sexta-feira, 25 de abril de 2014

Insônia

Antes de entrar no terreno das grandes produções de Hollywood (o que incluiu levar novamente o Homem-Morcego para as telonas, em um projeto que rendeu a memorável trilogia O Cavaleiro das Trevas), Christopher Nolan começava a colher os frutos do sucesso alcançado por seu excepcional Amnésia. O primeiro passo foi este Insônia, remake do longa norueguês de mesmo nome estrelado por Stellan Skarsgård. Por mais desnecessário que o filme possa parecer, entrando na onda de “americanizar” sucessos de outros países, isso não tira o fato de esta ser mais uma bela produção na carreira de seu diretor.

Escrito por Hillary Seitz, Insônia se passa na pequena cidade de Nightmute, no Alasca, em uma época na qual o local é iluminado o dia inteiro, graças ao fenômeno do “sol da meia-noite”. Nisso, o detetive Will Dormer (Al Pacino) e seu parceiro Hap Eckhart (Martin Donovan) chegam na cidade para ajudar na investigação do assassinato de uma jovem. Durante uma perseguição envolvendo o assassino (Robin Williams), Will acidentalmente atira em Hap, que morre achando que o parceiro fez isso de propósito para que ele não pudesse prejudicá-lo com relação a um caso anterior. Se sentindo culpado não só pelo erro que cometeu, mas também por tentar encobri-lo, Will passa a sofrer de insônia enquanto busca resolver o caso que tem em mãos, ao passo que a investigação da morte de Hap fica a cargo da jovem policial local Ellie Burr (Hilary Swank).
Aproveitando ao máximo o clima frio de suas locações, Christopher Nolan cria com ajuda da ótima fotografia de Wally Pfister uma atmosfera angustiante que permeia toda a narrativa, contribuindo bastante para o tom de mistério que percorre a história. Além disso, o ritmo calmo e, por vezes, contemplativo imposto pelo cineasta na condução do filme se revela ideal para o desenvolvimento da trama e dos personagens. Isso, é claro, não impede o cineasta de criar sequências de tensão, algo que sabe fazer muito bem, sendo a principal delas a perseguição que culmina na morte de policial, comandada por Nolan quase como se fosse um pesadelo, o que não deixa de ser irônico considerando o mal que passa a afligir as “noites” do protagonista dali em diante.
Em mais uma atuação excepcional, Al Pacino encarna Will Dormer (que sobrenome curioso, não?) de maneira contida ao mesmo tempo em que retrata brilhantemente a insônia que lhe persegue. Surgindo em cena com uma postura encurvada e um olhar decadente, além da voz um tanto arrastada, o astro passa nos mínimos detalhes toda a exaustão que o personagem está sentindo. Para completar, o tipo em si é fascinante, mostrando ser um detetive experiente e de pensamento rápido, como podemos ver no modo como age diante dos oficiais locais, quase sempre indo contra as regras deles com uma ideia que pode levar a investigação adiante. E quando alguém diz, em determinado momento, que “um bom policial não dorme porque está faltando uma peça no quebra-cabeça, e um policial ruim não dorme porque sua consciência não permite”, isso define bem o modo como Will vê a si mesmo, pois se divide nesses dois lados, deixando muito claro o peso que sente com relação as suas decisões corruptas.
Uma história de mistério e assassinatos como a de Insônia se torna mais interessante quando o vilão é tão inteligente quanto o herói. Nesse caso, o assassino vivido por Robin Williams (por sinal, é raro ver o ator em um papel como esse) mostra ser uma figura à altura do protagonista, revelando em alguns momentos que sua forma de pensar pode estar à frente da do oponente. Williams traz ainda uma frieza surpreendente, com uma atuação ameaçadora, mesmo que às vezes aparenta ter um jeito vulnerável e desajeitado. Enquanto isso, Hilary Swank se destaca ao fazer de Ellie Burr uma figura forte e competente em seu trabalho. É interessante notar o olhar de respeito que ela tem quando está diante do colega mais experiente.
Envolvente e inteligente, Insônia é um filme que entra facilmente na lista de remakes que deram certo. Até o diretor do original gostou do que foi feito aqui. É o tipo de thriller que prende a atenção do espectador com eficiência, tornando difícil a tentação de cair no sono ao longo da história, ao contrário do que ocorre com aquele que nos conduz por esta trama repleta de boas surpresas.
Nota:

quinta-feira, 24 de abril de 2014

O Quarto do Pânico

Comparado aos outros filmes dirigidos por David Fincher (desde Alien 3 até Millennium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres), O Quarto do Pânico talvez seja a produção mais simples que o cineasta tenha comandado ao longo de sua carreira. Afinal, a trama se passa quase que inteiramente em um único cenário, além de trazer um pequeno grupo de personagens em sua história. No entanto, isso não impediu o diretor de realizar uma obra muito eficiente dentro de suas limitações.


