sábado, 28 de setembro de 2013

Família do Bagulho

Família do Bagulho é uma comédia cuja história é formuláica, previsível e até mesmo esquemática demais. Mas, surpreendentemente, o filme ainda consegue cumprir seu objetivo de entreter o espectador. Isso acontece em grande parte por que ele tem a sorte de contar com um elenco interessante liderado por Jason Sudeikis (ator que vem alcançando relativo sucesso depois de sua saída do Saturday Night Live) e Jennifer Aniston, que acaba salvando o projeto de ser algo aborrecido de se assistir.
Escrito por Bob Fisher e Steve Faber em parceria com Sean Anders e John Morris, baseado no argumento dos dois primeiros, Família do Bagulho conta a história de David Clark (Jason Sudeikis), um simples traficante que não tem muitos objetivos na vida, sendo também uma pessoa sozinha. No entanto, depois que seu dinheiro é roubado, ele é obrigado a aceitar um serviço de seu chefe, Brad Gurdlinger (Ed Helms), e ir até o México pegar uma carga de maconha. Para isso, David tem a ideia de chamar sua vizinha stripper Rose (Jennifer Aniston), além dos jovens Kenny (Will Poulter) e Casey (Emma Roberts), para criar a família Miller, o que facilitaria sua viagem por que a polícia não dá muita atenção para famílias que saem de férias. Mas é claro que as coisas não se revelam tão fáceis quando poderiam, e eles têm que aprender a conviver juntos caso queiram que o plano dê certo.
Dirigido por Rawson Marshall Thurber (o mesmo por trás do divertido Com a Bola Toda), Família do Bagulho conta com um bom timing, que aproveita bem boa parte das sacadas do roteiro, como a cena em que um pacote de maconha é amassado por um caminhão. No entanto, em alguns momentos as gags ou já são muito clichês, como aquela envolvendo um bicho na roupa de um personagem, ou são exploradas e esticadas mais do que deveriam, o que é ainda pior quando o final delas é bastante previsível, como a cena em que Kenny aprende a beijar, ou a outra em que David e Rose se veem tendo que apimentar um pouco a relação de Don e Edie Fitzgerald (interpretados por Nick Offerman e Kathryn Hahn), casal que eles encontram no meio da estrada.
Além disso, o modo como a trama se desenrola, seguindo à risca fórmulas já muito batidas, impede um maior envolvimento com a história, que acaba não sendo tão interessante. Desde o princípio é possível prever as coisas que acontecem ao longo da projeção, e isso inclui até os conflitos entre os personagens. Aliás, os próprios personagens são desenvolvidos de maneira um pouco preguiçosa, algo que se pode ver no momento em que David fala como conheceu Rose, em um diálogo muito expositivo.
Mas mesmo com seus problemas, o filme consegue fazer com que nos importemos com as figuras vistas na tela, e é aí que o elenco carismático e a ótima dinâmica que demonstram em cena acabam fazendo a diferença. Jason Sudeikis diverte interpretando David, protagonizando alguns belos momentos no filme (a cena em que ele quebra a quarta parede e pisca para o público é sensacional) e formando com Jennifer Aniston uma dupla de pais curiosa, ainda que a família seja apenas uma fachada. Já Will Poulter e Emma Roberts surgem eficientes interpretando Kenny e Casey, o que compensa o detalhe de os personagens não serem muito bem desenvolvidos (em nenhum momento fica claro o porquê de eles serem tão sozinhos como vemos no início da história).
Tendo um final um tanto forçado, Família do Bagulho não é uma grande comédia, mas diverte o bastante para deixar o espectador satisfeito ao final da projeção.
Obs.: Apesar de o filme fazer rir, nenhuma de suas piadas supera a brincadeira que fizeram com Jennifer Aniston durante as filmagens e que aparece nos erros de gravação antes dos créditos finais.
Cotação:

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O Tempo e o Vento

Érico Veríssimo fez em “O Tempo e o Vento” uma das principais obras da literatura brasileira, e ela viria a ganhar vida na TV algumas vezes, tendo feito fama na década de 1980 na minissérie estrelada por Glória Pires e Tarcísio Meira. Mas não é surpresa nenhuma ver o livro de Veríssimo ser adaptado novamente em outra mídia, sendo dessa vez o Cinema. O problema disso é que quem ficou responsável pelo projeto é Jayme Monjardim, o mesmo diretor que realizou a grande bomba que foi Olga. E o resultado deste O Tempo e o Vento é o esperado do diretor: um filme de escala épica, mas que se revela muito mal desenvolvido.
Escrito por Letícia Wierzchowski, Marcelo Ruas e Tabajara Ruas, O Tempo e o Vento acompanha a família Terra-Cambará, desde o amor proibido do índio Pedro Missioneiro (Martin Rodriguez) por Ana Terra (Cléo Pires), até o final do século XIX, quando seus atuais membros se encontram em guerra com a família Amaral, na Revolução Federalista. Nisso, vemos Bibiana Terra-Cambará (Fernanda Montenegro) relembrar toda a história da família ao lado do espírito de seu falecido marido, Capitão Rodrigo Cambará (Thiago Lacerda), que vem visitá-la.
Os problemas de O Tempo e o Vento já começam pela estrutura episódica de sua narrativa. Praticamente dividindo a história em segmentos (que são separados por fades de maneira muito pedestre), o roteiro simplesmente não consegue ligar os pontos do filme adequadamente. Em um momento, por exemplo, vemos Rodrigo feliz com a vida que está levando, apenas para na cena seguinte ele estar de mau humor, sem que o motivo para isso fique claro. Dessa forma, a história em si é tratada tão superficialmente por Jayme Monjardim que mal conseguimos nos envolver com ela.
Além disso, é impressionante o quão rasamente os personagens são desenvolvidos, de modo que nem temos como criar uma ligação com eles a ponto de nos importarmos com seus destinos, um ponto que nem mesmo o elenco chega a salvar. Cléo Pires como Ana Terra tem uma atuação nenhum pouco convincente, sendo que a cena na qual ela se assusta ao encontrar Pedro é constrangedora de se ver. E se Marjorie Estiano pouco tem a fazer com a versão jovem de Bibiana, tendo até pouquíssimas falas, Fernanda Montenegro parece surgir como a versão mais velha da personagem apenas para dizer para o espectador o que está acontecendo em cena, tendo uma narração em off que não poderia ser mais expositiva. Em meio a isso, Thiago Lacerda merece créditos por fazer do Capitão Rodrigo uma figura carismática e alto-astral, ainda que seu sotaque gaúcho seja muito forçado.
Enquanto isso, a direção de Jayme Monjardim se revela muito falha não só pela linguagem demasiadamente televisiva que ele usa ao longo da narrativa, mas também pelo jeito burocrático como ele comanda certas cenas, principalmente as batalhas que ocorrem ocasionalmente. E algumas partes da história ainda são tratadas de um jeito simplista demais tanto pelo diretor quanto pelo roteiro, algo que fica claro quando ficamos sabendo através da narração em off de Bibiana que determinado personagem morreu, o que não causa impacto algum. No entanto, vale dizer que a recriação de época do filme é bem realizada, assim como a fotografia de Affonso Beato. Esses elementos contribuem para fazer com que O Tempo e o Vento ao menos aparente ser um épico (uma pena que eles não compensem todos os outros problemas que surgem ao longo da projeção).
O Tempo e o Vento precisaria de pelo menos uns 30 ou 40 minutos a mais para que seus personagens e sua história pudessem ser um pouco melhor desenvolvidos. Talvez na versão minissérie que será exibida em breve na TV alguns desses problemas não apareçam, o que só faz o lançamento dessa versão problemática para cinema ser desnecessário.
Cotação:

