quinta-feira, 25 de outubro de 2012
As Vantagens de Ser Invisível
Até assistir As Vantagens de Ser Invisível, acho que ainda não havia visto uma adaptação de livro ser dirigida pelo próprio autor da obra original. Mesmo pesquisando para ver se isso já aconteceu mais vezes, não encontrei outros exemplos. Chega a ser surpreendente que os produtores deste filme (entre eles o ator John Malkovich) tenham chamado Stephen Chbosky para comandar a adaptação, porque mesmo que ele já tivesse uma carreira no cinema antes mesmo de lançar o livro (que não li ainda), o diretor-roteirista ainda não havia feito algo que realmente chamasse a atenção. Mas é um alívio que o trabalho tenha caído em suas mãos, já que o pensamento de que não haveria pessoa melhor para contar a história acaba persistindo ao longo de todo o filme.
As Vantagens de Ser Invisível nos apresenta a Charlie (Logan Lerman), um jovem de 15 anos que acaba de entrar para o ensino médio. Tímido e com dificuldades para se relacionar com outras pessoas, ele ainda sofre de alguns distúrbios mentais, e é visto como um estranho pelos colegas de classe. Mas ao conhecer os irmãos Sam (Emma Watson) e Patrick (Ezra Miller), veteranos na escola, Charlie encontra duas pessoas que o admiram pelo que ele é, iniciando assim uma bela amizade que o ajuda a se encaixar em um grupo de jovens “deslocados” como ele. Ao mesmo tempo, o garoto tem de lidar com o amor que sente pela nova amiga.
Enquanto desenvolve os personagens com uma calma admirável, Stephen Chbosky trata o tema amizade com uma sensibilidade tocante, e até por isso acho que As Vantagens de Ser Invisível faria uma ótima sessão dupla com o clássico O Clube dos Cinco. O grupo no qual Charlie começa a fazer parte é uma chance de ele passar o tempo com pessoas que gosta (e que devolvem esse sentimento) e esquecer um pouco os problemas que o assombram, que vão desde a morte de sua tia Helen (Melanie Lynskey) quando ele era criança até o recente suicídio de seu melhor amigo. O diretor mostra muito bem que uma das especialidades dos amigos é fazer com que os problemas da vida sejam esquecidos, pelo menos por alguns minutos, e até por isso estas são figuras em que tanto confiamos. Dessa forma, chega a ser fácil se identificar com os personagens e suas histórias.
No caso de Charlie, quando vê que não há ninguém por perto com quem possa espairecer e esvaziar um pouco a cabeça, ele se fecha em seu mundo perturbador, onde até mesmo alucinações dão as caras. Nesses momentos, Stephen Chbosky investe muito em flashes das tragédias da vida de Charlie, e em uma tensa cena no terceiro ato o diretor chega a chacoalhar movimentar a câmera rapidamente de maneira que não fique muito compreensível o que ocorre na tela, mostrando muito bem o quanto o protagonista fica confuso nessas horas. Por não tentar esconder de alguma forma os tristes acontecimentos não só da vida de Charlie, mas também de outros personagens, Chbosky entrega uma narrativa surpreendentemente adulta, ainda que centrada em adolescentes.
Apesar de não especificar em que época o filme se passa, o diretor consegue deixar claro que a história não se passa nos dias de hoje. Não só porque Charlie utiliza uma máquina de escrever para digitar cartas (que servem como um diário para ele), mas também por alguns locais lembrarem tempos mais antigos. Nisso, a direção de arte, a fotografia de Andrew Dunn e os figurinos usados em algumas cenas, fazem um bom trabalho ao usarem cores quentes em vários momentos, como nas festas da escola, o que contribui para dar a história um ar de anos 90 muito interessante.
Mas uma das grandes forças responsáveis pelo sucesso de As Vantagens de Ser Invisível é seu jovem elenco, que é muito bem escalado. Logan Lerman não só traz grande carisma para Charlie como retrata muito bem o isolamento, a timidez e a insegurança do personagem, como quando caminha lentamente em direção a uma pista de dança ou ao surgir com olhares um tanto perdidos, que parecem estar procurando algo para focar. Mesmo quando Charlie fica empolgado com alguma coisa (como ao começar a andar com Sam e Patrick), o ator prefere investir em sorrisos bastante contidos, que são mais do que suficientes para transmitir o que o personagem está pensando e como está se sentindo. E se inicialmente são os veteranos que ajudam o calouro, é muito interessante ver que mais tarde ocorre uma troca de papéis.
Enquanto isso, a bela Emma Watson parece crescer cada vez mais como atriz, algo que a saga Harry Potter também tratava de deixar evidente ao longo de seus filmes. Aqui, ela faz de Sam uma garota encantadora, que quer esquecer o passado e viver o presente o máximo que puder. Já Ezra Miller se livra de qualquer sinal da sociopatia de seu personagem de Precisamos Falar Sobre o Kevin, transformando Patrick em uma figura divertida (o modo como ele convence um professor a aprová-lo em uma disciplina é engraçadíssimo) e simpática, além de não exagerar no modo como retrata o homossexualismo do personagem. E a química que os três atores demonstram ter em cena é maravilhosa, sendo que as partes que se passam em um túnel, ao som da canção “Heroes”, de David Bowie, são alguns dos grandes momentos do filme.
Um dos melhores elogios que podem ser feitos a uma adaptação de livro é que esta dá vontade de ler a obra que a originou. Com sua bela história e ótimos personagens, As Vantagens de Ser Invisível faz por merecer esse elogio.
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