Escrito por David Koepp, O Quarto do Pânico segue Meg Altman (Jodie Foster), uma mulher recém divorciada que acaba de se mudar para uma nova e grande residência com sua filha, Sarah (Kristen Stewart). Na primeira noite delas ali, no entanto, o lugar é invadido por três ladrões, Burham, Junior e Raoul (Forest Whitaker, Jared Leto e Dwight Yoakam, respectivamente), o que as obriga a se esconderem no chamado Quarto do Pânico, o compartimento de segurança da casa. Mas elas não sabem que o conteúdo que os bandidos querem está exatamente naquele lugar, sendo que eles passam a fazer de tudo para tirá-las dali.
Qual a razão de mãe e filha precisarem de um lugar tão espaçoso para morarem é um detalhe um tanto incompreensível, mas que pouco importa para o desenrolar da história, uma vez que a casa é o cenário perfeito para a ação prevista. O fato de David Fincher gastar os primeiros minutos do filme apresentando o local e seus principais aposentos, com sua câmera por vezes fazendo um verdadeiro passeio por ali com suaves travellings, é mais do que apropriado – afinal, não sairemos dali pelas próximas duas horas. Além disso, o roteiro aproveita esse início para estabelecer determinados elementos que revelam sua importância no decorrer da narrativa, como um celular no quarto e a diabetes de Sarah.
Com isso pronto, o roteiro dá início a um jogo de gato e rato interessante e muito bem conduzido pelo realizador, com os personagens constantemente fazendo alguma coisa de um lado na espera do que acontecerá no outro, sempre se surpreendendo com o que veem (como na cena envolvendo gás). Nisso, Fincher cria habilmente uma atmosfera de tensão crescente e inquietante, muito bem ressaltada pela fotografia sombria de Conrad W. Hall e Darius Khondji (este último foi substituído pelo primeiro durante as filmagens após desentendimentos com o diretor) e pela ótima trilha de Howard Shore.
Jodie Foster, conhecida por interpretar mulheres fortes no cinema, faz de Meg Altman uma personagem que certamente pode ser incluída nessa coleção da atriz. Temos aqui uma figura que não se amedronta ao bater de frente com os vilões, sem medir esforços para afugentá-los e proteger a filha. Aliás, a dinâmica que Foster tem com Kristen Stewart é ótima e contribui muito para que nos importemos com as personagens. E se Jared Leto tem em Junior um cara cuja ilusão de estar no comando da situação chega a ser divertida, Forest Whitaker se destaca ao fazer de Burnham o único ladrão sensível do trio, ao passo que Dwight Yoakam compõe Raoul como um homem calmo e misterioso, e exatamente por isso acaba sendo o mais ameaçador.
Mesmo não sendo tão marcante quanto alguns dos longas mais aclamados de David Fincher, O Quarto do Pânico ainda assim é um trabalho que merece admiração. Um thriller acima da média, que não subestima a inteligência do público, conseguindo mantê-lo envolvido em sua trama do início ao fim.
Nota:


quarta-feira, 23 de abril de 2014

Linha de Frente

Em Linha de Frente, Jason Statham é Phil Broker, ex-agente da Narcóticos que, após encerrar um caso no qual esteve infiltrado em uma gangue de motoqueiros, se muda para uma cidade pequena com a filha Maddy (Izabela Vidovic), com o mero objetivo de levar uma vida tranquila. Mas quando ela nocauteia um colega na escola, isso acaba trazendo consequências com a família do garoto. Isso porque o tio do menino, Gator Bodine (James Franco), é traficante de metanfetamina e tenta assustar Phil e Maddy de várias formas, envolvendo até mesmo a antiga gangue de motoqueiros na qual o policial havia se infiltrado e que agora quer sua cabeça. Como consequência, Phil fará de tudo para que nada aconteça a ele e, principalmente, com sua filha.

Com roteiro escrito por Sylvester Stallone (por sinal, é raro vê-lo se envolvendo em um projeto em que não aparece em frente às câmeras) a partir do livro de Chuck Logan, Linha de Frente traz uma típica história do pai que busca proteger sua família a todo custo, o que já serviu como base para várias outras produções. Por isso mesmo, o longa não deixa de ser previsível e formulaico ao longo de seus 100 minutos de duração, sem apresentar nenhuma novidade, ainda que seja curioso perceber como o roteirista parte de uma briga de escola entre crianças até resultar em uma situação muito maior para o protagonista.
No entanto, Linha de Frente é interessante o bastante como um veículo de ação para que Jason Statham mostre suas já conhecidas habilidades como atual astro do gênero. Assim, o diretor Gary Fleder merece créditos por conduzir bem as sequências nas quais Phil luta contra os homens que tentam tirá-lo de circulação, deixando a geografia das cenas sempre clara para o espectador. Mas se por um lado é possível tecer elogios nesse quesito, por outro nunca conseguimos temer pelo destino do protagonista e de sua filha, pois ele derruba todos os bandidos facilmente. Mesmo quando parece estar encurralado, sabemos que eventualmente sairá por cima, dando socos e pontapés em todo mundo, o que prejudica qualquer tensão que a narrativa poderia ter.
De qualquer forma, Statham segura bem a trama, mostrando seu carisma como intérprete e tendo ainda uma boa dinâmica com a expressiva Izabela Vidovic, o que torna os personagens Phil e Maddy figuras com os quais conseguimos simpatizar rapidamente. Aliás, se Linha de Frente não é uma obra aborrecida, isso se deve em parte ao fato de conseguirmos torcer pelos dois. Já o talentoso James Franco faz o possível com seu Gator Bodine, mas a verdade é que no decorrer da história o vilão não tem muita chance de mostrar ser realmente ameaçador, por mais que o roteiro tente estabelecê-lo dessa maneira (em determinado momento, chega a ser dito que ele pode parecer inofensivo, mas seria só aparência).
Linha de Frente poderia ser uma daquelas obras lançadas direto no mercado de homevideo, mas mesmo com seus problemas até que se revela competente dentro do que se propõe. Afinal, é capaz de entreter o público com todos os golpes desferidos por Jason Statham, e às vezes é o que basta.
Nota:

terça-feira, 22 de abril de 2014

Demolidor: O Homem Sem Medo

Certamente um dos personagens mais interessantes da Marvel, não foi surpresa alguma ver que o herói conhecido como “O Homem Sem Medo” também ganharia seu próprio filme – o que ocorreu em 2003 – após o sucesso que Blade, X-Men e Homem-Aranha vinham fazendo no cinema. No entanto, quando se assiste a Demolidor a impressão que fica é a de uma obra feita às pressas apenas para aproveitar o grande apelo que os heróis da editora passaram a ter nas telonas a partir do início da década passada. Não que se trate de um filme ruim, mas realmente fica abaixo das ótimas incursões cinematográficas que os quadrinhos estavam apresentando até então.

Escrito pelo diretor Mark Steven Johnson (que depois faria outro filme de um herói da Marvel, Motoqueiro Fantasma), Demolidor tem em seu centro o advogado Matt Murdock (Ben Affleck), que ficou cego quando criança após um acidente envolvendo materiais tóxicos e teve seu pai assassinado por não entregar uma luta de boxe, sendo que os responsáveis nunca foram presos. Tendo seus outros sentidos desenvolvidos de maneira sobre-humana como resultado da tragédia, Matt sente a responsabilidade de proteger os inocentes, fazendo justiça com as próprias mãos quando esta não é feita no tribunal. Assim, é advogado durante o dia e o vigilante Demolidor durante a noite. É quando se apaixona pela bela Elektra Natchios (Jennifer Garner) e se vê obrigado a enfrentar as forças do Rei do Crime (Michael Clarke Duncan) e do Mercenário (Colin Farrell) para protegê-la.
Trazendo logo no início um flashback com uma narração em off de Matt Murdock que explica todo o passado dele de forma rápida e bastante simplista (artifício que é quase abandonado após cumprir esse papel), o roteiro demonstra certa preguiça em desenvolver a história e os personagens com calma, com fome para ir direto à ação. E isso até poderia ser um pouco relevado caso o diretor caprichasse nas sequências em que o herói veste sua roupa e parte para o ataque contra os vilões, mas Johnson não impressiona muito nesse quesito, criando sequências visualmente confusas, apesar do bom ritmo. O cineasta dá a entender que seu sonho, na verdade, era comandar um filme do Homem-Aranha, já que constantemente traz o protagonista e outros personagens dando saltos que desafiam as leis da física, esquecendo-se que eles não têm grandes poderes que os tornem fortes para isso. Como se não bastasse, várias vezes vemos que bonecos computadorizados são usados em determinadas cenas, o que infelizmente tira muito da força do que é visto na tela.
Mas há coisas boas em Demolidor. É notável a atenção que Mark Steven Johnson dá às cicatrizes e ferimentos sofridos pelo herói, detalhes que o tornam uma figura mais humana e vulnerável. E como ele aparece enfrentando um submundo do crime em Nova York, a fotografia de Ericson Core acerta ao apostar em tons sombrios nas cenas à noite, passando eficientemente a ideia de que a violência toma conta da cidade nessa parte do dia. Além disso, o roteiro traz uma bela questão que põe em cheque a moral do próprio protagonista. Afinal, ao agir brutalmente como um verdadeiro carrasco dos criminosos que vê pelas ruas, ele não deixa de se tornar exatamente naquilo que acredita como um homem que devia estar atrás das grades. Sendo assim, a cena na qual percebe que um menino está com medo dele por vê-lo batendo em um bandido é um dos melhores momentos do filme (“Eu não sou o vilão, garoto”, ele afirma).
No elenco, Ben Affleck até se sai bem como Matt Murdock, emprestando carisma e ajudando o espectador a se aproximar do personagem. Ao mesmo tempo, Affleck tem uma boa química com Jennifer Garner, que faz de Elektra uma figura forte e cativante, e a primeira luta que os dois atores protagonizam é um momento de ação satisfatório do filme, ainda que os motivos para a briga no meio da rua sejam bobos demais. E se Jon Favreau (hoje conhecido como o diretor dos dois primeiros filmes do Homem de Ferro) pouco se destaca como Franklin “Foggy” Nelson, melhor amigo do protagonista e responsável pelo alívio cômico do projeto, Michael Clarke Duncan e Colin Farrell têm presenças interessantes como o Rei do Crime e o Mercenário. No entanto, é uma pena que estes sejam vilões que não ganham muito aprofundamento por parte do roteiro.
Demolidor certamente poderia ter rendido um filme melhor, caso tivesse sido realizado com mais de cuidado. Do jeito que ficou, tem-se uma aventura divertida, mas pouco memorável, e a decepção de boa parte do público praticamente matou as possibilidade de uma continuação. Mas esperemos que a série que a Marvel está preparando para o herói na Netflix (e que deve estrear no ano que vem) seja uma adaptação que realmente faça jus ao personagem.
Nota:

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Blade: O Caçador de Vampiros

A Marvel Comics atualmente é uma marca de enorme sucesso no cinema, tendo chegado ao ponto de financiar seus próprios filmes através de um estúdio único. Assim, está sendo possível organizar os projetos que farão parte de seu grande universo cinematográfico, culminando nos filmes dos Vingadores. Isso não deixa de ser resultado do sucesso de vários longas que trouxeram para a telona os super-heróis da editora, algo que passou a chamar a atenção principalmente entre o fim da década de 1990 e o início dos anos 2000, com X-Men e Homem-Aranha. Mas se estes consolidaram a marca, é inegável que foi o caçador de vampiros protagonista de Blade quem preparou o terreno para isso, tendo rendido o primeiro título bem sucedido entre as adaptações dos quadrinhos da editora.

Com roteiro escrito por David S. Goyer, Blade: O Caçador de Vampiros acompanha o personagem-título (vivido por Wesley Snipes), nascido meio humano e meio vampiro após sua mãe ter sido mordida por uma criatura enquanto estava grávida. Ao lado do parceiro Abraham Whistler (Kris Kristofferson), Blade combate o submundo dos vampiros enquanto tenta encontrar Deacon Frost (Stephen Dorff), que planeja invocar o deus do sangue La Magra com o objetivo de tomar o mundo e escravizar a raça humana.
Dirigido por Stephen Norrington (que sairia de circulação anos depois ao comandar o vergonhoso A Liga Extraordinária), Blade tem um visual sombrio que retrata bem o universo dos personagens que vemos na tela, além de contar com momentos que investem um pouco no gore, como na cena em que um vampiro é fritado por uma luz ultravioleta, ou quando Frost morde um de seus criados e o sangue corre solto, detalhe que dá bons toques de terror à história. Apesar disso, esta é uma trama de ação e funciona satisfatoriamente dessa forma. O cineasta se sai bem ao explorar as habilidades e os apetrechos do protagonista, criando belas cenas como a luta inicial entre Blade e vários vampiros em uma boate, que ainda serve para apresentá-lo de forma eficiente.
Aliás, um elemento interessante que ajuda a tornar a obra envolvente é o personagem-título. Sendo um híbrido entre a raça que protege (mesmo que esse não seja exatamente seu principal objetivo) e àquela que deseja ver exterminada, Blade é uma figura que transita entre esses dois mundos, mas não se sente parte de nenhum deles. Nesse sentido, uma conversa que tem em determinado momento com Karen Jensen (N’Bushe Wright), médica que salva no início do filme, é ótima ao mostrar que sua real motivação ao matar os vampiros é o fato de um deles tê-lo transformado naquilo que é, o que na visão dele também não deixa de ser um monstro (“Humanos não bebem sangue”, afirma).
Assim, vale dizer que Wesley Snipes aparece bastante seguro interpretando Blade, e apesar de manter sua seriedade durante a maior parte do tempo, em alguns momentos pontuais o ator traz certa “descontração” ao personagem (há uma cena, por exemplo, na qual sorri ao ver acontecer algo que previa), detalhe que cria um contraste curioso com a violência com a qual age logo em seguida. Snipes também tem uma ótima dinâmica com o carismático Kris Kristofferson, que como Whistler ajuda a despertar o lado humano do protagonista. Já N’Bushe Wright tem em Karen uma figura forte, mas que infelizmente acaba sendo usada pelo roteiro mais como uma forma expositiva, enquanto que Stephen Dorff consegue fazer de Deacon Frost um bom vilão, que mostra a seus superiores que apesar de não ser um sangue puro (ele foi apenas transformado), ainda é um vampiro mais poderoso que eles.
Blade, no entanto, não escapa de ter seus problemas. É estranho ver que a falta de discrição dos envolvidos parece não assustar os humanos, como pode ser visto na cena em que o herói usa sua arma no meio da rua e ninguém parece ficar muito surpreso. E se os efeitos visuais surgem pouco convincentes, a luta no terceiro ato com o vilão é praticamente um anticlímax, não só por não empolgar, mas também por terminar de um jeito fácil e decepcionante. Mesmo assim, se revela um bom filme de estreia para a Marvel, o que não deixa de ser uma surpresa considerando que este não é um dos personagens mais conhecidos pelo grande público.
Nota:


quinta-feira, 17 de abril de 2014

O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro

Fazer um reboot de Homem-Aranha recontando a origem do personagem no cinema soou muito precoce e desnecessária, considerando que essa história está fresca na memória e pouco tempo havia passado desde o fim da trilogia de Sam Raimi. Mas mesmo que este e outros problemas tenham prejudicado O Espetacular Homem-Aranha, o filme ainda assim se revelou uma aventura capaz de divertir. Com a nova fase do Cabeça de Teia agora estabelecida, O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (que subtítulo dispensável, hein?) tem a vantagem de poder explorar mais o universo do herói e dar continuidade a tramas que foram apresentadas anteriormente, mas ficaram um tanto perdidas e sem conclusão. E esse segundo filme faz isso bem, conseguindo também entreter e até emocionar com seus personagens.

Escrito por Alex Kurtzman, Roberto Orci e Jeff Pinkner, e com argumento feito por eles em parceria com James Vanderbilt, O Espetacular Homem-Aranha 2 traz Peter Parker (Andrew Garfield) acostumado com sua rotina de herói em Nova York, mesmo que isso torne sua vida pessoal conturbada. Tendo receio de continuar seu relacionamento com Gwen Stacy (Emma Stone) devido à promessa que fez ao Capitão Stacy (Denis Leary) antes dele morrer, Peter ainda se mostra determinado a descobrir a verdade sobre seu pai e o envolvimento dele com a Oscorp, ao mesmo tempo em que se vê obrigado a enfrentar um novo supervilão, Electro (Jamie Foxx). Em meio a isso, seu melhor amigo Harry Osborn (Dane DeHaan) retorna à cidade para assumir a empresa do pai Norman (Chris Cooper), cuja doença acaba afetando o rapaz e o faz correr atrás de uma cura.