domingo, 15 de setembro de 2013

Invocação do Mal

O casal Ed e Lorraine Warren ficou muito conhecido ao longo dos anos por investigar casos incomuns que envolviam atividades paranormais, sendo ele um demonólogo e ela uma médium. Alguns casos acabaram ficando famosíssimos, como o Terror em Amityville, que virou filme duas vezes, em 1979 e em 2005. Na verdade, esse não foi o único incidente investigado pelos Warren a ganhar as telas (Evocando Espíritos, lançado em 2009, é outro exemplo), e por isso não deixa de ser uma surpresa que essas duas figuras surjam em um filme apenas agora neste Invocação do Mal. Mas ao menos eles aparecem em uma produção de terror interessante, que se revela acima da média das obras que vêm sendo lançadas nos cinemas ultimamente
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Escrito pelos irmãos Chad e Carey Hayes (que não têm trabalhos muito memoráveis no currículo), Invocação do Mal se passa em 1971 e mostra Roger e Carolyn Perron (Ron Livingston e Lili Taylor, respectivamente), casal que se muda para uma nova casa ao lado de suas cinco filhas. Mas eles passam a ser amedrontados por seres amaldiçoados que habitam a casa, em uma situação que piora gradativamente. É quando eles decidem chamar Ed e Lorraine (interpretados por Patrick Wilson e Vera Farmiga), que tentam ajuda-los o máximo possível para que eles possam viver em paz.
É uma típica historia de casa mal-assombrada, que segue a fórmula do gênero e usa coisas muito batidas durante o filme, como o relógio tocando, quadros caindo e portas se fechando com força (em determinado momento, tudo isso é usado ao mesmo tempo). No entanto, o diretor James Wan (responsável por obras como o primeiro Jogos Mortais e Sobrenatural, filme com o qual Invocação do Mal tem semelhanças claras) usa esses elementos a favor da história, conseguindo desenvolver uma atmosfera bastante inquietante que percorre toda a narrativa. E com seus suaves movimentos de câmera, Wan constantemente cria expectativas em seu público, o que só contribui para a tensão do filme e também para o sucesso de alguns sustos. Aliás, há um momento específico em que o diretor chega a brincar com essas expectativas, resultando em uma cena divertidíssima envolvendo o policial Brad Hamilton (John Brotherton).
Tecnicamente Invocação do Mal também é muito eficiente. A ótima fotografia de John R. Leonetti, com seus tons de azul e cinza, ajuda a fazer com que o ambiente da trama se torne mais fantasmagórico, algo que também pode ser dito sobre a trilha macabra composta por Joseph Bichara, que lembra um pouco filmes de terror antigos, o que não deixa de ser apropriado considerando a época em que a história se passa. Enquanto isso, a direção de arte e os figurinos fazem uma bela recriação de época, e a montagem de Kirk Morri é competente ao conseguir acompanhar os Perron e os Warren ao mesmo tempo até o momento em que eles se encontram, além de impor um bom ritmo ao filme.
Mas o que surpreende em Invocação do Mal não é só a grande habilidade de James Wan na construção do ambiente do filme, mas também o fato de o roteiro desenvolver seus personagens o suficiente para que nós nos importemos com o destino deles, o que ainda se deve em grande parte ao bom elenco. Se Patrick Wilson encarna Ed Warren com grande determinação, Vera Farmiga faz de Lorraine a personagem mais forte do filme, e a química entre os dois atores é invejável, mostrando que eles ajudam as pessoas, mas não deixam de se preocupar com o que pode acontecer um com o outro. Já Ron Livingston e Lili Taylor estabelecem Roger e Carolyn como figuras comuns e bastante vulneráveis, tendo ainda uma bela dinâmica familiar com as jovens atrizes que interpretam suas filhas (por sinal, essa dinâmica é bem apresentada pelo diretor em um breve plano-sequência que ele faz no logo início do filme).
Contando com várias cenas tensas ao longo da projeção (destaque para a sequência que ocorre no terceiro ato) e prendendo o espectador na cadeira do cinema do início ao fim, Invocação do Mal é um terror bem sucedido em suas propostas. Até por isso acaba sendo uma pena que o filme dê ênfase demais ao detalhe de essa história ser aparentemente real (uma forma de assustar desnecessária). Mas isso acaba importando pouco, já que nossas unhas estarão totalmente roídas quando formos pensar nisso.
Cotação:

