sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Rush: No Limite da Emoção

O austríaco Niki Lauda e o britânico James Hunt fizeram fama entre as décadas de 1970 e 1980 ao disputarem seguidamente os campeonatos mundiais de Fórmula 1. Era uma rivalidade realmente instigante para os fãs do esporte, em uma época em que este não envolvia tanta segurança para seus competidores. Tal rivalidade agora ganha vida no cinema pelas mãos dos mesmos responsáveis por Frost/Nixon, o roteirista Peter Morgan e o diretor Ron Howard, sendo que este último tem errado mais do que acertado ultimamente. Mas neste Rush: No Limite da Emoção, Howard volta a mostrar talento, realizando um filme que retrata de maneira muito eficiente a vida desses dois excelentes pilotos, desde quando se conheceram nos tempos de Fórmula 3 até seus dias de glória.
O roteiro de Rush estabelece seus dois protagonistas como figuras completamente opostas um do outro, o que de certa forma faz com que as disputas entre eles fiquem ainda mais interessantes. Enquanto Hunt (interpretado por Chris Hemsworth) é um playboy mulherengo que gosta de se divertir e levar uma vida de extravagâncias, o que inclui drogas e álcool, Lauda (Daniel Brühl) se mostra bastante sério, não deixando nada distraí-lo a ponto de ele perder o foco de seus objetivos. Essas são características que eles até acabam levando para as pistas, o que não deixa de ser curioso. No entanto, é inegável que em meio a tantas diferenças, eles ainda têm uma coisa em comum, e esta é a paixão pelo esporte que praticam, mesmo sabendo dos perigos que ele pode representar (algo que Ron Howard faz questão de mostrar de maneira surpreendentemente gráfica, nas cenas em que pilotos sofrem acidentes nos quais acabam perdendo a vida ou ficam gravemente feridos).
Mas para que uma história como essa consiga prender a atenção do espectador, é preciso que os protagonistas sejam figuras pelas quais possamos nos importar. Nesse sentido, Rush tem a sorte de ter em Chris Hemsworth e Daniel Brühl atores que trazem peso dramático para seus personagens. Se o primeiro surge carismático e mais descontraído interpretando James Hunt, o segundo encarna o jeito metódico de Niki Lauda com precisão absoluta, não deixando de mostrar ainda o grande o carinho que ele tem pela esposa Marlene (vivida pela ótima Alexandra Maria Lara). A dinâmica entre Hemsworth e Brühl, por sinal, representa um dos pontos altos da produção, resultando em algumas das melhores cenas do filme. E por o roteiro ser estruturado de forma que possamos seguir os dois protagonistas quase que ao mesmo tempo, vale dizer que a montagem da dupla Daniel P. Hanley e Mike Hill merece créditos por conseguir acompanha-los sem quebrar o ritmo da história.
Enquanto isso, Ron Howard conduz a história com uma energia contagiante, construindo também ótimos momentos de tensão, sendo o principal deles o acidente que resultou em graves queimaduras em Niki Lauda. Além disso, ao usar constantemente a câmera subjetiva nas cenas de corrida, Howard envolve o público um pouco mais em sua narrativa. E assim como ocorre em boa parte das cinebiografias, o diretor e seu roteirista claramente tomam algumas liberdades com relação à história, criando momentos que provavelmente não aconteceram (como quando Hunt ataca um repórter depois de uma pergunta imprópria que este fez para Lauda), mas que funcionam bem dentro da narrativa, e inclusive mostram o grande respeito que os protagonistas têm um pelo outro. Já o design de produção faz um belo trabalho de recriação de época, ao passo que a ótima trilha de Hans Zimmer embala muito bem o filme, desde suas sequências empolgantes (nas corridas) até os momentos mais dramáticos.
Mas Rush não escapa de ter seus problemas. A narrativa episódica adotada pelo roteiro prejudica o impacto que certas cenas poderiam causar. Em determinado momento, por exemplo, vemos os protagonistas começarem na Fórmula 1 e pouco depois Niki Lauda já aparece vencendo seu primeiro campeonato, dando a impressão de que as coisas estão acontecendo rápido demais. E a narração em off, apesar de saltar organicamente entre Hunt e Lauda (diferente do que acontece no recente Sem Dor, Sem Ganho), se revela muito expositiva, surgindo com o propósito de estabelecer os dois personagens na história e sendo quase abandonada logo depois, retornando mais tarde apenas para concluir o filme.
A rivalidade entre Niki Lauda e James Hunt merecia ganhar um filme, e é bom ver isso acontecer em uma produção como Rush, que também não deixa de ser uma grata surpresa neste ano.
Cotação:

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