terça-feira, 30 de outubro de 2012

007: Operação Skyfall

Sendo a série mais longa da história do cinema, a franquia 007 teve bons e maus momentos ao longo de seus 50 anos de existência. O excepcional 007: Cassino Royale, por exemplo, apresentou Daniel Craig como James Bond depois de dois capítulos fraquíssimos estrelados por Pierce Brosnan (um 007 eficiente, mas que teve sua boa fase apenas nas duas primeiras aventuras que protagonizou), servindo ainda como um recomeço para a história de James Bond. Se a continuação 007: Quantum of Solace foi uma pequena decepção, isso é mais do compensado agora em 007: Operação Skyfall, 23º filme da franquia a chegar aos cinemas e que consegue ser um de seus melhores exemplares.
Escrito por Neal Purvis e Robert Wade (os mesmos roteiristas dos quatro últimos filmes da franquia) em parceria com John Logan, Operação Skyfall começa em Istambul, onde James Bond tenta recuperar uma lista com os nomes dos agentes infiltrados em organizações terroristas no mundo todo. Após ser abatido, Bond retorna ao trabalho quando o MI6 é atacado, deixando a dúvida quanto a capacidade de M (Judi Dench) para liderar o setor. Tudo isso faz parte do plano de Raoul Silva (Javier Bardem), um velho conhecido da chefe do MI6, que agora quer destruí-la a todo custo.
Mesmo abrindo o filme com uma sequência frenética de uma missão (o que é de praxe na série), o roteiro investe mais tempo explorando seus personagens ao longo da história, tocando em assuntos nunca antes vistos, como a infância de James Bond. A inclusão de detalhes como esses é surpreendente dentro do filme, e é bom ver que ainda há o que desenvolver no personagem mesmo depois de tantos filmes. Além disso, é interessante o modo como os roteiristas tratam o relacionamento entre Bond e M, já que aqui os personagens deixam clara a importância que tem um para o outro, se protegendo mesmo quando a confiança entre eles fica um tanto abalada. Na verdade, é possível estabelecer uma relação de mãe e filho entre os dois personagens, até por causa do nome da mãe do protagonista. E a sensibilidade que o diretor Sam Mendes demonstra ter em algumas cenas é admirável e resulta em alguns dos momentos mais tocantes da série.
Mas M não serve como uma figura materna apenas para James Bond, sendo também para o vilão do filme. O desejo de vingança de Raoul Silva existe graças às decisões que M toma sem medir as consequências, o que é compreensível na posição em que ela se encontra. Em certos momentos, o plano do vilão chega a lembrar muito o Coringa de Batman: O Cavaleiro das Trevas, não só pelo modo como tudo transcorre, mas também por ele querer destruir alguém que parece completa-lo de alguma maneira. Javier Bardem o interpreta brilhantemente, investindo em uma caracterização que o transforma em um homem aparentemente calmo, mas que exala ameaça exatamente por causa disso, já que ele parece sempre estar com a situação sob controle (o monólogo que ele tem em sua primeira cena no filme exemplifica isso muito bem).
Em se tratando das cenas de ação, Sam Mendes (que apesar de ter flertado um pouco com o gênero em Soldado Anônimo, é mais conhecido por dramas como Beleza Americana e Foi Apenas Um Sonho) surpreende ao entregar sequências de tirar o fôlego. Além de acertar no ritmo das cenas de maneira que elas nunca ficam aborrecidas, Mendes consegue fazer com que elas sejam bastante envolventes, como na já citada sequência inicial quando o cineasta dá atenção a uma luta do protagonista ao mesmo tempo em que mostra as ações de M e Eve (Naomie Harris). O diretor também é bem sucedido ao impor tensão quando necessário, desde um interrogatório envolvendo o vilão até a sequência final em uma mansão.
Ao longo do filme, o roteiro não deixa de incluir algumas referências aos outros filmes da série, o que não só faz Operação Skyfall lembrar um pouco as produções estreladas por Sean Connery (mesmo que nunca se desligue da abordagem mais moderna que tomou a partir de Cassino Royale) como também transforma o filme em uma pequena homenagem a série, o que não deixa de ser apropriado no ano em que ela completa 50 anos. Tais referências vão desde o Aston Martin usado a partir de determinado momento (lembrando 007 Contra o Satânico Dr. No) até uma arma que pode ser usada apenas por James Bond (o mesmo funcionamento daquela que foi utilizada em 007: Permissão Para Matar). É admirável que esses detalhes sejam inseridos na história organicamente e funcionando muito bem dentro do filme, não sendo referências vazias. Além disso, não deixa de ser divertido ver uma cena na qual o famoso martini “batido, não mexido” é feito para o protagonista.
Em sua terceira incursão como James Bond, Daniel Craig surge mais seguro do que nunca interpretando o personagem. O Bond que o ator criou ao longo dos três filmes que fez até agora (e espero que seu contrato para mais dois seja cumprido) sempre mostrou ser mais violento, vulnerável e propenso ao erro, o que consequentemente o torna mais humano. Já Judi Dench ganha mais espaço como M e apesar de exibir sua costumeira expressão séria, a atriz faz mais uma vez com que sua personagem seja uma figura muito querida, além de conseguir retratar muito bem o peso de suas decisões. Enquanto isso, Naomie Harris desenvolve uma química mais do que adequada com Craig considerando a personagem que ela interpreta, ao passo que Ralph Fiennes é a escolha perfeita para um papel que terá importância nos próximos filmes. Já Ben Whishaw cria uma versão carismática, divertida e nerd de Q, não decepcionando com relação aos seus antecessores.
Completando com sucesso a ideia de um recomeço da franquia, Operação Skyfall fecha satisfatoriamente sua história ao mesmo tempo em que apresenta nomes conhecidos do universo de James Bond, deixando o terreno muito bem preparado para as próximas aventuras. E é sempre um prazer ver nos créditos finais a frase “James Bond retornará”.
Cotação:

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

As Vantagens de Ser Invisível

Até assistir As Vantagens de Ser Invisível, acho que ainda não havia visto uma adaptação de livro ser dirigida pelo próprio autor da obra original. Mesmo pesquisando para ver se isso já aconteceu mais vezes, não encontrei outros exemplos. Chega a ser surpreendente que os produtores deste filme (entre eles o ator John Malkovich) tenham chamado Stephen Chbosky para comandar a adaptação, porque mesmo que ele já tivesse uma carreira no cinema antes mesmo de lançar o livro (que não li ainda), o diretor-roteirista ainda não havia feito algo que realmente chamasse a atenção. Mas é um alívio que o trabalho tenha caído em suas mãos, já que o pensamento de que não haveria pessoa melhor para contar a história acaba persistindo ao longo de todo o filme.
As Vantagens de Ser Invisível nos apresenta a Charlie (Logan Lerman), um jovem de 15 anos que acaba de entrar para o ensino médio. Tímido e com dificuldades para se relacionar com outras pessoas, ele ainda sofre de alguns distúrbios mentais, e é visto como um estranho pelos colegas de classe. Mas ao conhecer os irmãos Sam (Emma Watson) e Patrick (Ezra Miller), veteranos na escola, Charlie encontra duas pessoas que o admiram pelo que ele é, iniciando assim uma bela amizade que o ajuda a se encaixar em um grupo de jovens “deslocados” como ele. Ao mesmo tempo, o garoto tem de lidar com o amor que sente pela nova amiga.
Enquanto desenvolve os personagens com uma calma admirável, Stephen Chbosky trata o tema amizade com uma sensibilidade tocante, e até por isso acho que As Vantagens de Ser Invisível faria uma ótima sessão dupla com o clássico O Clube dos Cinco. O grupo no qual Charlie começa a fazer parte é uma chance de ele passar o tempo com pessoas que gosta (e que devolvem esse sentimento) e esquecer um pouco os problemas que o assombram, que vão desde a morte de sua tia Helen (Melanie Lynskey) quando ele era criança até o recente suicídio de seu melhor amigo. O diretor mostra muito bem que uma das especialidades dos amigos é fazer com que os problemas da vida sejam esquecidos, pelo menos por alguns minutos, e até por isso estas são figuras em que tanto confiamos. Dessa forma, chega a ser fácil se identificar com os personagens e suas histórias.
No caso de Charlie, quando vê que não há ninguém por perto com quem possa espairecer e esvaziar um pouco a cabeça, ele se fecha em seu mundo perturbador, onde até mesmo alucinações dão as caras. Nesses momentos, Stephen Chbosky investe muito em flashes das tragédias da vida de Charlie, e em uma tensa cena no terceiro ato o diretor chega a chacoalhar movimentar a câmera rapidamente de maneira que não fique muito compreensível o que ocorre na tela, mostrando muito bem o quanto o protagonista fica confuso nessas horas. Por não tentar esconder de alguma forma os tristes acontecimentos não só da vida de Charlie, mas também de outros personagens, Chbosky entrega uma narrativa surpreendentemente adulta, ainda que centrada em adolescentes.
Apesar de não especificar em que época o filme se passa, o diretor consegue deixar claro que a história não se passa nos dias de hoje. Não só porque Charlie utiliza uma máquina de escrever para digitar cartas (que servem como um diário para ele), mas também por alguns locais lembrarem tempos mais antigos. Nisso, a direção de arte, a fotografia de Andrew Dunn e os figurinos usados em algumas cenas, fazem um bom trabalho ao usarem cores quentes em vários momentos, como nas festas da escola, o que contribui para dar a história um ar de anos 90 muito interessante.
Mas uma das grandes forças responsáveis pelo sucesso de As Vantagens de Ser Invisível é seu jovem elenco, que é muito bem escalado. Logan Lerman não só traz grande carisma para Charlie como retrata muito bem o isolamento, a timidez e a insegurança do personagem, como quando caminha lentamente em direção a uma pista de dança ou ao surgir com olhares um tanto perdidos, que parecem estar procurando algo para focar. Mesmo quando Charlie fica empolgado com alguma coisa (como ao começar a andar com Sam e Patrick), o ator prefere investir em sorrisos bastante contidos, que são mais do que suficientes para transmitir o que o personagem está pensando e como está se sentindo. E se inicialmente são os veteranos que ajudam o calouro, é muito interessante ver que mais tarde ocorre uma troca de papéis.
Enquanto isso, a bela Emma Watson parece crescer cada vez mais como atriz, algo que a saga Harry Potter também tratava de deixar evidente ao longo de seus filmes. Aqui, ela faz de Sam uma garota encantadora, que quer esquecer o passado e viver o presente o máximo que puder. Já Ezra Miller se livra de qualquer sinal da sociopatia de seu personagem de Precisamos Falar Sobre o Kevin, transformando Patrick em uma figura divertida (o modo como ele convence um professor a aprová-lo em uma disciplina é engraçadíssimo) e simpática, além de não exagerar no modo como retrata o homossexualismo do personagem. E a química que os três atores demonstram ter em cena é maravilhosa, sendo que as partes que se passam em um túnel, ao som da canção “Heroes”, de David Bowie, são alguns dos grandes momentos do filme.
Um dos melhores elogios que podem ser feitos a uma adaptação de livro é que esta dá vontade de ler a obra que a originou. Com sua bela história e ótimos personagens, As Vantagens de Ser Invisível faz por merecer esse elogio.
Cotação:

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Atividade Paranormal 4

Depois de surgir como um terror muito eficiente, Atividade Paranormal lançou a moda dos filmes do estilo found footage, além de ter suas continuações (na verdade, prequels) como toda produção de sucesso. Atividade Paranormal 2 e 3, apesar de desnecessários e irregulares, surpreendiam ao amarrar bem algumas pontas que nem pareciam estar soltas na história. O que nos traz a Atividade Paranormal 4, um filme que pouco tem a dizer com relação aos três anteriores, falhando ainda em elementos que faziam da franquia algo interessante, representando assim uma queda drástica na qualidade da série.
Roteirizado por Christopher Landon (o mesmo do segundo e do terceiro capítulo) e com argumento de Chad Feehan, Atividade Paranormal 4 se passa cinco anos depois dos eventos dos dois primeiros filmes, quando uma possuída Katie (Katie Featherston) levava seu sobrinho Hunter para sabe-se lá onde, depois de matar o namorado e os pais do bebê. A história dessa vez é centrada na jovem Alex (Kathryn Newton) e sua família, que precisam cuidar do novo vizinho, o pequeno Robbie (Brady Allen), enquanto a mãe dele está no hospital. Mas com a presença do garoto, coisas estranhas começam a acontecer na casa, o que faz Alex e seu namorado, Ben (Matt Shively), colocarem câmeras em algumas partes do aposento para gravar tais acontecimentos. Ao mesmo tempo, Robbie tenta atrair Wyatt (Aiden Lovekamp), o irmão mais novo de Alex, para algo sombrio.
Atividade Paranormal 4 já revela um de seus principais problemas logo nas primeiras cenas. Ainda que várias câmeras sejam usadas para pegar os principais cantos da casa, durante boa parte do tempo são os atores que filmam tudo, levando uma câmera para todos os lugares. O problema é que os personagens acabam fazendo coisas que nenhuma pessoa normal faria na situação em que eles se encontram. Em determinado momento, Alex se assusta com alguns barulhos e ao invés de simplesmente ir dar uma olhada pela casa, ela resolve antes pegar a câmera. Esse tipo de coisa dá a ideia de que os personagens tem algum tipo de dependência, como se eles precisassem muito filmar tudo o que acontece a sua volta. Nesse sentido, chega a ser divertido entrar na mente deles em momentos como esse: “Preciso sair daqui! Espera, vou pegar a câmera, que é mais importante que minha própria vida!”.
Aliás, uma das coisas mais impressionantes nos personagens de Atividade Paranormal 4 é o quanto eles são tapados. Afinal, Alex e Ben colocam câmeras em vários pontos da casa, mas não conferem todas as imagens que são gravadas. Quando checam, são momentos bem menos interessantes (como quando Robbie fica falando com seu “amigo imaginário”), e não os vídeos que mostram a tal entidade em ação (como quando Wyatt está andando em seu carrinho e uma cadeira se mexe sozinha). Sem falar que volta e meia a garota está sozinha em casa e ainda assim resolve andar no escuro, o que não é nenhum pouco lógico. Já os pais dela ficam o tempo todo ignorando o que acontece por ali, mesmo quando uma faca “cai” do teto, o que os transforma em nas figuras mais estúpidas do filme.
Os diretores Henry Joost e Ariel Schulman, a mesma dupla de Atividade Paranormal 3, não conseguem causar tensão da mesma forma que os outros filmes, o que é surpreendente considerando que eles tiveram êxito nesse quesito no filme anterior. Se antes os vídeos que eram gravados enquanto os personagens dormiam conseguiam prender a atenção, dessa vez são alguns dos momentos mais chatos da projeção. Nem os sustos aparecem com tanta frequência, já que é possível prever o quê os diretores vão fazer e como vão fazer, o que tira toda a graça do filme.
Mas o que mais incomoda em Atividade Paranormal 4 é a desculpa que o roteiro arranja para a existência do projeto. Afinal, é de se acreditar que o espírito do mal faria alguma coisa com Hunter. (aqui, peço para quem ainda não viu o filme pular para o próximo parágrafo caso não queira ler spoilers) No entanto, nesse quarto filme descobrimos que Hunter na verdade é Wyatt, e não Robbie (que além de ser um personagem irritante, ainda se revela dispensável para a história) como o roteiro tenta empurrar durante quase todo o filme. Se o monstro quer Hunter de volta, a conclusão que pode ser tirada disso tudo é que ele perdeu a criança, o que não só é meio absurdo como faz do vilão uma figura muito burra.
Contando com um elenco que não tem muito o que fazer interpretando personagens que perdem credibilidade com o transcorrer da história, Atividade Paranormal 4 além de ser o fundo do poço para a franquia, ainda mostra que ela já está se estendendo demais. E Atividade Paranormal 5 vem aí, mesmo sem nenhuma historia que precise ser contada.
Cotação:

domingo, 21 de outubro de 2012

Os Infratores

Com um elenco repleto de bons nomes e um diretor que acabara de sair de um grande filme (A Estrada, com Viggo Mortensen), Os Infratores à primeira vista parecia ser uma produção que mereceria estar presente durante a temporada de premiações. No entanto, é uma pena ver que um filme que tinha todo esse potencial revela ser algo pouco interessante ao longo de suas duas horas de projeção, além de não aproveitar muito bem a força de seus atores.
Escrito por Nick Cave, baseado no livro de Matt Bondurant, Os Infratores conta a história dos irmãos Bondurant, Jack (Shia LaBeouf), Forrest (Tom Hardy) e Howard (Jason Clarke). Em plena era da lei seca nos Estados Unidos, o trio tem um organizado negócio de contrabando de bebidas em Franklin County, no estado da Virginia. Mas o conforto deles está prestes a acabar com a chegada de Charlie Rakes (Guy Pearce), um agente federal de Chicago que é enviado para encerrar os trabalhos de qualquer um que esteja vendendo bebidas ilegalmente, não medindo esforços para cumprir seu objetivo.
Dirigido por John Hillcoat (que além de A Estrada fez também A Proposta, que não vi ainda), Os Infratores deixa claro em pouco tempo as personalidades dos irmãos Bondurant. Howard é um tanto estourado, enquanto que Jack é inconsequente e até ingênuo. Já Forrest conta com uma tranquilidade inquietante, o que o torna o mais ameaçador dos três, e isso reflete no modo como ele age em alguns momentos. No entanto, o roteiro não consegue estabelecer uma química de irmãos entre os Bondurant. Sim, eles se importam um com o outro, mas não aparentam ser muito próximos, sendo que às vezes parece haver até alguma desconfiança entre os três personagens. Considerando que todos cresceram juntos, acaba sendo estranho que não haja um ambiente tão familiar entre eles.
A violência na qual Hillcoat investe ao longo de Os Infratores (algo que assustou algumas pessoas na exibição que ocorreu no Festival de Cannes desse ano) resulta em momentos até angustiantes, como quando um personagem tem a garganta cortada, na parte mais tensa do filme. Outro exemplo disso é quando Forrest usa uma soqueira para golpear o pescoço de alguém. Por outro lado, o diretor peca no ritmo que confere a algumas cenas, como no tiroteio que ocorre no terceiro ato, que acaba sendo algo um tanto aborrecido de se acompanhar. Enquanto isso, a direção de arte faz um trabalho muito bom de reconstrução de época, e é interessante ver a inclusão de detalhes como placas de “brancos” e “negros” em bebedouros, indicando que aquele era um período onde o racismo ainda imperava.
Quanto ao elenco, Shia LaBeouf empresta seu carisma habitual a Jack Bondurant, o que é o oposto do que Tom Hardy (um ator que admiro cada vez mais) alcança em sua composição de Forrest. Hardy sempre fala de maneira que as palavras saiam de sua boca mostrando que seu personagem pode mudar de temperamento rapidamente, como na cena em que diz a Rakes “Nunca mais toque em mim!”. Aliás, quando aparece ainda criança em sua primeira cena no filme, Forrest mata um porco sem hesitar, algo que indica que se ele já era capaz de fazer isso nessa idade, não há como saber o que ele teria coragem de fazer quando adulto. Já o terceiro irmão, Jason Clarke, não tem muito espaço para desenvolver seu Howard Bondurant, empalidecendo diante de seus dois companheiros de cena.
Interpretando Charlie Rakes, Guy Pearce investe demais em risadinhas afeminadas e num jeito delicado na construção do personagem. Por um lado, isso mostra o quanto Rakes parece se conter para não deixar claro o monstro que é na realidade. Por outro, isso não só tira parte da ameaça que ele deveria exalar como ainda o torna uma figura meio caricatural, sendo que o ator cai um pouco no overacting no terceiro ato. Enquanto isso, Jessica Chastain surge linda como de costume e fazendo de Maggie Beauford uma mulher de personalidade forte, ao passo que Mia Wasikowska não consegue transformar Bertha Minnix em uma personagem muito interessante (e é uma pena que o roteiro gaste tanto tempo no romance entre ela e Jack). Fechando o elenco, Gary Oldman pouco tem a fazer com Floyd Banner, personagem que aparece em pouquíssimas cenas e some a partir de determinado momento, não fazendo muita falta.
Equilibrado tanto em seus acertos quanto em seus erros, Os Infratores não deixa de ser uma pequena decepção, ainda que não seja um filme ruim.
Cotação:

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Gonzaga: De Pai Pra Filho

Gonzaga e Gonzaguinha foram dois grandes ídolos da música brasileira. Por isso, é uma pena constatar que enquanto o pai sofreu uma triste decadência no fim de sua carreira, depois de brilhar e ganhar o apelido de “Rei do Baião”, o filho não conseguiu explorar todo seu potencial, morrendo em um acidente de carro aos 45 anos. Gonzaga: De Pai Pra Filho, novo filme de Breno Silveira (seu segundo em 2012, tendo lançado ainda À Beira do Caminho, que não vi), tenta explorar o relacionamento conturbado que os dois tinham um com o outro, algo que prevaleceu durante boa parte de suas vidas.
Escrito por Patricia Andrade e com argumento de Maria Hernandez, Gonzaga: De Pai Pra Filho mostra Gonzaguinha (Julio Andrade) no auge do sucesso no início da década de 1980, enquanto seu pai (Adélio Lima) fora renegado ao esquecimento. Quando a esposa de Gonzaga pede para que Gonzaguinha ajude o pai, o rapaz propõe a ele uma série de shows. Mas essa acaba se tornando uma oportunidade para que pai e filho possam saber mais sobre eles mesmos e colocarem para fora tudo o que pensam quanto ao relacionamento distante que eles têm.
Mostrando os principais fatos da vida de Gonzaga, o roteiro consegue passar por eles sem parecer episódico, o que é admirável considerando o número de acontecimentos que aborda. Nisso, a montagem da dupla Vicente Kubrusly e Gustavo Giane é ágil ao conseguir fazer com que a narrativa flua bem enquanto intercala entre o passado e o presente sendo que eles ainda conseguem incluir imagens de arquivo organicamente na narrativa.
Breno Silveira (que emocionou boa parte das pessoas em 2 Filhos de Francisco, outra cinebiografia de figuras conhecidas da música) se sai admiravelmente bem na direção do filme. Os shows do Rei do Baião são conduzidos com grande vivacidade, combinando com a energia que ele demonstrava no palco. Já as cenas no presente, com pai e filho conversando, são carregadas de uma constante tensão, porque não há como saber a maneira com que eles reagirão as palavras ditas naquele momento. Isso chega ao auge no terceiro ato, quando Gonzaguinha começa a falar tudo que estava trancado em sua garganta, em uma cena que representa um dos grandes momentos do filme. Pra completar, o modo como o diretor utiliza as já citadas imagens de arquivo é muito interessante, colocando-as em momentos pontuais que talvez não tivessem o mesmo impacto caso fossem cenas do filme.
Apesar de explorar bastante a vida de Gonzaga, o roteiro comete o grave erro de não se dedicar da mesma maneira a vida do outro personagem importante da história, Gonzaguinha. Em nenhum momento ele mostra algum interesse em seguir uma carreira musical, sendo retratado no filme como um jovem que cresceu irritado com a ausência do pai. Com as motivações não ficando claras, é até uma surpresa quando Gonzaguinha aparece cantando e tocando violão pela primeira vez no filme.
Além disso, se Gonzaga não era o pai que o rapaz tanto queria e precisava, o mesmo não pode ser dito com relação a Xavier (Luciano Quirino), o padrinho dele. O problema é que Xavier ganha pouquíssima atenção ao longo da história, e a amizade entre ele e Gonzaga não é bem estabelecida pelo roteiro de modo que os dois demonstrem ter confiança um no outro. E quando Gonzaguinha grita em determinada cena “Meu pai era Henrique Xavier”, a frase acaba não tendo muito peso porque a importância daquela figura não é bem desenvolvida.
Quanto às atuações, Adélio Lima se destaca ao interpretar Gonzaga como um homem arrependido de muitas coisas, entre elas o modo como tratou o filho. Enquanto isso, Nivaldo Expedito de Carvalho (que interpreta o personagem na fase dos 25 aos 50 anos) e Land Vieira (que o interpreta na fase dos 17 aos 23 anos) emprestam grande carisma ao cantor. Mas o grande destaque do filme é Julio Andrade como Gonzaguinha. Surgindo sempre sério em cena, Andrade faz de seu personagem uma figura com uma raiva bastante contida do modo como foi tratado no passado. No entanto, isso não impede que ele se arrependa de algumas palavras que diz para seu pai, algo que Andrade consegue transmitir apenas com uma leve mudança de olhar. Sendo assim, é até uma pena que essa versão do personagem apareça esporadicamente ao longo da projeção.
Gonzaga: De Pai Pra Filho pode ter seus problemas, mas acaba sendo mais um sopro de ar fresco (ao lado de filmes como 2 Coelhos e Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios) diante de tantas comédias brasileiras ridículas que andam ocupando espaço nos cinemas.
Cotação:

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Busca Implacável 2

O primeiro Busca Implacável é até um filme razoável, no qual Liam Neeson convencia bem como herói de ação. Sendo assim, uma continuação para aquele filme soa desde o princípio como algo desnecessário, já que o filme não havia sido feito com a ambição de criar uma franquia, e a história havia ficado muito bem resolvida. Mas tendo sido uma grande surpresa em termos de bilheteria, é claro que o dinheiro acaba falando mais alto. Afinal, os produtores não pensam mais se é realmente preciso explorar mais uma vez o universo dos filmes. Se deu lucro, uma continuação será planejada mesmo que tenha acontecido o apocalipse zumbi no final da história. Nisso é lançado Busca Implacável 2, que mesmo trazendo Liam Neeson de volta ao papel de Bryan Mills, é um filme insosso do início ao fim.
Escrito por Luc Besson e Robert Mark Kamen (responsáveis pelo roteiro do filme anterior), Busca Implacável 2 coloca Bryan em uma viagem a Istambul ao lado de sua filha, Kim (Maggie Grace), e sua ex-esposa, Lenore (Famke Janssen). É quando Murad Krasniqi (Rade Serbedzija), pai do vilão do primeiro filme, resolve se vingar por todo sofrimento que Bryan causou a ele e sua família, caçando o ex-agente da CIA na cidade turca. Mas é claro que Bryan não facilitará a vida do vilão e seus capangas.
Logo no início, ao apresentar a vida que os personagens estão levando depois dos eventos pelos quais passaram, o roteiro já coloca Bryan novamente no papel de pai que se esforça para ficar próximo da filha, ideia já utilizada no primeiro filme. O problema é que aqui isso soa um pouco estranho considerando tudo o que aconteceu com eles. Sem falar que quando Bryan faz com que a filha cumpra algo que haviam combinado anteriormente, isso cria um conflito bobo e que é esquecido logo depois.
Mas esse é o menor dos problemas do roteiro de Besson e Kamen. É incrível, por exemplo, o modo como eles compõem os capangas do vilão do filme, transformando-os em algumas das figuras mais burras que poderiam existir. Em determinado momento, um deles atira em uma pessoa no hotel em Istambul, e sente a necessidade de avisar seu parceiro (“Atirei em alguém!”) como se isso não tivesse sido óbvio o bastante. Mas o cúmulo da burrice desses indivíduos é a cena em que Bryan e Lenore são sequestrados. Em meio a toda a confusão, eles permitem que o protagonista ligue para Kim, avisando-a que ele e sua mãe foram pegos e que ela será a próxima caso não fuja. Que capangas mais gentis, não?
O próprio vilão é desinteressante, fazendo várias ameaças, mas nunca agindo de fato. Na verdade, o detalhe de ele ser interpretado por Rade Serbedzija já é praticamente um aviso de que esse inimigo não será grande coisa, considerando que a lista de vilões interpretados pelo ator não é das melhores. Além disso, o roteiro faz de Bryan a figura inteligente que mostrara ser no primeiro filme, o que faz com que ele sempre pareça estar no controle da situação, e sabendo exatamente o que fazer para destruir aqueles que querem acabar com ele e sua família. Dessa forma, não há como temer pelo destino dele ou de Kim e Lenore. E já que citei a inteligência de Bryan, vale dizer que um bom momento do filme é quando ele ajuda Kim pelo telefone a localizá-lo em um esconderijo, que impressiona pelo modo como o protagonista conduz sua filha.
O diretor Olivier Megaton (responsável pelo medíocre Carga Explosiva 3) abusa demais dos cortes e dos rápidos movimentos de câmera nas sequências de ação, fazendo com que elas se tornem incompreensíveis em vários momentos, como o desfecho de uma luta entre Bryan e o subchefe (a linguagem dos videogames o classifica melhor). O cineasta também não consegue empregar energia na história, e dessa forma até uma cena de perseguição se torna aborrecida. Para completar, Bryan parece nem se esforçar para se livrar dos capangas que o enfrentam, tamanha falta de ritmo demonstrada por Megaton.
Liam Neeson encarna Bryan com a mesma determinação mostrada no filme anterior. Aliás, Neeson poderia entrar para o elenco de Os Mercenários 3, já que aos 60 anos o ator ainda se sai bem como herói de ação. Enquanto isso, Maggie Grace consegue fazer de Kim uma garota menos chata do que antes, sendo que ela ainda vira uma espécie de sidekick do próprio do pai, a ponto de se tornar a melhor motorista do mundo em uma cena de perseguição. Já Famke Janssen pouco tem a fazer com Lenore, não tendo muito espaço para fazer da personagem uma figura realmente interessante.
Ao final de Busca Implacável 2 só há uma conclusão a ser tirada: ninguém deve se meter com Bryan Mills. Mas espere um pouco, isso já não havia ficado claro no primeiro filme?
Cotação:

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Crianças no Cinema

Já que hoje é Dia das Crianças, achei que essa seria uma boa hora para lembrar alguns personagens inesquecíveis interpretados por crianças. Como sempre, não há como lembrar de todos, então preferi limitar a lista aos sete primeiros que pensei. Alguns intérpretes infelizmente caíram no esquecimento, mas outros se tornaram grandes estrelas ou estão em plena ascensão.
- Kevin McCallister (Macaulay Culkin), de Esqueceram de Mim:
No momento em que tive a ideia de fazer essa lista, Kevin McCallister foi o primeiro personagem que pensei. Talvez porque seu filme passou na televisão há alguns dias. Esqueceram de Mim lançou Macaulay Culkin ao estrelato, e este personagem será sempre lembrado como o que marcou sua carreira. Culkin transmite grande carisma para Kevin, um garoto inteligente e até corajoso por enfrentar dois bandidos usando apenas armadilhas. Armadilhas estas que resultaram em gags bastante divertidas. Kevin rendeu uma indicação ao Globo de Ouro para Macaulay Culkin. Hoje, o ator é mais conhecido por seus problemas com as drogas, o que é lamentável já que ele é (ou pelo menos costumava ser) muito talentoso. Sua última aparição nos cinemas foi em 2007, no filme Sex and Breakfast.
- Olive Hoover (Abigail Breslin), de Pequena Miss Sunshine:
Na família disfuncional de Pequena Miss Sunshine, Olive Hoover se destaca por ser uma criança comum, que tem seus sonhos e reage diante de tudo o que acontece a sua volta. E a graciosidade que Abigail Breslin empresta para a menina só ajuda a torná-la ainda mais adorável. Em um filme com tantas virtudes, ela é um dos grandes destaques em um elenco inspiradíssimo. Breslin conseguiu uma indicação ao Oscar pelo papel, e tem trabalhado bastante desde então.
- Mindy Macready/Hit-Girl (Chloë Grace Moretz), de Kick-Ass: Quebrando Tudo:
Em um filme com uma galeria de personagens interessantes, é impressionante que um deles seja uma garota de 10 anos que fala todos os tipos de palavrões e mata bandidos sem hesitar. Tendo seu pai, Damon Macready/Big Daddy (Nicolas Cage, em uma de suas melhores atuações nos últimos anos), como grande parceiro na luta contra crime, Mindy parece ser inofensiva quando vista de longe. Mas apenas parece, já que essa é uma garota que sabe muito bem como se virar sozinha. Chloë Grace Moretz praticamente se confirmou em Kick-Ass como um dos nomes a serem seguidos de perto nos próximos anos, tendo ainda conseguido papéis em filmes de diretores importantes, como Martin Scorsese (A Invenção de Hugo Cabret) e Tim Burton (Sombras da Noite).
- Billy Kramer (Justin Henry), de Kramer vs. Kramer:
Billy Kramer é praticamente o centro das atenções de Kramer vs. Kramer. Depois da separação de seus pais, o menino tem que se ajustar a nova vida que começa com seu pai, Ted (Dustin Hoffman), e é interessante ver o garoto passar por tantos conflitos internos, já que ao mesmo tempo em que compreende o que está acontecendo, ele quer a mãe (Meryl Streep) ao seu lado. Por não ter isso, seu descontentamento com o mundo é bastante compreensível, mas é admirável ver a belíssima relação que desenvolve aos poucos com o pai. O ator Justin Henry é até hoje a pessoa mais nova a ser indicada ao Oscar (tinha apenas oito anos). Desde então, ele não voltou a fazer o mesmo sucesso e tem trabalhado pouco ultimamente. Seu último crédito em frente às câmeras foi uma participação em um episódio da série Brothers & Sisters.
- Jim Graham (Christian Bale), de Império do Sol:
A trajetória de Jim “Jamie” Graham em Império do Sol é muito interessante. Ele sai de uma vida de privilégios na família, passa por várias dificuldades em um acampamento no meio da Segunda Guerra Mundial para então reencontrar os pais de maneira emocionante. A mudança que ele sofre ao longo do filme, precisando aprender a ser uma pessoa mais independente para sobreviver em meio aquela situação, é algo bonito de se acompanhar. Foi um início de carreira marcante para Christian Bale, que com sua belíssima atuação fez com que os organizadores do National Board of Review criassem uma categoria especialmente para ele: Melhor Atuação de um Ator Juvenil. É um dos atores mais respeitados atualmente, aceitando papeis sem medo de sacrificar o próprio corpo para interpretá-los.
- Cole Sears (Haley Joel Osment), de O Sexto Sentido:
“Eu vejo gente morta” deve ser uma das frases mais repetidas do mundo. Aliás, é uma cena muito boa, dos tempos em que M. Night Shyamalan estava no ponto alto de sua carreira. Quando Cole Sears revela isso para o psicólogo Malcolm Crowe (Bruce Willis), é possível ver o quanto o garoto tem medo de seu assombroso dom, a ponto de essa fala sair quase como um sussurro para ninguém mais ouvir. Haley Joel Osment interpreta Cole como uma criança perturbada e extremamente vulnerável, e sua indicação ao Oscar em 2000 foi muito merecida. Mas desde 2003, quando fez Lições Para Toda Vida ao lado de Michael Caine e Robert Duvall, o rapaz não tem dado as caras em uma produção que ganhe atenção.
- Mathilda (Natalie Portman), de O Profissional:
Mathilda é uma prisioneira da própria vida. A única pessoa com quem se importa é seu irmão caçula, já que o resto da família não dá a mínima para ela. Mas depois que todos eles são assassinados, ela encontra em seu vizinho, o matador profissional Léon (Jean Reno), alguém a quem seguir. Por mais que a relação deles pareça amorosa em alguns momentos, fica muito claro que ali estão duas figuras que não têm muita felicidade em suas vidas e que se entendem, e talvez fosse esse tipo de amizade que precisavam. Interpretando Mathilda, Natalie Portman iniciou brilhantemente o caminho rumo a grande atriz que viria a se tornar. Talento merecidamente reconhecido com o Oscar por Cisne Negro.