Seguindo os mesmos passos de
outros filmes de origem da Marvel, principalmente Thor e Guardiões da Galáxia,
Doutor Estranho é um trabalho que deixa
claro que pretende não apenas apresentar um novo super-herói com o qual o
público pode simpatizar, mas também nos colocar diante de um novo canto do
universo que o estúdio vem construindo desde que Homem de Ferro foi lançado. Inserindo as artes místicas na jogada,
o longa de Scott Derrickson trata de mostrar mais algumas camadas de um mundo
já incrivelmente vasto, conseguindo fazer isso ao mesmo tempo em que diverte tanto
com a forma como desenvolve seus conceitos quanto com a personalidade de seu
protagonista.
Escrito por Jon Spaihts e pelo
próprio Scott Derrickson em parceria com C. Robert Cargill, Doutor Estranho é centrado em Stephen
Strange (Benedict Cumberbatch), um arrogante, mas excepcional neurocirurgião
que se vê sem poder exercer a profissão após sofrer um acidente que causa danos
graves a suas mãos. Desesperado e fazendo de tudo para reverter sua situação,
Stephen vai ao templo de Kamar-Taj, no Nepal, onde conhece o feiticeiro Mordo
(Chiwetel Ejiofor) e a mestra dele, conhecida como a Anciã (Tilda Swinton), figura
que expande a mente inicialmente cética do doutor e lhe mostra as
possibilidades das artes místicas. Enquanto isso, outro feiticeiro, Kaecilius
(Mads Mikkelsen), prova ser uma ameaça para o mundo ao buscar evocar as forças do
poderoso Dormammu e sua Dimensão Negra.
Visualmente, Doutor Estranho desponta como um dos
exemplares mais interessantes da Marvel, inserindo o protagonista (e consequentemente
o espectador) em um daqueles universos narrativos onde o impossível se torna
possível. Assim, Scott Derrickson (diretor conhecido por filmes de terror como O Exorcismo de Emily Rose e A Entidade) claramente se diverte ao
nos apresentar a uma série de ideias que brincam com as leis da natureza e que
tomam a tela amalucadamente, sendo o ápice disso a sequência em que a Anciã
joga Stephen em uma viagem astral psicodelicamente insana (aliás, eis aqui um
raro momento em que ver um filme em IMAX realmente resultou em uma experiência
imersiva um pouco mais forte do que o normal).
Mas não é só por aí que
Derrickson busca entreter o público, já que os poderes dos personagens abrem
possibilidades curiosas quando o filme parte para a ação. É algo que o cineasta
consegue explorar eficientemente, tendo para isso o auxílio do ótimo trabalho
da equipe de efeitos visuais, o que resulta em momentos divertidos (a luta espiritual
que ocorre em um hospital) e outros que impressionam por sua concepção e escala
(o embate em Nova York dentro da Dimensão Espelhada, uma das sequências em que
o longa exibe sua inspiração em A Origem),
valendo destacar também o ritmo ágil imposto por Derrickson no decorrer da
narrativa, aspecto que ajuda a prender a atenção do público sem criar uma
confusão visual na tela.
Enquanto isso, o ótimo Benedict
Cumberbatch interpreta Stephen Strange com carisma e até mesmo certa irreverência, levando o público a gostar do personagem e se identificar com ele
por mais arrogante que se mostre. Na verdade, Stephen pode muito bem ser visto
como uma versão alternativa do Tony Stark de Robert Downey Jr., seja por seu
jeito de ser (incluindo piadinhas) ou pelo arco dramático que percorre, gradualmente
parando de olhar apenas para o próprio umbigo. Já Rachel McAdams pouco pode
fazer com Christine Palmer, interesse amoroso do herói e que surge em cena apenas
quando o roteiro precisa, ao passo que Chiwetel Ejiofor é um tanto
subaproveitado no papel de Mordo, personagem que deve ser melhor explorado
futuramente. E se Benedict Wong faz de Wong, mestre que mantém seguros os
livros do Kamar-Taj, um sujeito que diverte mesmo sem ter isso como propósito,
Mads Mikkelsen não consegue fazer de Kaecilius uma ameaça palpável, ainda que exista
no roteiro algum esforço em torna-lo um vilão interessante. Fechando o elenco,
Tilda Swinton tem na Anciã um papel que remete diretamente ao do Morpheus de
Lawrence Fishburne em Matrix, sendo a
personagem alguém cuja sabedoria a estabelece como uma figura de presença grandiosa,
detalhe que a atriz encarna com segurança, compensando o fato de a maior parte
de seus diálogos serem expositivos para que o protagonista e o público fiquem
por dentro daquele universo.
Escorregando em um clímax que
resolve facilmente o conflito principal da trama, além de ter a narrativa
embalada por uma trilha pouco inspirada do geralmente excelente Michael Giacchino,
Doutor Estranho não deixa de apertar
os mesmos botões que a Marvel se acostumou a apertar ao contar
suas histórias no cinema. Uma fórmula que vem ficando cada vez mais óbvia, mas que
mesmo assim é capaz de fazer o filme funcionar bem como entretenimento enquanto
se estabelece como uma peça importante dentro da franquia.
Obs.: Como de costume em se
tratando da Marvel, há cenas durante e depois dos créditos finais.
Nota:
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