Trazida pra as telonas em Demolidor, Elektra foi um dos bons elementos daquela razoável produção, uma personagem forte e que ganhou na bela Jennifer Garner
uma intérprete interessante e carismática. Apesar do destino que
recebeu no filme do Homem Sem Medo, não foi surpresa ver que a heroína
ganharia um spin-off, assim como ocorreu nos quadrinhos. Mas,
infelizmente, o resultado dessa ideia resultou naquele que, sem dúvida, é
um dos piores filmes baseados em um personagem da Marvel Comics.
Com roteiro de Zak Penn, Stuart Zicherman e Raven Metzner, Elektra mostra que, depois dos eventos vistos no filme anterior, a personagem-título se tornou uma assassina profissional (como é conhecida nos quadrinhos). Em uma de suas missões, conhece a jovem Abby (Kristen Prout) e o pai da garota, Mark (Goran Visnjic), e se aproxima deles, ainda que fazer amigos não seja um de seus hábitos. Mas ao descobrir que os alvos que deve matar são exatamente os novos amigos, Elektra decide não realizar o serviço. É então que descobre que pai e filha são perseguidos por membros do Tentáculo, um grupo de mercenários que lidam com magia negra, e passa a protegê-los.
Logo no início o roteiro dá indícios de que ter cuidado com o desenvolvimento da trama e dos personagens não é exatamente um de seus interesses, e ao longo da narrativa é triste ver isso se confirmar. O desenrolar da história é clichê e bobo, envolvendo um ponto crítico da guerra entre o Bem e o Mal (algo que a preguiçosa sequência inicial trata de explicar para o espectador) e um certo “Tesouro”, figura que pode ser decisiva na batalha. Como se não bastasse, o relacionamento de Elektra com Abby e Mark é a típica história da personagem durona cujo coração é amolecido por outras pessoas, revelando-se bem formulaica.
O diretor Rob Bowman (que no cinema é mais conhecido pelo primeiro filme da série de TV Arquivo X) não consegue contornar alguns problemas de ritmo que a história encontra graças à estrutura narrativa, que constantemente inclui flashbacks superficiais para estabelecer o passado da protagonista, inseridos de maneira nada orgânica na narrativa. O cineasta também não impressiona no comando de sequências burocráticas de ação, além de visualmente confusas, como na decepcionante luta final entre Elektra e o vilão Kirigi (Will Yun Lee). Em determinado momento, quando uma árvore cai em cima de um capanga, o diretor lembra até desenhos animados, chegando a causar o riso involuntário (só faltou alguém gritando “Madeira!”). Para completar, os efeitos visuais são terríveis, principalmente com relação ao bandido cujas tatuagens ganham vida própria.
Voltando ao papel de Elektra, Jennifer Garner surge claramente no piloto automático, não tendo nem metade do carisma que havia mostrado na primeira aparição da personagem. Isso torna difícil para o público se identificar com ela, que ainda ganha como característica um transtorno obsessivo compulsivo que não acrescenta nada à trama. Kirsten Prout, por sua vez, tem uma presença irritante, enquanto que Goran Visnjic fica um tanto apagado, e a sugestão de um romance entre ele e Elektra é totalmente desnecessária. Fechando o elenco, Will Yun Lee não consegue compor um vilão satisfatório, ao passo que Terence Stamp é dono de algumas falas desastrosas interpretando Stick, mestre de Elektra que poderia muito bem ser uma versão mais velha de Matt Murdock, com uma cegueira que o faz enxergar melhor do que qualquer outra pessoa, sem mencionar suas habilidades em artes marciais.
É raro ver um filme de super-herói protagonizado por uma mulher. Geralmente, quando surge uma personagem assim, ela fica no nível dos coadjuvantes (basta vermos a posição da Viúva Negra nas produções do atual universo Marvel nos cinemas). Isso inevitavelmente é prova do machismo que ainda impera em Hollywood e na sociedade de modo geral, o que torna mais lamentável o fato de Elektra ter ganhado um filme tão ruim e mal feito como esse.
Nota:
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