segunda-feira, 5 de abril de 2021

Godzilla vs. Kong

A franquia de monstros que a Warner vem construindo nos últimos anos com Godzilla e King Kong não tem sido particularmente memorável. Por um lado, o filme do gorila gigante merece destaque (Kong: A Ilha da Caveira é divertidíssimo). Por outro, os trabalhos focados em Godzilla foram decepcionantes (Godzilla 2: Rei dos Monstros, em especial, é um verdadeiro desastre). E agora, seguindo a fórmula da Marvel, cujo universo culmina nos longas dos Vingadores, temos finalmente o encontro entre os dois titãs neste Godzilla vs. Kong, um filme que durante grande parte do tempo parece querer desperdiçar a própria premissa. E se isso não ocorre, deve-se precisamente aos dois monstros do título.

Em Godzilla vs. Kong, vemos um grupo liderado pela dupla Nathan Lind e Ilene Andrews (Alexander Skarsgård e Rebecca Hall, respectivamente) levar Kong em uma missão para adentrar o núcleo do planeta até a área da Terra Oca, local onde deverá ser explicada a origem dos monstros. Missão esta que é financiada pelo ricaço Walter Simmons (Demián Bichir) depois de Godzilla realizar um ataque aparentemente sem ter sido ameaçado. Mas tendo em vista que os dois gigantes têm uma antiga rivalidade, Godzilla não facilita o caminho da missão. Enquanto isso, a jovem Madison Russell (Millie Bobby Brown, reprisando seu papel de Godzilla 2) se junta ao amigo Josh (Julian Dennison) e ao conspiracionista Bernie (Brian Tyree Henry) para entender por que Godzilla resolveu atacar.

Honestamente, chega a ser triste ver que Godzilla vs. Kong tenta contar uma história. Na tentativa de criar uma justificativa para o embate entre os personagens-título (aspecto que até ocorre naturalmente, vale apontar), o fraquíssimo roteiro nos coloca diante de uma trama previsível e que investe tempo em elementos bobos, dando a impressão de que quer inventar coisas sem muita necessidade, com o próprio conceito da Terra Oca sendo mal utilizado para explicar a origem dos titãs. Isso, porém, nem se compara ao desenvolvimento absolutamente risível dos personagens humanos. Aqui, eles surgem como figuras desinteressantes, unidimensionais e sem qualquer arco dramático, mesmo que o roteiro dê sinais de que gostaria de desenvolver algo nesse sentido, como ao mencionar o irmão de Nathan e uma antiga missão envolvendo a Terra Oca. Assim, sempre que o filme dá atenção aos humanos é inevitável que a narrativa perca o ritmo e se torne enfadonha, algo que o diretor Adam Wingard infelizmente não consegue contornar, ainda mais quando vemos o núcleo de Madison, Josh e Bernie, que soa tão estúpido e inútil que acaba irritando mais que qualquer outra coisa.



Quando foca no quebra-pau entre Godzilla e Kong, porém, o filme ganha pontos e compensa um pouco seus problemas. Nesse quesito, Wingard (que já mostrou habilidade com cenas de ação em produções de escala bem menor, como os ótimos Você é o Próximo e O Hóspede) concebe sequências que fazem jus aos gigantes e aproveita as vantagens e desvantagens que um pode ter em relação ao outro, mostrando que nenhum deles é invencível. Aliás, se o filme tem algum centro emocional, este se encontra exatamente entre esses dois personagens, que são figuras interessantes (seja pelo que foi estabelecido nesta franquia ou pela trajetória deles em décadas de aparições cinematográficas) e têm motivações e vulnerabilidades que os humanizam. Portanto, por mais que o espetáculo de explosões e destruições não tenha peso na narrativa, pouco importando as pessoas que devem padecer nos escombros, ainda assim é relativamente fácil para o público se importar com o que acontece com Godzilla e Kong nas lutas, que ganham um tom mais grandioso graças a trilha composta por Tom Holkenborg.

Com isso, mesmo sendo bem irregular, podemos dizer que Godzilla vs. Kong ao menos funciona naquilo que realmente importa em sua narrativa. Ver o título do filme ganhar vida na tela é o que ele tem de melhor, e até por isso lamento que nossa realidade atual não nos permita assistir a ele em uma sala de cinema. Mas talvez essa pudesse ser uma obra mais consistente caso não precisasse desviar tanto seu foco.


Nota:



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Ouçam também o nosso episódio do Tem Pauta! sobre o filme.