quinta-feira, 28 de março de 2013

Killer Joe: Matador de Aluguel

Na década de 1970, o cineasta William Friedkin se tornou, ao lado de figuras como Martin Scorsese e Francis Ford Coppola, um dos realizadores mais prestigiados de uma grande fase do cinema norte-americano: a Nova Hollywood. Responsável por obras-primas como Operação França e O Exorcista, além de produções eficientes como o polêmico Parceiros da Noite, Friedkin parece ter sido quase esquecido nos últimos anos. Sem comandar uma produção cinematográfica desde 2006 (quando fez Possuídos, que ainda não assisti), é bom ver um cineasta como ele retornar com um filme como este Killer Joe, onde mostra que seu talento definitivamente não desapareceu.
Escrito por Tracy Letts (a partir da peça de sua autoria), Killer Joe nos apresenta a família Smith, que conta com seres humanos absolutamente desprezíveis. Desesperado por estar devendo seis mil dólares a um traficante, o jovem Chris (Emile Hirsch) tenta arranjar a grana com seu pai, Ansel (Thomas Haden Church), mas sem sucesso. Sendo assim, o rapaz bola o plano de matar a própria mãe para ficar com o dinheiro do seguro, destinado a sua irmã, Dottie (Juno Temple). Para realizar o trabalho sujo, Chris resolve chamar Joe Cooper (Matthew McConaughey), detetive e assassino de aluguel nas horas vagas. Ao ver que Chris não tem o dinheiro para contratar seus serviços, Joe coloca Dottie como caução até receber seu pagamento.
Contando com um belo trabalho do veterano diretor de fotografia Caleb Deschanel, que mergulha o ambiente do filme constantemente em sombras, William Friedkin é hábil ao estabelecer aquele universo como algo hostil e sujo já nos primeiros minutos de projeção. Isso acaba combinando com os personagens que desfilam pela tela, que mostram ser figuras bastante instáveis e nenhum pouco dignas de confiança, além de se importarem mais consigo mesmas do que com qualquer outra coisa. Logo na sequência inicial, por exemplo, vemos Chris discutir com sua madrasta, Sharla (Gina Gershon), enquanto seu pai mostra ser preguiçoso demais até para pensar.
O roteiro de Letts ainda desenvolve algumas cenas com uma calma admirável. No entanto, vale dizer que Friedkin consegue colocar na narrativa um ritmo envolvente do início ao fim, além de impor um nível de tensão inquietante, o que acaba sendo importantíssimo por que tais cenas poderiam soar aborrecidas e até mais longas do que o necessário caso não fossem tão interessantes. Pra completar, Letts desenvolve muito bem as reviravoltas da história, e o surpreendente (e em alguns momentos estranho) humor que percorre a narrativa nunca deixa de ser eficiente ao explorar o estado de seus personagens, como quando Sharla arranca um fio do terno de Ansel, resultando em um defeito maior que o esperado.
O elenco reunido para interpretar esses personagens é sem dúvida um dos pontos altos de Killer Joe. Emile Hirsch interpreta Chris como alguém aparentemente seguro quanto ao que precisa fazer ao mesmo tempo em que traz uma bela ingenuidade para o papel. Já Juno Temple faz de Dottie uma menina doce e frágil, mas que mesmo assim nunca deixa de se encaixar perfeitamente em sua família problemática. Enquanto isso, Thomas Haden Church retrata com competência a ignorância de Ansel, algo que também pode ser dito sobre Gina Gershon e a indecência de Sharla.
Mas quem realmente brilha no filme é Matthew McConaughey, um ator muito bacana e que ultimamente tem participado de projetos artisticamente mais ousados, esquecendo as comédias românticas rasteiras as quais se dedicou durante boa parte da década passada. Joe é um sujeito interessante e McConaughey não só tem uma presença em cena muito boa como ainda interpreta o personagem investindo em uma fala mansa e uma expressão séria, o que o torna uma figura muito imprevisível. E é admirável ver como o ator consegue fazer de Joe um cara que em um segundo pode não estar muito tranquilo, mas no segundo seguinte surge como um cavalheiro sorridente, em uma mudança brusca, mas bastante natural. E quando abraça sem pudores toda a loucura do personagem, McConaughey acaba sendo responsável por boa parte do sucesso do incrivelmente insano terceiro ato da trama. É uma atuação que merecia ter recebido mais atenção nessa temporada de prêmios.
Incluindo uma cena que não sairá da mente de seus espectadores tão cedo (um frango frito possivelmente não será mais visto como normalmente), Killer Joe deixa a esperança de que William Friedkin continue fazendo belos filmes e Matthew McConaughey continue buscando fazer parte de projetos ambiciosos. O talento de ambos não deve ser desperdiçado.
Cotação:

domingo, 24 de março de 2013

Maratona de Clássicos

Nos últimos dias, venho assistindo a vários filmes considerados clássicos da história do cinema. Todos faziam parte de uma lista de produções que eu já deveria ter assistido há algum tempo. Na falta do que publicar aqui no blog (ando ficando sem ideias, infelizmente), comento agora algumas dessas obras que são imperdíveis para qualquer cinéfilo.
- A Felicidade Não se Compra (It’s a Wonderful Life, 1946), de Frank Capra:
A história de A Felicidade Não se Compra meio que já serviu de base para outros filmes, como As Novas Aventuras de Riquinho e o ótimo Um Homem de Família (estrelado por Nicolas Cage). Com James Stewart em uma grande atuação, o filme coloca o ator interpretando George Bailey, um banqueiro que sempre ajudou as boas pessoas da cidade de Bedford Falls. Mas em um momento difícil, George pensa em se matar, sendo impedido pelo anjo Clarence (Henry Travers), que o mostra como a cidade seria caso ele nunca tivesse existido.
Apesar de demorar para chegar no ponto principal da trama, A Felicidade Não se Compra encanta do início ao fim com a bondade de seu protagonista e a simpatia de sua história, resultando em momentos muito tocantes. É um filme que merece toda a fama de ser o clássico definitivo de Natal.
- Sindicato de Ladrões (On the Waterfront, 1954), de Elia Kazan:
Marlon Brando domina a tela interpretando Terry Malloy em Sindicato de Ladrões, provando o porquê de ser considerado por muitos como o melhor ator de todos os tempos. A presença que ele tinha em cena somada à naturalidade que ele exibia é algo absolutamente fascinante. É muito interessante, por exemplo, ver Brando em determinado momento brincar com a luva de sua parceira de cena, Eva Marie Saint, em um ato claramente improvisado.
Mas não é só Brando que arrebenta no filme. O elenco todo traz grande força para seus personagens, desde Karl Malden como o Padre Barry até Lee J. Cobb como o vigarista Johnny Friendly. E a bela direção de Elia Kazan é outro show à parte. Aliás, muitos consideram Sindicato de Ladrões como sendo um pedido de desculpas ou uma espécie de defesa de Kazan, que testemunhou no Comitê de Atividades Antiamericanas do Congresso e entregou oito colegas de trabalho comunistas.
- Assim Caminha a Humanidade (Giant, 1956), de George Stevens:
Com um grande elenco liderado por Elizabeth Taylor, Rock Hudson e James Dean, Assim Caminha a Humanidade acompanha seus personagens durante décadas, tratando de maneira interessante as mudanças sociais que ocorrem ao longo dos anos, como por exemplo o racismo com relação aos mexicanos. Além disso, apesar de Elizabeth Taylor e Rock Hudson terem atuações muito competentes como Leslie e Bick Benedict, é mesmo James Dean quem rouba o filme sempre que aparece interpretando Jett Ritter. Isso faz com que sua morte precoce (que aconteceu pouco depois do fim das filmagens deste filme) seja ainda mais lamentável.
- Intriga Internacional (North by Northwest, 1959), de Alfred Hitchcock:
Contando com algumas das cenas mais famosas da filmografia de Alfred Hitchcock, como quando Cary Grant é perseguido por um avião em um milharal ou a grande sequência que se passa no Monte Rushmore, Intriga internacional é mais uma obra-prima do Mestre do Suspense.
Tendo uma história intrigante onde o personagem de Grant é confundido com o homem que está tentando acabar com os planos dos vilões (interpretados por James Mason e Martin Landau), Intriga Internacional é envolvente do início ao fim e com níveis de tensão muito bem impostos por Hitchcock quando necessários. É, em suma, um thriller exemplar e empolgante.
- Lawrence da Arábia (Lawrence of Arabia, 1962), de David Lean:
Grande vencedor do Oscar de 1963, Lawrence da Arábia são quase quatro horas de puro espetáculo. O que David Lean faz ao longo do filme é realmente impressionante, conduzindo com maestria a história do tenente T.E. Lawrence e criando momentos muito impactantes, desde a cena em que o protagonista é obrigado a matar um homem que havia salvado anteriormente até as belíssimas cenas de batalha.
Com um Peter O’Toole magistral no centro da narrativa (incrível como ele nunca ganhou um Oscar, tendo sido indicado oito vezes) e um maravilhoso elenco de apoio que inclui Omar Sharif e Alec Guinness, Lawrence da Arábia é, sem dúvida, um épico inesquecível.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Breve Comentário - A Busca

A Busca não deixa de compartilhar um elemento bastante comum ao de outros filmes: casal precisa colocar panos quentes em seus problemas por um motivo maior do que eles (nesse caso, o filho desaparecido). Mesmo assim, esta nova produção se mostra interessante em seus minutos iniciais (quando fica mais ou menos estabelecido como que os personagens chegaram àquele ponto no relacionamento), dando indícios de que o virá a seguir será um filme tenso, com um pai à procura de seu filho. Mas é uma pena que não seja isso que aconteça ao longo da projeção.
Escrito por Elena Soarez e pelo diretor Luciano Moura, A Busca nos apresenta a Theo Gadelha (Wagner Moura), médico que tem uma relação conturbada tanto com a esposa, Branca (Mariana Lima), quanto com seu filho, Pedro (Brás Antunes). Prestes a completar 15 anos, Pedro foge de casa deixando seu pais desesperados. Sendo assim, o casal esquece qualquer tensão que havia entre eles, e Theo parte em busca do filho desaparecido, seguindo qualquer pista quanto ao seu paradeiro e com a promessa de voltar apenas quando encontrá-lo.
Apesar de a jornada de Theo poder ser uma metáfora de um pai tentando (literalmente) se aproximar do filho, Luciano Moura impõe um ritmo calmo demais para guiar a história, não conseguindo colocar um tom de urgência a toda situação, o que compromete muito a tensão que o filme poderia ter. Isso ainda piora graças à tranquilidade que o protagonista passa a ter quando ele pensa estar chegando perto de cumprir seu objetivo, o que é até lamentável se considerarmos que, antes disso, Wagner Moura consegue retratar muito bem a preocupação do personagem, como quando ele está em um bote e grita por se sentir um tanto impotente.
Além disso, o roteiro assume uma estrutura episódica de road movie quando Theo passa a seguir os rastros do filho, colocando em seu caminho algumas pessoas que parecem gostar de ser obstáculos, não tendo muita vontade de prestar ajuda mesmo sabendo que auxiliaram o garoto em alguma coisa. Como se não bastasse, é incrível a falta de noção que os personagens mostram ter em determinado momento, já que com um pouco de inteligência eles certamente poderiam acabar com o grande mistério da história na metade da projeção.
Pouco envolvente e com momentos de humor que destoam muito da história (como quando Theo rouba um celular), A Busca infelizmente é um filme que não chega a aproveitar tão bem sua premissa, não sendo tão bom quanto poderia.
Cotação:

quinta-feira, 14 de março de 2013

Personagens Marcantes - Holly Golightly

No último dia 20 de janeiro, completamos 20 anos sem a maravilhosa Audrey Hepburn. Na época, acabei me perdendo em meio a tantas publicações e não consegui fazer uma homenagem à atriz (de quem sou fã incondicional). Mas é um prazer homenagear a Srta. Hepburn dedicando o espaço de Personagens Marcantes desse mês a Holly Golightly, uma das personagens mais famosas de sua carreira e protagonista de uma das comédias românticas mais clássicas do cinema: Bonequinha de Luxo. É uma homenagem pequena perto da grandeza da atriz, mas é o mínimo que eu poderia fazer após ela encantar tantos cinéfilos em seus filmes.
Criada por Truman Capote para seu livro “Breakfast at Tiffany’s”, Holly Golightly iria ser interpretada por Marylin Monroe, ideia que o próprio escritor adorou. Mas depois que a atriz recusou o papel, os produtores chamaram Audrey Hepburn. Originalmente, Holly é uma garota de programa bissexual, que gosta de falar palavrão e fumar maconha, ou seja, absolutamente nada parecido com a imagem simples e quase beatificada que Hepburn sempre manteve ao longo dos anos. Não é à toa que modificaram bastante a personagem para que ela se encaixasse na atriz.
De qualquer forma, Hepburn brilha sempre que surge interpretando Holly, que em suas mãos se tornou uma figura delicada, excêntrica, elegante e muito carismática, do tipo pelo qual é muito difícil não se apaixonar, ainda mais depois de ouvi-la cantar a bela “Moon River” sentada na janela de seu apartamento, em uma das melhores cenas do filme. Como resultado, Hepburn conseguiu sua quarta indicação ao Oscar de Melhor Atriz, em 1962. É difícil imaginar como Holly seria caso tivesse sido transportada do livro para as telas da maneira como foi concebida (certamente tornaria o filme um pouco mais pesado, em uma época em que Hollywood ainda tinha sua parcela de conservadorismo), mas a verdade é que ela se tornou uma figura muito icônica em seu vestido preto, seu penteado e sua piteira.
Além disso, o relacionamento que Holly tem com Paul Varjak (interpretado por George Peppard) torna a personagem uma figura ainda mais interessante, já que ela se abre um pouco mais com o rapaz, que logicamente acaba conquistando o coração dela. E a química que Hepburn e Peppard desenvolvem para o casal é realmente estonteante, o que pode ser notado, por exemplo, na cena em que eles tentam roubar alguma coisa de uma loja (um dos momentos mais divertidos do filme). É delicioso ver os dois juntos na tela ao longo do filme, mesmo quando estão brigando (“Leva-se quatro segundo para chegar até a porta. Eu te dou dois”, diz Holly em determinado momento).
Hoje em dia, é praticamente impossível encontrar um lugar que venda acessórios referentes a cinema que não tenha algum objeto estampando a personagem (seja uma almofada, uma caneca ou até mesmo um quadro). Isso é só uma amostra do impacto que Bonequinha de Luxo e sua Holly Golightly tiveram ao longo dos últimos 50 anos. E depois de assistir a esse filme, é muito provável que as pessoas tenham saído (e ainda saiam) mais maravilhadas com Audrey Hepburn.

domingo, 10 de março de 2013

Oz: Mágico e Poderoso

Desde que O Mágico de Oz se tornou um dos grandes clássicos do cinema, já houve várias tentativas de transformá-lo em uma franquia cinematográfica bem sucedida. No entanto, nenhuma outra produção envolvendo o mundo criado pelo escritor L. Frank Baum chegou perto do sucesso alcançado pela inesquecível obra de 1939, dirigida por Victor Fleming. Com a onda de prequels que estão sendo lançadas, agora temos a chance de ver como essa história começou neste Oz: Mágico e Poderoso, que se passa muito antes de Dorothy ir para Oz. Mas por mais interessante que seja ver a estrada de tijolos amarelos novamente, este acaba sendo mais um filme que não chega a ser muito memorável, mesmo sendo dirigido por Sam Raimi (um diretor que curto bastante).
Escrito por Mitchell Kapner e David Lindsay-Abaire, Oz: Mágico e Poderoso se concentra em Oscar Diggs (James Franco), também conhecido como Oz, que trabalha como mágico em um circo no Kansas, mas que na verdade é uma fraude. Enquanto foge de outro membro da trupe, o rapaz entra com seu balão em um tornado, incidente que o leva direto para a Terra de Oz. Lá, ele conhece as bruxas Theodora (Mila Kunis) e Evanora (Rachel Weisz), sendo recebido como o mágico que veio salvar o local e ser o novo rei, e descobre que pode ter a fortuna que tanto sonhou caso destrua a irmã delas, Glinda (Michelle Williams), conhecida como a bruxa má. Mas nem tudo é o que parece nesse lugar, e Oscar se vê no meio da luta do povo de Oz contra a maldade que os assola, tendo a ajuda de novos companheiros como o macaco voador Finley (voz de Zach Braff) e uma boneca de porcelana (voz de Joey King).
Sam Raimi inicia Oz: Mágico e Poderoso usando a mesma linguagem do filme de 1939, filmando a parte que se passa em Kansas com uma fotografia em preto e branco (lá era em sépia, mas o propósito é o mesmo) e inclusive usando a razão de aspecto de 1.33:1 que era utilizada na época, o que serve até como uma homenagem àquela produção. É interessante notar também o cuidado que o diretor tem na hora de nos reapresentar a Terra de Oz, lentamente mudando a fotografia para um colorido caloroso e aumentando a razão de aspecto para o 2.35:1 que estamos acostumados, permitindo que entremos naquele mundo gradualmente. E o design de produção faz um ótimo trabalho na recriação do lugar e suas maravilhas, desde o Palácio Real de Oz até a Floresta Proibida.
O próprio roteiro de Kapner e Lindsay-Abaire segue os passos percorridos pelo filme que precede. Antes de Oscar ir para Oz, por exemplo, são incluídas pistas sobre a transformação que certos personagens passarão quando formos para aquele grande universo, o que lembra o que acontecia com os conhecidos de Dorothy. Dessa forma quando o protagonista se refere a seu assistente, Frank (vivido por Zach Braff), como um macaco, já fica clara a figura que ele será em Oz. Além disso, o fato de Oscar sair em uma espécie de aventura e encontrar aliados ao longo do caminho também remete a história de Dorothy com o Leão, o Espantalho (estes dois inclusive são lembrados com referências) e o Homem de Lata (que não ganhou uma referência sabe-se lá por que).
No entanto, a trama é bastante comum, mostrando um personagem que começa com sérios problemas éticos e deve terminar como uma pessoa melhor, o que torna o filme algo muito previsível. Tal previsibilidade também vale para algumas das reviravoltas, que acabam não tendo impacto algum. Consequentemente, Oz: Mágico e Poderoso nunca chega a ser tão envolvente como poderia, algo que fica ainda pior pelo fato de Sam Raimi em alguns momentos parecer se preocupar mais com o belo visual da produção do que com a história em si (fico pensando se Tim Burton não deu alguns conselhos para o cineasta). Como se não bastasse, a trilha sonora de Danny Elfman parece ser apenas uma repetição de seus trabalhos anteriores, ao passo que os efeitos visuais apesar de serem eficientes durante a maior parte do tempo, não são muito críveis em alguns momentos, principalmente quando Oscar tenta segurar a boneca de porcelana, já que fica claro que James Franco está interagindo com o nada.
Franco, aliás, traz seu carisma habitual para seu personagem, o que é essencial para nos fazer gostar de Oscar e torçamos por seu sucesso mesmo com seu egoísmo. Já Michelle Williams traz uma graciosidade encantadora para Glinda, mas é uma pena vê-la se tornar uma típica mocinha indefesa em determinado momento. Enquanto isso, Mila Kunis não consegue soar muito ameaçadora a partir da segunda metade do filme, e Rachel Weisz não tem espaço para fazer de Evanora uma figura interessante, sendo que vira quase uma capanga depois de entregar uma maçã que tem papel fundamental na trama. Mas vale ressaltar que personagens secundários como Finley e a boneca de porcelana roubam a cena com sua simpatia, sendo que o primeiro é ainda um bom alívio cômico e a segunda tem uma história trágica e que é tratada com sensibilidade por Raimi.
Contando com um 3D problemático (Sam Raimi usa a tecnologia mais para ficar jogando objetos no espectador do que para qualquer outra coisa, o que é bastante primário), Oz: Mágico e Poderoso, apesar de ter suas qualidades e um visual estonteante, não tem o mesmo encantamento proporcionado por seu mundo fantástico. E isso é um pouco decepcionante considerando que a história tinha potencial para ser muito maior do que o resultado que se vê na tela.
Cotação:

quinta-feira, 7 de março de 2013

Breve Comentário - Amigos Inseparáveis

Al Pacino, Christopher Walken e Alan Arkin são três dos atores mais respeitados da indústria do cinema. Dito isso, uma produção que traz esse trio protagonizando uma história já chama um pouco a atenção. No entanto, este Amigos Inseparáveis acaba tendo sorte de contar com a presença de atores desse calibre, já que com uma direção e roteiro problemáticos, o filme certamente poderia ser um fracasso total caso contasse com figuras menos interessantes no elenco.
Escrito por Noah Haidle, Amigos Inseparáveis coloca seus grandes atores interpretando Val, Doc e Hirsch (Pacino, Walken e Arkin, respectivamente), amigos que também costumavam ser parceiros de crime. Depois de 28 anos preso, Val finalmente é libertado e volta à companhia de Doc, que por sua vez recebeu a missão de matá-lo. Sendo assim, os dois se juntam a Hirsch e resolvem se aventurar pela noite, lembrando os bons e velhos tempos.
Com a direção sem energia do ator Fisher Stevens, o filme por vezes fica bastante aborrecido. Quando Val fala em determinado momento “O Monte Everest está se mexendo nas minhas calças”, qualquer chance de a piada (que já não é grande coisa) dar certo vai pelos ares graças a falta de timing do diretor, que percorre quase toda a narrativa. Stevens acerta ocasionalmente (como quando Doc resolve sair de uma sala de hospital para não ver o que acontecerá com Val, ou a cena em que a dupla assalta uma farmácia para pegar remédios ao invés de dinheiro), mas muito pouco perto do que o roteiro tenta alcançar.
Mas é com as presenças de Al Pacino, Christopher Walken e Alan Arkin que Amigos Inseparáveis conquista o interesse do espectador do início ao fim, já que eles trazem grande carisma para Val, Doc e Hirsch, mesmo que na maior parte do tempo aparentem estar no piloto automático. E ainda que não consigam fazer muitos milagres com as piadas do roteiro (embora seja divertido ver o personagem de Arkin parecer não sentir o peso da idade em alguns momentos), os atores têm uma bela dinâmica em cena e fazem com que nos importemos com o destino de seus personagens. Até por isso é decepcionante ver que o roteiro não consegue causar muito impacto com algumas cenas importantes envolvendo eles (o próprio final do filme, por exemplo).
Com subtramas que, apesar de resolvidas um tanto artificialmente, acabam fazendo dos protagonistas figuras mais simpáticas (como àquela com uma garçonete amiga de Doc), Amigos Inseparáveis consegue ser um filme razoável, mas não deixa de ser uma daquelas produções que esquecemos pouco depois de chegarmos aos créditos finais.
Cotação:

sábado, 2 de março de 2013

Hitchcock

Alfred Hitchcock é um dos melhores cineastas da história do cinema, e não é á toa que quase todos os cinéfilos o colocam entre seus diretores favoritos (e me incluo nesse grupo sem pensar duas vezes). Por toda a fama e respeito que conquistou ao longo de sua brilhante carreira, é uma surpresa ver que filmes sobre ele estejam sendo feitas só agora, mais de 30 anos depois de sua morte. No entanto, é uma pena constatar que este Hitchcock comandado por Sasha Gervasi (cujo trabalho mais conhecido no cinema é o roteiro de O Terminal, dirigido por Steven Spielberg) não seja tão bom quanto o cineasta que busca retratar.
Escrito por John J. McLaughlin, baseado no livro escrito por Stephen Rebello, Hitchcock segue o exemplo de Lincoln: conta apenas uma determinada fase da vida do diretor. Quando encontramos Alfred Hitchcock (Anthony Hopkins), ele acaba de lançar Intriga Internacional, em 1959. Com a ajuda de sua esposa, Alma Reville (Helen Mirren), Hitch começa a procurar por seu próximo projeto, que vem na forma de um livro de suspense chamado Psicose. Durante a produção do filme, que acaba passando por várias dificuldades, especialmente por não ter tido o apoio de estúdio algum, Hitchcock ainda precisa lidar com os vários desentendimentos que tem com Alma, que resolve se dedicar a um roteiro ao lado de seu amigo Whitfield Cook (Danny Huston).
“Alfred & Alma” seria um título muito mais apropriado ao filme. Afinal, por parecer não saber no que exatamente focar, o roteiro acaba dando mais atenção ao relacionamento entre Alfred Hitchcock e sua mulher do que na produção de Psicose. Isso poderia render algo interessante considerando que o casamento deles era ao mesmo tempo uma parceria profissional, com Alma ajudando o marido naquilo que podia (como revisar os roteiros, chegando a modificar algumas coisas) e não se importando de continuar em sua sombra (“As pessoas que importam saberão”, ela diz em determinado momento). No entanto, é triste ver que a trama é direcionada a um ciúme bobo de Hitchcock com relação ao trabalho de Alma e Whitfield, algo muito desinteressante e que também acaba resultando em um conflito extremamente previsível entre o casal.
Sendo assim, é uma pena que Psicose acabe perdendo espaço na história, já que Hitchcock fica mais interessante sempre que se concentra nessa parte. Nisso, o roteiro mostra as principais coisas ligadas à produção, desde o fato de o cineasta ter comprado todas as cópias do livro até a bela campanha de divulgação (tudo para manter o belíssimo final da trama em pleno segredo). Já as filmagens ganham mais atenção em suas principais cenas, como quando Janet Leigh (interpretada por Scarlett Johansson) dirige seu carro pela autoestrada ou a famosa cena do chuveiro, que inclusive resulta em um momento particularmente tenso envolvendo o diretor. E Sasha Gervasi merece créditos não só pela bela reconstrução de época, mas também pela atenção dada aos cenários em que Psicose foi filmado, como ao mostrar os vários canos ligados por trás do chuveiro ou o greenscreen usado para algumas sequências.
Mas há de se ressaltar que ao tentar misturar um pouco de humor com drama, Gervasi falha ao não encontrar um equilíbrio entre as duas coisas. O filme tem um tom descontraído até o momento em que passa a focar mais o relacionamento de Hitchcock com a esposa, ganhando ares mais tensos nessa parte apenas para tudo voltar a ficar mais cômico no terceiro ato. Gervasi também não consegue estabelecer com eficiência o detalhe de Psicose estar mexendo com o psicológico de Hitchcock, até por ficar preso a um roteiro que procura deixar isso claro ao incluir patetices como uma cena de sonho (que parece querer apenas assustar do que qualquer outra coisa) e sequências em que Hitch conversa com Ed Gain (Michael Wincott), serial killer que inspirou a criação de Norman Bates, papel imortalizado pelo ator Anthony Perkins (que aqui é interpretado por James D’Arcy).
De qualquer forma, o filme tenta ser fiel ao cineasta que quer retratar, ganhando pontos por não ter medo de mostrar um indivíduo com falhas. Hitchcock é tratado como um homem que tem completa noção de como é bom naquilo que faz, uma arrogância que de certa maneira o torna um personagem ainda mais interessante. E como não poderia ser diferente, a obsessão que ele tinha por suas protagonistas também é evidente, chegando ao ponto de admirar a beleza de Janet Leigh mesmo com Alma estando por perto. Além disso, Anthony Hopkins interpreta Hitchcock com segurança mesmo com a pesada maquiagem, protagonizando belos momentos como quando finge reger uma orquestra do lado de fora de uma sala de cinema, enquanto ouve a reação do público. E se Hopkins se sai bem, isso também pode ser dito sobre Helen Mirren, que usa seu talento para fazer de Alma Reville uma mulher fiel ao marido mesmo ele sendo uma pessoa bastante egoísta. Aliás, o desconforto da personagem diante do fato de virar quase uma figurante de luxo em um jantar é muito bem representado pela atriz, que ainda se destaca quando Hitchcock confronta Alma em determinado momento.
Mesmo sendo levemente superior ao irregular The Girl (telefilme produzido pela HBO que focava o período em que Tippi Hedren virou a musa do diretor), Hitchcock não deixa de ser uma viagem um pouco decepcionante pelo universo de Alfred Hitchcock. Isso é uma pena, por que ele é um cara importantíssimo para o cinema, e certamente merecia um filme melhor.
Cotação: