segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

O Oscar 2017


Eu não costumo escrever palavrões nos meus textos, mas é inevitável usar um para falar sobre o Oscar que ocorreu ontem em Los Angeles.

Que porra foi aquela?

Em uma cerimônia que estava relativamente divertida nas mãos do apresentador Jimmy Kimmel, que conduziu tudo com segurança e fazendo o que poderíamos esperar dele (com direito a Tweets Maldosos e sua falsa rivalidade com Matt Damon), e que transcorria tranquilamente como de costume, a maior gafe da história do evento ocorreu nos minutos finais, quando o evento resolveu seguir o estilo Miss Universo de 2015. Lendas do cinema, Warren Beatty e Faye Dunaway entraram no palco para apresentar Melhor Filme, uma oportunidade usada também para celebrar os 50 anos do clássico Bonnie & Clyde. Eles mal sabiam que estavam com o envelope errado em mãos, anunciando a vitória de La La Land quando na verdade o vencedor foi Moonlight, algo que já seria surpreendente por si só (La La Land ganhou praticamente todos os prêmios da temporada), mas que ganhou contornos maiores devido à bagunça. A culpa pela trapalhada já foi assumida pela PricewaterhouseCoopers, empresa que lida há 83 anos com a contagem dos votos do Oscar e com os envelopes apresentados, trabalho até então feito sem nenhum problema.

Obviamente, é uma daquelas reviravoltas inacreditáveis e desconfortáveis de se acompanhar, além de ofuscar a linda e merecida vitória de Moonlight, longa que custou pouco mais de um milhão de dólares e que se tornou o primeiro trabalho com temática LGBT a levar o prêmio máximo do cinema, sinal de um possível progresso por parte da Academia. A festa do belíssimo filme dirigido por Barry Jenkins se completou ainda com as estatuetas de Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali).

Onde fica o grande favorito La La Land no meio disso tudo? Com 6 estatuetas das 14 aos quais estava indicado: Melhor Direção (Damien Chazelle se tornou o mais jovem a levar o prêmio), Melhor Atriz (Emma Stone), Melhor Fotografia, Melhor Design de Produção, Melhor Canção e Melhor Trilha Original. Além disso, o produtor do filme, Jordan Horowitz, ainda exibiu uma elegância admirável em meio ao caos do final da cerimônia, por mais que pudéssemos ver a decepção sentida por ele e seus colegas.

Enquanto isso, Até o Último Homem se consagrou em duas categorias (Melhor Montagem e Melhor Mixagem de Som), assim como Manchester à Beira-Mar (Melhor Roteiro Original e Melhor Ator para Casey Affleck), ao passo que A Chegada e Um Limite Entre Nós ficaram com uma estatueta cada (Melhor Som para o primeiro e Melhor Atriz Coadjuvante para o segundo, consagrando a grande Viola Davis). O iraniano Asghar Farhadi ganhou Melhor Filme Estrangeiro por O Apartamento, naquele que foi o prêmio político da noite, servindo como uma resposta da Academia ao banimento promovido por Donald Trump aos muçulmanos. Por sinal, o presidente americano recebeu várias alfinetadas durante a cerimônia, ainda que mais contidas que o esperado.

Pessoalmente, acertei 16 vencedores entre as 24 categorias (mesmo número que consegui em 2015 e 2016), não cheguei a ficar bêbado durante um drinking game (a bebida foi pouca e acabou cedo demais) e tive pães de queijo ruins como companheiros alimentícios. Mas ainda foi uma noite melhor do que a dos produtores do Oscar, que além da gafe histórica ainda erraram a foto da figurinista Janet Patterson no segmento In Memoriam, colocando a imagem de Jan Chapman, produtora que ainda está viva. Não foi uma noite muito boa para quem trabalhou na cerimônia.

Enfim, confira a lista completa de vencedores logo abaixo (oscarizados estão assinalados com *):

Melhor Filme
Um Limite Entre Nós
Até o Último Homem
A Qualquer Custo
Estrelas Além do Tempo
Lion
Manchester à Beira-Mar
*Moonlight*

Melhor Direção
Denis Villeneuve, por A Chegada
Mel Gibson, por Até o Último Homem
*Damien Chazelle, por La La Land*
Kenneth Lonergan, por Manchester à Beira-Mar
Barry Jenkins, por Moonlight

Melhor Atriz
Isabelle Huppert, por Elle
Ruth Negga, por Loving
Natalie Portman, por Jackie
*Emma Stone, por La La Land*
Meryl Streep, por Florence: Quem é Essa Mulher?

Melhor Ator
*Casey Affleck, por Manchester à Beira-Mar*
Andrew Garfield, por Até o Último Homem
Ryan Gosling, por La La Land
Viggo Mortensen, por Capitão Fantástico
Denzel Washington, por Um Limite Entre Nós

Melhor Atriz Coadjuvante
*Viola Davis, por Um Limite Entre Nós*
Naomie Harris, por Moonlight
Nicole Kidman, por Lion
Octavia Spencer, por Estrelas Além do Tempo
Michelle Williams, por Manchester à Beira-Mar

Melhor Ator Coadjuvante
*Mahershala Ali, por Moonlight*
Jeff Bridges, por A Qualquer Custo
Lucas Hedges, por Manchester à Beira-Mar
Dev Patel, por Lion
Michael Shannon, por Animais Noturnos

Melhor Roteiro Original
A Qualquer Custo
La La Land
O Lagosta
*Manchester à Beira-Mar*
Mulheres do Século 20

Melhor Roteiro Adaptado
*Moonlight*
A Chegada
Um Limite Entre Nós
Estrelas Além do Tempo
Lion

Melhor Animação
Kubo e as Cordas Mágicas
Minha Vida de Abobrinha
Moana
A Tartaruga Vermelha
*Zootopia*

Melhor Filme Estrangeiro
*O Apartamento (Irã)*
Um Homem Chamado Ove (Suécia)
Tanna (Austrália)
Toni Erdmann (Alemanha)
Terra de Minas (Dinamarca)

Melhor Documentário
Fogo no Mar
Eu Não Sou Seu Negro
Life, Animated
*O.J.: Made in America*
A 13ª Emenda

Melhor Direção de Fotografia
A Chegada
*La La Land*
Lion
Moonlight
Silêncio

Melhor Figurino
Aliados
*Animais Fantásticos e Onde Habitam*
Florence: Quem é Essa Mulher?
Jackie
La La Land

Melhor Design de Produção
A Chegada
*La La Land*

Melhor Montagem
La La Land
*Até o Último Homem*
Moonlight
A Chegada
A Qualquer Custo

Melhor Trilha Original
Jackie
*La La Land*
Lion
Moonlight
Passageiros

Melhor Canção
*“City of Stars”, de La La Land*
“Audition”, de La La Land
“Can’t Stop the Feeling”, de Trolls
“The Empty Chair”, de Jim: The James Foley Story
“How Far I’ll Go”, de Moana

Melhor Maquiagem e Penteados
Um Homem Chamado Ove
Star Trek: Sem Fronteiras

Melhores Efeitos Visuais
Horizonte Profundo
*Mogli: O Menino Lobo*
Kubo e as Cordas Mágicas

Melhor Som
*A Chegada*
Horizonte Profundo
Até o Último Homem
La La Land
Sully

Melhor Mixagem de Som
A Chegada
*Até o Último Homem*
La La Land
Rogue One
13 Horas

Melhor Curta de Animação
Blind Vaysha
Borrowed Time
Pear Cider and Cigarettes
Pearl
*Piper*

Melhor Curta-Metragem
Ennemis Intérieurs
La Femme et le TGV
*Mindenki*
Timecode
Silent Nights

Melhor Curta-Documentário
Extremis
4.1 Miles
Joe’s Violin
Watani: My Homeland
*The White Helmets*

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Apostas Para o Oscar 2017


Oscar chegando em pouco mais de 24 horas (TNT transmite ao vivo amanhã a partir das 21h) e com isso vem também o momento de apostar. Afinal, além de uma espécie de Copa do Mundo do cinema, a premiação também pode ser encarada como bingo, e tentar adivinhar quem sairá com as estatuetas douradas para casa não deixa de ser uma tarefa divertida de se fazer nessa época do ano.

Vale lembrar que as apostas têm como base todo o decorrer da temporada de premiações, que deixou mais ou menos clara a direção que a Academia deve tomar para escolher seus vencedores. Nisso, La La Land passou a exibir um favoritismo tão grande que é quase certo que teremos uma vitória de lavada, com o filme saindo com a maior parte dos prêmios aos quais está indicado.

Sem mais delongas, eis as minhas apostas.


Melhor Filme
Aposta: La La Land.
Torcida: Gosto de todos os indicados em maior ou menor grau, mas ficaria com A Chegada. Ou Moonlight. A vitória de qualquer um destes filmaços me deixaria mais do que satisfeito.


Melhor Direção
Aposta: Damien Chazelle, por La La Land (caso isso se confirme, Chazelle será o diretor mais jovem a levar o prêmio)
Torcida: Denis Villeneuve, por A Chegada. Ou Barry Jenkins, por Moonlight.


Melhor Atriz
Aposta: Emma Stone, por La La Land.
Torcida: Na falta de Amy Adams (que sacanagem, Academia!), vamos de Isabelle Huppert, por Elle. Mas uma vitória de Ruth Negga, por Loving, seria uma surpresa mais do que agradável.


Melhor Ator
Aposta: Casey Affleck, por Manchester à Beira-Mar
Torcida: Viggo Mortensen, por Capitão Fantástico


Melhor Atriz Coadjuvante
Aposta: Viola Davis, por Um Limite Entre Nós
Torcida: Viola Davis, por Um Limite Entre Nós, por mais que a atriz esteja na categoria errada (deveria estar na principal)


Melhor Ator Coadjuvante:
Aposta: Mahershala Ali, por Moonlight
Torcida: Mahershala Ali, por Moonlight


Melhor Roteiro Original
Aposta: Kenneth Lonergan, por Manchester à Beira-Mar
Torcida: Kenneth Lonergan, por Manchester à Beira-Mar


Melhor Roteiro Adaptado
Aposta: Barry Jenkins e Tarell Alvin McCraney, por Moonlight
Torcida: Eric Heisserer, por A Chegada, mas se a vitória de Moonlight se confirmar ficarei igualmente feliz


Melhor Animação
Aposta: Zootopia
Torcida: A Tartaruga Vermelha


Melhor Documentário
Aposta: O.J.: Made in America
Torcida: O.J.: Made in America


Melhor Filme Estrangeiro
Aposta: O Apartamento (Irã)
Torcida: Dos indicados vi apenas o excelente Toni Erdmann, então por enquanto irei me abster


Melhor Direção de Fotografia
Aposta: La La Land
Torcida: Falta assistir ao trabalho de Rodrigo Prieto em Silêncio, de Scorsese, algo que farei só depois da cerimônia, já que a distribuidora teve a brilhante ideia de adiar o lançamento do filme


Melhor Montagem
Aposta: La La Land
Torcida: A Chegada


Melhor Design de Produção
Aposta: La La Land


Melhor Figurino
Aposta: La La Land
Torcida: Animais Fantásticos e Onde Habitam


Melhor Maquiagem
Aposta: Star Trek: Sem Fronteiras
Torcida: Ainda não vi Um Homem Chamado Ove, então por enquanto irei me abster


Melhor Trilha Original
Aposta: La La Land
Torcida: Jackie


Melhor Canção
Aposta: “City of Stars”, de La La Land
Torcida: Qualquer uma de Sing Street. O quê??? Nenhuma foi indicada??? Então prefiro me abster em protesto.


Melhor Mixagem de Som
Aposta: La La Land
Torcida: A Chegada


Melhor Som
Aposta: La La Land
Torcida: A Chegada


Melhores Efeitos Visuais
Aposta: Mogli: O Menino Lobo
Torcida: Mogli: O Menino Lobo


Melhor Curta-Documentário
Aposta: Joe’s Violin
Torcida: Não vi nenhum dos indicados


Melhor Curta de Animação
Aposta: Piper
Torcida: Dos cinco indicados, vi apenas Piper (que gostei muito). Então vou me abster.


Melhor Curta-Metragem
Aposta: Timecode
Torcida: Não vi nenhum dos indicados

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Lego Batman: O Filme

Apesar de ser visto constantemente como um personagem sombrio, algo que Tim Burton e Christopher Nolan souberam explorar em maior ou menor grau, o Batman já mostrou ter potencial para render produções divertidas, com a série de TV estrelada por Adam West e Burt Ward na década de 1960 talvez sendo a obra mais conhecida nesse sentido. Mas vale dizer que este Lego Batman não fica nenhum pouco atrás na matéria de entreter o espectador. Aproveitando o sucesso que o herói obteve no ótimo Uma Aventura Lego, este spin-off traz um Homem-Morcego que leva o espectador ao riso com suas aventuras e seu jeito narcisista, fazendo questão também de dar um enfoque em seus dramas pessoais, numa mistura que resulta em uma obra ímpar no histórico de adaptações que o personagem já ganhou nos cinemas.

Escrito por nada mais, nada menos do que cinco roteiristas, Lego Batman praticamente faz jus aos brinquedos originais, contando com uma trama cheia de peças e juntando-as para formar uma narrativa coerente, o que talvez pudesse dar errado, mas acaba funcionando bem. Aqui, Batman (voz original de Will Arnett) se vê tendo que enfrentar novamente os planos do Coringa (Zach Galifianakis) para dominar Gotham City, sendo que o vilão conta com o auxílio de uma série de outras figuras maléficas, ao passo que o herói resiste à ideia de pedir ajuda e criar laços familiares mais fortes, algo desafiado pela presença do jovem Dick Grayson (Michael Cera) e da nova comissária de polícia, Barbara Gordon (Rosario Dawson).

Enquanto se assiste a Lego Batman, a impressão que se tem é que o diretor Chris McKay (um dos responsáveis pela série Robot Chicken) se esforça para criar uma narrativa que pareça fruto de alguém que está brincando com sua grande coleção de legos, como se percebe no fato de os personagens fazerem os efeitos sonoros de suas armas ou na participação do maior número possível de bonecos da linha de brinquedos. Nisso, aliás, é interessante notar como o filme realmente não se limita apenas ao universo de heróis e vilões da DC Comics, conseguindo inserir uma série de outras figuras conhecidas que divertem por serem inesperadas e até mesmo inusitadas (prefiro não revelar de quais personagens estou falando a fim de não estragar possíveis surpresas).

Mas não são apenas esses os elementos usados pelo filme na hora de entreter o público, com os roteiristas conseguindo bolar boas piadas a partir do jeito dos personagens, seja o já citado narcisismo do protagonista, a constante felicidade de Robin ou a vilania do Coringa, além de brincar inteligentemente com o próprio universo do longa desde o primeiro segundo de projeção, quando vemos o Batman descrever os logos que precedem o filme. E se as diversas referências (e até mesmo alfinetadas) colocadas na tela surgem de maneira divertida e natural, merecendo destaque as que dizem respeito às adaptações cinematográficas anteriores do Batman e de outros personagens da DC Comics (como o pavoroso Esquadrão Suicida), Chris McKay ainda merece créditos por impor uma energia contagiante na narrativa, algo que se vê tanto nas cenas de ação quanto no design de produção, que aposta em cores quentes na maior parte do tempo.

Porém, o mais surpreendente com relação a Lego Batman é como ele é bem sucedido em sua diversão ao mesmo tempo em que aborda temas como família, luto e o vazio que podemos sentir, sabendo mostrar como isso tudo faz parte da vida e como é importante manter pessoas por perto. São aspectos que nem chegam a ser tratados com sutileza por parte do roteiro, mas ainda dão ao filme um peso emocional e uma maturidade interessantes, nos fazendo simpatizar ainda mais com os personagens e chegando ao ponto de nos tocar com seus arcos dramáticos, de forma que poucas vezes uma frase tão horrível como “Eu te odeio!” ganhou contornos afetivos tão cativantes.

Se o Batman de carne e osso do cinema atualmente está no meio de um universo bagunçado (como se viu em Batman vs. Superman), o de lego mais uma vez conquista o espectador, protagonizando um filme que se estabelece como um exemplar admirável de uma franquia que está sabendo montar (sem trocadilhos) um mundo rico em sua diversão.

Nota: