quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Operação Presente

Acho que a maioria das crianças já passou pela situação de temer não receber nenhum presente do Papai Noel. Ser esquecido pelo bom velhinho é um dos piores sentimentos que se pode ter, já que o pensamento que se tem é a de que foi a única criança a ser deixada de lado. Quando um filme pega um tema comum, como o Natal, e enche sua história com grande criatividade, os resultados geralmente são muito interessantes. Isso Operação Presente tem de sobra, o que faz desta nova animação não só um filme muito divertido, mas também cativante.
Escrito pela diretora Sarah Smith ao lado de Peter Baynham, Operação Presente mostra que Papai Noel é um trabalho que passa de geração a geração. Malcolm, o atual Papai Noel, tem um grande esquema na hora de entregar os presentes no Natal. Mas algo dá errado e, dentre bilhões de presentes, apenas um não é entregue: a bicicleta da menina Gwen. Malcolm e seu filho mais velho, Steve, insistem em dizer que é impossível entregar o presente antes da manhã de Natal, mas o caçula Arthur, ao lado do Vovô Noel e da elfa Bryony, corre para que Gwen não seja a única criança esquecida pelo Papai Noel.
Sarah Smith inicia o filme com Gwen enviando uma carta para o bom velhinho. Nela, a garota faz várias perguntas, desde “Como você entrega tantos presentes em uma só noite?” até “Como não encontro sua casa no Google Earth?”. A diretora não perde tempo, respondendo essas perguntas logo depois de elas surgirem na tela, através da grande operação de entrega dos presentes. As soluções são divertidíssimas tanto em ideia como em aplicação, fazendo da missão de Natal um dos melhores momentos do filme.
O desenvolvimento dos personagens também é bem realizado pelo roteiro. Apesar de ser filho do Papai Noel, Arthur não recebe muita atenção das pessoas a sua volta, tanto que é deixado no setor de cartas, um lugar isolado e apertado onde não atrapalharia ninguém. Sendo assim, quando ele vê que uma criança ficará sem presentes no Natal, ele compreende o sentimento que ela terá, já que ele mesmo é, literalmente, ignorado pelo Papai Noel. O fato de o garoto entrar em uma missão arriscada para que todas as crianças tenham um Natal feliz o torna um personagem ainda mais admirável, porque não é qualquer um que se importa com um único presente esquecido no meio de bilhões entregues. Malcolm e Steve se importam com esse pequeno detalhe, mas não tanto quanto Arthur.
Aliás, Malcolm é um Papai Noel que diverte por ter se deixado levar pela tecnologia, o que facilitou muito seu trabalho, algo que o Vovô Noel vê com desdém, já que tudo funcionava muito bem na época em que ele descia pela chaminé. O trabalho ficou tão facilitado que Malcolm praticamente não faz nada na hora de entregar os presentes. Mas isso trouxe consequências, já que ele não trata os problemas, como o presente esquecido, com a mesma atenção de antes, além de ser bastante dependente das outras pessoas, até para fazer um embrulho. E o conflito entre ele e Steve, acertadamente, nunca se torna o centro das atenções, o que ajuda no desenvolvimento da história.
O roteiro investe bastante em gags, mas, infelizmente, erra várias vezes ao longo da projeção. Este é um problema que piora pelo fato de Sarah Smith praticamente parar o filme para que as gags aconteçam, o que atrapalha a ação da história. Algumas dessas gags que não dão certo envolvem o ajudante de Steve. Por outro lado, Bryony consegue fazer rir várias vezes, como quando leva a sério uma ordem do Vovô Noel.
Operação Presente nos faz lembrar de como era a nossa infância, quando esperávamos o Papai Noel para nos dar presentes. São crenças que desaparecem depois que crescemos, mas que marcam bastante a nossa história. Ao final do filme, é legal ver os personagens felizes com coisas bastante simples. É essa a magia do Natal para as crianças, já que para elas um mero boneco pode transformá-las nas pessoas mais felizes do mundo. De certa maneira, ao longo de seus 100 minutos de projeção, o filme nos faz voltar para aqueles bons tempos, algo que é sempre muito bom.
Cotação:

Underground: Mentiras de Guerra

(Texto originalmente escrito para a aula de Estudo do Cinema Internacional)
Underground: Mentiras de Guerra mostra a história da Iugoslávia desde a Segunda Guerra Mundial até os dias atuais, em 1992. Toda a história é contada de maneira satírica pelo diretor Emir Kusturica, o que faz com que Underground seja um filme engraçado durante quase todo tempo de projeção (162 minutos), e consegue essa façanha mesmo com o cenário político em que está envolvido.
Dividido em três partes (Guerra, Guerra Fria e Guerra), Underground nos apresenta a uma dupla de fabricantes de armas, Marko e Crni, no período da Segunda Guerra Mundial. Eles mantêm em seu porão um grupo de refugiados que os ajudam na fabricação dos armamentos. Quando a guerra acaba, os trabalhadores não ficam sabendo e continuam a produção. Anos mais tarde, eles conseguem sair do porão e descobrem que a guerra, apesar de não ser a mesma de antes, continua.
Essa forma com que o filme é dividido já é engraçada por ser muito bem montada para que os refugiados se surpreendam com o que veem no momento em que saem do porão. Isso é só uma parte do humor negro que aparece ao longo do filme. Mas, apesar de contar com seus momentos engraçados, Underground não deixa de ficar sério em alguns momentos, como quando um dos personagens, Ivan, tenta desesperadamente salvar os animais do zoológico enquanto que a guerra estoura no país.
O final de Underground, quando vários personagens, até mesmo os que morreram ao longo do filme, aparecem juntos em um pequeno pedaço de terra, é genial por ser uma bela metáfora, que representa um novo começo para o povo daquele país. Genialidade que merece ser aplaudida de pé.

sábado, 26 de novembro de 2011

For Your Consideration

Como vocês podem perceber pelo número de postagens que escrevo sobre o assunto, eu gosto muito do Oscar. Acompanho essas festas incessantemente desde 2005. É claro que às vezes a cerimônia não é muito empolgante e aqueles que queremos como ganhadores acabam saindo com as mãos abanando, mas gosto de ver diretores, atores, roteiristas e etc., sendo prestigiados por seus trabalhos.
Faltando dois meses para sair a lista de indicados da próxima edição, os estúdios já começaram as campanhas de seus filmes fazendo os famosos banners e clipes com a headline “For Your Consideration” (“Para a sua Consideração”). Coloco aqui alguns desses banners, que são bem bacanas, além de dois clipes da fervorosa campanha que a Warner está fazendo para Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2.

domingo, 20 de novembro de 2011

A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 1

Ao longo dos livros da “saga” Crepúsculo, pude perceber que Stephanie Meyer teve uma ideia que poderia resultar em algo interessante, caso ela não fosse uma escritora ruim por enrolar demais pra chegar ao ponto principal do quer contar. Enquanto lia Amanhecer, sempre que a história parecia estar tomando um rumo interessante, Meyer colocava algo no caminho que acabava com a experiência de ler o livro. O filme, assim como as outras adaptações, poderia muito bem cortar esses erros da escritora e fazer da história algo mais suportável. Mas, infelizmente, não é o que acontece.
Escrito por Melissa Rosenberg (acho incrível que ela seja uma das pessoas envolvidas na grande série Dexter), Amanhecer – Parte 1 mostra o casamento de Bella Swan (Kristen Stewart) e Edward Cullen (Robert Pattinson) e como suas vidas seguem depois de casados. Durante a lua de mel, Bella engravida, e o bebê mostra ser uma ameaça a sua vida e a vida daqueles a sua volta, o que faz o bando de Jacob Black (Taylor Lautner) querer resolver o problema. Mas o lobisomem se rebela e junta forças com os Cullen para proteger Bella.
Amanhecer – Parte 1 começa terminando Eclipse, colocando a cena na qual Jacob foge ao receber o convite para o casamento de Bella. O problema do modo como isso é feito aparece na passagem de tempo. Quando Jacob volta para o casamento, a impressão que fica é a de que ele foi só dar uma volta para pensar, quando na verdade ele desapareceu durante meses. Aliás, o roteiro de Rosenberg tenta concertar várias coisas dos filmes anteriores, como explicar o conceito do imprinting, que foi jogado na tela displicentemente em Lua Nova. Mas isso acaba trazendo consequências, como diálogos explicativos como “Essa é a lei absoluta deles (referindo-se aos lobisomens)”.
Mas se o filme procura rever algumas desatenções que ocorreram ao longo da franquia, o mesmo não se pode dizer quanto à “encheção de linguiça” feita por Stephanie Meyer e que ocorre em demasia no livro. Se por um lado Rosenberg tira partes como quando Edward pede para Jacob ter um filho com Bella (uma das coisas mais absurdas da história), do outro ela mantém o fato de o vampiro não querer mais ter relações sexuais com a garota por medo de machucá-la como na primeira vez, o que não muda em nada o rumo da história porque depois eles voltam a dormir juntos de qualquer maneira. Além disso, Rosenberg ainda inclui momentos dos livros anteriores, como um flashback de Edward, que mostra ser desnecessário porque, mais uma vez, não muda em nada o rumo da história. E manter essas partes só mostra o quanto o texto de Stephanie Meyer é superestimado por seus realizadores.
O escolhido para conduzir a última parte da franquia, Bill Condon (do mediano Dreamgirls), tem uma direção bastante burocrática, de modo geral. O único momento realmente inspirado do cineasta acontece no já citado flashback de Edward, onde o diretor faz um uso interessante da fotografia em preto e branco, usando-a para mostrar a fase terrível da vida do personagem. Mas este é um acerto muito isolado.
Nas cenas de ação, Condon chacoalha demais a câmera, não permitindo que o público compreenda o que está acontecendo, algo ainda mais agravante pelo fato de ele investir em muitos cortes rápidos. E apesar de ele conduzir bem a cena do casamento (o traveling circular que ele faz no momento do beijo, quando os protagonistas estão “sozinhos”, é bacana), o mesmo não pode ser dito sobre a festa, que se revela a parte mais entediante do filme, chegando ao ápice no momento em que os convidados começam a fazer brindes. O diretor ainda mantém as cores quentes vistas no início durante todo o filme, o que não passa o total clima de tensão que impera a partir do momento em que a narrativa fica mais sombria.
O filme ainda investe um pouco no humor, mas falha miseravelmente. Há apenas dois momentos engraçados nas quase duas horas de projeção, ambos envolvendo Charlie (Billy Burke): quando ele comenta com a mãe de Bella sobre os chapéus de formatura dos Cullen e o brinde que ele faz na festa. De resto, ver um quarto ser destruído é outra parte que deveria ter sido cortada do filme, já que é usada para buscar o riso fácil quando, na verdade, deveria representar um momento especial.
E chegamos finalmente aos personagens. Bella prova neste filme que adora qualquer coisa que possa matá-la. Primeiro foi Edward, depois Jacob e agora é o bebê que carrega em seu ventre. É claro que o amor que ela sente pela criança é maternal, mas acaba entrando perfeitamente no código que a garota parece seguir. E Kristen Stewart continua com a mesma inexpressão de sempre, o que faz com nunca saibamos se Bella está realmente feliz ou triste.
Se Stewart está inexpressiva, Robert Pattinson continua com sua cara de dor de barriga. E quando Edward entra em choque em certo momento do filme, Pattinson acaba causando o riso involuntário com seus olhos arregalados, quando na verdade ele deveria demonstrar preocupação com aquilo que não conhece, ou seja, o que pode acontecer a seguir. Já Taylor Lautner faz o possível com um personagem que merecia uns tapas para pensar direito. Mesmo depois de três filmes (ou livros), Jacob não entendeu que Edward não fará mal a Bella, o que faz ele questionar a garota se ela realmente acha que terá uma verdadeira lua de mel ao lado do vampiro.
Amanhecer claramente não precisava ser dividido em duas partes, tendo isso acontecido muito mais por motivos comerciais. Bastava seus realizadores terem um pouco mais de atenção com certas informações e um corte mais brando nas enrolações de sua criadora. Muitas coisas teriam que ser mudadas no material original de Crepúsculo para que este pudesse render bons filmes. E depois que a segunda parte de Amanhecer for lançada, esta será uma franquia que ficará marcada por aquilo que tem de ruim.
Obs.: Há uma cena durante os créditos finais.
Cotação:

sábado, 12 de novembro de 2011

Mudanças no Oscar 2012

Essa semana foi bastante agitada para o pessoal que cuida da organização do Oscar. Terça-feira, o diretor Brett Ratner, que iria produzir a cerimônia do ano que vem, pediu demissão depois de fazer comentários nenhum pouco bacanas enquanto promovia seu novo filme, Roubo nas Alturas. Entre os infelizes comentários, Ratner disse que “ensaio é coisa de bicha”, sem pensar em como isso iria repercutir mais tarde. No dia seguinte, o Oscar perdeu também seu apresentador, Eddie Murphy, que só entrou na festa por causa de Ratner (o comediante é uma das estrelas de Roubo nas Alturas).
Brett Ratner como produtor já estava sendo mal visto por várias pessoas. Admito que gosto da maioria dos filmes que ele dirigiu, mas o que Ratner poderia acrescentar para a cerimônia?
E Eddie Murphy? Como seria sua apresentação? Engraçada como seus famosos shows de stand up comedy ou uma porcaria como vários de seus filmes (Norbit e O Professor Aloprado 2 são os primeiros que me vêm à cabeça neste momento)?
São perguntas que não saberemos as respostas. Mas a verdade é que a rapidez com que a organização do Oscar resolveu esses problemas simplesmente fez esquecer que um dia Ratner e Murphy estiveram envolvidos em uma cerimônia. Na quarta-feira, Brian Grazer, produtor famoso por colaborar com os filmes de Ron Howard (Uma Mente Brilhante, Frost/Nixon, O Código Da Vinci), foi anunciado como substituto de Ratner. Mas a melhor notícia saiu na quinta-feira, quando um velho conhecido do Oscar foi chamado para apresentar a cerimônia. Trata-se de Billy Crystal.
Não poderia ter sido uma escolha melhor. No dia que Murphy saiu, coloquei no twitter as minhas opções para novo apresentador e Crystal estava no topo da lista. Ele não é só uma ótima escolha, mas também a mais segura. Tendo apresentado o show oito vezes, Crystal já tem muita experiência no assunto. Sem falar que é um cara divertido e carismático. O que dizer sobre quando ele apareceu usando uma máscara de Hannibal Lecter, na cerimônia de 1992?
A última vez que Billy Crystal apresentou o Oscar foi em 2004, ano em que ele abriu a cerimônia dessa maneira:
O Oscar 2012 promete ser um grande show. Tomara que Crystal mostre que ainda não perdeu a boa forma.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O Palhaço

Em sua estreia como diretor no excelente Feliz Natal, o ator Selton Mello mostrou uma segurança invejável na condução de uma história dramaticamente pesada e que tinha personagens de grande complexidade. Se naquele filme Mello optou por ficar responsável apenas pelo roteiro e pela direção, em O Palhaço ele mostra ter confiança para aparecer também na frente das câmeras, algo bastante compreensível já que, em comparação com Feliz Natal, este novo filme é muito mais leve. O resultado do grande talento do ator em sua tripla função resulta em um filme adorável do início ao fim.
Escrito por Selton Mello em parceria com Marcelo Vindicatto, O Palhaço nos mostra a vida de um grupo de circo liderado por Benjamim (Mello) e seu pai, Valdemar (Paulo José), a dupla de palhaços da trupe. Para os olhos do público que os assiste, trata-se de um grupo feliz e divertido. Mas a realidade é bem diferente, já que eles mal têm dinheiro para se sustentar. Ao mesmo tempo, Benjamim está em busca de algo que não tem conhecimento, mas que poderá definir o resto de sua vida.
Mello inicia o filme nos apresentando ao espetáculo do circo. O grupo é composto de profissionais talentosíssimos, o que faz com que o show seja alegre, descontraído e muito divertido. Logo depois disso, o diretor corta para o pós-show nos bastidores e mostra que o grupo tem seus próprios problemas, como a precariedade do local e da instalação. A boa fotografia de Adrian Teijido difere bastante as duas partes. Se inicialmente vemos cores quentes que ressaltam a beleza e a alegria do espetáculo, depois vemos cores mais escuras, mostrando que nem tudo é o que parece. A direção de arte também faz um ótimo trabalho neste quesito ao mostrar as tendas do grupo, que são pequenas e construídas improvisadamente.
Como diretor, Selton Mello mostra um grande amadurecimento desde sua estreia. Se em Feliz Natal ele investia bastante em planos longos, em O Palhaço isso já não acontece, já que o número de personagens com o qual ele precisa se preocupar neste novo filme é maior do que antes. Mello consegue lidar muito bem com todos eles, desenvolvendo-os aos poucos, e dando aos personagens secundários a mesma atenção dedicada ao protagonista. Além disso, a sensibilidade que ele demonstra ajuda ainda mais no funcionamento da história.
O modo como o roteiro de Mello e Vindicatto trata o grupo de artistas é admirável. Durante boa parte do filme, eles aparecem juntos, seja para buscar ajuda para um mecânico ou quando são presos. Eles brincam e são compreensíveis uns com os outros. Em resumo, Benjamim e seus companheiros mostram ser uma bela família. Apesar de o momento deles não ser dos melhores, eles nunca mostram estar tristes. Isso fica ainda mais evidente na cena em que o grupo vai almoçar na casa de um prefeito. A família do circo é grande e pobre, enquanto a família do prefeito é pequena e rica. Mesmo com essas diferenças, as duas mostram ser felizes ao seu próprio modo. No entanto, os artistas ainda anseiam por uma melhora de vida, algo que reflete no próprio nome do circo (“Esperança”).
Uma das grandes forças de O Palhaço reside em seus personagens, a começar pelo protagonista. Interpretado por Selton Mello com uma expressão quase sempre séria, Benjamim conquista o espectador logo em sua primeira cena, quando mostra ser um palhaço divertidíssimo. Mas por trás da maquiagem, do nariz vermelho e das roupas xadrez, há um rapaz que não se preocupa só com os próprios problemas, mas também com os problemas do circo. E é quase impossível não gostar de Selton Mello, um dos atores mais talentosos e carismáticos da atualidade. Além disso, a química que ele demonstra com Paulo José é sensacional, resultando em uma das cenas mais emocionantes do filme. Aliás, o veterano ator tem uma grande atuação interpretando um homem que se importa com o bem-estar daqueles que estão a sua volta, não sendo intransigente quando o assunto é dinheiro.
O elenco secundário também mostra grande carisma, desde o mágico de Cadu Fávero até a menina Guilhermina interpretada por Larissa Manoela. E as participações especiais de figuras como Moacyr Franco, Tonico Pereira e Ferrugem deixam o filme ainda mais divertido graças ao ótimo timing cômico que eles mostram em suas rápidas cenas.
O Palhaço pode ser apenas o segundo longa-metragem dirigido por Selton Mello, mas ele já mostra ser merecedor de nossa atenção não só pelo seu grande talento na frente das câmeras, mas também por trás delas.
Cotação:

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Os Incompreendidos

(Texto originalmente escrito para a aula de Análise da Produção Audiovisual)
Várias pessoas dizem que críticos de cinema são aqueles que não têm o dom para fazer um filme, e por isso procuram escrever sobre essa bela arte. Quando digo isso, estou me referindo ao modo como essas pessoas reconhecem os críticos, ou seja, dizendo que eles usam as palavras para destruir os filmes (algo que acho uma grande bobagem, já que existem bons e maus filmes). Mas há sempre aquela boa e velha pergunta: seria um crítico de cinema capaz de fazer um filme? Ou mais do que isso: seria um crítico de cinema capaz de fazer uma obra-prima, que será lembrada mesmo que tenham se passado 50 anos desde seu lançamento? François Truffaut respondeu essas perguntas com Os Incompreendidos, seu filme de estreia como diretor de longas-metragens.
Escrito pelo próprio Truffaut em parceria com Marcel Moussy, Os Incompreendidos conta a história de Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud), um garoto que vive arranjando problemas na escola e tem uma vida familiar difícil. Ele é uma criança que é castigada até quando tenta fazer o que é certo. Influenciado por seu amigo René, Antoine foge de casa e começa a cometer pequenos delitos, e consequentemente paga por eles.
Desde o início do filme Truffaut mostra como são os adultos aos olhos de Antoine, ou seja, aos olhos de uma criança. Neste caso, os adultos são tratados como pessoas autoritárias e pouco atenciosas, e por isso são pouco respeitados. Quando o professor de francês está escrevendo no quadro, por exemplo, os alunos aproveitam para fazer bagunça, principalmente Antoine. A falta de respeito com o professor chega a ser compreensível: como aturar uma pessoa que acha que o futuro da França já está perdido e trata as crianças com mão de ferro?
No caso dos pais de Antoine, a situação é ainda pior, já que eles praticamente querem se livrar do garoto e tentam encontrar um lugar para enviá-lo. Um dos momentos mais memoráveis do filme acontece quando Antoine está deitado em sua cama e seus pais falam coisas que nenhum filho gostaria de ouvir. Sua mãe o acha irritante, enquanto que seu pai diz que já fez demais por ele ao dar nome e alimento.
Essa personalidade dos adultos fica ainda mais evidente no terceiro ato do filme, quando Truffaut nos mostra um Centro de Observação para Delinquentes Juvenis. Em determinado momento, o diretor foca dois jovens conversando e um deles fala que bateu no pai porque este imitava um violino quando o via chorar, mostrando total descaso com a situação. Durante a conversa, Truffaut levanta a câmera e mostra anjos, indicando o que aqueles jovens realmente são: crianças boas que se cansam com o modo como são tratadas. Incompreendidas, como diz o título em português.
Os Incompreendidos tem tons autobiográficos. Assim como Antoine, Truffaut tinha problemas com os pais, algo que o fazia tirar notas baixas na escola e o levou a cometer seus pequenos crimes. O que chama a atenção é o modo como ele trata isso no filme, empregando a belíssima trilha sonora composta por Jean Constantin de maneira muito eficiente. Quando Antoine rouba uma garrafa de leite, Truffaut coloca a trilha sonora suave e com toques de canção de ninar, algo que ressalta não só a tristeza daquele momento, mas também o fato de Antoine ser apenas uma criança. Mais tarde, quando o menino começa a pagar por seus atos, os toques de canção de ninar somem, indicando que Antoine já não está sendo tratado como uma criança pelos adultos a sua volta.
Apesar de definir os adultos como autoritários e as crianças como incompreendidas, Truffaut inclui um momento em que eles não são tão diferentes um do outro. Influenciado por seu melhor amigo, René, Antoine não vai à aula e resolve ir ao cinema. O garoto tira um dia de folga para se divertir, escondido dos pais. Ironicamente, Antoine encontra sua mãe na rua beijando outro homem, quando na verdade deveria estar trabalhando. Ou seja, ela também estava se divertindo quando não deveria.
Mas o mais marcante do filme é com certeza seu final, algo que Truffaut conduz magnificamente. Em certo momento, Antoine diz que nunca viu o mar. Em outro, um jovem que conseguiu fugir do Centro de Observação diz que valeu a pena pela diversão que teve. Sendo assim, quando Antoine foge do local e corre sem parar até o mar, ele não faz isso só para cumprir um objetivo, mas também para poder dizer, caso seja apanhado, que a fuga valeu a pena.
Confesso que nunca havia assistido a um filme da Nouvelle Vague antes deste Os Incompreendidos. Mas esta é uma obra tão linda de se ver que é impossível não se interessar pelas outras produções.
É possível um crítico de cinema fazer um grande filme? Resposta de Truffaut: “Com certeza!”.
Cotação:

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Maratona de Halloween

Sempre quis fazer uma maratona de Halloween para celebrar a data. Consegui fazer isso na última segunda-feira, dia em que os filmes de terror estiveram presentes quase o tempo todo. A maratona foi composta por três filmes que eu ainda não havia assistido. Gostei dos três, em especial dos dois últimos.
Então vamos a eles:
- Hellraiser: Renascido do Inferno (Hellraiser, 1987), de Clive Barker:
Não achei a história de Hellraiser grande coisa, o que é uma pena porque o conceito criado por Clive Barker é interessante, sendo o grande atrativo do filme. Frank (Sean Chapman) abre um portal para o inferno com um cubo e é abduzido por um grupo de Cenobites liderados por Pinhead (Doug Bradley). Ele consegue escapar e volta para casa em um formato de zumbi, precisando se alimentar de outras pessoas para voltar ao normal. Para isso, ele conta com a ajuda de sua cunhada, Julia (Clare Higgins), com quem tem um caso.
O filme compensa a história pouco interessante com a boa atmosfera de tensão que existe nas cenas mais violentas (como aquela em que Frank tem sua pele puxada por correntes) ou nojentas (como quando Kirsty corre de um monstro depois de abrir o portal). Aliás, a violência de Hellraiser não deixa a desejar em nada se comparada com a da franquia Jogos Mortais, por exemplo, o que já é surpreendente considerando que o filme é de 1987. Outro elemento que se salva no filme é Kirsty, personagem interpretada por Ashley Laurence, que mostra ser uma garota de personalidade forte desde o início, não sendo a típica mocinha em perigo.
O que aconteceu com Hellraiser foi a mesma coisa que acontece com qualquer filme que faz um sucesso maior do que o esperado: várias continuações (oito para ser mais exato, sendo que as últimas cinco foram lançadas direto nas locadoras). Não vi nenhuma delas, mas não devem ser melhores do que o original, algo que continua acontecendo hoje em dia, sendo a atual “vítima” Atividade Paranormal.
- O Enigma de Outro Mundo (The Thing, 1982), de John Carpenter:
O Enigma de Outro Mundo se tornou o meu filme favorito de John Carpenter, ao lado de Halloween. As cenas em que a “coisa” aparece são de deixar o queixo caído. Aliás, o monstro do filme é de uma concepção genial. A “coisa” pode ganhar a forma de qualquer ser vivo, seja animal ou humano, o que faz a possibilidade para ela se transformar em qualquer personagem que apareça no filme. Sua forma real nunca é mostrada, mas o modo como ela se transforma em um cachorro ou em um homem já é assustador o bastante.
A atmosfera de desconfiança entre o grupo de cientistas é muito bem imposta por Carpenter, sendo uma das melhores cenas aquela em que MacReady (Kurt Russell) testa o sangue de cada um de seus companheiros, para ver quem está possuído pela “coisa”. As cenas mais violentas aparecem quando menos se espera, o que faz com que o filme fique ainda mais interessante porque os sustos acontecem naturalmente.
É sempre bom ver um filme de terror (ou ficção científica) do calibre de O Enigma de Outro Mundo. Principalmente quando conta com um vilão tão interessante.
- O Homem Invisível (The Invisible Man, 1933), de James Whale:
Um dos clássicos de terror feitos pela Universal Studios na década de 1930 e início da década de 1940, O Homem Invisível é um filme com efeitos visuais extremamente eficientes para a época em que foi feito. Claure Rains brilha interpretando o homem que fica invisível e assombra os lugares por onde passa, além de matar algumas pessoas.
É claro que hoje O Homem Invisível não assusta como quando foi lançado, causando até algumas risadas ocasionais. Mas isso não o deixa menos interessante.
************************************************************************************************
Ainda fechei o dia com os novos episódios de Dexter e The Walking Dead, duas das minhas séries favoritas. Não pensei que a maratona fosse ser tão bacana. Espero que as próximas também sejam.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Apostas para o Oscar 2012

Repetindo o que fiz ano passado, coloco aqui alguns filmes que acho que vão estar presentes entre os indicados ao Oscar 2012. Assim como antes, são apostas feitas não só pelo que acho que vai acontecer, mas também pelo que vejo nos festivais, pelos trailers dos filmes e pela opinião da crítica especializada.
- O Espião Que Sabia Demais (Tinker Tailor Soldier Spy), de Thomas Alfredson
Aclamado pela crítica no Festival de Veneza, o novo filme do diretor Thomas Alfredson (do ótimo Deixe Ela Entrar) tem cheiro de Oscar, algo que se vê ainda no trailer. O elenco é excelente, liderado por Gary Oldman, ator que merece uma indicação há muito tempo. Recentemente, O Espião Que Sabia Demais foi um dos filmes com maior número de indicações para o British Independent Film Awards ao lado de Shame, outro que está nesta lista.
- Drive, de Nicolas Winding Refn
Vem sendo um grande sucesso de crítica desde que foi exibido pela primeira vez no Festival de Cannes, onde levou o prêmio de Melhor Diretor. Drive também vem chamando a atenção pela atuação de Ryan Gosling, que está sendo muito elogiada e pode render a segunda indicação do ator ao Oscar.
- O Homem Que Mudou o Jogo (Moneyball), de Bennett Miller
Filme que vem conquistando crítica e público, já tendo arrecadado 80 milhões de dólares nas bilheterias americanas. A história do filme é bastante promissora e a equipe por trás do filme já é conhecida da Academia. O diretor Bennet Miller já foi indicado por Capote, enquanto que o roteirista é Aaron Sorkin, que levou o Oscar de Roteiro Adaptado esse ano por A Rede Social. O elenco conta com Brad Pitt, Phillip Seymour Hoffman, Jonah Hill e Robin Wright.
- Rango, de Gore Verbinski
A Pixar falhou este ano pela primeira vez, o que faz com que esta grande homenagem aos filmes de western seja o grande favorito ao prêmio de Melhor Animação. Isso se Steven Spielberg não consiguir superá-lo com o próximo filme da lista. A trilha sonora de Rango também teria grandes chances de ser indicada, mas recentemente o compositor Hans Zimmer recusou qualquer indicação para o próximo Oscar.
- As Aventuras de Tintin (The Adventures of Tintin), de Steven Spielberg
Se Spielberg conseguir fazer dos quadrinhos de Hergé um bom filme, então teremos a única animação do ano que pode brigar com Rango por alguma coisa. Os personagens dos quadrinhos são muito bons e as histórias são interessantíssimas. O trailer de As Aventuras de Tintin é empolgante, dando muita vontade de ver o filme.
- Shame, de Steve McQueen
Não sei se o filme tem alguma chance, mas seu protagonista deve constar na lista dos cinco indicados a Melhor Ator. 2011 foi um grande ano para Michael Fassbender. Muito elogiado pelos seus papéis em X-Men: Primeira Classe e Um Método Perigoso (este último dirigido por David Cronenberg), Fassbender venceu Melhor Ator no Festival de Veneza. Uma indicação ao Oscar fecharia tudo com chave de ouro.
- Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2 (Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2), de David Yates
Tenho 90% de certeza de que Harry Potter 7.2 não será lembrado pela Academia nas categorias principais. Mas nunca se sabe. Maior bilheteria do ano. Aclamadíssimo pela crítica. Prestigiar o último filme de Harry Potter com algumas indicações seria a mesma coisa que prestigiar a franquia como um todo. Não devemos nos esquecer de O Senhor dos Anéis, que teve os três filmes lembrados em seus respectivos anos, mas apenas o último levou todos os prêmios nos quais estava indicado.
- Melancolia (Melancholia), de Lars von Trier
Nenhum filme de Lars von Trier foi lembrado pela Academia em categorias como Melhor Filme, Direção, Roteiro. Acho que o mesmo vai acontecer com Melancolia, infelizmente. Mas há chances de Kirsten Dunst, com sua ótima atuação, ser indicada a Melhor Atriz, prêmio que ela recebeu no Festival de Cannes.
- A Árvore da Vida (The Tree of Life), de Terrence Malick
Aclamado pela crítica. Odiado pela maioria do público. O belíssimo filme de Terrence Malick tem grandes chances de ser indicado, já tendo ganhado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Malick já foi indicado pelo roteiro e pela direção de Além da Linha Vermelha, em 1999. Acho que a Academia não gostaria de perder a chance de indica-lo por A Árvore da Vida, um dos melhores filmes do ano.