quinta-feira, 12 de maio de 2022

O Peso do Talento

Nicolas Cage é um ator que acho fascinante. Tendo vivido o auge de sua carreira entre o início dos anos 90 e meados dos anos 2000, quando conquistou um Oscar e enfileirou sucessos, Cage passou boa parte dos últimos anos realizando filmes que, à primeira vista, são indignos de seu talento e serviam basicamente para que ele pudesse pagar dívidas, com boa parte desses trabalhos mirando mais o mercado de home video do que propriamente um lançamento nos cinemas. Mas o que é curioso nisso é que a presença de Cage nessas obras tornava estas um pouco mais divertidas, muito por conta do estilo de atuação do ator, que sabe misturar overacting e canastrice de um jeito ímpar, e talvez por isso ele tenha se revelado uma espécie de guilty pleasure (quando gostamos de algo, ainda que não possamos dizer que se trata de uma coisa boa). E o próprio Nicolas Cage parece ter percebido o tipo de impressão que passou para o público, de forma que não é raro vê-lo fazer piada consigo mesmo. Isso chega ao ápice nesse seu mais novo filme, O Peso do Talento, onde ele interpreta uma versão fictícia de si próprio.

Escrito por Kevin Etten e pelo diretor Tom Gormican, O Peso do Talento traz Nick Cage tendo dificuldades para conseguir novos papeis no cinema, o que o faz aceitar uma proposta de 1 milhão de dólares para ir à festa de aniversário do bilionário Javi Gutierrez (Pedro Pascal), um de seus maiores fãs. Mas o que na teoria seria apenas um dinheiro fácil acaba se complicando quando a CIA, representada pela dupla de agentes Vivian e Martin (Tiffany Haddish e Ike Barinholtz, respectivamente), resolve aproveitar a proximidade entre Nick e Javi para fazer o ator espionar o ricaço, que supostamente concebeu seu império graças ao tráfico de armas.

É curioso ver que Nicolas Cage tem logo em sua versão ficcional um papel que lhe dá a oportunidade de explorar habilidades cômicas que ele há tempos não explorava. E o ator se sai muitíssimo bem, criando um personagem que diverte com seu jeito excêntrico e por vezes exagerado. Além disso, a natural metalinguagem da produção entretém não só pelas várias referências a carreira de Cage, mas também por colocar o ator tendo que encarnar o que viveu em seus filmes a fim de espionar Javi. Isso, aliás, rende uma sequência que já se coloca desde já entre as mais hilárias da carreira de Nicolas Cage (direi apenas que envolve LSD). Mas a graça do filme não impede o roteiro de mostrar vulnerabilidades do protagonista, principalmente no que diz respeito a suas inseguranças, sejam elas como ator ou como pai, algo que o faz constantemente sentir que precisa se provar de alguma forma, ganhando maiores contornos quando ele tem visões de sua versão mais jovem chamada de Nicky.

Mas o coração de O Peso do Talento certamente se encontra na dinâmica entre Cage e Pedro Pascal, que não demoram muito para fazer a relação de ídolo e fã entre seus personagens se tornar uma relação de amizade mesmo, com a admiração de um servindo como o apoio que o outro tanto precisa. E Pascal (um ator que gosto desde que o vi interpretando o fantástico Oberyn Martell de Game of Thrones) surge tão carismático no papel de Javi e tem uma química tão boa com Nicolas Cage que é difícil não simpatizar e torcer pelo personagem, mesmo com as suspeitas que a CIA joga em cima dele.

Sabendo equilibrar bem sua narrativa entre o lado cômico e o lado de ação, Tom Gormican concebe em O Peso Talento uma obra que diverte com seu grande astro ao mesmo tempo que o homenageia. E é um filme que certamente se soma a trabalhos como Mandy e Pig, contribuindo para que Nicolas Cage volte a ganhar o destaque que merece.

Nota:



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