segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Assunto de Família


“É preciso parir um filho para ser mãe?”, questiona um personagem deste Assunto de Família em determinado momento.

Essa pergunta ajuda a sintetizar a reflexão que o diretor Hirokazu Koreeda propõe ao longo da história. O que faz as pessoas serem pais, filhos, avós, netos ou irmãos? O laço sanguíneo seria mais importante que o laço afetivo? Afinal, o que forma uma família?

Assunto de Família nos coloca diante do grupo formado por Osamu (Lily Franky), sua esposa Nobuyo (Sakyra Andô), os jovens Aki (Mayu Matsuoka) e Shota (Jyo Kairi) e a idosa Hatsue (Kirin Kiki), pessoas que parecem ter simplesmente encontrado umas às outras ao longo da vida, e que levam uma existência bastante humilde alimentada, entre outras coisas, por sua rotina de roubar produtos de mercadinhos. Ao apresenta-los, o filme passa a acompanhar o cotidiano desses personagens e sua dinâmica familiar, ainda mais depois que eles encontram a pequena Yuri (Miyu Sasaki) aparentemente abandonada e a acolhem como nova membro da família.

Koreeda não nos mostra como os personagens se juntaram, preferindo dar breves informações para que imaginemos como isso aconteceu, o que prova ser suficiente. Mas este não é um detalhe que importe tanto, já que o foco do diretor é outro. Sendo assim, com uma sensibilidade ímpar e um elenco absolutamente maravilhoso, Koreeda exibe o carinho que aquelas pessoas têm umas pelas outras apesar de todas as dificuldades que enfrentam, se apoiando e compartilhando um amor que parecem não ter tido originalmente com seus parentes sanguíneos. Dessa forma, é quase inevitável ser conquistado pelos personagens e tocado por seus risos e suas lágrimas, enquanto cada um tenta cumprir sua função familiar da melhor maneira possível. Claro que poderíamos ver a rotina um tanto fora-da-lei que eles levam como algo questionável e nada saudável, mas no fim isso traz mais camadas de complexidade à dinâmica entre eles e às questões levantadas pelo diretor, contribuindo para gerar um peso dramático capaz de balançar o coração do público e que chega ao ápice no terceiro ato.

Ao final de Assunto de Família, resta apenas processar o encantamento proporcionado pelos personagens e a riqueza que eles dão a narrativa e suas discussões. Além, claro, de concluir que a Palma de Ouro do último Festival de Cannes realmente ficou em ótimas mãos.



Nota:

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