quarta-feira, 7 de junho de 2023

Transformers: O Despertar das Feras

Quem me acompanha há algum tempo deve saber que não vejo Transformers como uma franquia particularmente agradável. Mas ela mostrou ser capaz de render um filme simpático e divertido quando a prequel Bumblebee foi lançada em 2018, que curiosamente marcou a primeira vez que um longa da linha de brinquedos da Hasbro não foi comandado por Michael Bay. E a franquia resolve manter a diversidade por trás das câmeras neste Transformers: O Despertar das Feras, continuação de Bumblebee e que coloca a direção nas mãos de Steven Caple Jr. (de Creed II). E o resultado até que é satisfatório.

O Despertar das Feras se passa em 1994, quando o jovem Noah Diaz (Anthony Ramos) vive dificuldades com sua família e, em uma tentativa desesperada para ganhar dinheiro, acaba tendo contato com Mirage (voz de Pete Davidson), um dos Autobots liderados por Optimus Prime (voz de Peter Cullen). Junto com a pesquisadora Elena Wallace (Dominique Fishback), Noah acaba sugado para o conflito dos Autobots, passando a ajuda-los a recuperar uma chave que pode salvar o planeta deles. No caminho, eles têm que enfrentar os Terrorcons liderados por Scourge (voz de Peter Dinklage) e contam com o auxílio dos Maximals, que basicamente são Transformers que tomam a forma de animais ao invés de veículos.


Na maior parte do tempo, O Despertar das Feras não parece tão disposto a trazer frescor a série. Ao longo da projeção, nos deparamos com coisas que já estão mais do que batidas no universo desses filmes, desde ver novas espécies de Transformers serem apresentadas (sendo que não há nada que realmente as diferencie de outras que já vimos, tirando as formas que elas assumem), passando pela relação entre os personagens humanos e os robôs e chegando finalmente a própria base da trama. Afinal, esta não é a primeira vez que vemos pessoas ajudando os Autobots a recuperar um artefato que pode ajuda-los. Além disso, os diálogos expositivos que surgem com alguma frequência se intercalam com outros mais bestas (“Se vamos morrer, vamos morrer lutando como um só”).


Mas isso não impede o filme de divertir e até mesmo envolver minimamente o espectador. A introdução de Mirage, por exemplo, é muito bem-vinda, com o jeito mais irreverente do personagem rendendo bons risos, o que vale também para a dinâmica entre ele e Noah. Este, por sua vez, é interpretado com carisma e segurança por Anthony Ramos, exibindo muito mais personalidade que outros protagonistas que a franquia já teve (me refiro basicamente a Shia LaBeouf e Mark Wahlberg). E é bacana ver Steven Caple Jr. em determinados momentos se concentrar em questões mais pessoais dos personagens, principalmente no que diz respeito a relação de Noah com o irmão mais novo Kris (Dean Scott Vasquez), detalhes que ajudam o espectador a simpatizar com eles. Para completar, Caple Jr. conduz com competência as sequências de ação, lidando bem com a escala grandiosa dos combates sem criar uma confusão visual como Michael Bay tanto gosta de fazer, merecendo destaque a grande batalha que ocorre no terceiro ato. Mas é preciso dizer que o diretor nada pode fazer nos momentos em que certos personagens estão em perigo ou prestes a se sacrificarem, já que o próprio fato de O Despertar das Feras ser uma prequel impede que acreditemos que o destino daquelas figuras está realmente em jogo.

O Despertar das Feras não chega a ter a doçura e o coração de Bumblebee, mas ainda é uma obra que funciona bem como entretenimento, além de até deixar alguma curiosidade para continuações. E isso já representa uma evolução considerando o baixo nível apresentado pela franquia até pouco tempo atrás.

Obs.: Há uma cena durante os créditos finais.

Nota:



quinta-feira, 1 de junho de 2023

Muito Obrigado, Ted Lasso!

(O texto a seguir não contém spoilers)

Não é exatamente comum eu me sentir em dívida com algum filme ou série de TV. Mas me sinto em dívida com Ted Lasso. Ao longo dos últimos três anos, em nenhum momento eu sentei em frente ao computador para escrever um texto sobre essa série, que acompanhei de maneira fiel desde seu lançamento. Mas tendo a série chegado ao fim nessa semana, creio ser apropriado usar o momento para cobrir essa dívida.

Ted Lasso começou como uma série engraçada sobre um técnico de futebol americano que praticamente cai de paraquedas no AFC Richmond, um clube fictício da Premier League (como é conhecida a primeira divisão do campeonato inglês). E seguiu sempre divertindo dentro dessa ideia. Mas creio que fui pego de surpresa com o quanto a série se revelou profundamente encantadora.

Com uma visão de mundo que mistura um pouco de otimismo, ingenuidade, humildade e doçura, o personagem-título (interpretado por Jason Sudeikis, que certamente encontrou aqui um papel que definirá sua carreira) facilmente conquista as pessoas ao seu redor e o espectador, sendo que tal visão de mundo não deixa de estabelecer os principais pontos da série em si. E a partir desses pontos, vemos a história e sua gama de personagens serem preenchidos de humanidade. Consequentemente, cada episódio no universo de Ted Lasso se revelou uma dose saborosa de chocolate quente, capaz de aquecer o coração e nos ajudar a escapar por alguns minutos dos nossos próprios problemas.

Até por conta disso a série não deixa de parecer uma utopia, algo que eu poderia ter concluído mais cedo, mas só fui refletir sobre isso nessa terceira e última temporada. E creio que esse é outro motivo para ela ter se mostrado tão agradável. Digo “utopia” não tanto pelo otimismo da série e de seu protagonista, mas porque na vida real falar de saúde mental ainda é um tabu. Digo “utopia” porque, olhando notícias recentes, o mundo do futebol pouco faz para combater coisas como racismo e homofobia. “Utopia” porque é comum vermos clubes serem patrocinados por marcas ou pessoas que violam direitos humanos. “Utopia” porque a série tocou em elementos como esses como se colocasse o dedo nas feridas, fazendo seus personagens refletirem e darem respostas sensatas sobre tais assuntos como raramente (para não dizer nunca) vemos na vida real, o que meio que fez o AFC Richmond ser um clube que eu gostaria que realmente existisse.

Essa última temporada de Ted Lasso certamente deixou a desejar em comparação com as anteriores (principalmente a segunda temporada). Tropeçou em subtramas e personagens não tão interessantes e mais de uma vez recorreu a resoluções fáceis. Mas apesar de não terminar numa nota tão alta, seu fim ainda foi digno, e os sentimentos doces que ela gerou ao longo das três temporadas são infinitamente mais fortes do que qualquer dose amarga que tenha surgido no caminho.

E por gerar esses bons sentimentos, digo apenas... Muito obrigado, Ted Lasso. Sentirei sua falta.