A ideia de lançar um filme da franquia
Star Wars por ano não deixa de ser
uma forma de a Disney recuperar os bilhões que investiu na compra da Lucasfilm,
podendo muito bem ser algo puramente caça-níquel para ganhar dinheiro com bilheterias
e produtos licenciados. No entanto, uma coisa que o excelente O Despertar da Força provou é que o
universo criado por George Lucas ainda é capaz de render novas e interessantes aventuras
no cinema. E se uma nova trilogia já foi iniciada, agora é a vez dos longas
derivados da série explorarem outros detalhes daquele universo, começando por
este Rogue One, prequel ambientada pouco antes de Uma Nova Esperança e que se revela um complemento rico para a trama
que vimos há 40 anos.
Escrito por Chris Weitz e Tony
Gilroy a partir do argumento de John Knoll e Gary Whitta, Rogue One mostra a Aliança Rebelde recrutando Jyn Erso (Felicity
Jones), filha de Galen Erso (Mads Mikkelsen), o cientista que, sob o comando de
Orson Krennic (Ben Mendelsohn), ajudou o Império a construir a Estrela da Morte.
Ao lado de Cassian Andor (Diego Luna) e do androide K-2SO (Alan Tudyk), Jyn recebe
a tarefa de encontrar o rebelde Saw Gerrera (Forest Whitaker), que pode ter uma
mensagem importante para a Aliança. Em meio a isso, o trio ganha a companhia do
piloto Bodhi Rook (Riz Ahmed) e da dupla Chirrut Îmwe (Donnie Yen) e Baze Malbus
(Jiang Wen), que os ajudam em sua luta contra o Império.
Como quase toda prequel, o que se vê aqui é uma história
na qual a maioria das pessoas já entra sabendo como irá terminar, e não é à toa
que a graça desse tipo de filme (e até de outros que possam ser um tanto previsíveis)
não está no ponto em que ele chega ao final, mas sim no caminho que ele percorre
até lá. Apesar de o roteiro levar algum tempo para estabelecer o enredo principal,
ele ainda é hábil ao fazer com que este novo exemplar surja como uma peça fundamental
na trama geral da franquia, principalmente para Uma Nova Esperança, conseguindo apresentar um novo núcleo da guerra
intergaláctica que é tão relevante quanto aqueles que acompanhamos nos outros longas.
E ao mesmo tempo em que nos deixa curiosos quanto às direções tomadas pela
história, Rogue One ainda preenche certas
lacunas que enriquecem a narrativa (dessa vez temos até uma explicação
convincente e tocante sobre o porquê de a Estrela da Morte convenientemente ter
um ponto vulnerável), além de incluir referências e personagens que não soam apenas
como uma forma gratuita de agradar os fãs, servindo principalmente para dar mais
peso aos eventos que retrata e criar uma continuidade natural e até necessária entre
o filme e o restante da saga.
Trazendo um tom que faz jus a “guerra”
que faz parte do título da franquia, o diretor Gareth Edwards (do ótimo Monstros e da mais recente e
decepcionante versão de Godzilla) comanda
uma narrativa que mantém o espectador inquieto durante a maior parte do tempo, com
batalhas ocorrendo quando menos se espera. Estas, por sinal, são bem conduzidas
pelo diretor, que impõe tensão e intensidade ao caos que se estabelece por ali,
sendo que ele também não desvia o olhar dos resultados brutais de tudo isso, sendo
possível notar stormtroopers sendo desmembrados em grandes explosões (ainda que
isso aconteça da maneira menos gráfica possível para manter a baixa classificação
indicativa). Além disso, o cineasta tem a sorte de poder contar com toda a
competência técnica que nos acostumamos a ver ao longo da franquia, desde o
excepcional trabalho de design de produção que mantém a escala grandiosa daquele
universo, como se vê nos conhecidos interiores da Estrela da Morte e na criação
dos diversos planetas que surgem na tela, até os brilhantes efeitos visuais, que
impressionam tanto nas cenas de ação quanto nas criaturas digitais, causando
estranhamento apenas ao resgatar dois personagens humanos conhecidos do público
e cuja artificialidade podemos notar constantemente.
Liderando o elenco bastante diversificado
que dá vida a personagens com os quais conseguimos nos importar em maior ou
menor grau, Felicity Jones cria em Jyn Erso uma figura que não faz feio se
comparada a Leia e Rey no que diz respeito às protagonistas femininas fortes da
série, exibindo carisma e segurança admiráveis no papel. Já Diego Luna
interpreta Cassian Andor como alguém determinado a fazer o que for necessário
pela causa que defende, ao passo que o K-2SO de Alan Tudyk surge como um alívio
cômico que praticamente rouba a cena com suas ótimas (e por vezes hilárias) observações.
E se o excelente Ben Mendelsohn faz de Orson Krennic um vilão que chama atenção
por suas ambições com relação ao seu papel diante do Império e seus líderes, Mads
Mikkelsen e Forest Whitaker têm participações pequenas, mas marcantes nos papeis
de Galen Erso e do extremista Saw Gerrera, respectivamente. Fechando o elenco, atores
como Riz Ahmed, Donnie Yen e Jiang Wen têm presenças interessantes, o que
compensa um pouco o fato de seus personagens não serem tão desenvolvidos.
Embalado pela ótima trilha de
Michael Giacchino, que cria novas e cativantes composições enquanto faz bom uso
dos temas originais de John Williams quando preciso, Rogue One surge como um exemplar admirável de Star Wars, conseguindo inclusive enriquecer os outros longas da franquia
ao dar a devida importância aos eventos que apresenta. Depois do filme, é
inevitável sentir certa vontade de conferir como essa história continua, algo
que felizmente já está à nossa disposição há um bom tempo.
Nota:
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