Ao escrever sobre Missão Impossível: Nação Secreta, comentei
como era surpreendente acompanhar a franquia. Isso porque, mesmo com duas décadas
nas costas, ela consegue manter uma consistência admirável, tendo a façanha de melhorar
a cada novo capítulo (com exceção de Missão Impossível 2, que mesmo sendo um longa eficiente, ainda é o mais irregular
da série). Pois bem, essa consistência tem continuidade neste sexto exemplar, Missão Impossível: Efeito Fallout, com
Tom Cruise e companhia voltando a impressionar.
Escrito e dirigido por
Christopher McQuarrie (que já havia comandado Nação Secreta, marcando assim a primeira vez que um realizador faz
mais de um filme da franquia), Efeito
Fallout coloca Ethan Hunt (Cruise) precisando recuperar três bombas de plutônio
antes que estas caiam nas mãos do desconhecido John Lark e dos Apóstolos, grupo
formado a partir do que restou do Sindicato liderado por Solomon Lane (Sean
Harris). Mas é claro que isso não é tão fácil para Hunt e, depois que uma
primeira investida dá errado, ele e sua equipe formada por Benji (Simon Pegg) e
Luther (Ving Rhames) passam a correr atrás do prejuízo, tendo o auxílio nada
bem-vindo do agente da CIA August Walker (Henry Cavill), que cuida para que
nada na missão fique comprometido. No caminho, eles ainda reencontram a agente
do MI6 Ilsa Faust (Rebecca Ferguson).
É uma premissa relativamente
simples, e por isso é até curioso que Efeito
Fallout acabe sendo o filme mais longo da franquia. Mas as duas horas e
meia de duração são muito bem justificadas e passam rápido. Assim como fez em Nação Secreta, Christopher McQuarrie
concebe uma narrativa ágil, que prende a atenção do espectador e não a solta
até os créditos finais, desenvolvendo também um roteiro que, além de se
estruturar maravilhosamente em cima das sequências de ação, nos mantêm constantemente
instigados com relação ao desenrolar da trama. Nesse sentido, é interessante
ver o diretor pontualmente inserir reviravoltas que até brincam com a nossa impressão
do que está acontecendo em cena, rendendo algumas boas surpresas.
O que não é surpreendente, porém,
é o quão empolgante o filme é ao partir para a ação. Desde um salto de avião,
passando por lutas como aquela situada em um banheiro, e chegando finalmente a
perseguições de carros e helicópteros, McQuarrie novamente coloca na tela
sequências espetaculares e que levam quase ao pé da letra o título da franquia.
E o diretor conduz tudo com maestria, mantendo a mise en scène das cenas sempre clara para o público e impondo uma
tensão crescente na narrativa. Nisso, é impossível não destacar também o
excepcional trabalho do montador Eddie Hamilton, que em um mundo justo seria
considerado a prêmios, já que é notável a maneira como ele intercala naturalmente
várias ações que estão acontecendo ao mesmo tempo, em montagens paralelas que
ajudam o filme a não perder seu ritmo e fazem com que a tensão se torne ainda
mais forte.
Para completar, as sequências de
ação ainda contam com a habitual entrega de Tom Cruise, que mais uma vez encarna
Ethan Hunt como um sujeito capaz de fazer absolutamente tudo, de forma que
quando alguém questiona como ele fará algo improvável (para não dizer
impossível), ele só responde “Eu vou dar um jeito” e isso é o suficiente para
que acreditemos nele e fiquemos curiosos para ver suas peripécias. E o ator
constantemente parece surpreso com o que está realizando em cena, detalhe que
de certa forma traz um pouco de humanidade ao papel. Mas Cruise consegue ir além
da fisicalidade de Hunt, tendo a chance de dar a ele um peso dramático maior
que nos longas anteriores, levando em consideração tudo o que o personagem já
viveu e como isso determina sua forma de agir.
Essa humanidade do protagonista
também pode ser vista na relação dele com Benji e Luther, figuras que se
tornaram fieis parceiros ao longo dos filmes e que aqui voltam a ser
interpretados com grande carisma por Simon Pegg e Ving Rhames. Este último, por
sinal, ganha um breve monólogo que aproveita seu talento como pouquíssimos
filmes têm aproveitado, rendendo um dos momentos mais tocantes da série. E se
Henry Cavill tem em seu August Walker um ótimo contraponto ao protagonista,
sendo bem mais impulsivo, Rebecca Ferguson volta a fazer de Ilsa Faust uma personagem
forte e que nunca é tratada como mero interesse romântico, tendo seus próprios
objetivos para cumprir, enquanto que Sean Harris retoma a ameaça que Solomon
Lane representava no longa anterior e o estabelece como o vilão mais
interessante da franquia.
Com tudo isso, Efeito Fallout assume facilmente a
posição de melhor da franquia Missão
Impossível. Mais que isso, o filme se revela um dos grandes destaques do
ano, sendo uma daquelas obras de ação capazes de fazer o espectador sair
literalmente sem fôlego da sala de cinema.
Nota:
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