segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Os Melhores e os Piores Filmes de 2018



Não sei dizer quantas formas existiam para que 2018 chegasse ao fim ficando marcado por sentimentos conflitantes, mas acho que ele conseguiu aproveitar boa parte delas (para não dizer todas). Por um lado, foi (e tem sido) triste, estressante e decepcionante acompanhar os rumos que temos tomado como sociedade. Nesse sentido, haja paciência e esperança para resistir. Mas por outro, falando em questões puramente pessoais e profissionais, novos desafios surgiram e foram acatados com muito bom gosto, me dando alguma direção após eu ficar um bom tempo perdido na vida.

E também tivemos Cinema, essa Arte que tanto consegue nos tocar com sua capacidade empática. Aliás, gostaria de aproveitar a oportunidade para pedir desculpas a quem acompanha o conteúdo do Linguagem Cinéfila. Ao longo do ano, o blog ficou bem pouco movimentado, sendo que apenas dez críticas foram publicadas. Seja por desmotivação ou simplesmente por não saber o que colocar na página em branco, escrever foi um ato complicado em 2018. A decepção que tive comigo mesmo por conta disso tem feito eu pensar que talvez seja melhor eu mudar alguma coisa para poder alimentar o blog com mais frequência. Novas ideias? Diferentes formatos para comentar os filmes? É o que ainda vou descobrir. Mas espero conseguir fazer um 2019 melhor para este espaço, até porque será o ano em que iremos completar dez anos na área. Isso mesmo, DEZ anos!

Mas acho que você não veio até aqui para saber de minhas divagações de fim de ano. Logo, seguindo a tradição que busco manter no blog desde sempre, chegou a hora de listar os melhores e os piores filmes lançados comercialmente no Brasil em 2018. Ao contrário dos anos anteriores, dessa vez irei apenas listar as obras, sem comentá-las brevemente. Portanto, serei rápido e rasteiro. De qualquer forma, fiquem livres para discordar e compartilhar seus filmes favoritos do ano. E caso alguém tenha interesse em conferir minha lista com todos os 324 longas que assisti nos últimos doze meses, deixo aqui o link para o meu diário no Letterboxd.

Feitas estas considerações, vamos lá.

Os piores filmes lançados no Brasil em 2018:

10) Pequena Grande Vida (Downsizing), de Alexander Payne


9) Todo o Dinheiro do Mundo (All the Money in the World), de Ridley Scott


8) 22 Milhas (Mile 22), de Peter Berg


7) A Freira (The Nun), de Corin Hardy


6) Crimes em Happytime (The Happytime Murders), de Brian Henson


5) Verdade ou Desafio (Truth or Dare), de Jeff Wadlow


4) 15h17: Trem Para Paris (The 15:17 to Paris), de Clint Eastwood


3) Exorcismos e Demônios (The Crucifixion), de Xavier Gens


2) Cinquenta Tons de Liberdade (Fifty Shades Freed), de James Foley


1) Slender Man: Pesadelo Sem Rosto (Slender Man), de Sylvain White


Outros 12 filmes que merecem menção desonrosa (em ordem alfabética):

Arranha-Céu: Coragem Sem Limites (Skyscraper), de Rawson Marshall Thurber
Baseado em Fatos Reais (D’après Une Histoire Vraie), de Roman Polanski
Caixa de Pássaros (Bird Box), de Susanne Bier
Desejo de Matar (Death Wish), de Eli Roth
Uma Dobra no Tempo (A Wrinkle in Time), de Ava DuVernay
A Escolha Perfeita 3 (Pitch Perfect 3), de Trish Sie
O Homem das Cavernas (Early Man), de Nick Park
Hotel Transilvânia 3: Férias Monstruosas (Hotel Transylvania 3: Summer Vacation), de Genndy Tartakovsky
Quando Nos Conhecemos (When We First Met), de Ari Sandel
Roman J. Israel (Roman J. Israel, Esq.), de Dan Gilroy
Tomb Raider: A Origem (Tomb Raider), de Roar Uthaug
Venom, de Ruben Fleischer

E agora a parte boa...

Os melhores filmes lançados no Brasil em 2018:

10) Em Chamas (Beoning), de Lee Chang-dong


9) Um Lugar Silencioso (A Quiet Place), de John Krasinski


8) Tinta Bruta, de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher


7) Infiltrado na Klan (BlacKkKlansman), de Spike Lee


6) Projeto Flórida (The Florida Project), de Sean Baker




4) Roma, de Alfonso Cuarón


3) Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me by Your Name), de Luca Guadagnino


2) As Boas Maneiras, de Marco Dutra e Juliana Rojas


1) Trama Fantasma (Phantom Thread), de Paul Thomas Anderson


Outros 35 filmes que merecem destaque (em ordem alfabética):

7 Dias em Entebbe (7 Days in Entebbe), de José Padilha
Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald (Fantastic Beasts: The Crimes of Grindelwald), de David Yates
O Animal Cordial, de Gabriela Amaral Almeida
Aquaman, de James Wan
A Balada de Buster Scruggs (The Balad of Buster Scruggs), de Joel Coen e Ethan Coen
Benzinho, de Gustavo Pizzi
Com Amor, Simon (Love, Simon), de Greg Berlanti
Deadpool 2, de David Leitch
Estrelas de Cinema Nunca Morrem (Film Stars Don’t Die in Liverpool), de Paul McGuigan
Eu, Tonya (I, Tonya), de Craig Gillespie
Ferrugem, de Aly Muritiba
A Forma da Água (The Shape of Water), de Guillermo del Toro
A Grande Jogada (Molly’s Game), de Aaron Sorkin
Hereditário (Hereditary), de Ari Aster
Ilha dos Cachorros (Isle of Dogs), de Wes Anderson
Os Incríveis 2 (Incredibles 2), de Brad Bird
Jogador Nº1 (Ready Player One), de Steven Spielberg
Lady Bird: É Hora de Voar (Lady Bird), de Greta Gerwig
Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi (Mudbound), de Dee Rees
Uma Noite de 12 Anos (La Noche de 12 Años), de Álvaro Brechner
A Noite do Jogo (Game Night), de John Francis Daley e Jonathan Goldstein
O Ódio Que Você Semeia (The Hate U Give), de George Tillman Jr.
Paddington 2, de Paul King
Pantera Negra (Black Panther), de Ryan Coogler
The Post: A Guerra Secreta (The Post), de Steven Spielberg
O Primeiro Homem (First Man), de Damien Chazelle
O Processo, de Maria Augusta Ramos
Rasga Coração, de Jorge Furtado
Sem Amor (Nelyubov), de Andrey Zvyagintsev
The Square: A Arte da Discórdia (The Square), de Ruben Östlund
Três Anúncios Para um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri), de Martin McDonagh
Vingadores: Guerra Infinita (Avengers: Infinity War), de Joe Russo e Anthony Russo
As Viúvas (Widows), de Steve McQueen
Viva: A Vida é uma Festa (Coco), de Lee Unkrich
Você Nunca Esteve Realmente Aqui (You Were Never Really Here), de Lynne Ramsay

E é isso. Desejo a todos uma bela entrada de ano. Espero que 2019 pegue leve com a gente e nos dê mais alegrias do que dores de cabeça.

Grande abraço.

domingo, 16 de dezembro de 2018

Aquaman


Os filmes recentes baseados nos personagens da DC Comics acabaram ficando tão marcados por seu visual sombrio, com uma paleta de cores dessaturada, que assistir a Aquaman é quase como ver um longa de outro mundo. Ao longo da projeção, a impressão que se tem é que o diretor James Wan e sua equipe decidiram trilhar um caminho diferente de seus antecessores, evitando se levar excessivamente a sério e abraçando uma proposta mais escapista. A boa notícia em meio a isso é que Aquaman não só é eficaz em sua diversão, mas também é um trabalho visualmente deslumbrante.

Quase ignorando a apresentação do protagonista em Liga da Justiça (e digo “quase” porque há uma menção pequena e insignificante a derrota do Lobo da Estepe naquele filme), Aquaman traz Arthur Curry (Jason Momoa) prestes a se ver no meio de uma guerra entre humanos e atlantianos, já que seu irmão Orm (Patrick Wilson), rei de Atlantis, está cansado de ver os problemas da superfície afetarem seu reino e os oceanos. Para evitar que tal guerra ocorra, Arthur é convencido pela princesa Mera (Amber Heard) e o conselheiro Vulko (Willem Dafoe) a assumir o trono que é seu por direito, sendo ele o primogênito da rainha Atlanna (Nicole Kidman), fruto do amor entre ela e o humano Tom Curry (Temuera Morrison).


Pontualmente, o roteiro não deixa de soar convencional em determinados pontos, sendo impossível ignorar alguns clichês mais do que batidos, desde o casal que implica um com o outro, mas gradualmente se entende (isso até rende uma sequência que desenvolve o relacionamento de um jeito excessivamente infantil) até as pausas dramáticas que os personagens fazem antes de revelarem suas identidades, detalhes que parecem desafiar o espectador a revirar os olhos em 360° graus. Além disso, o longa não escapa de uma série de diálogos expositivos para estabelecer o universo particular de seu protagonista, mas apesar de incomodarem eles ainda têm mais função do que momentos como a sequência em que vemos um vilão modificar seu equipamento, algo descartável e que só faz o filme perder tempo.

Esses problemas ao menos são compensados pelas virtudes do filme, a começar pelo visual, que consegue ser um deleite para os olhos. Apostando em cores quentes que naturalmente estabelecem a atmosfera mais leve que rege a narrativa, James Wan (em sua segunda empreitada de grande orçamento, longe de suas raízes em produções de terror) conduz uma obra cuja vivacidade podemos ver claramente em cada plano que percorre a tela, além de retratar o universo oceânico brilhantemente em sua concepção. Atlantis aqui parece uma versão submersa de Pandora (o mundo de Avatar) com suas iluminações e riquezas naturais. E Wan não para por aí, já que ao lado do montador Kirk Morri ele várias vezes investe em belos raccords (transições de cena que criam uma continuidade entre um plano e outro) que contribuem tanto com a estética do filme quanto com seu ritmo. Destaco aqui momentos como aquele em que o diretor foca a água de um aquário para logo depois nos situar no oceano e o corte que liga um submarino a uma metralhadora. Para completar, as sequências de ação são conduzidas com uma agilidade envolvente, sem parecerem uma bagunça de efeitos visuais, merecendo destaque um longo embate pelas ruas da Sicília.


Mas parte da diversão de Aquaman reside na forma com que a narrativa busca brincar com as expectativas do público (o que dizer da cena em que alguém pede para tirar uma foto com o herói?). Isso, aliás, não deixa de ser um pequeno sinal de rebeldia, característica que encontra ressonância na composição de Jason Momoa. Apesar de ser um ator limitado (impressão que passei a ter após ver seus trabalhos em filmes como Conan: O Bárbaro e Alvo Duplo e a série Game of Thrones), Momoa cria um Arthur Curry interessante e carismático, continuando com o estilo bad boy visto em Liga da Justiça, mas sem esquecer de ressaltar os conflitos que o personagem tem com relação a seu lugar no mundo e as inseguranças quanto a ser rei, o que rende um arco dramático muito bem definido para ele.


Como se não bastasse, Momoa ainda tem uma ótima dinâmica com Amber Heard, que aqui surpreende encarnando em Mera uma personagem que pode até ser o interesse amoroso do protagonista, mas que na maior parte do tempo surge como uma verdadeira parceira de aventuras, sendo ela mesma uma heroína poderosa, que jamais depende dos homens ao seu redor e que tem seus próprios dramas pessoais para lidar. Isso pode ser dito também sobre a Atlanna de Nicole Kidman, que consegue se destacar mesmo com um tempo de tela menor, enquanto que Patrick Wilson e Yahya Abdul-Mateen II têm em Orm e no Arraia Negra vilões que chamam a atenção com suas motivações compreensíveis, ainda que essencialmente não sejam particularmente ameaçadores. Fechando o elenco, Willem Dafoe usa seu talento para imprimir uma grande força de caráter a Vulko, ao passo que Temuera Morrison e Dolph Ludgreen (ressurgindo no cinema após anos fazendo filmes de ação lançados direto no mercado de home video) aproveitam bem suas cenas como Tom Curry e o rei Nereus, respectivamente.

Se Aquaman representa uma mudança de rumo dos longas do universo da DC Comics, isso só os próximos exemplares dirão. Mas assistindo-o isoladamente, como um filme-solo que deixa de lado a ideia de fazer conexões dentro da franquia e que se concentra mais em divertir enquanto conta sua história, ele certamente representa uma grata surpresa.

Obs.: Há uma cena durante os créditos finais.

Nota: