exatamente por sentir que não vi longas o bastante para listar e fazer um ranking. E a lista de piores filmes do ano? Bem, essa foi descartada e não tem previsão de volta. Quem me acompanha nas redes sociais deve ter visto um pequeno desabafo que fiz recentemente, quando falei sobre a percepção que tenho tido em relação a listar os piores do ano. Primeiro que muitas vezes isso acaba sendo como chutar cachorro morto, considerando que há filmes que já são detonados o suficiente ao longo do ano. E segundo que listar os piores do ano além de ser desnecessário ainda estimula negativamente a ideia que o público tem de que a crítica de cinema é um guia de consumo, alimentando a frase “se você não gostou eu não vou ver”, algo que sinceramente tem me doído os ouvidos ultimamente.

Para compensar a exclusão de uma lista, decidi que dessa vez não farei um top 10 com os melhores do ano, mas sim um top 20, além das menções honrosas. E devo deixar claro que preferi considerar para a lista apenas os filmes lançados comercialmente nos cinemas brasileiros em 2023, o que fez eu deixar de fora alguns longas que vi na Mostra de São Paulo (como Anatomia de Uma Queda e O Mal Não Existe) e que devem entrar em cartaz oficialmente apenas no ano que vem.

Sem mais delongas, vamos aos filmes.

Primeiro, as menções honrosas (em ordem alfabética):

A Baleia (The Whale), de Darren Aronofsky

Esquema de Risco: Operação Fortune (Operation Fortune: Ruse de Guerre), de Guy Ritchie

Guardiões da Galáxia: Vol. 3 (Guardians of the Galaxy: Vol. 3), de James Gunn

Jogo Justo (Fair Play), de Chloe Dumont

Kill Boksoon, de Byun Sung-hyun

O Pacto (Guy Ritchie’s The Covenant), de Guy Ritchie

Sisu: Uma História de Determinação (Sisu), de Jalmari Helander

Still: Ainda Sou Michael J. Fox (Still: A Michael J. Fox Movie), de Davis Guggenheim

As Tartarugas Ninja: Caos Mutante (Teenage Mutant Ninja Turtles: Mutant Mayhem), de Jeff Rowe

Em um pequeno adendo: preciso mencionar também “Long, Long Time”, o terceiro episódio de The Last of Us e que foi uma das coisas mais lindas do ano.


E agora o top 20 em ordem decrescente:

20) Clonaram Tyrone! (They Cloned Tyrone), de Juel Taylor


19) Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes (Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves), de John Francis Daley e Jonathan Goldstein


18) A Morte do Demônio: A Ascensão (Evil Dead Rise), de Lee Cronin


17) Missão Impossível: Acerto de Contas – Parte Um (Mission Impossible: Dead Reckoning – Part One), de Christopher McQuarrie


16) Propriedade, de Daniel Bandeira


15) O Assassino (The Killer), de David Fincher


14) Pedágio, de Carolina Markowicz


13) Afire (Roter Himmel), de Christian Petzold


12) Triângulo da Tristeza (Triangle of Sadness), de Ruben Östlund


11) Godzilla Minus One (Gojira Mainasu Wan), de Takashi Yamazaki


10) Os Fabelmans (The Fabelmans), de Steven Spielberg


9) Homem-Aranha: Através do Aranhaverso (Spider-Man: Across the Spider-Verse), de Joaquim Dos Santos, Justin K. Thompson e Kemp Powers


8) Decisão de Partir (Heojil Kyolshim), de Park Chan-wook


7) Os Banshees de Inisherin (The Banshees of Inisherin), de Martin McDonagh


6) John Wick 4: Baba Yaga (John Wick: Chapter 4), de Chad Stahelski


5) Tár, de Todd Field


4) Oppenheimer, de Christopher Nolan


3) Barbie, de Greta Gerwig


2) Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho


1) Assassinos da Lua das Flores (Killers of the Flower Moon), de Martin Scorsese


Feliz Ano Novo para todos vocês que me acompanham por aqui. Torcendo desde já para que 2024 seja ainda mais produtivo.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Maestro

(Comentário publicado durante a cobertura da 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo)

Aguardada cinebiografia do maestro e músico Leonard Bernstein dirigida por Bradley Cooper, Maestro segue a vida de Bernstein (vivido pelo próprio Cooper) ao longo de 50 anos, mostrando o sucesso dele desde cedo como condutor de grandes orquestras, sua sexualidade e seu casamento com Felicia Montealegre (Carey Mulligan).

Como ator, Bradley Cooper faz um bom trabalho encarnando a segurança de Leonard Bernstein como artista, algo que só aumenta e se torna mais sutil com o passar dos anos, sendo que o ator ainda mantém grande expressividade mesmo quando por baixo de toda a excelente maquiagem que utiliza quando o personagem fica mais velho. Já a ótima Carey Mulligan traz força e resiliência a Felicia, uma mulher que se recusa a viver na sombra do marido mesmo quando isso parece inevitável. E por mais conturbado que seja o casamento dos personagens, seus intérpretes conseguem mostrar bem o afeto entre eles.

No entanto, enquanto o roteiro escrito por Cooper e Josh Singer faz um belo retrato da relação entre Bernstein e Montealegre, outras coisas parecem ser jogadas na tela apenas para que o filme possa dizer que as incluiu, como o uso de drogas por parte do protagonista e os namoros dele com outros homens (em especial Tom Cothran), que mais parecem devaneios do que propriamente relacionamentos. Este último quesito é até curioso considerando que o filme trata a sexualidade de Leonard Bernstein abertamente, de forma que talvez tenha faltado um pouco de coragem a Cooper e sua equipe para se aprofundar mais nesse aspecto.

Já na direção, há sacadas interessantes de Bradley Cooper. A lógica visual do filme, por exemplo, é primorosa, iniciando com uma razão de aspecto 1.33:1 em preto e branco, para então adicionar cores na segunda fase da vida do protagonista e aumentando a razão de aspecto para o habitual 1.85:1 apenas quando chega na fase final, o que sinaliza como uma passagem se soma a outra. Além disso, Cooper é hábil ao usar uma maior profundidade de campo para retratar o modo que Felicia fica, por vezes, relegada na vida do protagonista, ao passo que planos mais longos trazem uma maior naturalidade a determinadas cenas. Porém, há vários outros momentos em que Cooper parece apenas querer se exibir, usando travellings que viajam pelos cenários e um extenso número de raccords (transições de cena que mantêm a continuidade entre um plano e outro), recursos que acabam chamando atenção demais para seu diretor.

Maestro no fim se equilibra entre altos e baixos, conseguindo até ser eficaz como filme, ainda que não tão brilhante como a figura que retrata na tela.

Nota: