terça-feira, 30 de outubro de 2012

007: Operação Skyfall

Sendo a série mais longa da história do cinema, a franquia 007 teve bons e maus momentos ao longo de seus 50 anos de existência. O excepcional 007: Cassino Royale, por exemplo, apresentou Daniel Craig como James Bond depois de dois capítulos fraquíssimos estrelados por Pierce Brosnan (um 007 eficiente, mas que teve sua boa fase apenas nas duas primeiras aventuras que protagonizou), servindo ainda como um recomeço para a história de James Bond. Se a continuação 007: Quantum of Solace foi uma pequena decepção, isso é mais do compensado agora em 007: Operação Skyfall, 23º filme da franquia a chegar aos cinemas e que consegue ser um de seus melhores exemplares.
Escrito por Neal Purvis e Robert Wade (os mesmos roteiristas dos quatro últimos filmes da franquia) em parceria com John Logan, Operação Skyfall começa em Istambul, onde James Bond tenta recuperar uma lista com os nomes dos agentes infiltrados em organizações terroristas no mundo todo. Após ser abatido, Bond retorna ao trabalho quando o MI6 é atacado, deixando a dúvida quanto a capacidade de M (Judi Dench) para liderar o setor. Tudo isso faz parte do plano de Raoul Silva (Javier Bardem), um velho conhecido da chefe do MI6, que agora quer destruí-la a todo custo.
Mesmo abrindo o filme com uma sequência frenética de uma missão (o que é de praxe na série), o roteiro investe mais tempo explorando seus personagens ao longo da história, tocando em assuntos nunca antes vistos, como a infância de James Bond. A inclusão de detalhes como esses é surpreendente dentro do filme, e é bom ver que ainda há o que desenvolver no personagem mesmo depois de tantos filmes. Além disso, é interessante o modo como os roteiristas tratam o relacionamento entre Bond e M, já que aqui os personagens deixam clara a importância que tem um para o outro, se protegendo mesmo quando a confiança entre eles fica um tanto abalada. Na verdade, é possível estabelecer uma relação de mãe e filho entre os dois personagens, até por causa do nome da mãe do protagonista. E a sensibilidade que o diretor Sam Mendes demonstra ter em algumas cenas é admirável e resulta em alguns dos momentos mais tocantes da série.
Mas M não serve como uma figura materna apenas para James Bond, sendo também para o vilão do filme. O desejo de vingança de Raoul Silva existe graças às decisões que M toma sem medir as consequências, o que é compreensível na posição em que ela se encontra. Em certos momentos, o plano do vilão chega a lembrar muito o Coringa de Batman: O Cavaleiro das Trevas, não só pelo modo como tudo transcorre, mas também por ele querer destruir alguém que parece completa-lo de alguma maneira. Javier Bardem o interpreta brilhantemente, investindo em uma caracterização que o transforma em um homem aparentemente calmo, mas que exala ameaça exatamente por causa disso, já que ele parece sempre estar com a situação sob controle (o monólogo que ele tem em sua primeira cena no filme exemplifica isso muito bem).
Em se tratando das cenas de ação, Sam Mendes (que apesar de ter flertado um pouco com o gênero em Soldado Anônimo, é mais conhecido por dramas como Beleza Americana e Foi Apenas Um Sonho) surpreende ao entregar sequências de tirar o fôlego. Além de acertar no ritmo das cenas de maneira que elas nunca ficam aborrecidas, Mendes consegue fazer com que elas sejam bastante envolventes, como na já citada sequência inicial quando o cineasta dá atenção a uma luta do protagonista ao mesmo tempo em que mostra as ações de M e Eve (Naomie Harris). O diretor também é bem sucedido ao impor tensão quando necessário, desde um interrogatório envolvendo o vilão até a sequência final em uma mansão.
Ao longo do filme, o roteiro não deixa de incluir algumas referências aos outros filmes da série, o que não só faz Operação Skyfall lembrar um pouco as produções estreladas por Sean Connery (mesmo que nunca se desligue da abordagem mais moderna que tomou a partir de Cassino Royale) como também transforma o filme em uma pequena homenagem a série, o que não deixa de ser apropriado no ano em que ela completa 50 anos. Tais referências vão desde o Aston Martin usado a partir de determinado momento (lembrando 007 Contra o Satânico Dr. No) até uma arma que pode ser usada apenas por James Bond (o mesmo funcionamento daquela que foi utilizada em 007: Permissão Para Matar). É admirável que esses detalhes sejam inseridos na história organicamente e funcionando muito bem dentro do filme, não sendo referências vazias. Além disso, não deixa de ser divertido ver uma cena na qual o famoso martini “batido, não mexido” é feito para o protagonista.
Em sua terceira incursão como James Bond, Daniel Craig surge mais seguro do que nunca interpretando o personagem. O Bond que o ator criou ao longo dos três filmes que fez até agora (e espero que seu contrato para mais dois seja cumprido) sempre mostrou ser mais violento, vulnerável e propenso ao erro, o que consequentemente o torna mais humano. Já Judi Dench ganha mais espaço como M e apesar de exibir sua costumeira expressão séria, a atriz faz mais uma vez com que sua personagem seja uma figura muito querida, além de conseguir retratar muito bem o peso de suas decisões. Enquanto isso, Naomie Harris desenvolve uma química mais do que adequada com Craig considerando a personagem que ela interpreta, ao passo que Ralph Fiennes é a escolha perfeita para um papel que terá importância nos próximos filmes. Já Ben Whishaw cria uma versão carismática, divertida e nerd de Q, não decepcionando com relação aos seus antecessores.
Completando com sucesso a ideia de um recomeço da franquia, Operação Skyfall fecha satisfatoriamente sua história ao mesmo tempo em que apresenta nomes conhecidos do universo de James Bond, deixando o terreno muito bem preparado para as próximas aventuras. E é sempre um prazer ver nos créditos finais a frase “James Bond retornará”.
Cotação:

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