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Rush: No Limite da Emoção

O austríaco Niki Lauda e o britânico James Hunt fizeram fama entre as décadas de 1970 e 1980 ao disputarem seguidamente os campeonatos mundiais de Fórmula 1. Era uma rivalidade realmente instigante para os fãs do esporte, em uma época em que este não envolvia tanta segurança para seus competidores. Tal rivalidade agora ganha vida no cinema pelas mãos dos mesmos responsáveis por Frost/Nixon, o roteirista Peter Morgan e o diretor Ron Howard, sendo que este último tem errado mais do que acertado ultimamente. Mas neste Rush: No Limite da Emoção, Howard volta a mostrar talento, realizando um filme que retrata de maneira muito eficiente a vida desses dois excelentes pilotos, desde quando se conheceram nos tempos de Fórmula 3 até seus dias de glória.
O roteiro de Rush estabelece seus dois protagonistas como figuras completamente opostas um do outro, o que de certa forma faz com que as disputas entre eles fiquem ainda mais interessantes. Enquanto Hunt (interpretado por Chris Hemsworth) é um playboy mulherengo que gosta de se divertir e levar uma vida de extravagâncias, o que inclui drogas e álcool, Lauda (Daniel Brühl) se mostra bastante sério, não deixando nada distraí-lo a ponto de ele perder o foco de seus objetivos. Essas são características que eles até acabam levando para as pistas, o que não deixa de ser curioso. No entanto, é inegável que em meio a tantas diferenças, eles ainda têm uma coisa em comum, e esta é a paixão pelo esporte que praticam, mesmo sabendo dos perigos que ele pode representar (algo que Ron Howard faz questão de mostrar de maneira surpreendentemente gráfica, nas cenas em que pilotos sofrem acidentes nos quais acabam perdendo a vida ou ficam gravemente feridos).
Mas para que uma história como essa consiga prender a atenção do espectador, é preciso que os protagonistas sejam figuras pelas quais possamos nos importar. Nesse sentido, Rush tem a sorte de ter em Chris Hemsworth e Daniel Brühl atores que trazem peso dramático para seus personagens. Se o primeiro surge carismático e mais descontraído interpretando James Hunt, o segundo encarna o jeito metódico de Niki Lauda com precisão absoluta, não deixando de mostrar ainda o grande o carinho que ele tem pela esposa Marlene (vivida pela ótima Alexandra Maria Lara). A dinâmica entre Hemsworth e Brühl, por sinal, representa um dos pontos altos da produção, resultando em algumas das melhores cenas do filme. E por o roteiro ser estruturado de forma que possamos seguir os dois protagonistas quase que ao mesmo tempo, vale dizer que a montagem da dupla Daniel P. Hanley e Mike Hill merece créditos por conseguir acompanha-los sem quebrar o ritmo da história.
Enquanto isso, Ron Howard conduz a história com uma energia contagiante, construindo também ótimos momentos de tensão, sendo o principal deles o acidente que resultou em graves queimaduras em Niki Lauda. Além disso, ao usar constantemente a câmera subjetiva nas cenas de corrida, Howard envolve o público um pouco mais em sua narrativa. E assim como ocorre em boa parte das cinebiografias, o diretor e seu roteirista claramente tomam algumas liberdades com relação à história, criando momentos que provavelmente não aconteceram (como quando Hunt ataca um repórter depois de uma pergunta imprópria que este fez para Lauda), mas que funcionam bem dentro da narrativa, e inclusive mostram o grande respeito que os protagonistas têm um pelo outro. Já o design de produção faz um belo trabalho de recriação de época, ao passo que a ótima trilha de Hans Zimmer embala muito bem o filme, desde suas sequências empolgantes (nas corridas) até os momentos mais dramáticos.
Mas Rush não escapa de ter seus problemas. A narrativa episódica adotada pelo roteiro prejudica o impacto que certas cenas poderiam causar. Em determinado momento, por exemplo, vemos os protagonistas começarem na Fórmula 1 e pouco depois Niki Lauda já aparece vencendo seu primeiro campeonato, dando a impressão de que as coisas estão acontecendo rápido demais. E a narração em off, apesar de saltar organicamente entre Hunt e Lauda (diferente do que acontece no recente Sem Dor, Sem Ganho), se revela muito expositiva, surgindo com o propósito de estabelecer os dois personagens na história e sendo quase abandonada logo depois, retornando mais tarde apenas para concluir o filme.
A rivalidade entre Niki Lauda e James Hunt merecia ganhar um filme, e é bom ver isso acontecer em uma produção como Rush, que também não deixa de ser uma grata surpresa neste ano.
Cotação:

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O Ataque

Representando um retorno do diretor alemão Roland Emmerich a superproduções depois de ele ter comandado o thriller de época Anônimo, este O Ataque tenta ser um filme que segue o estilo de Duro de Matar, tendo como cenário a famosa Casa Branca, exatamente como ocorria em Invasão à Casa Branca, de Antoine Fuqua, lançado nos cinemas há alguns meses. Na verdade, se esses dois projetos não tivessem sido desenvolvidos ao mesmo tempo, talvez pudesse existir até uma acusação de plágio. Mas Emmerich não consegue fazer com que seu filme seja mais interessante que o de Fuqua, deixando-o no mesmo nível de seu fraco “irmão gêmeo”.
Escrito por James Vanderbilt (sim, apenas um roteirista, algo cada vez mais raro em superproduções), O Ataque nos apresenta a John Cale (Channing Tatum), um segurança do Capitólio que deseja entrar para a equipe que protege o presidente James Sawyer (Jamie Foxx), já que assim ele talvez consiga impressionar sua filha, Emily (Joey King), com quem não tem um grande relacionamento. Depois de ter o emprego negado na entrevista com sua velha conhecida Carol Finnerty (Maggie Gyllenhaal), John decide fazer um tour pela Casa Branca ao lado de Emily, mas vê o local ser invadido por terroristas que pretendem usar o presidente em planos que podem colocar em risco as relações internacionais do país. John consegue fugir do grupo, e dessa forma acaba se tornando a única esperança para salvar não só os reféns, o que inclui sua filha, mas também o presidente, com quem se une para estragar os planos dos vilões.
Os problemas de O Ataque começam pelo roteiro óbvio demais, trazendo uma trama bastante formuláica e incluindo reviravoltas previsíveis ao longo da projeção, como por exemplo, aquela envolvendo a identidade do vilão principal (que ocorre no início do segundo ato). Além disso, o filme segue clichês irritantes, como quando Emily surge chamando seu pai de “John” (pelo visto não houve outra maneira de destacar o relacionamento distante deles) ou o detalhe de um personagem levar um tiro, mas ser salvo por um objeto que tinha guardado. E vale dizer ainda que O Ataque praticamente copia algumas coisas de Duro de Matar, como ao colocar um dos capangas se irritando com a perda de um companheiro e querendo o sangue do protagonista, ou ao fazer certos personagens que estão do lado de fora da Casa Branca agirem de maneira estúpida, chegando a ponto de ignorar as informações que John passa para eles.
Roland Emmerich dirige o filme da mesma forma explosiva com a qual estamos acostumados (afinal, estamos falando do diretor de Independence Day, O Dia Depois de Amanhã e 2012). No entanto, ele não chega a fazer com que as sequências de ação sejam interessantes, sendo que em determinados momentos ele mal consegue deixar clara a geografia delas (como na grande cena de perseguição no jardim da Casa Branca), impedindo que o espectador se envolva com o que vê na tela. E por o roteiro investir bastante em momentos mais cômicos (e que nem sempre funcionam), a tensão que poderia percorrer a narrativa acaba não funcionando, o que também se deve ao fato de nós não temermos pelos destinos dos personagens.
Enquanto isso, Channing Tatum até traz algum carisma para John, além de convencer como um herói de ação, ao passo que Jamie Foxx tem em James Sawyer o presidente que mais pegou em armas desde Harrison Ford em Força Aérea Um, e diverte por causa disso em alguns momentos (o roteiro ainda tenta tornar o personagem mais vulnerável ao incluir o detalhe de ele ser claustrofóbico, o que não acrescenta muita coisa considerando que depois ele encara lugares fechados sem maiores problemas). Já Maggie Gyllenhaal faz sua Carol Finnerty ser a pessoa mais confiável do lado de fora da Casa Branca, enquanto que Joey King encarna Emily como uma criança aborrecida durante a maior parte do tempo. E James Woods e Jason Clarke fazem o que podem com Martin Walker e Emil Stenz, respectivamente.
Quando O Ataque chega ao final de sua história, resta concluir que 2013 definitivamente não foi um ano muito bom para quem quis fazer filmes em que terroristas invadem a residência do presidente americano. Acho que teria sido melhor se tivessem deixado o local em paz.
Cotação:

sábado, 7 de setembro de 2013

Filmes Gêmeos

Filmes com tramas parecidas e que são lançados na mesma época são bastante comuns, e para eles existe o termo “filmes gêmeos”. Este ano, dois filmes de ação colocaram terroristas invadindo a Casa Branca: Invasão à Casa Branca, de Antoine Fuqua, e O Ataque, de Roland Emmerich, que está estreando nessa semana. Sendo assim, aproveito essa oportunidade para lembrar outros casos de produções que podem ser classificadas por esse termo (e coloquei quais ganham em suas respectivas disputas).
- O Ilusionista (The Illusionist, 2006), de Neil Burguer / O Grande Truque (The Prestige, 2006), de Christopher Nolan:
Qual ganha? O Grande Truque.
O Ilusionista e O Grande Truque se passam mais ou menos na mesma época e trazem mágicos em suas histórias. O primeiro tem um início promissor e uma boa atuação de Edward Norton como o protagonista Eisenheim, mas acaba se perdendo ao se concentrar em um romance desinteressante entre ele e sua antiga paixão, Sophie (Jessica Biel), além de subestimar a inteligência do espectador em vários momentos. Já O Grande Truque foca uma rivalidade instigante entre seus dois personagens principais, Robert Angier e Alfred Borden (interpretados pelos excepcionais Hugh Jackman e Christian Bale), e que traz consequências trágicas para a vida de ambos. E o modo como o diretor Christopher Nolan e seu irmão, Jonathan, construíram a história é de tirar o fôlego. É um filme fascinante do início ao fim.
- Impacto Profundo (Deep Impact, 1998), de Mimi Leder / Armageddon (1998), de Michael Bay:
Qual ganha? Armageddon.
Tanto Impacto Profundo quanto Armageddon são filmes-catástrofe em que um meteoro está prestes a colidir com a Terra. Mas enquanto o primeiro se revela uma besteira cujo drama dos personagens não funciona como deveria, desperdiçando um elenco com nomes de peso como Robert Duvall e Morgan Freeman, o segundo mostra ser um filme mais divertido e que faz com que nos importemos com as figuras vistas na história. Sim, estou elogiando um filme de Michael Bay, que parecia saber exatamente o que fazer neste projeto.
- Espelho, Espelho Meu (Mirror Mirror, 2012), de Tarsem Singh / Branca de Neve e o Caçador (Snow White and the Huntsman, 2012), de Rupert Sanders:
Qual ganha? Empate.
Dois filmes da Branca de Neve foram lançados no ano passado, sendo que as histórias tinham propostas diferentes uma da outra. Mas ambos acabaram sendo projetos muito falhos. Espelho, Espelho Meu busca ser algo mais cômico, mas consegue ser apenas bobo até não poder mais, chegando ao ápice disso com um número musical a lá cinema indiano no terceiro ato. Já Branca de Neve e o Caçador tenta ser uma versão mais sombria e adulta do conto original, colocando até um tom mais épico em sua história, mas mostra não ter muito cacife pra fazer jus a essa proposta curiosa. E só um espelho chapado diria que Kristen Stewart é mais bela que Charlize Theron, o que já vai contra a natureza da história.
- Formiguinhaz (Antz, 1998), de Eric Darnell e Tim Johnson / Vida de Inseto (A Bug’s Life, 1998), de John Lasseter:
Qual ganha? Formiguinhaz.
A Pixar havia acabado de estourar com o sucesso de Toy Story, e seu projeto seguinte, Vida de Inseto, mostrou ser uma produção divertida, apesar de não se encontrar entre os melhores filmes do estúdio. Enquanto isso, sua rival, a PDI/Dreamworks, nasceu e começou muitíssimo bem no mercado de animações com Formiguinhaz. Contando com um protagonista carismático na pele da formiga neurótica Z (que tem Woody Allen como dublador, em uma escalação absolutamente perfeita), o filme diverte com sua trama inteligente, em que o personagem se rebela contra o sistema de sua sociedade.
- Sexo Sem Compromisso (No Strings Attached, 2011), de Ivan Reitman / Amizade Colorida (Friends With Benefits, 2011), de Will Gluck:
Qual ganha? Amizade Colorida.
Amigos que fazem sexo, e não querem se envolver em nada maior do que isso. Essa é a ideia que compõe as histórias de Sexo Sem Compromisso e Amizade Colorida, e ambos os filmes são bem formuláicos. No entanto, se o primeiro é aborrecido em vários momentos, o segundo consegue acertar um pouco mais em suas piadas, sendo um passatempo divertido. E para a minha surpresa na época, Justin Timberlake e Mila Kunis se revelaram mais carismáticos do que Ashton Kutcher e Natalie Portman, tendo até mesmo uma química melhor.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Elena

