sábado, 6 de outubro de 2012

Análise de Áudio - Era Uma Vez no Oeste

Uma das cenas que mais impressionam no clássico Era Uma Vez no Oeste, de Sergio Leone, é aquela na qual o vilão Frank (interpretado por Henry Fonda) mata a família de Jill (Claudia Cardinale). É um momento que impressiona em vários aspectos, e um deles é o modo como o áudio é usado.
Logo no início da cena (00:18), Leone inclui o canto de grilos ao fundo, e o mantém ali durante exatos dois minutos. É o tempo suficiente para que os personagens e o espectador se acostumem com aquele som, de forma que quando ele é cortado pela primeira vez acaba trazendo um silêncio que passa desconforto muito grande para todos os envolvidos naquela cena, e nisso incluo os espectadores que assistem ao filme. Nessa primeira vez que os grilos saem de cena, deixando apenas o som do vento, de um cão gemendo e das galinhas cacarejando, Leone consegue passar muito bem a ideia de que aquele local é tão isolado que se algo acontecer ali aquelas pessoas estarão indefesas, além de já passar a sensação de que algo ruim está prestes a acontecer.
Os membros da família voltam a ficar tranquilos quando os grilos retornam (02:42). É então que ocorre o segundo corte desse canto (05:23), e dessa vez é algo que tem muito mais impacto, não tendo mais o gemido do cão ou o cacarejar das galinhas, e o vento fica mais forte. Logo depois disso, ocorrem os primeiros tiros. É como se Frank fosse um ser humano tão amedrontador que todos pararam diante de sua presença.
Quando o pai e dois de seus filhos caem mortos, o caçula da família corre para a rua para saber o que está acontecendo. No momento em que ele bota os pés para fora da casa (06:37), Sergio Leone inclui a trilha musical de Ennio Morricone. É uma música bastante triste e ao mesmo tempo consegue dar um tom de suspense para a cena. Seu lado triste é mais do que apropriado por que aquela família estava prestes a ser completada com a presença de Jill, e eles também estavam se preparando para se livrar de suas dificuldades financeiras e serem mais felizes. Felicidade esta que nunca mais será alcançada.
Já o lado do suspense é adequado por dois motivos: 1) Será que aqueles homens são tão cruéis a ponto de matar uma criança?; 2) Quem é o líder daquele grupo?
Afinal, na época do lançamento do filme, ninguém sabia que Henry Fonda (mais conhecido por interpretar “mocinhos”) apareceria aqui como o vilão da história. E não é à toa que a música chega ao seu ápice (07:53) no momento em que Leone faz um travelling circular revelando Fonda como a figura pela qual as pessoas terão que torcer contra. E depois dessa grande revelação, Leone baixa um pouco o volume da música, como se estivesse dizendo para o público “Conformem-se! Este será o grande vilão do filme!”. E ainda por cima, é um vilão impiedoso, que mata crianças quando preciso.
É uma cena incrível e muito bem orquestrada por Sergio Leone, sendo apenas um dos vários momentos sensacionais de uma das grandes obras-primas da história do Cinema.

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