Apesar de não ser uma franquia
particularmente consistente, mesclando exemplares divertidos com outros mais
irregulares, é no mínimo curioso (para não dizer insano) notar a evolução de Velozes & Furiosos ao longo de seus
pouco mais de 15 anos de existência. Se no início a série apresentava tramas
policiais situadas no submundo das corridas clandestinas, mais tarde ela entrou
no ramo dos heist movies (quando um
grupo se organiza para realizar um roubo), apenas para hoje ser uma espécie de
filhote de Missão Impossível. Tudo
isso mantendo sua natureza motorizada, enquanto que a escala de produção e o
nível de absurdo foram aumentando gradualmente. Esses dois últimos detalhes
chegam ao ápice neste Velozes &
Furiosos 8, um longa que podemos classificar como sem noção, algo que até
contribui para que ele seja uma diversão eficiente.
Escrito pelo mesmo Chris Morgan que
assumiu os roteiros da franquia a partir do terceiro filme, Velozes & Furiosos 8 mostra Dominic
Toretto (Vin Diesel) em lua de mel com sua amada Letty (Michelle Rodriguez), finalmente
vivendo em paz. Mas isso muda quando a ciberterrorista Cipher (Charlize Theron)
surge em seu caminho, obrigando-o a trair seus ideais e sua família para
ajuda-la em seus crimes ao redor do mundo e que podem iniciar uma guerra (quem
imaginaria esse tipo de coisa lá no primeiro exemplar da franquia?). Cai no
colo de Hobbs (Dwayne Johnson) e da equipe habitual de Dom impedir que os
planos de Cipher com o herói cooptado se concretizem, sendo que para isso o
grupo ainda ganha o auxílio de velhos antagonistas e do Sr. Ninguém (Kurt
Russell).
Trazendo um novo diretor
para a franquia ao ir parar nas mãos de F. Gary Gray (o mesmo do ótimo Straight Outta Compton e que também é o
responsável pelo belo remake de Uma
Saída de Mestre, que tem elementos em comum com Velozes & Furiosos), este oitavo capítulo não deixa de seguir a fórmula que a série estabeleceu para si mesma nos últimos exemplares, conseguindo apresentar dentro disso uma narrativa que abraça com muito gosto os absurdos
que surgem na tela, por mais idiotas que possam ser. E quando achamos que isso chegou
no limite, o longa dá um jeito de se superar um pouco mais. É desse jeito que se
forma a diversão que ele proporciona durante suas mais de duas horas de
duração, trazendo momentos que causam risos por serem inacreditáveis, seja a
fuga da prisão que ocorre no início do segundo ato (e na qual Dwayne Johnson
mostra o quanto se diverte com a força bruta de Hobbs) ou o suicídio coletivo
cometido por carros (você leu isso certo), sem falar na sequência final situada
em um infinito canal congelado, local que parece desafiar a infinita pista de
decolagem vista no sexto filme. Nisso, F. Gary Gray merece créditos por
comandar a ação de maneira ágil e conseguindo injetar energia o suficiente para
prender a atenção do público durante a maior parte do tempo.
No entanto, ainda que Velozes & Furiosos 8 divirta com
todos esses elementos, há de se ressaltar que em determinados momentos a
estupidez inerente da narrativa simplesmente testa a paciência do público. Se
por um lado a descaracterização de alguns personagens feita pelo roteiro acaba
funcionando para o que o filme quer fazer, por outro ele ainda aposta em frases
de efeito e diálogos bobos (“Cipher é um ato digital de Deus”, “Eu vou te bater
como um tambor cherokee”) enquanto desenvolve uma trama que quer surpreender,
mas sem ter a competência ou criatividade para isso, como comprovam algumas
reviravoltas pontuais, sendo que aquela envolvendo o retorno de um personagem
no terceiro ato chega a irritar em sua tentativa óbvia e mal feita de enganar o
público.
Enquanto isso, o elenco liderado
por Vin Diesel volta a exibir uma boa dinâmica tanto como equipe quanto como
família, algo que o roteiro preza bastante e, por isso mesmo, põe à prova ao
longo da história. É um ponto que até rende momentos interessantes, como aquele
em que vários cabos tentam prender o protagonista, tentando trazê-lo de volta para
o lado do bem, ou o outro no qual ele encontra pessoalmente o motivo de sua
aliança com Cipher, cena que deve ser a mais dramaticamente eficaz de toda a
série. Aliás, falando na vilã, Charlize Theron cria uma figura que faz questão
de mostrar o prazer que sente em ser uma canalha, além de surgir como uma
ameaça palpável para os heróis e obrigando-os a se superarem para detê-la.
Mesmo não fazendo nada de muito
diferente dentro do que a franquia tem apresentado, Velozes & Furiosos 8 funciona bem como entretenimento, sendo uma possível constatação de que os
realizadores encontraram um caminho mais satisfatório para a diversão ao não
temerem assumir o lado ridículo da narrativa.
Nota:
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