(Obs.: Como vocês poderão notar, a crítica de Elena saiu um pouco diferente de qualquer outra que escrevi. Redigi-la em forma de carta para a diretora Petra Costa foi a única maneira que encontrei para que minhas ideias fluíssem melhor e se encaixassem em um texto)
Cara Petra,
Recentemente fui ao cinema e assisti ao seu documentário, Elena. Quase me atrasei para a sessão, mas felizmente cheguei a tempo. Horas depois dos 80 minutos de duração do filme eu ainda me encontrava refletindo sobre o que havia acabado de assistir. Para falar a verdade, continuo refletindo enquanto escrevo estas palavras. Isso porque ele trata de um assunto que não poderia ser mais pessoal, e certamente deve ter exigido muita coragem de sua parte na hora de realizá-lo. Afinal, acredito que não tenha sido fácil revisitar seu doloroso passado, em especial o ano de 1990, época do suicídio de sua grande irmã que dá titulo ao filme. E por mais pessoal que o filme seja, é incrível como você consegue deixar o espectador envolvido ao longo de toda a narrativa.
Descrevi Elena como uma “grande irmã” porque algo que fica evidente no filme é o amor incondicional que envolvia vocês duas, algo que pode ser visto não só em sua narração em off, mas também nas várias imagens de arquivo que você utiliza para compor a narrativa e que são inseridas no filme sempre organicamente (dê meus parabéns às montadoras Marilia Moraes e Tina Baez pelo ótimo trabalho). Por todo o carinho que demonstravam ter uma pela outra, é lamentável você tenha vivido apenas sete anos com sua irmã, não tendo muita chance de crescer com ela ao seu lado, comemorando aniversários e compartilhando experiências e segredos.
Aliás, já que mencionei sua narração em off, devo dizer que ela deixa clara a admiração que você tinha por Elena, além de ser muito interessante ver que são incluídas no filme palavras que gostaria de ter falado para ela, mas não pôde. O documentário acaba sendo uma maneira brilhante que você encontrou para de certa forma enviar uma carta para Elena, ao mesmo tempo em que refaz os passos dela pelas ruas de Nova York, chegando ao ponto de conversar com pessoas que a conheceram e conviveram com ela, como por exemplo, o namorado dela, em quem Elena claramente deixou marcas, que podem ser vistas na emoção que ele sente ao falar sobre ela e os momentos difíceis que ele presenciou. Acompanhá-la nessa jornada é tocante por este ser um jeito de você ter algum contato com Elena novamente. Dessa forma, acho que qualquer pessoa que perdeu alguém muito querido pode se identificar com o que você faz aqui. E ver você girar no meio de uma rua nova-iorquina da mesma maneira que sua irmã fazia em um espetáculo que estrelou é uma cena muito marcante.
Nas imagens de arquivo, vemos que Elena era uma jovem linda e sonhadora, mesmo quando o Brasil vivia os tempos difíceis da Ditadura Militar. Ela queria ser atriz, e tentou sem sucesso realizar esse sonho ao ir para os Estados Unidos. Até por isso sua história se revela tão arrebatadora, já que ela tirou a própria vida sem ter tido uma chance de mostrar seus talentos e cumprir seus objetivos. Em determinado momento, você lê uma carta na qual Elena diz ter se encontrado com Francis Ford Coppola e conversado sobre um possível papel em O Poderoso Chefão 3. Infelizmente, isso parece ter ficado apenas na conversa, mas fico pensando se ela não teria sido uma Mary Corleone melhor que a filha do diretor, Sofia.
Depois de ver Elena, fui atrás de Olhos de Ressaca, o curta-metragem que você fez em 2009. Se lá você já demonstrava talento (além de um interesse particular por narrativas que envolvam memórias), então Elena a confirma como um nome que merece atenção. Acho que posso dizer com segurança que este é um dos melhores filmes do ano, e agradeço por compartilhar essa história comigo e várias outras pessoas.
Espero curioso pelo seu próximo trabalho.
Cotação:

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Truque de Mestre


Trazendo um grupo de mágicos famosos que cometem roubos milionários durante seus shows, Truque de Mestre é um heist movie cuja ideia é no mínimo curiosa. Ela inclusive pode ter se originado através de uma simples curiosidade: como seria uma mistura de Onze Homens e Um Segredo com O Grande Truque? O resultado disso é um filme que diverte dentro do possível ao longo de suas duas horas de duração, mas que fica longe da qualidade das obras que parecem tê-lo influenciado.


Escrito por Ed Solomon em parceria com Boaz Yakin e Edward Ricourt, e com argumento assinado por estes dois últimos, Truque de Mestre nos apresenta a Daniel Atlas (Jesse Eisenberg), Merritt McKinney (Woody Harrelson), Henley Reeves (Isla Fisher) e Jack Wilder (Dave Franco), mágicos independentes que são reunidos por um ser misterioso, formando o grupo chamado de Os Quatro Cavaleiros. Depois de um ano juntos, eles realizam um de seus maiores truques: roubam um banco de Paris durante um show em Las Vegas e dão o dinheiro para a plateia. Isso acaba colocando em seu encalço o agente do FBI Dylan Rhodes (Mark Ruffalo) e sua nova parceira da Interpol, Alma Dray (Mélanie Laurent), dupla que ainda ganha uma ajuda de Thaddeus Bradley (Morgan Freeman), ex-mágico que agora busca apenas desvendar segredos por trás de truques de mágica.
Contando com um ágil trabalho de montagem por parte da dupla Robert Leighton e Vincent Tabaillon, Truque de Mestre consegue manter o público envolvido em sua trama durante a maior parte do tempo. O diretor Louis Leterrier (responsável por filmes como o bom O Incrível Hulk e o fraco Fúria de Titãs) se mostra seguro na condução das cenas de ação, mantendo elas sempre compreensíveis mesmo com o ritmo frenético da narrativa. Exemplo disso é a sequência em que Jack luta e foge de agentes do FBI, que representa um dos melhores momentos do filme. Aliás, só em um projeto como esse (ou talvez em um capítulo da franquia X-Men) veremos um personagem se defender usando um baralho de cartas, algo que faz parte da diversão (na verdade, as habilidades do quarteto principal rendem cenas bem divertidas).
No entanto, isso não apaga uma série de problemas que se vê ao longo do filme, sendo que boa parte deles surge em decorrência do fato de Truque de Mestre se preocupar demais em querer surpreender o espectador. Sendo assim, o roteiro inclui certas reviravoltas (algumas até previsíveis) sem pensar no impacto que elas terão na história, o que pode ser visto no momento em que a identidade do cérebro por trás das operações dos Quatro Cavaleiros é revelada, prejudicando a trama como um todo ao fazer com que várias coisas vistas até então se tornem ilógicas. Além disso, o filme não escapa de ter alguns elementos óbvios, como o relacionamento entre os agentes Rhodes e Dray, que conta com um desenvolvimento formuláico. E é uma pena que o roteiro sinta a necessidade de explicar passo a passo como que determinadas mágicas são realizadas, o que em alguns casos parece subestimar a inteligência do público.
Mesmo assim, Truque de Mestre ainda consegue chamar a atenção, devendo muito disso ao elenco. Jesse Eisenberg (cada vez mais especialista em seu método “fala rápida” de atuação), Woody Harrelson, Isla Fisher e Dave Franco trazem algum charme para personagens que certamente seriam desinteressantes nas mãos de intérpretes menos carismáticos, tendo ainda uma boa dinâmica em cena, ao passo que Mark Ruffalo e Mélanie Laurent fazem de Rhodes e Dray figuras determinadas. Mas vale dizer que é um sacrilégio ver atores fantásticos como Michael Caine e Morgan Freeman em papeis coadjuvantes que não têm muito o que fazer ao longo da história. Freeman até tem mais espaço no filme, mas Thaddeus Bradley não é um personagem bem desenvolvido pelo roteiro, servindo quase que exclusivamente para explicar os vários truques que vemos na tela, enquanto que Caine surge apagado e no piloto automático como o milionário Arthur Tressler, que é deixado de lado a partir de determinado momento.
Por mais que entretenha, Truque de Mestre talvez fosse um pouco melhor caso não pensasse ser mais inteligente do que realmente é. Resta esperar que sua já confirmada continuação consiga divertir sem cometer os mesmos erros vistos aqui.
Obs.: Há uma cena durante os créditos finais.
Cotação: