segunda-feira, 9 de abril de 2012

A conversão para 3D de Titanic

Desde o sucesso estrondoso de Avatar, James Cameron vem atuando como se fosse o pai do 3D, o que me faz ter um pouco de antipatia por este talentoso diretor, porque a tecnologia existe desde a década de 1950. É claro que não na mesma qualidade do próprio Avatar ou de A Invenção de Hugo Cabret, por exemplo, mas ainda assim existia. Há algum tempo, Cameron criticou as conversões para 3D de filmes feitos convencionalmente. Disse que os estúdios estavam correndo para ganhar mais dinheiro, aproveitando a boa impressão deixada por Avatar, o que é a mais pura verdade. Chegou a falar que aquilo que o diretor Alexandre Aja fez em Piranha era o exemplo perfeito de como o 3D não deve ser usado (não gosto desse filme e não posso defendê-lo nesse sentido, já que não vi em 3D).
Mas parece que Cameron esqueceu totalmente suas palavras, pegando um de seus melhores filmes, Titanic, e fazendo a conversão de 2D para um 3D picareta, como são todas as conversões. Isso pode ser comparado a George Lucas e suas mudanças em Star Wars. Há 20 anos, Lucas fez um discurso dizendo que os filmes deveriam ser mantidos do jeito que são lançados. Depois disso, ele já mudou Star Wars duas vezes, tirando muito do impacto que a saga poderia ter.
O 3D de Titanic é uma mutilação da obra. Acho que todos já fizeram um pequeno teste nas sessões de filmes que usam essa tecnologia, tirando os óculos em algumas partes para ver qual é a diferença. Eu fiz isso constantemente durante Titanic e conclui duas coisas:
1º) Não há diferença alguma. O filme foi pensado e feito em 2D. Ou seja, não tem como ele funcionar de outra maneira;
2º) A fotografia de Russell Carpenter sai prejudicada, já que as lentes dos óculos 3D escurecem a nossa visão. Em Titanic isso atrapalha muito durante todo o filme, e chega ao ápice a partir do momento em que o navio começa a afundar. Como isso acontece à noite, as cenas já são escuras por natureza, e é usada uma paleta de cores azuladas que dão um clima congelante ao que está acontecendo, o que é perfeito considerando que o local em que o Titanic se encontra naquele momento é extremamente frio. Com os óculos, boa parte do impacto dessas cenas é perdida, por que tudo fica escuro demais.
Lançar Titanic em 3D parece muito mais uma desculpa para dar mais dinheiro para James Cameron do que para comemorar o centenário da tragédia. É uma pena ver um filme tão bom como esse (aliás, um de meus favoritos) ser tratado dessa forma. Está mais do que comprovado que a conversão de 2D para 3D é uma verdadeira perda de tempo. Estamos vendo isso nos filmes que estão sendo lançados atualmente, como Fúria de Titãs 2 e Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança, e em produções mais antigas, como Toy Story e Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma.
E quando pensamos que não há como piorar, Steven Spielberg anuncia que lançará Jurassic Park em 3D no ano que vem, comemorando o aniversário de 20 anos do filme. Ele claramente não aprendeu nada com o que está acontecendo. Quer relançar seu filme? Relance, mas do jeito como foi lançado originalmente. Assim, jovens cinéfilos como eu terão a oportunidade de assisti-lo da maneira como deve ser assistido: no cinema, sem um 3D desnecessário para atrapalhar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Dica de leitura:
http://www.saindodamatrix.com.br/mob/archives/2012/04/titanic_3d_devo.html

http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,ERT291106-17773,00.html

PANS disse...

Mais do que óbvio que o 3D do Titanic nunca teria a qualidade do Avatar, uma vez que o sucesso dessa técnica foi devido a câmera desenvolvida pelo próprio James Cameron, se não foi filmado com essa câmera, nada feito, certo? Ou estou errada? Mencionou uma coisa que eu realmente não tinha percebido, os óculos realmente afetaram muito no visual do filme, prejudicou bastante.