Damien Chazelle ascendeu no
cinema com longas que encontravam na arte (majoritariamente na música) um pano
de fundo para contar histórias de personagens que precisam ora se superar, ora
fazer sacrifícios por seus sonhos (falo, claro, de Whiplash e La La Land).
Em O Primeiro Homem, o diretor
realiza um filme que encontra certa semelhança com seus trabalhos anteriores. Não
pelo pano de fundo musical, claro, mas sim pelo esforço dos personagens para
cumprirem seus objetivos, focando dessa vez na jornada que levou a humanidade
até a lua, algo que ele conta com um cuidado admirável.
Escrito por Josh Singer (co-roteirista
do fantástico Spotlight) a partir do
livro de James R. Hansen, O Primeiro
Homem nos leva até a década de 1960, período em que Estados Unidos e União
Soviética travavam a grande corrida espacial, um dos principais pontos de sua
Guerra Fria. É quando passamos a acompanhar o envolvimento de Neil Armstrong
(Ryan Gosling) na missão da NASA para chegar á lua, pouco depois de ele e sua
esposa, Janet (Claire Foy), terem perdido a filha pequena devido a um câncer.
De maneira muito segura, Damien
Chazelle cria uma narrativa que favorece muito a delicadeza ao redor da missão.
Assim, além de não ignorar os vários problemas e sacrifícios com os quais
Armstrong e o resto da NASA precisam lidar, o diretor dá atenção especial ao
cuidado que todos têm a cada passo que dão rumo à lua. O curioso em relação a
isso é que, por mais que saibamos o final da história, esse cuidado também
acaba servindo para gerar tensão na narrativa, porque qualquer erro na missão pode
colocar vidas em risco e pôr tudo a perder. E a própria montagem mais
cadenciada de Tom Cross (parceiro habitual do diretor) contribui para dar peso
a esse aspecto.
No entanto, se O Primeiro Homem se mostra capaz de
envolver o espectador, muito se deve ao drama pessoal do protagonista, detalhe
que não deixa de se tornar o fio condutor da história. Usando a morte da filha
de Armstrong como ponto de partida, o filme desenvolve ao longo da trama um belo
arco dramático de luto e superação, fazendo com que a chegada de Armstrong (e, consequentemente,
dos seres humanos de modo geral) à lua ganhe contornos emocionais que se
revelam essenciais, já que transformam a missão em algo maior que vencer a
corrida espacial. Também é preciso ressaltar aqui o trabalho de Ryan Gosling,
que não só encarna com talento a determinação de Armstrong e sua aparente
frieza, que cai por chão quando ele se isola das outras pessoas, mas também
forma com a ótima Claire Foy um núcleo familiar que aproxima eles do público.
Foy que, aliás, merece destaque pela força que traz a Janet, cujos questionamentos
sobre a missão ajudam a mostrar as implicações que esta tem na vida pessoal dos
personagens.
“Este é um pequeno passo para o
homem, e um grande salto para a humanidade” é a famosa frase de Neil Armstrong.
Pois levando tais palavras a sério, Damien Chazelle fez em O Primeiro Homem um filme que não faz feio frente a obras
similares, como Apollo 13 e Os Eleitos, evitando quaisquer
ufanismos e contando com propriedade uma história que indica que não há limites
para a ambição humana.
Nota:
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