quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Gonzaga: De Pai Pra Filho

Gonzaga e Gonzaguinha foram dois grandes ídolos da música brasileira. Por isso, é uma pena constatar que enquanto o pai sofreu uma triste decadência no fim de sua carreira, depois de brilhar e ganhar o apelido de “Rei do Baião”, o filho não conseguiu explorar todo seu potencial, morrendo em um acidente de carro aos 45 anos. Gonzaga: De Pai Pra Filho, novo filme de Breno Silveira (seu segundo em 2012, tendo lançado ainda À Beira do Caminho, que não vi), tenta explorar o relacionamento conturbado que os dois tinham um com o outro, algo que prevaleceu durante boa parte de suas vidas.
Escrito por Patricia Andrade e com argumento de Maria Hernandez, Gonzaga: De Pai Pra Filho mostra Gonzaguinha (Julio Andrade) no auge do sucesso no início da década de 1980, enquanto seu pai (Adélio Lima) fora renegado ao esquecimento. Quando a esposa de Gonzaga pede para que Gonzaguinha ajude o pai, o rapaz propõe a ele uma série de shows. Mas essa acaba se tornando uma oportunidade para que pai e filho possam saber mais sobre eles mesmos e colocarem para fora tudo o que pensam quanto ao relacionamento distante que eles têm.
Mostrando os principais fatos da vida de Gonzaga, o roteiro consegue passar por eles sem parecer episódico, o que é admirável considerando o número de acontecimentos que aborda. Nisso, a montagem da dupla Vicente Kubrusly e Gustavo Giane é ágil ao conseguir fazer com que a narrativa flua bem enquanto intercala entre o passado e o presente sendo que eles ainda conseguem incluir imagens de arquivo organicamente na narrativa.
Breno Silveira (que emocionou boa parte das pessoas em 2 Filhos de Francisco, outra cinebiografia de figuras conhecidas da música) se sai admiravelmente bem na direção do filme. Os shows do Rei do Baião são conduzidos com grande vivacidade, combinando com a energia que ele demonstrava no palco. Já as cenas no presente, com pai e filho conversando, são carregadas de uma constante tensão, porque não há como saber a maneira com que eles reagirão as palavras ditas naquele momento. Isso chega ao auge no terceiro ato, quando Gonzaguinha começa a falar tudo que estava trancado em sua garganta, em uma cena que representa um dos grandes momentos do filme. Pra completar, o modo como o diretor utiliza as já citadas imagens de arquivo é muito interessante, colocando-as em momentos pontuais que talvez não tivessem o mesmo impacto caso fossem cenas do filme.
Apesar de explorar bastante a vida de Gonzaga, o roteiro comete o grave erro de não se dedicar da mesma maneira a vida do outro personagem importante da história, Gonzaguinha. Em nenhum momento ele mostra algum interesse em seguir uma carreira musical, sendo retratado no filme como um jovem que cresceu irritado com a ausência do pai. Com as motivações não ficando claras, é até uma surpresa quando Gonzaguinha aparece cantando e tocando violão pela primeira vez no filme.
Além disso, se Gonzaga não era o pai que o rapaz tanto queria e precisava, o mesmo não pode ser dito com relação a Xavier (Luciano Quirino), o padrinho dele. O problema é que Xavier ganha pouquíssima atenção ao longo da história, e a amizade entre ele e Gonzaga não é bem estabelecida pelo roteiro de modo que os dois demonstrem ter confiança um no outro. E quando Gonzaguinha grita em determinada cena “Meu pai era Henrique Xavier”, a frase acaba não tendo muito peso porque a importância daquela figura não é bem desenvolvida.
Quanto às atuações, Adélio Lima se destaca ao interpretar Gonzaga como um homem arrependido de muitas coisas, entre elas o modo como tratou o filho. Enquanto isso, Nivaldo Expedito de Carvalho (que interpreta o personagem na fase dos 25 aos 50 anos) e Land Vieira (que o interpreta na fase dos 17 aos 23 anos) emprestam grande carisma ao cantor. Mas o grande destaque do filme é Julio Andrade como Gonzaguinha. Surgindo sempre sério em cena, Andrade faz de seu personagem uma figura com uma raiva bastante contida do modo como foi tratado no passado. No entanto, isso não impede que ele se arrependa de algumas palavras que diz para seu pai, algo que Andrade consegue transmitir apenas com uma leve mudança de olhar. Sendo assim, é até uma pena que essa versão do personagem apareça esporadicamente ao longo da projeção.
Gonzaga: De Pai Pra Filho pode ter seus problemas, mas acaba sendo mais um sopro de ar fresco (ao lado de filmes como 2 Coelhos e Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios) diante de tantas comédias brasileiras ridículas que andam ocupando espaço nos cinemas.
Cotação:

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