sábado, 2 de março de 2013
Hitchcock
Alfred Hitchcock é um dos melhores cineastas da história do cinema, e não é á toa que quase todos os cinéfilos o colocam entre seus diretores favoritos (e me incluo nesse grupo sem pensar duas vezes). Por toda a fama e respeito que conquistou ao longo de sua brilhante carreira, é uma surpresa ver que filmes sobre ele estejam sendo feitas só agora, mais de 30 anos depois de sua morte. No entanto, é uma pena constatar que este Hitchcock comandado por Sasha Gervasi (cujo trabalho mais conhecido no cinema é o roteiro de O Terminal, dirigido por Steven Spielberg) não seja tão bom quanto o cineasta que busca retratar.
Escrito por John J. McLaughlin, baseado no livro escrito por Stephen Rebello, Hitchcock segue o exemplo de Lincoln: conta apenas uma determinada fase da vida do diretor. Quando encontramos Alfred Hitchcock (Anthony Hopkins), ele acaba de lançar Intriga Internacional, em 1959. Com a ajuda de sua esposa, Alma Reville (Helen Mirren), Hitch começa a procurar por seu próximo projeto, que vem na forma de um livro de suspense chamado Psicose. Durante a produção do filme, que acaba passando por várias dificuldades, especialmente por não ter tido o apoio de estúdio algum, Hitchcock ainda precisa lidar com os vários desentendimentos que tem com Alma, que resolve se dedicar a um roteiro ao lado de seu amigo Whitfield Cook (Danny Huston).
“Alfred & Alma” seria um título muito mais apropriado ao filme. Afinal, por parecer não saber no que exatamente focar, o roteiro acaba dando mais atenção ao relacionamento entre Alfred Hitchcock e sua mulher do que na produção de Psicose. Isso poderia render algo interessante considerando que o casamento deles era ao mesmo tempo uma parceria profissional, com Alma ajudando o marido naquilo que podia (como revisar os roteiros, chegando a modificar algumas coisas) e não se importando de continuar em sua sombra (“As pessoas que importam saberão”, ela diz em determinado momento). No entanto, é triste ver que a trama é direcionada a um ciúme bobo de Hitchcock com relação ao trabalho de Alma e Whitfield, algo muito desinteressante e que também acaba resultando em um conflito extremamente previsível entre o casal.
Sendo assim, é uma pena que Psicose acabe perdendo espaço na história, já que Hitchcock fica mais interessante sempre que se concentra nessa parte. Nisso, o roteiro mostra as principais coisas ligadas à produção, desde o fato de o cineasta ter comprado todas as cópias do livro até a bela campanha de divulgação (tudo para manter o belíssimo final da trama em pleno segredo). Já as filmagens ganham mais atenção em suas principais cenas, como quando Janet Leigh (interpretada por Scarlett Johansson) dirige seu carro pela autoestrada ou a famosa cena do chuveiro, que inclusive resulta em um momento particularmente tenso envolvendo o diretor. E Sasha Gervasi merece créditos não só pela bela reconstrução de época, mas também pela atenção dada aos cenários em que Psicose foi filmado, como ao mostrar os vários canos ligados por trás do chuveiro ou o greenscreen usado para algumas sequências.
Mas há de se ressaltar que ao tentar misturar um pouco de humor com drama, Gervasi falha ao não encontrar um equilíbrio entre as duas coisas. O filme tem um tom descontraído até o momento em que passa a focar mais o relacionamento de Hitchcock com a esposa, ganhando ares mais tensos nessa parte apenas para tudo voltar a ficar mais cômico no terceiro ato. Gervasi também não consegue estabelecer com eficiência o detalhe de Psicose estar mexendo com o psicológico de Hitchcock, até por ficar preso a um roteiro que procura deixar isso claro ao incluir patetices como uma cena de sonho (que parece querer apenas assustar do que qualquer outra coisa) e sequências em que Hitch conversa com Ed Gain (Michael Wincott), serial killer que inspirou a criação de Norman Bates, papel imortalizado pelo ator Anthony Perkins (que aqui é interpretado por James D’Arcy).
De qualquer forma, o filme tenta ser fiel ao cineasta que quer retratar, ganhando pontos por não ter medo de mostrar um indivíduo com falhas. Hitchcock é tratado como um homem que tem completa noção de como é bom naquilo que faz, uma arrogância que de certa maneira o torna um personagem ainda mais interessante. E como não poderia ser diferente, a obsessão que ele tinha por suas protagonistas também é evidente, chegando ao ponto de admirar a beleza de Janet Leigh mesmo com Alma estando por perto. Além disso, Anthony Hopkins interpreta Hitchcock com segurança mesmo com a pesada maquiagem, protagonizando belos momentos como quando finge reger uma orquestra do lado de fora de uma sala de cinema, enquanto ouve a reação do público. E se Hopkins se sai bem, isso também pode ser dito sobre Helen Mirren, que usa seu talento para fazer de Alma Reville uma mulher fiel ao marido mesmo ele sendo uma pessoa bastante egoísta. Aliás, o desconforto da personagem diante do fato de virar quase uma figurante de luxo em um jantar é muito bem representado pela atriz, que ainda se destaca quando Hitchcock confronta Alma em determinado momento.
Mesmo sendo levemente superior ao irregular The Girl (telefilme produzido pela HBO que focava o período em que Tippi Hedren virou a musa do diretor), Hitchcock não deixa de ser uma viagem um pouco decepcionante pelo universo de Alfred Hitchcock. Isso é uma pena, por que ele é um cara importantíssimo para o cinema, e certamente merecia um filme melhor.
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