quarta-feira, 15 de agosto de 2018

O Protetor 2


Denzel Washington é um ator fantástico, e é interessante notar que, ao longo de sua carreira, ele evitou fazer continuações de seus filmes, por mais que aqui e ali houvesse potencial para isso (para citar um exemplo, Lincoln Rhyme, personagem que ele interpretou no mediano O Colecionador de Ossos, teve origem em uma série de livros policiais que tem novos exemplares lançados até hoje). Quer dizer, evitou até agora. Em O Protetor 2, Washington retoma sua parceria com o diretor Antoine Fuqua e volta ao papel de Robert McCall após o eficiente (ainda que nada memorável) primeiro filme, que trouxe para o cinema a série de TV protagonizada por Edward Woodward na década de 1980. E o nível da saga do personagem nas telonas não muda nada nessa continuação.

Escrito pelo mesmo Richard Wenk do longa anterior, O Protetor 2 traz Robert McCall trabalhando como motorista, usando suas horas vagas para colocar em prática suas habilidades de ex-agente do governo e ser uma espécie de anjo da guarda, não se importando de ajudar completos desconhecidos quando vê que estes estão sendo vítimas de alguma injustiça. Mas quando alguém próximo a ele é assassinado, McCall logo se envolve no caso que a pessoa vinha investigando, passando então a não medir esforços para descobrir por que ela morreu e quem a matou.


Se eu tivesse escrito sobre o primeiro filme, talvez escrever sobre O Protetor 2 fosse mais ou menos como bater nas mesmas teclas, já que ambos os longas compartilham praticamente dos mesmos problemas e das mesmas virtudes. O roteiro, por exemplo, além de se concentrar na investigação realizada pelo protagonista, também tenta desenvolver várias subtramas envolvendo pessoas que ganham o auxílio dele, sendo pontos que podem até ser vistos como pequenos episódios considerando a natureza do material original. Entre elas, a que ganha maior destaque é a de Miles (Ashton Sanders, uma das revelações da obra-prima Moonlight), jovem que se vê dividido entre seu talento como artista e uma possível vida de crimes. O problema é que tais subtramas em sua maioria pouco acrescentam ao filme, que às vezes até perde o foco ao se ver tendo que pausar o desenvolvimento da trama principal para poder dar conta de tudo, montando uma estrutura que faz a narrativa perder o ritmo pontualmente.


Se o filme não chega a ficar desinteressante mesmo em seus momentos mais fracos, isso se deve principalmente a Denzel Washington, que novamente usa sua costumeira segurança para encarnar Robert McCall como um homem de modos bastante simples e metódicos, criando um contraste natural com sua implacabilidade ao partir para a ação. Esta característica, por sinal, funciona tanto a favor quanto contra o filme. Por um lado, Antoine Fuqua aproveita as habilidades de McCall para conceber sequências de ação ágeis e eficientes, se destacando, por exemplo, quando o personagem luta contra um capanga enquanto dirige seu carro (e é bom ver que o diretor não tenta driblar a violência presente na ação, mostrando a sanguinolência resultante dos golpes desferidos em cena). Mas por outro, isso faz com que em momento algum duvidemos do sucesso do protagonista, o que tira boa parte da tensão que a narrativa poderia ter. Contribui para isso também o fato de o roteiro construir vilões que pouco servem como ameaça, dando a eles uma inteligência que nunca é párea a do herói, que parece sempre estar vários passos à frente deles.

O Protetor 2 fica longe de ser um ponto alto na carreira de Denzel Washington. Mas também não chega a ser um longa que faça o astro se arrepender de ter decidido estrelar uma continuação, já que, apesar de suas irregularidades, o que temos aqui é um trabalho que ainda consegue se sustentar como filme de ação.


Nota:

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