“É preciso parir um filho para
ser mãe?”, questiona um personagem deste Assunto
de Família em determinado momento.
Essa pergunta ajuda a sintetizar
a reflexão que o diretor Hirokazu Koreeda propõe ao longo da história. O que
faz as pessoas serem pais, filhos, avós, netos ou irmãos? O laço sanguíneo seria
mais importante que o laço afetivo? Afinal, o que forma uma família?
Assunto de Família nos coloca diante do grupo formado por Osamu
(Lily Franky), sua esposa Nobuyo (Sakyra Andô), os jovens Aki (Mayu Matsuoka) e
Shota (Jyo Kairi) e a idosa Hatsue (Kirin Kiki), pessoas que parecem ter
simplesmente encontrado umas às outras ao longo da vida, e que levam uma
existência bastante humilde alimentada, entre outras coisas, por sua rotina de roubar
produtos de mercadinhos. Ao apresenta-los, o filme passa a acompanhar o
cotidiano desses personagens e sua dinâmica familiar, ainda mais depois que
eles encontram a pequena Yuri (Miyu Sasaki) aparentemente abandonada e a
acolhem como nova membro da família.
Koreeda não nos mostra como os
personagens se juntaram, preferindo dar breves informações para que imaginemos
como isso aconteceu, o que prova ser suficiente. Mas este não é um detalhe que importe
tanto, já que o foco do diretor é outro. Sendo assim, com uma sensibilidade
ímpar e um elenco absolutamente maravilhoso, Koreeda exibe o carinho que
aquelas pessoas têm umas pelas outras apesar de todas as dificuldades que
enfrentam, se apoiando e compartilhando um amor que parecem não ter tido originalmente
com seus parentes sanguíneos. Dessa forma, é quase inevitável ser conquistado
pelos personagens e tocado por seus risos e suas lágrimas, enquanto cada um tenta
cumprir sua função familiar da melhor maneira possível. Claro que poderíamos
ver a rotina um tanto fora-da-lei que eles levam como algo questionável e nada
saudável, mas no fim isso traz mais camadas de complexidade à dinâmica entre
eles e às questões levantadas pelo diretor, contribuindo para gerar um peso
dramático capaz de balançar o coração do público e que chega ao ápice no
terceiro ato.
Ao final de Assunto de Família, resta apenas processar o encantamento
proporcionado pelos personagens e a riqueza que eles dão a narrativa e suas
discussões. Além, claro, de concluir que a Palma de Ouro do último Festival de
Cannes realmente ficou em ótimas mãos.
Nota:
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