Concentrando-se na história de um
contador autista que, além de ter suas grandes habilidades com números, também
é um sujeito letal quando necessário, O
Contador não deixa de partir de uma premissa curiosa, que pode ter sido uma
tentativa do roteiro de apostar em algo que tenha algum frescor. Como resultado,
o novo trabalho de Gavin O’Connor (de obras como Guerreiro e Força Policial)
e protagonizado por Ben Affleck é um longa que pode ser considerado como um
choque entre Rain Man e a franquia Bourne, mesmo ficando bem abaixo desses
filmes em termos de qualidade.

Por mais que a premissa de O Contador chame atenção em sua
proposta, um dos pontos que acabam prejudicando o filme é o desejo por parte do
roteiro em querer tornar a história um pouco maior e mais complexa do que o
necessário. Sendo assim, o longa se estrutura de forma que acompanhamos não só Christian,
mas também as subtramas envolvendo outros núcleos narrativos, como a
investigação de Ray e Marybeth e os trabalhos de um assassino profissional
(vivido por Jon Bernthal), além de pontualmente inserir flashbacks da vida do protagonista. É uma pena, porém, que Gavin
O’Connor não consiga dar importância a todos esses elementos e não salte
naturalmente de um ponto da história para outro, o que causa sérios problemas
de ritmo na narrativa. É um aspecto tão problemático que, em determinado
momento, O’Connor chega a parar a trama principal por vários minutos a fim de que
algo seja explicado ao público.
No entanto, quando se concentra
em seu protagonista, o filme consegue ser envolvente, o que se deve em parte a boa
atuação de Ben Affleck, que encarna Christian Wolff de maneira bastante contida
e trazendo frieza ao jeito de ser do personagem, que não tem muita noção de
convivência, algo feito sem sacrificar sua humanidade. Aliás, a maneira
convincente com que Affleck interpreta os modos de Chris até contribui com o
senso de humor do filme, como na cena em que faz um breve aceno para um casal
logo depois de cometer um ato violento. Quanto às habilidades físicas do
personagem, vale dizer que Gavin O’Connor consegue utilizá-las eficientemente
para criar sequências de ação ágeis e que injetam um pouco de energia na
narrativa (por sinal, é curioso notar como Chris deixa de usar óculos ao ter
que agir com socos e pontapés, como se tirasse uma espécie de máscara).
Se Affleck se sai bem, o elenco
de coadjuvantes faz o que pode com personagens que não chegam a ser
particularmente interessantes. J.K. Simmons usa sua grande presença em cena
para estabelecer a autoridade de Ray King, enquanto Anna Kendrick compõe Dana
Cummings com o mesmo jeito meio excêntrico que marca boa parte de seus papeis, sendo
uma pena que a personagem seja usada de maneira rasteira e óbvia pelo roteiro
para evocar o lado emocional do protagonista. Já Jon Bernthal traz sua persona
um tanto insana (e que ele carrega por todos os projetos em que se envolve)
para o assassino que interpreta, criando um indivíduo que mantém certa irreverência
em meio ao trabalho violento, mas chega a ser triste que ele protagonize uma
reviravolta que, de tão previsível, nos faz questionar a inteligência dos
realizadores.

Nota:
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