Com tantos personagens envolvidos em tantas subtramas, O Espetacular Homem-Aranha 2 às vezes parece indeciso com relação ao que deseja focar, e acaba não sendo uma surpresa que ele fique meio inchado, além de contar com algumas coisas desinteressantes para a história, como as pontuais aparições do Capitão Stacy. No entanto, o filme ganha pontos por não deixar fios soltos na trama como aconteceu em seu antecessor, dando uma resolução a tudo o que vemos na tela. O roteiro também dedica um bom tempo no desenvolvimento dos personagens e realiza bem essa tarefa, mesmo que de vez em quando escorregue em diálogos muito expositivos, como no primeiro encontro entre Harry e Norman. E se em alguns aspectos é possível lembrar um pouco o fraco Homem-Aranha 3 (sem dúvida o pior filme da franquia até agora), ao menos isso fica só na lembrança, porque as coisas por aqui funcionam melhor, além de não apresentar algum elemento particularmente constrangedor como foi naquele filme.

Conduzindo toda a ação com segurança, Marc Webb faz esse quesito ser um dos pontos altos da produção, criando momentos de tirar o fôlego, desde a tensão da cena inicial em um avião, passando pela perseguição envolvendo Aleksei Sytsevich (Paul Giamatti em uma rápida participação) e chegando aos embates contra Electro. Vale dizer que o diretor ainda é hábil ao explorar o máximo que pode das habilidades dos personagens, como ao investir em planos quase em freeze-frame para mostrar os pequenos detalhes que o herói percebe quando pessoas inocentes estão em perigo. E é interessante ver que Peter se vê obrigado a utilizar mais do que seus grandes poderes para tentar derrubar os vilões, usando também sua bem conhecida inteligência. Para completar, Webb se revela inspirado em uma cena específica na qual vemos uma teia ganhar a forma de uma mão por alguns segundos, assim como no uso da câmera subjetiva quando o protagonista aparece se balançando entre os prédios da cidade, elemento que é muito melhor utilizado do que no primeiro filme.

Enquanto isso, Andrew Garfield surge mais confortável e carismático como Peter Parker, além de divertidíssimo quando está sob a máscara do Homem-Aranha, trazendo o característico bom humor do herói eficientemente (e é bacana ver que os momentos engraçados não tiram o impacto de outros mais dramáticos). Garfield ainda mantém intacta a ótima química que criou com a adorável Emma Stone no filme passado, ajudando para que nós nos importemos com os personagens, o que se revela importante principalmente no terceiro ato. E se Dane DeHaan faz de Harry Osborn uma figura em quem não conseguimos confiar plenamente mesmo com toda sua camaradagem com Peter, Jamie Foxx usa seu talento para fazer de Max Dillon uma figura insegura e atrapalhada, criando um belo contraste com o vilão que ele se torna depois (é até uma pena que ele vire quase um capanga a partir de determinado momento). Fechando o elenco, Sally Field finalmente tem a chance de se destacar como a querida tia May, tendo uma dinâmica familiar tocante com Andrew Garfield, compensando o fato de ela ter ficado um pouco apagada no filme anterior.

Assim, O Espetacular Homem-Aranha 2 se mostra melhor que seu divertido antecessor, representando um bom exemplar na franquia do Cabeça de Teia. E fica a promessa de desafios ainda maiores para o herói em seus próximos filmes.

Obs.: Segundo colegas críticos, o filme tem uma cena extra durante ou depois dos créditos, mas por algum motivo ela foi cortada da exibição para a imprensa. Talvez ela seja mantida nas sessões para o público.

Obs. 2: O 3D não faz muito diferença no filme, então quem preferir ver a versão 2D não perderá nada.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Intriga Internacional

Algo recorrente na filmografia do mestre Alfred Hitchcock é o homem inocente que acaba sendo perseguido por algum motivo, seja este o fato de estar no lugar errado na hora errada ou ser confundido com outra pessoa, enquanto tenta provar que não fez nada de errado. O mais interessante é que o diretor explorou essa ideia de formas diferentes e conseguindo realizar produções eficientes. E isso ocorre de maneira magistral em Intriga Internacional, filme que se encontra facilmente entre os melhores trabalhos do mestre do suspense.

Escrito por Ernest Lehman, Intriga Internacional se concentra no publicitário Roger Thornhill (Cary Grant), que é sequestrado pelos capangas de Phillip Vandamm (James Mason) por este achar que ele é o agente George Kaplan, que está tentando estragar seus planos de colocar as mãos em segredos do governo. Depois de escapar e ser desacreditado por todos ao seu redor em relação ao que está acontecendo, inclusive por sua mãe (Jessie Royce Landis), Roger tenta descobrir quem é o homem com quem está sendo confundido, mas ele acaba se envolvendo em situações ainda piores, que o fazem ter que fugir não só de Vandamm, mas da polícia também. Em meio a tudo isso, ele conhece a bela Eve Kendall (Eva Marie Saint), que se torna a única pessoa a ajuda-lo.
O que se vê ao longo do filme é um jogo de gato e rato intrigante, comandado com maestria por Alfred Hitchcock, que impõe um clima conspiratório cativante que percorre toda a narrativa. E, como não poderia ser diferente, o diretor ainda cria uma tensão crescente que se intensifica nas situações mais perigosas desenvolvidas pelo roteiro, algo que ganha a contribuição da excelente trilha composta por Bernard Herrmann (em sua quinta parceria com Hitchcock). Assim, é impossível esquecer cenas como àquela na qual Roger é atacado por um avião em um milharal ou o clímax eletrizante no Monte Rushmore, que ficaram marcadas como alguns dos melhores momentos da carreira do cineasta. Aliás, o trabalho do design de produção na sequência final é admirável, recriando o famoso cartão postal americano nos mínimos detalhes.
Mas a construção da história por parte do roteiro de Ernest Lehman também merece aplausos. Nunca sabemos exatamente que segredos fazem parte do plano de Vandamm a ponto de ele colocar o protagonista em risco, e isso pouco importa. O que interessa é todo o desenrolar da trama em si, com o roteirista conseguindo criar um ótimo suspense ao redor de Roger e dos obstáculos que ele enfrenta, nos deixando cada vez mais curiosos para saber como o personagem irá resolver tudo e escapar da enrascada na qual se meteu. E em uma trama repleta de reviravoltas, Lehman mostra cuidado ao adiantar para o público a resposta para aquilo que o Roger tanto se questiona: quem é George Kaplan e o que ele tem a ver com tudo isso? Com o espectador sabendo essas informações, o desenvolvimento da história se torna ainda mais interessante, já que os esforços de Roger, à primeira vista, podem não dar em nada.
Estabelecendo o protagonista como um homem comum logo nas primeiras cenas, o roteiro é hábil ao conseguir fazer com que nós nos identifiquemos rapidamente com o personagem, sendo que ele ainda tem a vantagem de contar com alguém como Cary Grant como seu intérprete. Grant consegue trazer seu charme e carisma habitual para o papel, além de ter um timing cômico eficiente em determinadas cenas (como àquela em que ele dá valores absurdos em um leilão para fugir dos vilões), o que traz uma bem-vinda descontração diante de toda a tensão. Enquanto isso, Eva Marie Saint faz de Eve uma figura forte e sedutora, mas que esconde certa delicadeza e vulnerabilidade. Mesmo assim, é difícil confiar plenamente nela, resultado do tom conspiratório que permeia o filme e estabelece que qualquer personagem pode não ser aquilo que aparenta. Já James Mason tem em Philip Vandamm um vilão cuja calma é exatamente o que o torna ameaçador, e o mesmo pode ser dito sobre o Leonard de Martin Landau (em um de seus primeiros papeis no cinema), que se revela um capanga de destaque.
Intriga internacional é o tipo de thriller que dá gosto de ver, prendendo a atenção do espectador do início ao fim com a tensão e o mistério de sua história. Não é à toa que serviu de influência para produções subsequentes, como as da franquia 007 (aliás, muitos dizem que este é o primeiro filme de James Bond já feito), se colocando entre os melhores do gênero e empolgando mesmo que já tenham se passado mais de 50 anos desde seu lançamento.
Nota:

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Eu, Mamãe e os Meninos

Adaptado a partir do show do ator Guillaume Gallienne, Eu, Mamãe e os Meninos retrata o período em que ele era tratado por sua família, em especial por sua mãe (aqui interpretada pelo próprio Gallienne), de um jeito diferente de seus irmãos. Quando chamava os filhos para comer, ela gritava “Meninos e Guillaume, para a mesa”, confundindo o caçula constantemente com uma menina, a filha que gostaria de ter tido. E se as pessoas o viam assim, porque não agir como tal, então? Dessa forma, se inicia a de busca do protagonista por sua identidade sexual.


Tendo escrito e dirigido o filme (aliás, esta é sua estreia como diretor), Guillaume Gallienne investe em uma estrutura curiosa para contar sua história. Iniciando a produção exatamente com o show de seu personagem, faz uso do monólogo teatral para dar origem às cenas do passado. Nisso, a montagem de Valérie Deseine merece crédito ao conseguir intercalar organicamente as cenas que em que o protagonista aparece no palco com as que mostram sua história na tela. Assim, é até perdoável o fato de algumas passagens do texto serem um tanto expositivas demais, já que ele está recitando tudo para uma plateia que está em cena
Pela história trazer uma situação um tanto inusitada, não é surpresa ver que Guillaume Gallienne tenta fazer graça a partir das experiências inusitadas que enfrentou. Nisso, as sequências em que ele imagina a mãe ao seu lado fazendo alguns comentários são particularmente divertidas, como quando ela surge em meio a um jogo de rugby. O modo delicado com o qual o cineasta interpreta o personagem (ou a si mesmo), somado ao seu carisma inabalável, também é responsável por algumas boas risadas, como quando faz um alarde por causa de um machucado na mão. Claro que nem sempre o diretor-roteirista-ator acerta nesse quesito, e a cena em que o protagonista gagueja durante uma conversa com um médico no exército é um bom exemplo disso. Esses momentos mais fracos, no entanto, são poucos e não chegam a quebrar o dinamismo presente ao longo da narrativa.
No entanto, o que faz mesmo com que Eu, Mamãe e os Meninos seja interessante é a sensibilidade de Gallienne na condução desta trama em busca de sua identidade sexual (e por ser um projeto tão pessoal, é difícil imaginar outra pessoa assumindo a cadeira de direção). Este detalhe ajuda a tornar envolvente e até mesmo simpática a jornada de seu personagem. Desde o início é possível ver que o modo dele agir ao longo do filme parece vir de uma necessidade de ser aceito dentro da própria família. Isso fica claro quando decide passar um tempo na Espanha e aprende a dançar flamenco, mas ao saber que seus passos que aprendeu são femininos, ao invés de dar espaço a uma frustração, fica feliz por acreditar que sua mãe gostará de saber disso. O curioso é que Guillaume realmente se vê em dúvida com relação a sua própria natureza, algo que lhe traz certa vulnerabilidade, e por isso acaba sendo bacana vê-lo agir de maneira tão segura a partir do momento em que finalmente se encontra.
Por fim, há um clímax tocante, que mostra que o que vimos na tela não deixa de ser uma homenagem de Gallienne a sua mãe. Eu, Mamãe e os Meninos pode não ser o melhor filme francês do ano passado (prêmio que levou no César, o Oscar francês, superando obras superiores como Azul É a Cor Mais Quente), mas certamente é um belo trabalho e uma estreia promissora de Guillaume Gallienne como realizador.
Nota:

terça-feira, 8 de abril de 2014

Capitão América 2: O Soldado Invernal

Ainda que tenha servido muito mais para inserir o personagem no universo cinematográfico que a Marvel Studios vem construindo nos últimos anos, o primeiro filme do Capitão América mostrou ser uma boa aventura, além de ser a produção visualmente mais caprichada que o estúdio realizou. Depois de ter aparecido em Os Vingadores, o personagem retorna em um novo filme-solo, que surpreende ao ser não só o melhor exemplar da Fase 2 da Marvel até agora, mas também um dos melhores do estúdio considerando todas as suas produções, chegando praticamente no mesmo nível do primeiro Homem de Ferro, seu sucesso inaugural.

Escrito pelos mesmos Christopher Markus e Stephen McFeely do filme anterior (e também do desastroso Thor 2), Capitão América 2: O Soldado Invernal traz Steve Rogers (Chris Evans) ajudando a S.H.I.E.L.D. ao mesmo tempo em que tenta se adaptar ao mundo moderno, depois de ter ficado quase 70 anos congelado. Através de Nick Fury (Samuel L. Jackson), Rogers fica sabendo da existência do Projeto Insight, que pode eliminar qualquer alvo onde quer que esteja, mas cuja utilização não deve estar planejada para algo tão bom quanto parece. Quando Fury e o resto da agência ficam comprometidos por causa de um antigo inimigo, o herói se torna um fugitivo graças às ordens do secretário Alexander Pierce (Robert Redford). Mesmo com toda a desconfiança ao seu redor, Rogers tem a ajuda de Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) e do piloto Sam Wilson (Anthony Mackie) para descobrir o que está acontecendo na S.H.I.E.L.D., sendo que ainda precisa enfrentar o misterioso combatente Soldado Invernal (Sebastian Stan).

Nas mãos dos irmãos Anthony e Joe Russo (conhecidos por séries cômicas excepcionais como Arrested Development e Community, mas cujo último trabalho na direção de um longa foi o fraco Dois é Bom, Três é Demais), Capitão América 2 surpreende com um tom mais sério do que o dos filmes anteriores da Marvel, com um clima conspiratório e toques de thriller de espionagem que ajudam a tornar a história cativante e envolvente. Isso, é claro, não impede que momentos espontaneamente divertidos surjam na tela ocasionalmente, e logo de cara a lista que o protagonista faz de itens com os quais deve se atualizar é uma bela sacada, assim como as conversas pessoais entre ele e a Viúva Negra. Mas os irmãos cineastas não surpreendem apenas quanto ao tom da história, conduzindo as várias cenas de ação com segurança absoluta, como a missão inicial que se passa em um navio, a perseguição envolvendo Nick Fury (e é ótimo ver o personagem em ação, finalmente) e a luta contra o Soldado Invernal e seus capangas em uma rodovia.

O roteiro acerta ao não se preocupar demais em estabelecer um determinado elemento que será importante em Os Vingadores 2, como aconteceu em alguns filmes da Marvel desde que esse universo cinematográfico começou a ser montado, o que faria a produção aparentar ser mais uma prévia do que veremos na nova reunião dos heróis. É verdade que temos uma série de referências a outros personagens, desde as Indústrias Stark até a menção de nomes como o de Bruce Banner e de outro herói que ganhará seu próprio filme futuramente, mas estas surgem organicamente e acabam servindo para ilustrar o universo da história. Assim, Capitão América 2 busca se concentrar no desenvolvimento de sua trama e dos personagens, fazendo isso com calma e naturalidade. Aqui e ali o filme escorrega em certas reviravoltas que ora são bobas, ora previsíveis, além de o plano dos vilões de matar algumas pessoas para salvar várias não ser muito original, mas ao menos são problemas que não atrapalham tanto a narrativa.

Enquanto isso, Chris Evans volta a trazer determinação e carisma a Steve Rogers, sendo este um personagem que não teme questionar seus superiores com relação às ordens que recebe, mostrando ser um homem guiado mais por sua sensibilidade do que por seu patriotismo. Evans ainda tem uma dinâmica admirável com os igualmente carismáticos Scarlett Johansson, novamente confortável como Natasha Romanoff, e Anthony Mackie, que interpretando Sam Wilson se revela uma bem-vinda adição a esse universo. E se nós não chegamos a temer pelo destino dos personagens (afinal, eles devem aparecer em filmes futuros), ao menos ficamos curiosos para saber como eles sairão das situações perigosas nas quais se metem. Já Samuel L. Jackson traz uma segurança invejável a Nick Fury, ao passo que Sebastian Stan faz do Soldado Invernal um vilão à altura dos heróis (ainda que o relacionamento dele com o protagonista seja um pouco batido) e Robert Redford tem sempre uma grande presença como o manipulador Alexander Pierce. Aliás, é curioso ver Redford em um papel oposto àquele que interpretou no ótimo Três Dias do Condor.

A Fase 2 da Marvel pode não ter tido um começo dos melhores, mas Capitão América 2 certamente representa uma bela respirada para o estúdio, sendo um filme acima da média. Agora resta esperar que Guardiões da Galáxia mantenha esse bom nível antes da chegada de Os Vingadores 2.

Obs.: Como de costume em filmes da Marvel, não saia do cinema antes do fim dos créditos. Há duas cenas adicionais.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Réquiem Para Um Sonho

Boa parte dos filmes de Darren Aronofsky conta com personagens que mergulham de alguma forma em um processo de autodestruição. Depois de incluir isso logo em seu primeiro longa-metragem, Pi, o diretor continuou nessa linha em Réquiem Para um Sonho, no qual mostrou os custos degradantes que o vício em drogas traz para as figuras centrais da história. É um daqueles filmes que são difíceis de digerir inicialmente, e isso é prova de sua força diante do espectador.

Baseado no livro de Hubert Shelby Jr., que escreveu o roteiro em parceria com o próprio Darren Aronofsky, Réquiem Para um Sonho se concentra em Sara Goldfarb (Ellen Burstyn), senhora solitária que passa a maior parte de seu tempo vendo o programa de Tappy Tibbons (Christopher McDonald) na TV, e no trio formado por seu filho Harry (Jared Leto), a namorada dele, Marion (Jennifer Connelly), e o amigo Tyrone (Marlon Wayans), todos viciados em heroína. Cada um desses personagens possui um sonho em especial, e esperam realizá-lo em breve. Enquanto Sara é convidada para participar do programa que tanto gosta, o que a leva a tomar pílulas para emagrecer na tentativa de entrar em um vestido perfeito para a ocasião, Harry, Marion e Ty tentam juntar dinheiro para investir em um negócio que resolva suas vidas. Mas o vício de cada um acaba os impedindo de seguir com seus planos da forma como gostariam.
Um detalhe curioso em Réquiem Para um Sonho é que enquanto Sara sabe que a heroína não traz nada de bom para o filho, ele diz o mesmo sobre as pílulas que ela passa a tomar, mas ambos não têm noção do estrago que estão fazendo com as próprias vidas ao se entregarem impulsivamente aos seus respectivos vícios. Aliás, não deixa de ser interessante perceber que cada uma dessas drogas resultam em tragédia, mostrando que não há muita diferença entre elas. E algo que fica claro é que estes tipos (assim como deve ser com várias pessoas na vida real) fazem uso dessas substâncias para fugir de realidades vazias e cheias de decepções. Algo que pode ser visto, por exemplo, na cena em que Harry imagina Marion transando com outro homem, esquecendo-se disso logo depois de injetar heroína na veia.
No entanto, os personagens até podem se sentir mais aliviados com as drogas, mas as consequências que elas trazem são realmente tristes de se acompanhar, sendo que eles se veem obrigados a desistir de coisas que inicialmente desejavam para si mesmos. Dessa forma, não é à toa que ouvimos a excepcional e melancólica trilha de Clint Mansell mesmo nas cenas em que Sara, Harry e os outros aparentam estar muito bem e com um sorriso no rosto, pois sabemos que o caminho percorrido por eles é destruidor e pode não ter volta.
Em algumas passagens em que os personagens estão sob o efeito das drogas, Darren Aronofsky é inteligente ao usar uma lente grande angular que deforma um pouco a imagem de maneira que entendamos mais ou menos como eles se sentem. O diretor também acerta em cheio ao criar um ambiente pesado, que beira um pesadelo e percorre toda a narrativa, contribuindo para que o filme tenha o impacto pretendido. Nesse quesito, o cineasta ainda tem a ajuda da excelente fotografia de seu colaborador habitual Matthew Libatique, que dá um tom cru às imagens vistas na tela, algo que inclusive havia feito muito bem em Pi. E a montagem de Jay Rabinowitz dá um ritmo inquieto à história, refletindo um pouco estas vidas, além de ser repleta de momentos inspirados, como as rápidas sequências em que vemos as drogas sendo usadas ou como aquela em que Sara toma café da manhã e cortes secos fazem os alimentos sumirem repentinamente, ressaltando a rapidez dela na hora de comer.
Tendo ainda grandes atuações de seu elenco, desde Ellen Burstyn (merecidamente indicada ao Oscar) até Marlon Wayans, Réquiem Para um Sonho foi um ótimo passo na carreira de Darren Aronofsky. E é bom ver que, depois deste filme, ele conseguiu realizar obras igualmente relevantes, que o confirmam como um dos diretores mais interessantes da atualidade.
Nota: