domingo, 21 de outubro de 2012
Os Infratores
Com um elenco repleto de bons nomes e um diretor que acabara de sair de um grande filme (A Estrada, com Viggo Mortensen), Os Infratores à primeira vista parecia ser uma produção que mereceria estar presente durante a temporada de premiações. No entanto, é uma pena ver que um filme que tinha todo esse potencial revela ser algo pouco interessante ao longo de suas duas horas de projeção, além de não aproveitar muito bem a força de seus atores.
Escrito por Nick Cave, baseado no livro de Matt Bondurant, Os Infratores conta a história dos irmãos Bondurant, Jack (Shia LaBeouf), Forrest (Tom Hardy) e Howard (Jason Clarke). Em plena era da lei seca nos Estados Unidos, o trio tem um organizado negócio de contrabando de bebidas em Franklin County, no estado da Virginia. Mas o conforto deles está prestes a acabar com a chegada de Charlie Rakes (Guy Pearce), um agente federal de Chicago que é enviado para encerrar os trabalhos de qualquer um que esteja vendendo bebidas ilegalmente, não medindo esforços para cumprir seu objetivo.
Dirigido por John Hillcoat (que além de A Estrada fez também A Proposta, que não vi ainda), Os Infratores deixa claro em pouco tempo as personalidades dos irmãos Bondurant. Howard é um tanto estourado, enquanto que Jack é inconsequente e até ingênuo. Já Forrest conta com uma tranquilidade inquietante, o que o torna o mais ameaçador dos três, e isso reflete no modo como ele age em alguns momentos. No entanto, o roteiro não consegue estabelecer uma química de irmãos entre os Bondurant. Sim, eles se importam um com o outro, mas não aparentam ser muito próximos, sendo que às vezes parece haver até alguma desconfiança entre os três personagens. Considerando que todos cresceram juntos, acaba sendo estranho que não haja um ambiente tão familiar entre eles.
A violência na qual Hillcoat investe ao longo de Os Infratores (algo que assustou algumas pessoas na exibição que ocorreu no Festival de Cannes desse ano) resulta em momentos até angustiantes, como quando um personagem tem a garganta cortada, na parte mais tensa do filme. Outro exemplo disso é quando Forrest usa uma soqueira para golpear o pescoço de alguém. Por outro lado, o diretor peca no ritmo que confere a algumas cenas, como no tiroteio que ocorre no terceiro ato, que acaba sendo algo um tanto aborrecido de se acompanhar. Enquanto isso, a direção de arte faz um trabalho muito bom de reconstrução de época, e é interessante ver a inclusão de detalhes como placas de “brancos” e “negros” em bebedouros, indicando que aquele era um período onde o racismo ainda imperava.
Quanto ao elenco, Shia LaBeouf empresta seu carisma habitual a Jack Bondurant, o que é o oposto do que Tom Hardy (um ator que admiro cada vez mais) alcança em sua composição de Forrest. Hardy sempre fala de maneira que as palavras saiam de sua boca mostrando que seu personagem pode mudar de temperamento rapidamente, como na cena em que diz a Rakes “Nunca mais toque em mim!”. Aliás, quando aparece ainda criança em sua primeira cena no filme, Forrest mata um porco sem hesitar, algo que indica que se ele já era capaz de fazer isso nessa idade, não há como saber o que ele teria coragem de fazer quando adulto. Já o terceiro irmão, Jason Clarke, não tem muito espaço para desenvolver seu Howard Bondurant, empalidecendo diante de seus dois companheiros de cena.
Interpretando Charlie Rakes, Guy Pearce investe demais em risadinhas afeminadas e num jeito delicado na construção do personagem. Por um lado, isso mostra o quanto Rakes parece se conter para não deixar claro o monstro que é na realidade. Por outro, isso não só tira parte da ameaça que ele deveria exalar como ainda o torna uma figura meio caricatural, sendo que o ator cai um pouco no overacting no terceiro ato. Enquanto isso, Jessica Chastain surge linda como de costume e fazendo de Maggie Beauford uma mulher de personalidade forte, ao passo que Mia Wasikowska não consegue transformar Bertha Minnix em uma personagem muito interessante (e é uma pena que o roteiro gaste tanto tempo no romance entre ela e Jack). Fechando o elenco, Gary Oldman pouco tem a fazer com Floyd Banner, personagem que aparece em pouquíssimas cenas e some a partir de determinado momento, não fazendo muita falta.
Equilibrado tanto em seus acertos quanto em seus erros, Os Infratores não deixa de ser uma pequena decepção, ainda que não seja um filme ruim.
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